• Nenhum resultado encontrado

O túmulo do Poeta é um canteiro de corolas silvestres. / E na cruz de madeira igual às outras / o seu nome se apaga. /

VI Alguém ficou tragicamente vivo, enterrado vivo, / IQ Caminhas em terreno / arenoso, a um tropeço / poderás enterrar- te / na

ara do sacrifício. / IDO

sob a chuva, entre salpicos / de lama, um caixão mortuário / sem enfeites nem bordados, / senão os que a lama asperge / no pano que cobre as tábuas. /

DBH Léguas e mais léguas / o caixão sem peso / sobre ombros doridos. / Corpo preservado / qual planta de cheiro. / Nuvens debruçadas / numa chuva lenta. / Nosso pai dormido / para todo o sempre. /

Urgia misericórdia / como se confusos augúrios / redundassem daquele encontro / de homens egressos do túmulo. / VP ABSOLUTO / 6 E a todas as querelas / põe o selo absoluto. / AVC

Aproximai-vos com cautela / porque do transe as várias fúrias / lhe rasgaram os véus. / Não lhe façais qualquer pergunta / que neste instante o seu segredo / mergulhou no absoluto. /

VIC Os homens buscavam violentos / da força o reino absoluto / para exaurirem de dentro / as vinhas – flores e frutos. / OLI FIM / 21 A alma se alonga para o fim / já sem desejos e sem ânsia / FI

Do mar escuso da morte / para moradas mais livres. / Não me faleis de resíduos / nem de enredos pelas grotas. / Dai-me violinos e pianos / pelo sem-fim deslizando. /

IN Quando outra vida? Quando algum sonho? Quando a paisagem / foi diferente para os meus olhos que já não reagem / contra a penumbra mansa e envolvente que se perlustra / no fim da viagem? /

Transcrição literal das respostas dos informantes e relação nominal dos participantes da pesquisa

Grupo 01

A seguir, encontra-se a transcrição1 literal das respostas com os devidos códigos2. Alguns trechos foram negritados por identificarmos relação com a temática da pesquisa.

SPF01:“É um belo poema de Henriqueta Lisboa que fala sobre o ‘o tempo’. Tempo este que é um “fio” e vale muito. É preciso aproveitar cada tempo em nossa vida, seja ele bom, de momentos positivos ou ruim, de momentos negativos. Também é necessário voltarmos no tempo, relembrarmos momentos, ter lembranças, ora boas ora ruins, porém lembradas. O tempo também é algo complexo pois é um mistério de Deus. E Henriqueta sempre usa, trata de temas assim (ar, fogo, água, tempo), mas de maneira singela e profunda, pois é sutil tecedora de imagens capazes de dar uma dimensão metafísica a seu “intimismo radical.”

SPF02:“A idéia de tempo enquanto fio tênue da vida que vai aos poucos sendo tecida faz parte do nosso imaginário desde os mitos mais remotos. Cloto, Átropos e Loquesis são as três irmãs guardiãs do tempo e da vida. Uma dava o fio, a outra tecia, a outra cortava o fio.

No poema, como no mito, é a matéria-prima da vida. “Tecei! Tecei!” Equivaleria a “Vivei!” “Vivei!” Tempo significaria, então, vida. Mas há outros versos em que o tempo assume sentido próprio: o de tempo livre para se construir, reconstruir, desconstruir a vida. Resumidamente, o poema trata do próprio viver, de como somos responsáveis por nossas vidas. Da importância de se vivenciar a própria vida. Podemos fazer do tempo nosso aliado ou simplesmente deixá-lo correr por entre os dedos.

SPF03:“De tanta preocupação com o tempo, não há tempo de tecer as metas para as coisas boas da vida.”

SPF04:“É um lindo poema que nos remete a várias reflexões, porém me chamou atenção a 2ª e 4ª estrofe pois se o tempo é um fio, o que fazemos com esse fio, a maneira como o tecemos (vivemos) será consequência daquilo que esperamos “colher”, ‘franças espessas carregam frutos’, o que se faz do tempo é o resultado de como se vive.”

SPF05:“Para mim o texto trata da vida.

O que estamos fazendo com nossa vida? Nós “tecemos” nossa vida. De acordo com nossas pequenas, simples atitudes, colheremos frutos e dos grandes, ousados, fortes passos, apanharemos peixes que nos alimentam, garantem nossa sobrevivência física e intelectual.

Desperdiçamos a oportunidade de sermos felizes quando não vivemos efetivamente nossa vida. “Cada um de nós compõe, constrói sua própria história, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz.”

Ainda dá tempo! É preciso resgatar as coisas boas que já se foram. Ficar atento se permitindo conhecer de um pólo a outro, vencendo obstáculos e construindo a cada dia seu fio, sua vida.”

SPF06:“O título do poema nos induz a perceber que o tempo é algo tênue, algo que se pode romper sem dificuldades e, por isso mesmo, devemos vivenciá-lo da melhor forma possível.

Nesse poema, O tempo é um fio, Henriqueta Lisboa compara o tempo com o fio que vai tecendo, primeiramente, a renda de bilro, mais frágil e, por isso mesmo, se nos descuidarmos, o fio se rompe, “escapa da agulha”, e o tecido se desfaz. Mas o fio tece, ainda, as franças espessas, malhas e redes, essas mais fortes, astuciosas, pois recolhem o de comer. Parece-nos, até então, que a poeta quer nos mostrar o homem criança, o homem adulto que sustenta a casa, mas, sem que ele perceba, esse tempo, de repente, passou e ele está velho e jogado, esquecido como um farrapo jogado fora.

No final, tem-se a sensação de que Henriqueta Lisboa nos aconselha a viver a vida em sua plenitude, pois “ainda é tempo!”. Devemos aproveitar o tempo no sentido de vivê-lo de forma plena, trabalhando sim, mas também desfrutando dos momentos de descanso e lazer. Não é o desencanto da morte, mas chegar a ela tendo vivido aquilo que a vida quer que vivamos.

1 A transcrição será literal por respeito aos informantes. O meu leitor terá que recolher e valorizar as ideias apesar dos desvios da forma.

2

Eles foram identificados por um código com duas letras que representam o estado em que atuam; uma letra para indicar o sexo F ou M (feminino e masculino, respectivamente) e dois números para a sequência da interpretação escrita. Exemplo: SPF01.

Também podemos considerar o poema no sentido popular de tempo de plantar, de colher, “está formando tempo de chuva”, etc. Nesse caso, o fio que tece é a terra que aos poucos é preparada para receber a semente, é a planta que nasce, cresce e produz seus frutos que serão colhidos, são as nuvens que se juntam até a chuva cair.

Mas será que o tempo passa ou é o Homem que passa e, então, teríamos um ciclo com dias, meses, anos se renovando e a esperança renascendo a cada dia, mês e ano. Cecília Meireles, em Ou isto ou aquilo, trabalha com o tema do ciclo que traz esperanças de renovações. Nessa perspectiva “ainda é tempo” pois novo ciclo virá e com ele mudanças que, acreditamos, serão para uma vida melhor.

Ainda se pode considerar o fio como a palavra que tece o texto, o poema. São palavras, frases, períodos, versos e estrofes que, ao final, em tecido forte – rede nos prende, mas então o escrito já não pertence a seu autor, o sentido do texto está naquele que o lê, por isso mesmo “ainda é tempo”: refazer o texto, burilá-lo, conservá-lo como algo só seu e, só então deixá-lo ir, pois ele terá que ir algum dia. Este é o texto, o poema que, verdadeiramente, nos prende, nos arrebata, e, quando de sua leitura, podemos dizer: vale a pena viver. Mas o que é o presente? Um fio tênue que separa passado/futuro. Nem mesmo o presente contínuo nos é assegurado; apenas do passado temos certeza.”

SPF07:“Um poema belíssimo de uma sensibilidade incrível que nos toca a alma.

O tema é o tempo, mas o que é o tempo? Segundos, minutos, horas, dias, meses e anos? Dias ensolarados, chuvosos, quentes ou frios? Não, o tempo está aqui apresentado como a nossa vida, a nossa existência que é frágil, fina a toa escapa pela sua brevidade.

O título “O tempo é um fio” é uma metáfora que representa tudo isso.

Durante toda nossa existência tecemos, envolvendo e transpassando nosso “fio” com outros “fios”, nossas vidas com outras vidas. São as relações que construímos enquanto humanos.

Muitas coisas que tecemos são como “rendas de bilro”, delicadas, necessitam de muita dedicação e zelo e as vejo como nossas famílias: a relação com o sexo oposto na busca pelo amor, a relação com nossos filhos, estes sim expressão do amor pleno e incondicional.

Tecemos também “franças espessas” que são nossas relações profissionais, onde temos que ousar, construir “malhas” e “redes” firmes que possam suportar os “frutos” e apanhar os “peixes” símbolo de nossas conquistas, mas aqui talvez representado de uma maneira mais profunda como o resultado de nosso trabalho, a contribuição que deixamos para a sociedade.

Se pensarmos na idade do universo em termos de tempo cronológico, o que é a nossa vida? Um piscar de olhos? Algo frágil, breve que não podemos e nem devemos deixar nos escapar pelas mãos.

Henriqueta Lisboa usa o poema, o final dele (a última estrofe) como um texto prescritivo, nos passa uma receita e nos afirma que não é tarde demais.

Permitamo-nos viver. Permitamo-nos ser felizes. Fazer o que gostamos. Tecer nossa própria história.

Saborear os pequenos prazeres da vida. Buscar nosso sentido em nós mesmos. Fazermos o nosso próprio tempo.”

SPF08:“A extrema sensibilidade da poetisa me leva a refletir sobre a semelhança entre a passagem do tempo e o escorregar do fio nas mãos da tecelã: ora se torna delicadas rendas, ora franças espessas e ainda se pode fiar malhas e redes astutas.

Na segunda estrofe, percebo momentos da vida: ocasiões que nos exigem diferentes intensidades para diferentes intenções – sensibilidade para apreciação do belo, firmeza na necessidade do trabalho, esperteza para sobreviver” às armadilhas da mata escura”.

Tempo e fio são valiosos, pois cada ocasião rende seu fruto: alimento para o corpo, alimento para a alma (peixe).

Mas, se a tecelã deixa escapar o fio, o trabalho se perde; se se deixa escapar o tempo, a vida se esvai.

“Mas ainda é tempo”... o tempo (momento) não aproveitado continua a ser tempo, ainda passível de ser retomado.