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representam de esforço de produção. Há cenas com trem, balão, cachorro subindo em árvore” (MERTEN, 1995a, p. D2).

Qualidade técnica vista como essencial também para a exportação da fita. A primeira exibição pública do filme ocorreu no mercado do Festival de Berlim, para onde Tarcisio rumou com a primeira cópia – nem Helvécio Ratton a tinha visto ainda. Com os contatos feitos durante o Festival, o filme foi vendido pelo menos para cinco países: Dinamarca, Suécia, Noruega, Islândia e Coreia (SIMÕES, 1995, p. 8A), começando bem sua carreira.

3.4 De criança em criança...

A RioFilme, distribuidora pública carioca criada em 1991 e voltada para a comercialização de filmes brasileiros em salas de cinema, foi a responsável pela distribuição de Menino maluquinho 1. Vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo, atuou como uma espécie de “órgão cultural do cinema” (GATTI, 2005, p. 161), distribuindo também filmes de pouco apelo comercial. Essa característica foi importante para o cinema brasileiro na época, que se encontrava em situação bastante frágil pela parca produção, pelo pouco contato com o público em salas de exibição e por um certo descrédito disseminado na sociedade em geral. A empresa contava a experiência de ex-funcionários da Embrafilme e, em 1995, já se encontrava num momento de consolidação no mercado (GATTI, 2005, p. 179). O filme foi lançado durante as férias escolares, época preferencial de estreia de filmes do gênero, em 7 de julho de 1995. De acordo com a classificação de Silva (2010),

Menino maluquinho 1 teve uma distribuição de filme médio. Procurou acumular espectadores

ao longo de um extenso período de tempo com um número razoável de cópias. Estreou em cerca de 30 salas em 12 cidades - incluindo 9 capitais de estados da federação45.

O filme atingiu marcas surpreendentes pelo período de tempo que permaneceu em cartaz, pelo número de ingressos vendidos e pelo número de cidades por que passou. Logo na primeira semana, já superou as expectativas. A RioFilme esperava de 40 a 45 mil 45 Segundo a tabela de programação fornecida pela RioFilme para esta pesquisa, o filme estreou simultaneamente em Belo Horizonte, Juiz de Fora, Brasília, Porto Alegre, São Paulo, Osasco, Maceió, Curitiba, Rio de Janeiro, Niterói, Natal e Belém.

inicial era mantê-lo em cartaz até a primeira semana de agosto (a quinta semana) e chegar a 200 mil espectadores. Numa época em que muito pouco se assistia a filmes brasileiros no cinema, Maluquinho 2 teve 397.02346 espectadores (SÉRIE...a), tornando-se o terceiro filme brasileiro mais visto do ano, atrás apenas de Carlota Joaquina e O quatrilho.

As salas de cinema voltadas para os filmes considerados alternativos foram as que mantiveram a fita programada por mais tempo. Nas salas do Espaço Unibanco de Belo Horizonte, o filme permaneceu por 10 semanas consecutivas. Na sala do Museu da República, no Rio de Janeiro, o filme permaneceu por 20 semanas, de agosto a dezembro de 1995. No Espaço Banco Nacional, o atual Espaço Unibanco em São Paulo, o filme se manteve por 11 semanas. Em contraste, em alguns shopping centers, ele foi rapidamente tirado de cartaz, com destaque para salas de São Paulo, onde não passou da segunda semana no Eldorado e no Morumbi.

Porém, essa pode ser apenas uma questão de mau lançamento na capital paulista, já que, no Rio, onde as alianças com exibidores e a atuação da distribuidora eram mais fortes, houve bons resultados em shoppings. No Shopping RioSul, por exemplo, a fita foi a maior renda média por cópia no final de semana em que estreou (REAL, 1998). No Art Barra Shopping, o filme ficou por 6 semanas consecutivas.

Sobre o lançamento e o circuito em que o filme foi programado, Tarcisio Vidigal ressaltou que

Teve publicidade. A gente teve muita coisa, fizemos várias ações. Muita televisão, anúncio, teve muito trailer em cinema – naquela época era mais fácil. E como estava voltando o cinema brasileiro, a RioFilme estava forte na época, estava lançando vários filmes, então a gente conseguiu boas marcações. O problema na época - ainda é - é ser bem programado. Não tinha esses multiplex todos. A gente acabou conseguindo bons cinemas. (informação verbal)47

Após o lançamento, apesar dessas boas alianças, Vidigal e Ratton acreditavam que os resultados poderiam ter sido melhores, já que, segundo eles, havia uma demanda reprimida – espectadores gostariam de ver a fita, mas não havia sala. O diretor criticou a falta de sensibilidade do mercado: “Será que os exibidores não têm capacidade de ver o potencial de meu filme?” (BARROS, 1995, p.2).

46 Número apresentado pelo OCA da Ancine, idêntico à da empresa Filme B. O número informado pela RioFilme apresenta uma pequena discrepância: 385.359 espectadores. Na imprensa, foi corrente um número entre 500 mil (CAETANO, 1997) e 600 mil espectadores (BARROS, 1996). Gatti (2005) forneceu a cifra de 331.259. Já Heffner (2000), provavelmente num equívoco, chegou a falar em 1 milhão de espectadores. 47 Depoimento à autora.

média de espectadores por cópia na primeira semana48. Menino maluquinho, até 25/07, manteve uma média de 2.000 espectadores por cópia, contra 2.360 de Pocahontas, que estreara em 30/06, e 1.622 de Cavaleiros do Zodíaco – o filme (Shigeyasu Yamauchi, 1995), animação lançada em 14/07, baseada nos personagens de um anime japonês homônimo que fazia muito sucesso na televisão junto ao público infanto-juvenil.

Deve-se ressaltar que a comparação não envolve o público total, pois leva em conta apenas a média de espectadores por sala no Rio de Janeiro. Maluquinho não conseguiu superar Pocahontas e Cavaleiros em todas as praças. E, para inferir o público total dos filmes, deve-se levar em conta que a fita da Disney estreou em 155 salas - mais de 10% do circuito do país (ORICCHIO, 1995a, p. D2), enquanto Cavaleiros teve um lançamento ainda maior:

chegou a ocupar 218 salas no Brasil. Logo, dado que os filmes estrangeiros tiveram uma distribuição pelo menos 5 vezes maior em número de cópias, esse empate técnico proporcional com Pocahontas e a superação também relativa sobre Cavaleiros parece ser um prêmio de consolação.

Apesar disso, a conquista foi comemorada pela imprensa como uma vitória de Davi sobre Golias. O destaque foi uma matéria do Jornal do Brasil, que afirmava que “Um garoto sapeca do interior de Minas Gerais está ameaçando o poder de uma índia americana politicamente correta” (BARROS, 1995, p. 2). O texto trazia um quadro comparativo entre a estrutura de Pocahontas e de Menino..., analisando aspectos como orçamento, tamanho da equipe e até as condições financeiras dos diretores para se dedicar à profissão. O fato era tão digno de nota que nenhuma das matérias citou o desempenho de Gasparzinho, o fantasminha

camarada (Brad Silberling, 1995), lançado no mesmo dia de Maluquinho. O blockbuster

produzido por Steven Spielberg fez excelente bilheteria e terminou o ano como a maior arrecadação nos cinemas brasileiros em todos os tempos até então ( GASPARZINHO..., 1995, p.3). Já Maluquinho conseguiu ao menos pagar o seu lançamento com a bilheteria.

Mesmo não conseguindo suplantar em termos absolutos a hegemonia de Hollywood, a performance de Maluquinho de fato foi muito boa, ainda mais se consideradas as condições do cinema brasileiro na época. A evidência disso é que sua carreira não impressionou apenas jornalistas, mas empresários do ramo também. Vidigal conta um episódio envolvendo o exibidor e distribuidor Luiz Severiano Ribeiro.

Fizemos uma boa relação com o Severiano Ribeiro, ele lançou bem. Ele chegou a 48 Informação obtida no depoimento de Tarcisio à autora.

que ele queria o vídeo, eles estavam começando a se associar com a Europa Filmes. Mas ele ligar oferecendo sala pra mim! Isso é uma raridade, eu posso colocar isso no meu currículo! (...) “Tudo bem, não precisa oferecer não, mas eu vou te dar.” “Ah, você manda fazer mais duas cópias que eu te dou mais duas salas!” Achei ótimo isso. Depois a gente fechou o vídeo com a Europa Filmes. (informação verbal)49

Levando-se em conta que, após o bom resultado das primeiras semanas a produtora pensava em fazer o filme de sequência, era bastante interessante que o primeiro filme se mantivesse em evidência o maior tempo possível, e que atingisse um grande número de cidades.

O Dia das Crianças (comemorado em 12 de outubro) é motivo para que alguns filmes infantis voltem a ser programados ou, mais raramente, lançados em outubro. Menino

maluquinho 1 conseguiu alguns relançamentos nessa época, voltando a ser programado em

Brasília, por exemplo, em outubro de 1995. Em São Paulo, no Cinesesc, o filme voltou a ser programado em outubro de 1996, durante três finais de semana.

A possibilidade de reprogramação era uma outra particularidade dos filmes para crianças. Eventualmente, eles voltavam a ser programados nas próximas férias. Menino

maluquinho 1 retornou diversas vezes às salas da Fundação Cultural de Curitiba - Ritz e

Guarani – cujos programadores parece ter conquistado. Após 9 semanas consecutivas desde o lançamento, o filme voltou a entrar em cartaz em janeiro de 1996 e permaneceu por 6 semanas. Em dezembro de 1996, o filme voltou por mais 4 semanas. Finalmente, ganhou mais uma sessão no Dia das Crianças de 1997.

Apesar de contarem com a possibilidade de mais uma temporada residual em cartaz, os filmes infantis sofriam – e continuam muitas vezes sofrendo - algumas restrições. Eram preferencialmente programados pelos exibidores durante o período vespertino, algumas vezes com sessões matutinas extras, e no final da semana. Maluquinho 1 foi exibido em São Paulo em sessões das 10h30 até as 17h30. Cabe ainda notar que alguns cinemas programaram o filme no final de semana, não incluindo a sexta-feira. Por exemplo, na sala Art Guararapes, localizada em um shopping center de Recife, o filme foi exibido apenas aos sábados e domingos da segunda à décima semana em que lá ficou em cartaz.

Outro revés das obras destinadas às crianças é o baixo preço médio do ingresso50 se comparado com o de outros filmes, uma vez que o público-alvo paga meia-entrada. Tomando 49 Depoimento à autora.

50 O preço médio do ingresso é definido neste trabalho como a divisão da renda da bilheteria do filme pelo número de espectadores nas salas de cinema declarados.

possível verificar que o preço médio de Menino maluquinho 1 foi 13,84% menor que a média do ano (ver tabela 2).

Tabela 2 - Preço médio do ingresso em 1995 - comparação entre alguns filmes brasileiros

Filme Preço médio do ingresso (R$)51

Diferencial em relação à média do ano

Filmes brasileiros lançados em 1995 4,48 ---

Menino maluquinho – o filme 3,86 -13,84%

Carlota Joaquina (Carla Camurati) 5,00 +11,61%

O quatrilho (Fábio Barreto) 4,04 - 9,82%

Sábado (Ugo Giorgetti) 5,85 +30,58%

Fonte: OCA – Ancine (SÉRIE...). Elaboração própria.

Foram ao todo cerca de 120 municípios em toda a carreira do filme nas salas. Ele acabou ficando em cartaz por mais de um ano e terminou o circuito comercial no cinema com apenas uma cópia no interior de São Paulo em dezembro de 1996.