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Corpo, Emoção e Sentimento

3. APRENDENDO A SENTIR

3.3 Corpo, Emoção e Sentimento

A emoção é corpórea e, segundo o neurocientista Francisco Mora, é o elemento essencial no processo de ensino e aprendizagem, pois é ela que nos leva a ter curiosidade, tomar decisões, pôr atenção e memorizar: “Hoy comenzamos a saber que nadie puede aprender nada, y menos de una manera abstracta, a menos que aquello que se vaya a aprender le motive, le diga algo, posea algún significado que encienda su curiosidad” (MORA , 2013:74). Portanto, o aluno precisa que algo o emocione a ponto de despertar a curiosidade, servindo de dínamo para mobilizá-lo a aprender.

O neurocientista António Damásio (2012) define as emoções como reações corporais não conscientes que alteram o equilíbrio funcional do corpo (homeostase), com o objetivo de orientar a cognição e também comunicar significados a terceiros a partir do corpo. Isso ocorre, para Damásio (2012), porque o cérebro humano responde a sinais neurais e químicos ocasionados por alterações do ambiente ou do corpo. Essa resposta pode ser dirigida ao corpo, mudando seu estado, ou ser dirigida ao cérebro, alterando a velocidade com que formamos, eliminamos, examinamos, evocamos ou modificamos o estilo de raciocínio sobre as imagens. O homem percebe os objetos e os acontecimentos, externos ou internos a seu organismo, através de imagens. Toda antecipação ou planificação de respostas, automáticas ou deliberadas, precisa de imagens (DAMASIO, 2016). As imagens são padrões mentais, conscientes ou inconscientes, formados de duas formas: de fora do cérebro em direção ao seu interior, quando processamos a estrutura do objeto (pessoa, lugar, etc.) que interatua com nosso corpo a partir das informações provenientes dos sentidos (visual, auditivo, olfativo, gustativo e tátil), e também de dentro para fora, quando reconstruímos os objetos através de nossa memória. “Podemos estar realmente em uma cena da nossa vida e reagindo a uma música que é tocada ou à presença de um amigo, ou podemos estar sozinhos, lembrando uma conversa que nos aborreceu no dia anterior” (DAMASIO, 2011: 144). Dessa forma, as emoções são imagens geradas por vias biologicamente automatizadas que têm relação com nosso corpo, pois são o resultado da interação deste com um objeto e que podem ocorrer em duas circunstâncias: quando criamos ou recordamos imagens (DAMASIO, 2000).

O sinal emocional, segundo Damásio (2011), consegue, de forma clara ou encoberta, centrar a atenção do indivíduo em determinado aspecto do problema, “con lo que aumenta la calidad del razonamiento acerca del mismo”. Além disso, o sinal emocional consegue marcar opções (alerta ou não) de ações e resultados, de acordo com sinais positivos ou negativos, de forma rápida, aumentando a probabilidade de que a ação ocorra como esperávamos.

Após a reação emocional diante de algum acontecimento ou objeto, segue-se algum padrão de sentimento, alguma variação de dor ou prazer. As emoções corporais estão relacionadas ao corpo e se transformam em sentimentos ou sensações, que estão relacionadas à mente. Assim, as emoções precedem os sentimentos, mas não são “mera decoración añadida a las emociones, algo que se pueda conservar o desechar”, pois a maioria deles “... es expresión de la lucha por el equilibrio, muestra de los ajustes y correcciones exquisitos sin los que, con un error de más, todo el espectáculo se viene abajo” (DAMASIO, 2016: 17).

Os sentimentos são percepções, ou seja, uma ideia de um aspecto interior, de uma emoção, específico do nosso corpo e da nossa mente em uma determinada circunstância (DAMASIO, 2016). “Os sentimentos são imagens de ações, e não ações propriamente ditas” (DAMASIO, 2011: 142).

Damásio (2016) diferencia a emoção dos sentimentos de acordo com a parte do processo que se pode perceber: se se faz publicamente é emoção; se permanece privada é sentimento. A emoção, portanto, é uma ação ou movimento público, exterior, que acontece no corpo e, portanto, são visíveis aos outros, pois “se producen en la cara, en la voz, en conductas específicas”. Alegria, tristeza, medo, orgulho, repugnância, curiosidade, vergonha ou simpatia são alguns exemplos de emoções que ajudam a regularização vital, de forma a “evitar los peligros o ayudar al organismo a sacar partido de una oportunidad, o indirectamente al facilitar las relaciones sociales” (DAMASIO, 2016:51). Os sentimentos, ao contrário, sempre estão escondidos, são perceptíveis apenas pelos seus donos, ou seja, aqueles que os estão sentindo em sua mente.

Armazenamos as emoções e os sentimentos de experiências vitais anteriores, podendo utilizá-los ao longo de nossas vidas em momentos onde se deve decidir entre opções em conflito. Isso acontece porque a emoção e o sentimento não são simples “actores en el proceso de razonar, sino agentes indispensables” (DAMÁSIO, 2016: 162). Conservamos as informações do problema, a opção escolhida, o resultado real da solução e o resultado de acordo com a emoção e o sentimento que tivemos, pois “… las emociones positivas o negativas y los sentimientos que de ellas se siguen se convierten en componentes obligados de nuestras experiencias sociales” (DAMÁSIO, 2016:163).

Corpo e cérebro, portanto, estão continuamente em interação: “Pensamentos implementados no cérebro podem induzir estados emocionais que são implementados no corpo, enquanto este pode mudar a paisagem cerebral e, assim, a base para os pensamentos” (DAMÁSIO, 2011:126). Assim, o homem percebe o mundo através de imagens criadas de fora para dentro ou de dentro para fora, que são chamadas de emoções.

As emoções são fundamentais para a atualização da consciência e para a percepção do outro. Como afirma Damásio, a consciência é decisiva para tornar as imagens nossas, “fazer com que pertençam a seu legítimo dono, o organismo singular e perfeitamente delimitado em que elas surgem” (DAMASIO, 2011: 24), o meu corpo-vivo. Portanto, as emoções nos trazem de volta ao corpo, fazendo com que funcione nosso núcleo constitutivo do eu e também o expansivo do eu. Assim, a emoção, imprescindível para a aprendizagem, como veremos na Regra 6, nos permite despertar a consciência, “eu sou corpo”, além de nos mostrar que nós temos um corpo e, portanto, nos impelir em direção ao outro, nos mover para fora de nó mesmos. Emoção é uma moção, um movimento que nos põe para fora e nos leva a ação. Não se aprende sem emoção.