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A criança então permanece olhando para o brinquedo e o empurra para o lado oposto ao qual

MICROGENÉTICA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DAS TROCAS DE AÇÕES NO AUTISMO.

C: A criança então permanece olhando para o brinquedo e o empurra para o lado oposto ao qual

ela está sentada. Em seguida, a criança toca três vezes na buzina do brinquedo e depois desvia o seu olhar e passa a olhar na direção de uma pilha de cones que está mais à sua esquerda (Imagem 3

e 4).

Antes de pontuar os aspectos relativos à dinâmica das trocas de ações características do padrão de Apresentação do Objeto, gostaríamos de retomar aqui os achados da análise da freqüência e do tempo de ocorrência deste padrão.

O que esta análise nos mostrou é que o padrão de Apresentação do Objeto teve uma freqüência de menos de 30% em relação a todos os eventos de troca de ações identificados na DÍADE 1. Além disso, em relação ao tempo de ocorrência, a referida díade dedicou

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menos de 20% do seu tempo a este padrão de organização. Por fim, a média do tempo de duração dos eventos caracterizados como Apresentação do Objeto foi 17,11 segundos.

Tendo em vista tais resultados, um primeiro aspecto que deve ser comentado sobre o referido padrão de organização diz respeito ao fato de que o início das trocas de ações depende da iniciativa da mãe. Este tipo de resultado também já foi encontrado por outros estudos que focalizam as trocas sociais no autismo e pontuaram que é mais freqüente que a iniciativa de começar uma troca seja do parceiro da criança autista do que dela própria (ver por exemplo DOUSSARD-ROOSEVELT et al., 2003; WILLEMSEN-SWINKELS et al., 1998). Todavia, o nosso interesse, no presente estudo, é o de pontuar a iniciativa da mãe como um dos elementos que contribuem para a emergência de um padrão de organização específico dessas trocas, ou invés de destacar isso como conseqüência dos prejuízos na área da comunicação/interação apresentados por crianças com diagnóstico de autismo.

Retomando a questão da iniciativa da mãe de começar a troca de ações, esta se traduz na maioria das vezes (em seis dos nove eventos de troca de ações que exibiram o padrão de Apresentação do Objeto) por uma ação motora da mesma de chamar a atenção da criança para determinado objeto. No exemplo acima descrito, a mãe procurou chamar a atenção da criança para o objeto destacando o som de uma buzina que fazia parte do mesmo. Em outros eventos de troca de ações isto foi feito, por exemplo, ao sacudir uma bola de basquete no chão para ela quicar ou, simplesmente, mudando a posição do objeto que já estava no campo visual da criança. Além da ação motora, a iniciativa da mãe de chamar a atenção da criança para um ou mais objetos contou com a utilização da verbalização da mãe em relação à criança. Entretanto, a verbalização foi utilizada pela mãe em apenas três eventos de troca de ações e em dois deles este elemento foi utilizado de modo complementar a uma ação motora (neste caso a verbalização ocorria após a mãe ter iniciado a sua ação motora de chamar a atenção da criança).

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Além da iniciativa da mãe em começar as trocas de ações, outro aspecto chama a atenção nas trocas cuja configuração é a Apresentação do Objeto. Quando a mãe consegue chamar a atenção da criança para o objeto e esta última apresenta uma ação em relação ao mesmo, a mãe tende a não continuar utilizando como elemento para compor o seu turno, ações motoras direcionadas ou à criança ou ao objeto. A mãe pode até utilizar a verbalização e apresentá-la como seu turno mas não dá continuidade às suas ações em relação ao objeto que foi o foco inicial das trocas diádicas. Observamos então que este posicionamento da mãe parece quebrar a fluidez que marcou o início das trocas de ações entre a mãe e a criança, onde a atenção da criança é captada, ela olha imediatamente e, em seguida, realiza alguma ação na direção do objeto apresentado pela mãe. No exemplo ilustrativo do padrão de Apresentação do Objeto, acima apresentado, depois que conseguiu captar a atenção da criança para o objeto e que a mesma vai e o segura a mãe retira sua mão, encosta-se na cadeira e então passa a olhar a criança manuseando o objeto. Logo em seguida a criança desvia o seu olhar do objeto apresentado pela mãe.

Gostaríamos de destacar ainda um último ponto acerca da dinâmica das trocas de ações relacionadas ao padrão de Apresentação do Objeto que diz respeito à atenção da criança antes do início da troca com sua mãe. Ao analisar os eventos de troca de ações que exibem o padrão de organização em questão, é possível destacar que no instante que antecede o início das trocas de ações (em 66,67% destes eventos) a criança estava com sua atenção ou voltada para outro objeto ou para outra atividade. O que queremos sugerir é que a característica deste padrão de apresentar um tempo de ocorrência menor que, por exemplo, o padrão de Exploração do Objeto, pode ter o elemento “atenção da criança” como um daqueles que contribui, em combinação com outros, para esta característica do padrão. Isto porque quando a mãe chama a atenção da criança para um objeto e, neste momento, a mesma está com sua atenção voltada para outro, é coerente pensar que ao

manifestar o interesse pelo objeto que a mãe mostrou a atenção da criança fique dividida. Isto por sua vez pode se traduzir na dinâmica das trocas de ação ou por pequenas interrupções da atenção da criança para o objeto que está servindo como mediador das trocas entre ela e a mãe (mesmo que a criança retome a atenção em seguida), como também, pode interferir no tempo de duração do evento de troca de ações contribuindo para que este tenha um tempo de duração menor. O que tentamos mostrar com este destaque para a atenção dividida entre dois objetos é que, em eventos de troca de ações com esta característica, os déficits na interação que crianças com diagnóstico de autismo podem não ser os únicos elementos que contribuem para a interrupção da troca com sua mãe. Na verdade, o que parece também contribuir aqui para a quebra das trocas de ações é um aspecto que pode estar presente nas trocas de ações de qualquer díade em interação (com ou sem prejuízo em áreas da comunicação e da interação social), qual seja, a divisão da atenção e do interesse entre vários objetos e/ou atividades.

Exemplo 2 – Padrão “Exploração do Objeto”:

1ª Sessão de vídeo da Díade 1. Marcação Temporal: 02:59 – 04:06.

Tempo de Ocorrência (duração em segundos): 67 seg.

Contexto em que as trocas de ações ocorrem: Mãe e criança estão sentadas em cadeiras. A criança está de frente para uma mesa e a sua mãe está sentada do seu lado direito e um pouco mais afastada da mesa. Num momento anterior ao início deste evento de troca de ações, a mãe estava olhando na direção da mesa e a criança, com sua

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perna esquerda dobrada em cima da cadeira e passando sua mão esquerda nos lábios, olha na direção de uma “pilha de cones” de papelão que está em cima da mesa (mais para o lado esquerdo da criança).

Início do exemplo do Padrão “Exploração do Objeto”: