• Nenhum resultado encontrado

COVID-19 E IMUNOMODELAÇÃO INDUZIDA PELO EXERCÍCIO

A imunopatologia da infecção por SARS-Cov-2 envolve os sistemas imunológicos inato e adaptativo. Após a infecção pelo coronavírus, a contagem de neutrófilos aumenta, o número de células natural killer diminui e o aparecimento de leucopenia devido à diminuição de monócitos, eosinófilos e basófilos (CAO, 2020). Clinicamente, a primeira fase da resposta imune é adaptativa e específica para eliminar o vírus e prevenir a progressão da doença. Nessa resposta, observa-se a diminuição dos linfócitos TCD4+ e TCD8+. A regulação positiva do linfócitos B pode levar a altos níveis de IgG no plasma de 7 a 10 dias após o início da infecção.

Além disso, a produção de citocinas pró-inflamatórias aumenta, incluindo o fator de necrose tumoral (TNF-alfa), IL-6, IL-1 beta, IL-8, IL-17 e IL-2(SARZI-PUTTINI; GIORGI; SIROTTI; MAROTTO et al., 2020).As concentrações anormalmente altas dessas citocinas leva à ativação do crosstalk do sistema neuroendócrino-imune e a subsequente liberação de glicocorticoides, enfraquecendo assim a resposta imunológica(MEHTA; MCAULEY; BROWN; SANCHEZ et al., 2020). A liberação anormalmente elevada de citocinas pode induzir falência de múltiplos órgãos, envolvendo coração, fígado, rim e pulmões. Particularmente nos pulmões, a infiltração de neutrófilos e macrófagos induzida por citocinas pode provocar a formação de membranas hialinas e fratura da parede alveolar (SARZI-PUTTINI; GIORGI; SIROTTI; MAROTTO et al., 2020).

Naimunomodulação induzida por exercício, a homeostase é interrompida e várias resposta neuroendócrinas, metabólicas e imunológicas são induzidas de acordo com a

Editora e-Publicar | COVID-19 - Impactos da pandemia no Brasil e no mundo, vol.

2

196

intensidade e duração do exercício. As células imunológicas e citocinas mudam constantemente durante e após o exercício, o que pode afetar a resistência do organismo às doenças. Contudo, essas alterações induzidas pelo exercício são dependentes da intensidade, duração e frequência(SIMPSON; CAMPBELL; GLEESON; KRÜGER et al., 2020).

O profundo impacto do exercício sobre o funcionamento normal do sistema imunológico está bem documentado (SIMPSON; CAMPBELL; GLEESON; KRÜGER et al., 2020). Embora atualmente não haja dados científicos disponíveis sobre os efeitos do exercício no SARS-CoV-2, as evidências disponíveis indicam que o exercício pode proteger o hospedeiro de muitas outras infecções virais, incluindo influenza, rinovírus (outra causa do resfriado comum) e herpes vírus (MARTIN; PENCE; WOODS, 2009).

Em modelos humanos e animais, o exercício de longa duração (maior que 2 horas) e/ou exercício intenso (maior que 80% do consumo máximo de oxigênio, VO2máx) está associado a marcadores de imunossupressão, mostrando que exercícios de longa duração e/ou intensos podem tornar os humanos mais suscetíveis a infecções (principalmente infecções do trato respiratório superior), o que pode aumentar o risco de infecção e agravamento por COVID-19(SIMPSON; CAMPBELL; GLEESON; KRÜGER et al., 2020).

Por outro lado, estudos clínicos e translacionais em humanos demonstram que sessões regulares de curta duração (45-60 min) e exercícios de intensidade moderada (30–60% VO 2max), realizado pelo menos 3x na semana são benéficos para a defesa imunológica. Essa forma de exercício está associada ao aumento da função leucocitária, aumentando a quimiotaxia, degranulação, atividade citotóxica, fagocitose e a atividade oxidativa de neutrófilos e macrófagos(BIGLEY; REZVANI; PISTILLO; REED et al., 2015).

Os pacientes com complicações graves derivadas da infecção por COVID-19 apresentam linfocitopenia e uma síndrome de liberação de citocinas mediada por leucócitos que não as células T. Isso é importante porque a redução de IL-6 e TNF-α aumenta a liberação de citocinas anti-inflamatórias, que podem suprimir uma resposta imune hiperativa, promovendo a reparação tecidual, principalmente de lesão pulmonar (CAO, 2020).

Surpreendentemente, há um aumento na expressão de citocinas pró-inflamatórias no músculo esquelético (TNF-α e IL-1β) durante exercícios de intensidade moderada, mas não há alteração na circulação dessas citocinas (PEAKE; DELLA GATTA; SUZUKI; NIEMAN, 2015). Em contraste, há um aumento notável nas concentrações circulantes das citocinas anti-

Editora e-Publicar | COVID-19 - Impactos da pandemia no Brasil e no mundo, vol.

2

197

inflamatórias, antagonista do receptor IL-1 (IL-1ra) e IL-10 (PEAKE; DELLA GATTA; SUZUKI; NIEMAN, 2015). O exercício de baixa a moderada intensidade também aumenta a produção de citocinas anti-inflamatórias IL-4 e IL-10 pelas células T. Portanto, essa modalidade de exercício regular pode ser eficaz em aumentar a resposta anti-inflamatória, auxiliando a reverter a linfocitopenia em pacientes com COVID-19 (CAO, 2020).

Em vários âmbitos da vida o exercício físico torna-se essencial. Além disso, ao melhor compreendermos o seu funcionamento poderemos usá-lo de forma mais eficaz. Uma outra hipótese é que sua presença protetora nos pulmões poderá ser aumentada em pacientes que lutam contra a COVID-19. Por enquanto, as evidências são suficientes para recomendar e considerar a viabilidade de manter a prática de exercícios físicos, mesmo em um espaço pequeno e em casa, para garantir a saúde das pessoas, de um modo geral, mas principalmente para aqueles com fatores de risco para COVID-19.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É consenso que a forma de reduzir a taxa de contaminação e disseminação do SARS- CoV-2 por meio da transmissão entre humanos é o distanciamento social. A eficácia do sistema imunológico humano pode desempenhar um papel vital na prevenção de um indivíduo contrair a nova infecção por coronavírus e progredir para um estágio grave. Os profundos efeitos positivos do exercício sobre a imunidade, em particular a imunidade inata, justificam as recomendações atuais de saúde pública que promovem a atividade física durante o COVID-19(WHO, 2020).

Não se sabe se tais alterações induzidas por exercício no sistema imunológico seriam protetoras contra a infecção por SARS-CoV-2 nessas populações e mais estudos são necessários. Porém, a prática de exercícios de intensidade moderada em casa é recomendada. A imunomodulação induzida por esse tipo deexercício pode ser uma ferramenta importante para melhorar as respostas imunológicas contra a progressão da infecção por SARS-CoV-2 (LEANDRO; FERREIRA E SILVA; LIMA-SILVA, 2020; RANASINGHE; OZEMEK; ARENA, 2020).

REFERÊNCIAS

ALEXANDRE, J.; CRACOWSKI, J. L.; RICHARD, V.; BOUHANICK, B. et al.Renin- angiotensin-aldosterone system and COVID-19 infection. Ann Endocrinol (Paris), 81, n. 2- 3, p. 63-67, Jun 2020.

Editora e-Publicar | COVID-19 - Impactos da pandemia no Brasil e no mundo, vol.

2

198

ARHIRE, L. I.; MIHALACHE, L.; COVASA, M. Irisin: A Hope in Understanding and Managing Obesity and Metabolic Syndrome. Front Endocrinol (Lausanne), 10, p. 524, 2019.

BHASKARABHATLA, K. V.; BIRRER, R. Physical activity and diabetes mellitus. Compr

Ther, 31, n. 4, p. 291-298, 2005.

BIGLEY, A. B.; REZVANI, K.; PISTILLO, M.; REED, J. et al. Acute exercise preferentially redeploys NK-cells with a highly-differentiated phenotype and augments cytotoxicity against lymphoma and multiple myeloma target cells. Part II: impact of latent cytomegalovirus infection and catecholamine sensitivity. Brain Behav Immun, 49, p. 59-65, Oct 2015.

CAO, X. COVID-19: immunopathology and its implications for therapy. Nat Rev Immunol, 20, n. 5, p. 269-270, 05 2020.

CASTROGIOVANNI, P.; TROVATO, F. M.; SZYCHLINSKA, M. A.; NSIR, H. et al. The importance of physical activity in osteoporosis. From the molecular pathways to the clinical evidence. Histol Histopathol, 31, n. 11, p. 1183-1194, Nov 2016.

CHARANSONNEY, O. L. Physical activity and aging: a life-long story. Discov Med, 12, n. 64, p. 177-185, Sep 2011.

CHEN, L. N.; YANG, X. H.; NISSEN, D. H.; CHEN, Y. Y. et al. Dysregulated renin- angiotensin system contributes to acute lung injury caused by hind-limb ischemia-reperfusion in mice. Shock, 40, n. 5, p. 420-429, Nov 2013.

CHEN, Y.; LIU, Q.; GUO, D. Emerging coronaviruses: Genome structure, replication, and pathogenesis. J Med Virol, Aug 2020.

DE OLIVEIRA, M.; DE SIBIO, M. T.; MATHIAS, L. S.; RODRIGUES, B. M. et al.Irisin modulates genes associated with severe coronavirus disease (COVID-19) outcome in human subcutaneous adipocytes cell culture. Mol Cell Endocrinol, 515, p. 110917, 09 2020.

DING, Y.; WANG, H.; SHEN, H.; LI, Z. et al. The clinical pathology of severe acute respiratory syndrome (SARS): a report from China. J Pathol, 200, n. 3, p. 282-289, Jul 2003. GONZÁLEZ, K.; FUENTES, J.; MÁRQUEZ, J. L. Physical Inactivity, Sedentary Behavior and Chronic Diseases. Korean J Fam Med, 38, n. 3, p. 111-115, May 2017.

HAMMING, I.; TIMENS, W.; BULTHUIS, M. L.; LELY, A. T. et al. Tissue distribution of ACE2 protein, the functional receptor for SARS coronavirus. A first step in understanding SARS pathogenesis. J Pathol, 203, n. 2, p. 631-637, Jun 2004.

HOU, H.; WANG, T.; ZHANG, B.; LUO, Y. et al. Detection of IgM and IgG antibodies in patients with coronavirus disease 2019. Clin Transl Immunology, 9, n. 5, p. e01136, May 2020.

JACOFSKY, D.; JACOFSKY, E. M.; JACOFSKY, M. Understanding Antibody Testing for COVID-19. J Arthroplasty, 35, n. 7S, p. S74-S81, Jul 2020.

Editora e-Publicar | COVID-19 - Impactos da pandemia no Brasil e no mundo, vol.

2

199

KRAEMER, M. U. G.; YANG, C. H.; GUTIERREZ, B.; WU, C. H. et al. The effect of human mobility and control measures on the COVID-19 epidemic in China. Science, 368, n. 6490, p. 493-497, 05 2020.

KUBA, K.; IMAI, Y.; RAO, S.; GAO, H. et al. A crucial role of angiotensin converting enzyme 2 (ACE2) in SARS coronavirus-induced lung injury. Nat Med, 11, n. 8, p. 875-879, Aug 2005.

KUPFERSCHMIDT, K.; COHEN, J. Can China's COVID-19 strategy work elsewhere?

Science, 367, n. 6482, p. 1061-1062, 03 2020.

LAKE, M. A. What we know so far: COVID-19 current clinical knowledge and research.

Clin Med (Lond), 20, n. 2, p. 124-127, 03 2020.

LAN, J.; GE, J.; YU, J.; SHAN, S. et al. Structure of the SARS-CoV-2 spike receptor-binding domain bound to the ACE2 receptor. Nature, 581, n. 7807, p. 215-220, 05 2020.

LEANDRO, C. G.; FERREIRA E SILVA, W. T.; LIMA-SILVA, A. E. Covid-19 and Exercise-Induced Immunomodulation. Neuroimmunomodulation, 27, n. 1, p. 75-78, 2020. LEE, C. Y.; LIN, R. T. P.; RENIA, L.; NG, L. F. P. Serological Approaches for COVID-19: Epidemiologic Perspective on Surveillance and Control. Front Immunol, 11, p. 879, 2020. LI, X.; GENG, M.; PENG, Y.; MENG, L. et al. Molecular immune pathogenesis and diagnosis of COVID-19. J Pharm Anal, 10, n. 2, p. 102-108, Apr 2020.

LIPPI, G.; HENRY, B. M.; SANCHIS-GOMAR, F. Physical inactivity and cardiovascular disease at the time of coronavirus disease 2019 (COVID-19). Eur J Prev Cardiol, 27, n. 9, p. 906-908, 06 2020.

LIPPI, G.; SANCHIS-GOMAR, F. An Estimation of the Worldwide Epidemiologic Burden of Physical Inactivity-Related Ischemic Heart Disease. Cardiovasc Drugs Ther, 34, n. 1, p. 133-137, 02 2020.

LOVATO, A.; DE FILIPPIS, C.; MARIONI, G. Upper airway symptoms in coronavirus disease 2019 (COVID-19). Am J Otolaryngol, 41, n. 3, p. 102474, 2020 May - Jun 2020. MAHASE, E. Coronavirus covid-19 has killed more people than SARS and MERS combined, despite lower case fatality rate. BMJ, 368, p. m641, Feb 2020.

MARTIN, S. A.; PENCE, B. D.; WOODS, J. A. Exercise and respiratory tract viral infections. Exerc Sport Sci Rev, 37, n. 4, p. 157-164, Oct 2009.

MEHTA, P.; MCAULEY, D. F.; BROWN, M.; SANCHEZ, E. et al. COVID-19: consider cytokine storm syndromes and immunosuppression. Lancet, 395, n. 10229, p. 1033-1034, 03 2020.

MOREIRA, L. D.; OLIVEIRA, M. L.; LIRANI-GALVÃO, A. P.; MARIN-MIO, R. V. et al.Physical exercise and osteoporosis: effects of different types of exercises on bone and

Editora e-Publicar | COVID-19 - Impactos da pandemia no Brasil e no mundo, vol.

2

200

physical function of postmenopausal women. Arq Bras Endocrinol Metabol, 58, n. 5, p. 514-522, Jul 2014.

MOUSAVIZADEH, L.; GHASEMI, S. Genotype and phenotype of COVID-19: Their roles in pathogenesis. J Microbiol Immunol Infect, Mar 2020.

NARICI, M.; DE VITO, G.; FRANCHI, M.; PAOLI, A. et al.Impact of sedentarism due to the COVID-19 home confinement on neuromuscular, cardiovascular and metabolic health: Physiological and pathophysiological implications and recommendations for physical and nutritional countermeasures. Eur J Sport Sci, p. 1-22, May 2020.

NIEMAN, G. F.; ANDREWS, P.; SATALIN, J.; WILCOX, K. et al. Acute lung injury: how to stabilize a broken lung. Crit Care, 22, n. 1, p. 136, 05 2018.

NILE, S. H.; NILE, A.; QIU, J.; LI, L. et al. COVID-19: Pathogenesis, cytokine storm and therapeutic potential of interferons. Cytokine Growth Factor Rev, 53, p. 66-70, 06 2020. ONG, S. W. X.; TAN, Y. K.; CHIA, P. Y.; LEE, T. H. et al. Air, Surface Environmental, and Personal Protective Equipment Contamination by Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2) From a Symptomatic Patient. JAMA, 323, n. 16, p. 1610- 1612, 04 2020.

PARANJPE, I.; RUSSAK, A.; DE FREITAS, J. K.; LALA, A. et al.Clinical Characteristics of Hospitalized Covid-19 Patients in New York City. medRxiv, Apr 2020.

PEAKE, J. M.; DELLA GATTA, P.; SUZUKI, K.; NIEMAN, D. C. Cytokine expression and secretion by skeletal muscle cells: regulatory mechanisms and exercise effects. Exerc

Immunol Rev, 21, p. 8-25, 2015.

PHAN, L. T.; NGUYEN, T. V.; LUONG, Q. C.; NGUYEN, H. T. et al. Importation and Human-to-Human Transmission of a Novel Coronavirus in Vietnam. N Engl J Med, 382, n. 9, p. 872-874, 02 2020.

POLYZOS, S. A.; ANASTASILAKIS, A. D.; EFSTATHIADOU, Z. A.; MAKRAS, P. et al.Irisin in metabolic diseases. Endocrine, 59, n. 2, p. 260-274, 02 2018.

RANASINGHE, C.; OZEMEK, C.; ARENA, R. Exercise and well-being during COVID 19 - time to boost your immunity. Expert Rev Anti Infect Ther, p. 1-6, Jul 2020.

RIMES, R. R.; DE SOUZA MOURA, A. M.; LAMEGO, M. K.; DE SÁ FILHO, A. S. et al.Effects of Exercise on Physical and Mental Health, and Cognitive and Brain Functions in Schizophrenia: Clinical and Experimental Evidence. CNS Neurol Disord Drug Targets, 14, n. 10, p. 1244-1254, 2015.

ROLLO, S.; GASTON, A.; PRAPAVESSIS, H. Cognitive and Motivational Factors Associated with Sedentary Behavior: A Systematic Review. AIMS Public Health, 3, n. 4, p. 956-984, 2016.