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O filme foi codistribuído pela RioFilme e pela Severiano Ribeiro Distribuição (SRD). A entrada do Consórcio Europa Severiano Ribeiro como coprodutor e distribuidor modificou bastante o esquema empreendido na distribuição do primeiro filme. Não só a proposta estética da sequência aderiu a algumas tendências do cinema dominante, mas a distribuição também. A aventura seguiu o modelo de lançamento dos blockbusters hollywoodianos, ou como Silva (2010) os denominou, dos "filmes para grande escala" (p. 89). Maluquinho 2 foi lançado com quase quatro vezes mais cópias que o primeiro (foram em torno de 100) em 10 de julho de 1998 em 43 cidades simultaneamente - das quais 16 eram capitais65. Também foi contratada a empresa Filme B para a coordenação de lançamento. 65 Segundo outra tabela fornecida pela RioFilme, o filme de sequência estreou simultaneamente em Manaus,

filme, já que os multiplex ganhavam força nas grandes cidades. Ainda com a entrada da codistribuidora, o circuito de programação foi consideravelmente diferente. O Grupo Severiano Ribeiro, a maior empresa de exibição do país em 1998 com 130 telas - 8,99% do parque exibidor nacional (GATTI, 2005, p. 291) -, programou o filme dentro da própria rede, o que é quase sempre uma grande vantagem para o produtor brasileiro, que sofre para conseguir espaço para as obras. No entanto, com o fraco desempenho do primeiro final de semana, o filme foi rapidamente retirado de cartaz. No Rio de Janeiro, uma das principais praças do primeiro filme, todas as 20 salas de estreia retiraram a aventura após a primeira ou a segunda semana de exibição. Em São Paulo, o desempenho foi parecido. As exceções ficaram para o Cinemark do Shopping Interlagos, que manteve o filme por 5 semanas consecutivas, e uma sala mais voltada para o cinema alternativo, o Espaço Unibanco, que o exibiu por 6 semanas. O filme acabou passando por cerca de 90 cidades e em meados de novembro do mesmo ano ocorreu sua última exibição comercial.

Interessa notar que o resultado de público nos cinemas foi muito semelhante entre os dois filmes, apesar da discrepância no tamanho do lançamento. Num momento um pouco mais favorável para a cinematografia nacional, a continuação teve cerca de 30 mil a menos espectadores que o primeiro filme: 367.456 (SÉRIE...a)66, quando a expectativa era de dois milhões e meio (GRUPO NOVO..., 1998) . Maluquinho 2 também terminou o ano como o terceiro filme brasileiro mais visto nas salas do cinema, atrás de Central do Brasil e Simão, o

fantasma trapalhão . Levando-se em consideração o número de espectadores por cópia e o

orçamento gasto para a produção dos filmes, Maluquinho 1 teve um desempenho muito melhor.

Tarcisio Vidigal afirmou que o filme contou com um bom suporte de divulgação por meio de anúncios em jornal e televisão, assim como o primeiro, e apontou a data de lançamento escolhida como razão do baixo rendimento do segundo filme nas salas de cinema. No sábado e domingo do lançamento (11 e 12/07, às 16h – horário de Brasília), ocorreram a Salvador, Rio de Janeiro, Uberaba, Porto Alegre, Contagem, Cuiabá, São Paulo, Americana, Londrina, Sorocaba, Belo Horizonte, Niterói, Belém, Santo André, Curitiba, Goiânia, São Bernardo do Campo, Fortaleza, Nova Friburgo, São João de Meriti, Mauá, Santos, Florianópolis, Recife, Conselheiro Lafayete, Macaé, Taubaté, Mogi das Cruzes, Osasco, São José do Rio Preto, Brasília, Ribeirão Preto, Varginha, Teresina, Barra Mansa, São José dos Campos, Juiz de Fora, Taguatinga, Araraquara, Serra de Carajás, Campos e Vitória.

66 Número apresentado pelo OCA da Ancine. Os números informados pela RioFilme apresentam uma pequena discrepância: 371.959 para o segundo filme. Gatti (2005) apresenta um público de 213.528. Vidigal e Meirelles também citam “duzentos e poucos mil”.

seleção brasileira enfrentou os anfitriões para disputar o tetracampeonato e, evento raríssimo, nesse domingo as salas do Grupo Severiano Ribeiro fecharam as portas. Em São Paulo, cinco filmes adiaram sua estreia comercial para a semana seguinte. Apenas dois filmes infantis –

Maluquinho 2 e Paulie - o papagaio bom de papo (John Roberts, 1998) - mantiveram os

planos a despeito do megaevento esportivo (CINCO..., 1998, p. 5C).

Pelo que indicam algumas reportagens jornalísticas, o filme estava planejado para ser lançado em dezembro de 1997, mas provavelmente a finalização atrasou, o que não é incomum. O lançamento incomodou o diretor Fernando Meirelles, que afirmou:

Fomos vítimas do pior lançamento que poderíamos ter tido. Nem se quiséssemos, conseguiríamos planejar tão bem uma estratégia para fracassar. O fi lme foi tão mal distribuído que vale contar: o combinado era lançar Maluquinho 2 no final de junho, para que o filme pegasse a última semana de aulas, criasse um boca a boca nas escolas e depois deslanchasse nos quatro fi nais de semana das férias de julho, que é quando filmes infantis são vistos. Tínhamos cinco semanas para conquistar o público e corremos muito com a fi nalização para estar com tudo pronto. Por não acreditar em filme nacional ou por alguma razão que desconheço, o exibidor Luiz Severiano Ribeiro enrolou o produtor Tarcísio Vidigal e, na hora H, acabou adiando o lançamento em duas semanas. Primeiro erro: perder um final de semana de férias significa perder quase um quinto da possibilidade de receita de um filme infantil. Ele perdeu dois. O filme foi lançado no segundo final de semana de julho. […] Com a desculpa que o fim de semana de estréia havia sido um fracasso, o Severiano Ribeiro reduziu de 120 para 5067 o número de cópias na segunda semana, passando

para as salas liberadas cópias extras do blockbuster Godzilla, que estava estreando.

Nos dois finais de semana seguintes, tivemos boa ocupação das salas que restaram, mas aí as férias estavam acabando e o filme já estava queimado. (CAETANO, 2007, p. 127-129)

O produtor, em depoimento, disse que não deveria ter lançado o filme nessa época, mas tinha alguns compromissos contratuais envolvendo a data de lançamento que deveria cumprir. Na terça-feira da primeira semana, quando a renda por sala (que já havia sido pequena no final de semana) despencou, o exibidor tirou boa parte das cópias. De acordo com Tarcisio, Severiano estava na época viajando e Bruno Wainer, um dos coordenadores do lançamento, estava já mudando de emprego dado o eminente desmantelamento do Consórcio Europa Severiano Ribeiro, de modo que a produção do filme ficou sem interlocutor e não conseguiu impedir a retirada das cópias. Pelo depoimento de Meirelles, parece ter havido entre o Consórcio e a produtora algum tipo de indisposição. No entanto, pode ter acontecido apenas o mais evidente: mesmo sendo codistribuidor, coprodutor68 e exibidor de Maluquinho

2, o Consórcio não hesitou em abrir espaço para Godzilla, ainda que contasse apenas com a

67 Os números de cópias que Meirelles menciona são imprecisos. As cópias lançadas certamente não devem passar de 105.

no mercado internacional e provado seu potencial de atrair espectadores, Maluquinho era um “risco” assumido com dinheiro público que teve uma estreia ruim.

Gatti (2005) é da plausível opinião de que várias das distribuidoras eventuais de cinema brasileiro, como é o caso da SRD, “muito mais voltadas para a distribuição do filme importado de um modo geral”, “não são distribuidoras capacitadas ou formatadas para comercializar o filme brasileiro, isto com a mesma competência que o fazem com os filmes estrangeiros, seja por eles importados e/ou distribuídos.” (p. 210-211).

O autor ainda assinala que, normalmente, quando a RioFilme trabalha com outras distribuidoras, os filmes conseguem um desempenho superior à média da empresa carioca (p. 198). Isso entretanto não aconteceu com Maluquinho 2. No final de semana de estreia, não só a seleção brasileira fracassou, mas também o planejamento de Maluquinho 2 para emular os filmes-família de Hollywood mostrou sua fragilidade.

A sequência teve um preço médio do ingresso muito baixo, 43,14% menor que a média dos filmes brasileiros do ano. Simão, o fantasma trapalhão , outro filme infantil lançado em 1998, teve também um preço médio de ingresso abaixo da média: -14,19% (ver tabela 3). O preço médio de um filme como Como ser solteiro (Rosane Svartman, 1998) é, em contrapartida, mais de duas vezes maior que o de Menino maluquinho 2.

Tabela 3 - Preço médio do ingresso em 1998 - comparação entre alguns filmes brasileiros

Filme Preço médio do ingresso (R$)69

Diferencial em relação à média do ano

Filmes brasileiros lançados em 1998 4,30 ---

Menino maluquinho 2 2,45 -43,14%

Central do Brasil (Walter Salles) 5,07 +17,99%

Simão, o fantasma trapalhão 3,69 -14,19%

Como ser solteiro (Rosane Svartman) 5,47 +27,26%

Fonte: OCA – Ancine (SÉRIE...). Elaboração própria.

É possível perceber ainda uma boa diferença entre o preço médio dos dois filmes infantis do ano. Cabe lembrar que há outros fatores que influenciam esse dado, como o preço dos ingressos nas diferentes salas em que o filme foi programado, a quantidade de espectadores que assistiram à fita gratuitamente (em pré-estreias, por exemplo), ou a 69 Supõe-se que os valores estejam em Reais de 1998.

Em vídeo, o filme contou posteriormente com boa circulação, mas não foi tão bem- sucedida quanto a de Maluquinho 1.

As vendas internacionais também não alcançaram bons resultados. Outra característica dos filmes infantis é, aliás, a maior dificuldade de exportação, especialmente quando o filme inclui como público-alvo as crianças menores. O custo e o tempo de dublagem, procedimento ideal para lançar a obra em países com outros idiomas, são muito superiores aos da legendagem. Além da dificuldade em concorrer com o cinema hegemônico, que costuma ter muito mais capital para produção e lançamento, incluindo a campanha publicitária, esse custo extra deixa o negócio ainda menos atraente, o que limita a difusão de cinematografias infantis não-hegemônicas mesmo em vídeo. Elas parecem ter, assim, a sua carreira praticamente confinada em seus países de origem.

Dados os resultados muito aquém do esperado com o filme de sequência, Vidigal desistiu dos planos de levar à frente uma franquia de mídia de Maluquinho.