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B IOBIBLIOGRAFIA E FORTUNA CRÍTICA

5. A RECEPÇÃO DO TEXTO DE HENRIQUETA LISBOA

5.4 Corpus da pesquisa experimental

Para compor o corpus da pesquisa, extraído desse universo de informantes, optou-se por selecionar os três níveis que envolvem uma elaboração mental apurada, que caracterizam um leitor de nível superior. Assim, relacionamos exemplos desses níveis de competência leitora, colhidos nos 4 grupos pesquisados. Encontram-se

destacadas também passagens cuja escritura / leitura apontam para uma visão de mundo referente à transcendência, que constituem o corpus para análise.

Abstração

Alguns informantes mencionaram a questão da efemeridade da vida, bem como as suas fases: “Ela expressa a brevidade da vida e também a idéia de que o tempo é implacável se não for bem aproveitado. A impressão que me causou foi que a construção do poema remete ao nascimento, crescimento e à morte.” (SPM03) Em consonância com o exemplo supracitado, apresentamos outro, acrescido da ideia de mudança: “[...]Mas será que o tempo passa ou é o Homem que passa e, então, teríamos um ciclo com dias, meses, anos se renovando e a esperança renascendo a cada dia, mês e ano. Nessa perspectiva “ainda é tempo” pois novo ciclo virá e com ele mudanças que, acreditamos, serão para uma vida melhor.”

(SPF06)

Uma professora destacou a questão das relações construídas ao longo de nossa existência, as ações e o resultado das mesmas refletidas na sociedade: “Durante toda nossa existência tecemos, envolvendo e transpassando nosso “fio” com outros “fios”, nossas vidas com outras vidas. São as relações que construímos enquanto humanos.

Muitas coisas que tecemos são como “rendas de bilro”, delicadas, necessitam de muita dedicação e zelo e as vejo como nossas famílias: a relação com o sexo oposto na busca pelo amor, a relação com nossos filhos, estes sim expressão do amor pleno e incondicional.

Tecemos também “franças espessas” que são nossas relações profissionais, onde temos que ousar, construir “malhas” e “redes” firmes que possam suportar os “frutos” e apanhar os “peixes” símbolo de nossas conquistas, mas aqui talvez representado de uma maneira mais profunda como o resultado de nosso trabalho, a contribuição que deixamos para a sociedade.

Se pensarmos na idade do universo em termos de tempo cronológico, o que é a nossa vida? Um piscar de olhos? Algo frágil, breve que não podemos e nem devemos deixar nos escapar pelas mãos. (SPF07)

Outra informante tratou da necessidade de contagiar positivamente as pessoas que nos cercam, vencer as dificuldades surgidas ao longo da trajetória existencial, adquirir sabedoria para a mudança de plano: “É preciso libertar o indomável potro da juventude, semear aprendizes nos vários tempos e lugares, superar obstáculos e, enfim, tendo todo o fio-tempo se desenrolando do novelo da vida, pronto o Homem, é hora da passagem.”

(SPF08) Este, nos brindou com um poema de sua autoria, realçando suas concepções relativas à passagem do homem pela Terra e a sua transferência para o outro plano.

Em um informante destacou-se a questão do aproveitamento do tempo em relação a si e ao próximo:“O tempo é muito subjetivo [...] Fazendo uma analogia a um fio, o texto trata o tempo com a seguinte reflexão: por mais curto que seja, por menor que seja, por mais liso que seja, por mais voraz que possa ser, não desperdice a oportunidade de fazer do tempo que tem algo proveitoso para a sua vida ou para a vida do outro.”(CEF02)

Outro concitou o leitor a lidar com o tempo sob a perspectiva dos sonhos, uma vez que os mesmos nos fazem vislumbrar o futuro a partir das ações presentes: “Tecer com sonhos, pois são eles que nos inspiram no caminhar, a olhar um amanhã de possibilidades pautadas em cada ação do agora.” (CEF15)

Já outros abordaram a necessidade de se empregar o tempo com proveito, visto que ele passa rapidamente e, se usado com sabedoria, no futuro, serão colhidos os frutos:“O texto trata da inexorabilidade da vida, onde o tempo que se passa não pode ser recomposto, nem recuperado. Por outro lado, se o tempo for tecido com ‘astúcia’ e ‘empenho’, podem-se colher bons frutos posteriormente. Enquanto que o tempo que se perde vira um ‘farrapo jogado à toa’.” (DFM03). “O texto fala a respeito de como devemos aproveitar o nosso tempo, pois ele é como um fio ou algo que passa sem percebermos. Algo que não podemos segurá-lo e escapa, passa e não volta mais.” (MGF16)

Outro referiu-se à possibilidade de se vencer o tempo com o trabalho:“O texto trata da vulnerabilidade do tempo e seu domínio ante a tudo e a todos. Ao mesmo tempo, cabe às pessoas vencerem o tempo com o trabalho, que é o que permite a sobrevivência ao longo dos meses.”( DFM05)

Passemos agora aos exemplos de inferência fornecidos pelos informantes. Poucos professores destacaram a importância de deixar contribuições para os que hão de vir, após nossa passagem para um outro plano: “O texto fala do tempo que

passa sutilmente e que é preciso sabedoria para saber aproveitá-lo bem. No nosso dia-a-dia, é mister cuidar de nossas atribuições com carinho e a preocupação em comprometer-se com o que deixaremos para trás. Não deixemos poeira, mas rochas firmes capazes de dar continuidade aos projetos dos que virão depois de nós.”(CEF08) “Para que serve um fio? Para unir pontas, formar

redes, juntar partes. O tempo serve para transformar as pessoas, desenvolver potencialidades, curar feridas ou mesmo abri-las, mas seja qual for a situação não podemos parar pois o tempo passa, mas nossas ações permanecem” (CEF11)

Outro informante mencionou o empenho que o ser humano deve envidar para edificar boas ações, pois esta será a bagagem que conduziremos ao outro plano:

“Devemos nos empenhar para construir coisas belas, seguras que valham a pena existir, pois esses serão os frutos que levaremos.” (CEF18)

Este se referiu ao tempo como possibilidade de autoconhecimento, unindo a partir de reflexões, passado e presente: “O texto trata da fugacidade do tempo. Neste ponto, o leitor pode ter o reencontro de si mesmo com o tempo que já se foi: a reconciliação com o passado.” (DFF08). Em sintonia ao acima exposto, tem-se outro exemplo: “É possível observar a importância da ideia de construção e movimento estabelecida no texto, portanto, pode-se concluir que o tempo é movimento, construído e, reconstruído.” (DFM07)

Outra cidadã ressaltou o receio do desconhecido, o que ocorre após a passagem de plano:“A passagem da vida é como o fio fino que a qualquer hora pode se romper e daí em diante só Deus sabe.” (MGEF02)

A seguir, tem-se exemplos de categorização colhidos na análise textual dos sujeitos pesquisados.

Quando o entrevistado era professor(a) com nível superior, fez-se comum a presença de termos da teoria literária na leitura do poema.

“Ainda se pode considerar o fio como a palavra que tece o texto, o poema. São palavras, frases, períodos, versos e estrofes que, ao final, em tecido forte – rede nos prende, mas então o escrito já não pertence a seu autor, [...]” (SPF06)

“A poeta compara o tempo à vida. Ela expressa a brevidade da vida e também a idéia de

que o tempo é implacável se não for bem aproveitado. A impressão que me causou foi que a construção do poema remete ao nascimento, crescimento e à morte. (SPM03)

“Henriqueta Lisboa usa o poema, o final dele (a última estrofe) como um texto prescritivo,

nos passa uma receita e nos afirma que não é tarde demais.

“O texto ‘O tempo é um fio’, de Henriqueta Lisboa, é uma metáfora utilizada para retratar o tempo ‘cronológico’.” (CEF12)

“O eu-poético, mesmo sem ameaçar, assume um tom ameaçador ao tratar da facilidade

com que o tempo ‘escapa’. Esse tom ameaçador é abandonado nas duas últimas estrofes do poema, quando o eu-poético oferece a esperança: “Ainda é tempo!” (DFF08)

“O poema trata das diferentes formas de o homem se por diante da vida. A metáfora do fio é empregada para demonstrar a relevância existencial de cada indivíduo, os que ‘tecem redes’ e os que deixam ‘farrapos’.” (DFM11)

“O texto trata do tempo em vários espaços. O tempo como metáfora da vida.”

(MGF01)

“Ao estabelecer a metáfora do fio para o tempo, o autor ressalta a importância de utilizá- lo bem, de não deixá-lo ‘jogado à toa’, fazendo ‘rendas’, ‘franças’, ‘malhas’, ‘redes’, etc... aproveitando-o.