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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.5. Crioresistência Espermática

Em ovinos, similarmente ao que acontece em outras espécies, a congelabilidade, ou seja, a habilidade do sêmen em resistir à congelação e descongelação sofre importante variação entre indivíduos e entre ejaculados (WATSON et al., 1++1; +OLT et al., 1++2; GILLAN et al., 2004; PERIS et al., 2004). Diferenças tanto na freqüência de ejaculação como nos períodos de trânsito e na mistura de espermatozóides no epidídimo, proporcionam um mecanismo potencial para a variabilidade em respostas à oscilação de temperatura subseqüente, explicando o porque do ejaculado no indivíduo poder variar nas suas respostas à criopreservação. A variabilidade funcional na resposta de espermatozóides tratados pelo mesmo método faz parte de um fenômeno mais amplo de heterogenia (WATSON, 1++5).

Um problema freqüente de ordem prática a respeito da indústria de preservação do sêmen são os reprodutores denominados “bons congeladores” e “maus congeladores”. Independente da qualidade anterior, o sêmen de certos indivíduos consistentemente congela com menos crioinjúria em relação a outros. A redução desta variabilidade é um dos mais importantes desafios do processo tecnológico de criopreservação do sêmen (+OLT et al., 1++2), embora essa característica possa ajudar na detecção de possíveis relações entre testes de qualidade de sêmen e a fertilidade, particularmente porque a variação na fertilidade geralmente é pequena (FARREL et al., 1++8).

Os níveis relativos de cálcio intracelular dos espermatozóides criopreservados são inversamente correlacionados com a fertilidade in vivo de touros. Após a congelação e descongelação, espermatozóides provenientes de touros pouco férteis não conseguem regular os níveis intracelulares de cálcio tão satisfatoriamente como aqueles originários de animais com boa fertilidade. Espermatozóides de touros pouco férteis são danificados ainda antes da criopreservação. Provavelmente um acúmulo de cálcio aconteça antes mesmo da congelação. Além disso, os espermatozóides provenientes de touros com baixa fertilidade têm membranas plasmáticas mais frágeis e menos funcionais após a criopreservação. Embora o sêmen in natura de reprodutores com baixa fertilidade deva ser altamente fértil, durante a criopreservação seus espermatozóides parecem ser mais suscetíveis às alterações de membrana que favorecem o influxo de cálcio (COLLIN et al., 2000). É possível que a Ca2+ ATPase (PARRIS+ et al., 1+++) nas membranas plasmáticas de espermatozóides de touros com baixa fertilidade perca sua funcionalidade normal durante a criopreservação. Conseqüentemente, o cálcio citoplasmático seria retido nos espermatozóides ao invés de ser bombeado para os arredores extracelulares diminuindo o desempenho espermático na fertilização (COLLIN et al., 2000).

Como mencionado anteriormente, existem diferenças entre as espécies quanto à resistência dos espermatozóides ao choque térmico que são atribuídas às diferentes concentrações de lipídios nas membranas plasmáticas (MESEGUER et al., 2004; MOCÉ & GRA+AM, 2006). Uma variabilidade significativa entre os indivíduos no que diz respeito à quantidade de colesterol

do sêmen humano também foi detectada por Meseguer et al. (2004). Segundo os autores, apesar de se acreditar que o espermatozóide humano deva ter uma melhor resistência à criopreservação quando comparado com outros mamíferos por causa da sua alta quantidade de colesterol, altas concentrações desse esterol presentes em alguns indivíduos não foram acompanhadas por incremento na sobrevivência durante a congelação.

Um fato a ser considerado na avaliação do sêmen congelado, é que os testes laboratoriais in vitro exibem pequena diferença entre os reprodutores quando os ejaculados são selecionados antes da sua estocagem (NAVES et al., 1++6). Morris et al. (2001) verificando o efeito de alguns fatores sobre a produção de embriões, não identificaram diferenças entre carneiros e entre ejaculados dentro de um mesmo carneiro. Segundo os autores, a ausência de variabilidade entre carneiros é conhecidamente um reflexo do processo de seleção. Os carneiros utilizados por eles foram escolhidos a partir de uma pequena população comercial previamente selecionada por critérios de fertilidade. Implementação de critérios de seleção é por si só uma tentativa de remover variabilidade de programas de reprodução.

El-Alamy & Foote (2001), relataram que carneiros dentro da mesma raça e entre raças diferiram na porcentagem de motilidade progressiva de espermatozóides após a congelação. Os autores ressaltaram que a média de motilidade progressiva dos espermatozóides de 58 e 62% para as duas raças estudadas, refletiu o fato de que, nem os carneiros nem os ejaculados, foram selecionados para características potencialmente ideais de congelação de sêmen. Já Peris et al. (2004) verificaram variação individual significativa entre ejaculados de um mesmo carneiro para todas as variáveis da CASA. Análises do sêmen congelado de +7 carneiros pela CASA foram realizadas por Eppleston & Maxwell (1++5) revelando uma grande variação individual nos parâmetros de motilidade e velocidade espermática. Os autores observaram haver também uma variação entre carneiros quanto a fertilidade após inseminações laparoscópicas de mais de 5000 ovelhas.

Em bovinos, Farrel et al. (1++8) obtiveram diferenças pequenas, porém estatisticamente significativas entre o primeiro e o segundo ejaculado para diversas variáveis da cinética espermática determinada pela CASA porém, os

referidos autores complementaram relatando que, as diferenças entre touros foram consideravelmente, a maior fonte da variação particularmente para as variáveis que caracterizam a motilidade e a velocidade espermática: motilidade total e progressiva, VCL, VAP e VSL. Os touros diferiram em todas as variáveis exceto BCF.

Em relação à integridade das membranas espermáticas, Watson et al. (1++1) obtiveram diferenças evidentes entre ejaculados de carneiros quanto à predisposição dos espermatozóides em sofrerem reação acrossomal tanto na presença de cálcio ionóforo como após a incubação prolongada enquanto que +olt et al. (1++2), identificaram diferenças entre carneiros com relação à extensão da perda de integridade de membrana plasmática de espermatozóides criopreservados durante o reaquecimento.

A variação que se observa entre animais na sua habilidade em resistir ao processo de preservação do sêmen também pode ser por causa dos diferentes níveis de susceptibilidade do DNA dos indivíduos ao dano provocado pelo processamento (GILLAN et al., 2004), entretanto, a crioresistência está mais intimamente relacionada à composição da membrana plasmática (PARKS & GRA+AM, 1++2). As funções relacionadas à integridade da membrana plasmática são as mais críticas para a manutenção da fertilidade (+ARRISON & VICKERS, 1++0; VALCÁRCEL et al., 1++7).