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CRIAÇÃO EM COMUNICAÇÃO VISUAL 54

CAPÍTULO I DESIGN CÊNICO 41

1.2 CRIAÇÃO EM COMUNICAÇÃO VISUAL 54

O processo de criação em comunicação visual prevê uma conjunção de saberes de sua formação acadêmica e que podem compor, igualmente, a preparação do profissional da criação em

design cênico. A conformação dessa estrutura de ensino parte do

conceito usado nos cursos de design, que define a prática projetual como atividade central da formação, o Projeto Integrado (FREITAS, 1999, p. 106). A prática interdisciplinar é a principal característica desse modelo. Segundo José Abramovitz52 (apud FREITAS, loc. cit.), “A atividade projetual é interdisciplinar, integrada e constitui um modo cooperativo de ação”, cuja ideia principal é integrar, na prática, as disciplinas do currículo no condução do projeto de criação em design. Da mesma forma, os diversos profissionais que compõem a equipe de criação das diferentes linguagens de um espetáculo colaboram mutualmente no processo colaborativo de criação cênica. Para Brook, toda a equipe deve estar unida em um esforço comum para captar e compartilhar um momento da verdade. No teatro, é mais difícil alcançar um bom resultado sem essa colaboração. (BROOK, 2000, p. 73). A articulação das especialidades e competências dos elementos compositivos da cena estão no cerne tanto da estruturação do ensino quanto do desempenho criativo praticado no âmbito do design.

Durante o desenvolvimento do projeto em comunicação visual, uma das áreas de aplicação do design, o designer executa atividades e etapas processuais que conduzem ao resultado final de sua criação. Essas etapas abrangem, da problematização e concepção até a prototipação e a realização final do projeto, diferentes fases de elaboração e execução. Cada uma delas foi, neste estudo, associada a diferentes disciplinas da formação geral do design e ajustada para uma formação específica em design cênico. A contribuição dessas áreas de conhecimento para o

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José Abramovitz – Designer formado pela ESDI com especialização em ergonomia pela Fundação Getúlio Vargas e em engenharia de produto pela Coppe/UFRJ e mestrado em design pela PUC/RJ. É professor de desenho industrial e engenharia e sócio titular da JADesign. Biografia disponível no site da Pós Design: http://www.posdesign.com.br/designer_19.asp, consultado em 22/1/2014.

processo de formação do iluminador (lighting designer) pode ser argumentada na relação estabelecida entre o design e o teatro. Seu modelo pode subsidiar ainda o desenvolvimento de qualquer um dos elementos sensoriais do espetáculo.

Os procedimentos metodológicos da criação em comunicação visual entendidos como aplicação do conceito de

design thinking servem como exemplo para o procedimento

criativo realizado na montagem de uma peça teatral, musical ou coreográfica, em cada uma de suas linguagens cênicas, com suas funções, inter relações e características técnicas, artísticas e expressivas. O processo da criação e conceituação da iluminação cênica como linguagem e atividade do design requer domínio sobre suas técnicas, estratégias e elementos fundamentais. À posse dessas “ferramentas” conceituais, somam-se as habilidades para manipulá-las no sentido de alcançar, tanto os propósitos estabelecidos previamente quanto os que surgem durante o processo ou a encenação, como é característico de propostas mais contemporâneas.

A equipe de pesquisadores da MJV (VIANNA et al., 2012) define como fases do processo de design thinking as etapas de imersão, análise e síntese, ideação e prototipação. Na primeira, o objetivo é uma aproximação com o contexto do projeto, que pode ainda ser dividida em duas sub-etapas: a imersão preliminar, que visa o entendimento inicial do problema, e a imersão em profundidade, destinada à identificação das necessidades dos agentes envolvidos no projeto e das prováveis oportunidades que emergem do entendimento de suas experiências frente ao tema. O objetivo da etapa de análise e síntese é organizar os dados levantados na primeira fase de modo a auxiliar na compreensão do todo e na identificação de soluções. Na fase de ideação busca-se a geração de ideias por meio de atividades colaborativas direcionadas ao contexto do assunto trabalhado. As ideia geradas são, então, selecionadas em função dos objetivos, da viabilidade técnica e do atendimento às necessidades humanas levantadas para depois serem validadas na fase de prototipação. Essa última etapa deve propiciar a eventual validação da solução encontrada e, senão, o aprendizado continuado na busca da solução ideal a ser finalmente executada. (VIANNA et al., 2012, p. 16-7).

Graham Wallas (apud ROHENKOHL, 2012, p. 47) descreve as fases de preparação, incubação, iluminação e verificação como etapas especificas da criação gráfica, destacando a perspectiva artística do processo criativo do design com suas implicações estéticas, científicas e conceituais. Com base nessas e em outras proposições metodológicas de diferentes pesquisadores e teóricos do design, foi desenvolvida a formulação funções X variáveis da luz53, oriunda das minhas práticas discente e docente com a disciplina de Metodologia do Projeto em Comunicação Visual. Essa expressão representa a proposta de aplicação da lógica criativa do design para a prática e o ensino da iluminação cênica como área de atuação do designer. Ela abrange as atividades de concepção, geração de alternativas, técnicas de criatividade, pesquisa de materiais e processos, experimentação e prototipação características do processo de design thinking, mas transportados para o universo da criação artística e cênica. Segundo Löbach (2001, apud ROHENKOHL, 2012, p. 48) todo processo de design é tanto um processo criativo quanto um processo de solução de problemas simultaneamente. Nesse caso, o problema é o ponto de partida e a sua solução é o objetivo do profissional que combina suas habilidades artísticas e técnicas na atuação de designer.

Mais a frente, no capítulo 3, onde relato minha experiência de ensino com a iluminação, haverá um detalhamento das características e da adaptabilidade dessa estrutura de formação do

designer gráfico para a formação do designer cênico da luz, o

lighting designer. Nesse detalhamento será possível constatar, inclusive, a aplicabilidade de alguns desses conceitos e conteúdos para as outras linguagens visuais do espetáculo.

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A formulação citada visa explicar o processo de criação em iluminação cênica pelo cruzamento das etapas de problematização e busca de solução características do desenvolvimento do projeto em design. Sua formulação foi proposta por mim para atender à prática pedagógica como um procedimento metodológico da criação da luz, cujo vértice operacional se encontra na relação entre as funções (práticas, semânticas, poéticas e estéticas) e as variáveis (equipamento, posição, cor e movimento) da luz.