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A ovinocultura tem surgido, principalmente nos últimos anos, como uma alternativa bastante interessante para a atividade pecuária. Tem-se assistido ultimamente uma mobilização de produtores, entidades e governos, no sentido de organizar a cadeia produtiva da ovinocultura. A espécie ovina também tem sido freqüentemente utilizada como importante instrumento em ações de desenvolvimento social, tendo em vista a sua alta adaptabilidade e sua grande importância como fonte protéica de alimentos para as populações carentes. A exploração econômica dos derivados desta espécie torna-se fator importante para a fixação e manutenção do homem no campo, contribuindo, em grande parte, para sua renda mensal. Atenção especial tem sido dada ao crescimento das raças ovinas deslanadas dos trópicos, principalmente à raça Santa Inês (SI), devido às suas características marcantes de adaptação a sistemas de produção a campo e a ecossistemas adversos, além da produção de produtos de elevados valores biológicos, a exemplo da carne, peles e esterco, produtos estes que podem contribuir para o incremento do produto interno bruto (PIB) do país, a renda familiar e a qualidade do solo.

Uma das principais alternativas para a melhoria da produtividade de qualquer espécie é o incremento da eficiência reprodutiva (SELAIVE– VILARROEL, 1++1). Na ovinocultura tem sido muito ressaltada a importância da implementação e desenvolvimento de programas de cruzamento gerando desta maneira uma necessidade sobre o uso da inseminação artificial (IA), primariamente para o aproveitamento do potencial genético de carneiros superiores (LANGFORD et al., 1+7+). A IA quando utilizada para massificar a utilização de reprodutores geneticamente superiores é certamente, a biotécnica de maior impacto para os programas de melhoramento animal (BERGMANN & PENNA, 1+++). A exploração do potencial da IA é significativamente multiplicada pela viabilização de uma técnica baseada na utilização do sêmen congelado, visto que o seu uso in natura é limitado pelo período restrito de viabilidade (LANGFORD et al., 1+7+).

A despeito de taxas relativamente altas de espermatozóides móveis após a descongelação (SALAMON & MAXWELL, 2000) o desempenho obtido

com o uso de sêmen congelado é bem inferior àquele alcançado com o sêmen in natura (LANGFORD et al., 1+7+). Mesmo com as melhores técnicas atuais de preservação, a sobrevivência pós-congelação é restrita a aproximadamente, 50% da população dos espermatozóides. Além disso, a maioria dos espermatozóides sobreviventes tem características que os distinguem daqueles antes da criopreservação (WATSON, 1++5). Mudanças nas membranas dos espermatozóides podem não afetar a motilidade, porém encurtam sua sobrevivência (LOGINOVA & Z+ELTOBRYUK+, 1+75; SALAMON & MAXWELL, 2000). A reduzida viabilidade dos espermatozóides congelados-descongelados está correlacionada com evidências (WATSON, 1++5; MAXWELL & WATSON, 1++6) de que os espermatozóides que sobrevivem à congelação e descongelação têm suas membranas alteradas a um estágio que pode conferir a eles características similares às células capacitadas e/ou com reação acrossomal (GILLAN et al., 1++7).

A fertilidade proveniente da IA com sêmen congelado é menos satisfatória em relação àquela feita com sêmen in natura, o que pode ser apenas parcialmente compensado com a utilização de um maior número de espermatozóides vivos na dose inseminante (WATSON, 1++5). Este desempenho insatisfatório na taxa de concepção é ainda mais evidente quando os espermatozóides são depositados distantes do sítio de fertilização (MAXWELL & JO+NSON, 1+++) como na porção posterior da cérvix, levando a índices pelo menos 20% menores que aqueles obtidos com o sêmen in natura (GUSTAFSSON, 1+78).

Existe muita dificuldade para se obter uma população de espermatozóides suficientemente viáveis com condições de atingir o útero e chegar até o oviduto (SALAMON & MAXWELL, 2000). Além de terem sua viabilidade e funcionalidade reduzidas, os espermatozóides criopreservados são inábeis em atravessar as pregas e barreiras do sistema genital (+AWK, 1+83; WINDSOR, 1++5), aderem e são liberados do epitélio do útero rapidamente (GILLAN et al., 2000), e são mais vulneráveis à expulsão através da drenagem para a vagina (+AWK, 1+83). Acredita-se também que a utilização de sêmen congelado comprometa a fertilidade aumentando os índices de mortalidade embrionária e fetal (LANGFORD et al., 1+7+).

A deposição do sêmen no trato feminino em porções mais craniais próximas ao sítio de fertilização e num momento mais próximo à ovulação, compensaria o fato dos espermatozóides estarem parcialmente lesados e capacitados (WATSON, 1++5). A laparoscopia tem viabilizado a utilização do sêmen congelado já que propicia a deposição diretamente no útero, levando à obtenção de índices de prenhez semelhantes aos obtidos com a monta natural (MAXWELL & +EWITT, 1+86; SOUZA, 1++3). A laparoscopia no entanto exige equipamentos e pessoal especializado (SOUZA, 1++3; NAQVI et al., 1++8), além de criar preocupações quanto ao bem estar animal por ser um método invasivo (CROY et al., 1+++; DONOVAN et al., 2004), fatores estes que restringe o seu uso aos plantéis especializados com elevado valor agregado (SOUZA, 1++3; NAQVI et al., 1++8).

Um procedimento ideal e viável de IA deveria incluir métodos que utilizem a via cervical (WULSTER-RADCLIFFE & LEWIS, 2002). Entretanto, essa via de acesso ao útero é de difícil adoção na espécie ovina já que, o colo uterino dessa espécie, constitui um dos maiores obstáculos à passagem de instrumentos (+ALBERT et al., 1++0a e 1++0b; CROY et al., 1+++). Assim, um método exeqüível de IA que utilize essa via precisa incorporar técnicas que superem os desafios anatômicos da cérvix sem induzir traumas (STELLFLUG et al., 2001; WULSTER-RADCLIFFE & LEWIS, 2002).

De um modo geral, o aperfeiçoamento da técnica de IA em ovinos depende da melhoria na eficiência no processamento do sêmen seja pela elevação do rendimento de doses inseminantes por ejaculado (eficiência quantitativa) bem como pela melhoria na viabilidade e fertilidade do sêmen processado (eficiência qualitativa). Para tanto, torna-se imprescindível o conhecimento de algumas limitações processuais, fisiológicas e tecnológicas que reduzem a aplicação da IA em escala na espécie ovina. O conhecimento dos aspectos morfológicos e funcionais da célula espermática, assim como seu comportamento frente aos desafios impostos pela criopreservação devem ser os primeiros passos a serem dados na direção do aperfeiçoamento da tecnologia de sêmen e inseminação artificial na espécie.

Em relação à eficiência qualitativa, algumas substâncias têm sido incorporadas ao sêmen com o objetivo de diminuir os danos provocados pela

criopreservação dos espermatozóides em várias espécies. Lipídios como o colesterol (OLLERO et al., 1++6 e 1++8b; ZA+N, 2002; MORRIER et al., 2003; NIMMO & CROSS, 2003; MORRIER et al., 2004; PURDY & GRA+AM, 2004a e 2004b; BARRERA-COMPEAN et al., 2005) e desmosterol (NIMMO & CROSS, 2003; MOCÉ & GRA+AM, 2006), ácidos graxos como o ácido oléico-linoléico (PERÉZ-PÉ et al., 2001) e proteínas como a Į-lactoalbumina (OLLERO et al., 1++6; OLLERO et al., 1++8b) foram testadas apresentando grandes benefícios na manutenção da viabilidade, função e status de capacitação dos espermatozóides criopreservados.

Os objetivos deste trabalho foram: verificar a influência individual sobre a crioresistência do sêmen de carneiros da raça Santa Inês e relacioná-la aos demais parâmetros de avaliação; testar a aplicação de técnicas de fluorescência como instrumento para seleção de ejaculados ovinos destinados à criopreservação e estabelecer parâmetros mínimos de avaliação para o sêmen in natura e; investigar a ação protetora do colesterol, desmosterol, ácido oléico-linoléico e Į-lactoalbumina sobre a função, integridade e status de capacitação em espermatozóides ovinos submetidos ao processo de criopreservação.