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Quem são os usuários dos CRAS-Pajuçara? Onde e como vivem? Em que trabalham e sob que condições?

4 NATAL: CONTORNOS DE POBREZA E CONDIÇÕES DE VIDA DOS USUÁRIOS DO CRAS-PAJUÇARA

4.2 O CRAS E SUA MATERIALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE NATAL/RN

4.2.1 Quem são os usuários dos CRAS-Pajuçara? Onde e como vivem? Em que trabalham e sob que condições?

O trabalho empírico, por meio do instrumental-entrevista, possibilitou-nos traçar o perfil sociodemográfico dos usuários que participaram dos cursos profissionalizantes, no CRAS-Pajuçara, no ano de 2010. Sobre o qual, passaremos a destacar algumas implicações reveladoras do nosso objeto em análise.

A fim de desvelar quem são e como vivem estes sujeitos acima referendados, partiremos da discussão sobre a categoria “superpopulação relativa75 como um produto necessário e funcional a lógica capitalista a fim de dar movimento ao processo de reprodução e acumulação do capital. Tal como ressalta Marx (1999, p. 735), essa se torna “a alavanca da acumulação capitalista e, mesmo, condição de existência do modo de produção capitalista”. Constituída por uma massa de trabalhadores que vagam de emprego em emprego, oferecendo sua força de trabalho barata e superexplorada. Além disso, é ainda composta por uma população de desempregados os quais, desprovidos dos meios de subsistência, servem como “um reservatório de força de trabalho”, intitulado por Marx como “exército industrial

75 Registramos aqui a fecunda contribuição dos estudos de César Maranhão (2009) e Sitcovsky

(2010) os quais trouxeram as reflexões da “superpopulação relativa” para o campo da assistência social.

de reserva”, o qual está disponível ao capital, sendo, pois, acionado e utilizado por esse, sempre que lhe parecer útil e necessário (MARX, 1988).

Assim, identificamos que a “superpopulação relativa”, submete-se a qualquer tipo de trabalho e salário a fim de prover renda e garantir sua sobrevivência. Esses trabalhadores, os quais Marx denomina de “supérfluos” para o capital, se inserem dentre àqueles disponíveis ao circuito do capital e são acionados sempre que esse precisar explorar. Sobre a população de supérfluos, Marx (1999, p. 732) acrescenta:

[...] a verdade é que a acumulação capitalista sempre produz, e na proporção de sua energia e de sua extensão, uma população trabalhadora supérflua relativamente, isto é, que ultrapassa as necessidades médias da expansão do capital, tornando-se, desse modo, excedente.

Nesse sentido, a “superpopulação relativa” se assenta no campo social e econômico, e cotidianamente são estimulados a se inserirem no mercado de trabalho pela via da informalidade. Sendo, pois, no contexto da reestruturação produtiva que se dissemina o discurso: “no combate à pobreza extrema, a promoção do „setor informal‟ é apresentada como um complemento às políticas focalizadas de assistência” (TAVARES, 2004, p. 60).

No tocante a identificação dos sujeitos que são elegíveis para os programas e projetos assistenciais no município, nos reportamos aos estudos de Marx (1988), expresso em o Capital, vol. II, em sua Crítica à Economia Política, o qual situa a superpopulação relativa em três formas: flutuante, latente e estagnada. A forma “flutuante” refere-se à força do trabalho industrial de fábricas e empresas, que será repelida ou atraída a atividade laboral, dependendo das alterações orgânicas do capital. A “latente” congrega os trabalhadores que estão rebaixados ao mínimo de sobrevivência, os quais são expulsos, gradativamente do campo, visto a expansão do grande capital na agricultura. E a forma “estagnada” é composta por trabalhadores que estão desenvolvendo atividades laborais, porém, sob condições irregulares ou precárias.

Marx denomina a forma estagnada “[...] como um reservatório inesgotável de força de trabalho disponível” (MARX, 1988, p, 199). Isso revela-nos que a existência dessa “superpopulação relativa” se constitui como condição determinante

para a acumulação capitalista, portanto, adquiriu um relevo significativo nesse estudo.

Assim, partindo da apreensão Marxiana sobre o termo “superpopulação relativa”, identificamos que o tipo de beneficiários dos programas e projetos da assistência social, no âmbito do CRAS-Pajuçara, se enquadra na forma “estagnada”, pois, dentre a maioria das entrevistadas, apesar de não estar inseridas no processo produtivo, se mostram dispostas a assumir qualquer ocupação e disponíveis a aceitar qualquer valor na venda de sua força de trabalho.

Partindo desse preâmbulo é cabível acrescentar que os critérios estabelecidos pelo MDS, para definir os usuários beneficiários da assistência social são definidos por parâmetros próprios de cada programa, projeto, serviço e benefício socioassistencial. Sendo, portanto, através desses parâmetros e pelo instrumento da coleta de entrevista, que constatamos a preeminência da figura da mulher como representante legal das famílias beneficiadas na rede socioassistencial. Salientamos que a referida constatação não é nova, mas histórica. Prevalece à atenção a famílias por critérios de renda, e aquelas que se enquadram às condicionalidades dos programas de transferência de renda, ou seja, a família “pobre”, com filhos, de renda insuficiente para prover suas necessidades básicas da vida material.

O padrão de família da rede socioassistencial é, portanto, diverso, contraditório, marcado pelos contornos da pobreza, por relações hierarquizadas e desiguais. Para tanto, a questão de gênero deve ganhar relevo na pauta dos serviços oferecidos no âmbito do CRAS, tanto a nível local e nacional.

Essa constatação é reforçada, por meio das entrevistas, quando em 100% delas, apontaram a presença feminina nos cursos oferecidos, e em todas elas, as participantes estavam inscritas no Programa Bolsa Família. Revelando assim, o aspecto condicional e limitante para participar dos referidos cursos. De maneira que aqueles que não possuíam inscrição nos programas de transferência de renda, mas externavam vontade de participar dos cursos viabilizados no CRAS, deveriam atender aos critérios de algum outro serviço do CRAS. Com isso constatamos que, prioritariamente, esses cursos eram oferecidos aos usuários do “Programa Bolsa Família”, conforme assinalaram as entrevistas.

Ressaltamos que a predominância da participação feminina nos cursos é decorrente da presença majoritária das mulheres como representante legal dos serviços socioassistenciais dos CRAS. Deste modo, a oferta dos cursos é pensada,

estrategicamente, para atender ao público feminino. A presente inferência segue a conjuntura nacional dos CRAS, mostrado através de um substancioso estudo realizado em 2011, o qual demonstrou que a maioria dos CRAS no Brasil, assenta suas atividades no público feminino, seja através das atividades socioeducativas, seja no fomento à geração de renda. (Ver: COUTO et al, 2011a).

A tabela 1 a seguir, nos deu elementos para identificar a faixa etária das entrevistadas e participantes dos cursos oferecidos no CRAS-Pajuçara:

Fonte: Elaboração própria, com base na pesquisa de campo realizada em março e abril de 2012.

Quanto ao estado civil das entrevistadas, prevaleceram à participação de mulheres, solteiras, nascidas nesta Capital, de faixa etária entre 21 a 30 anos (50%), com filhos. Além disso, a tabela 1 revela que a faixa etária das entrevistadas oscilou entre 21 e 60 anos. Isso nos dá subsídio para justificar a necessidade de futuras formulações e execuções de políticas públicas adequadas à idade e ao interesse dos usuários, principalmente, em se tratando de iniciativas do Estado, relacionadas à Política do Trabalho e de fomento à geração de renda.

Todavia, devemos ponderar o fato de que, a simples capacitação ou formação profissional não resulta necessariamente em “inclusão” durável no mundo do trabalho, principalmente, em tempos de desemprego estrutural. Além disso, as iniciativas do Estado na tentativa de promover emprego e renda, destinada a populações subalternas, pela via da assistência social, têm revelado limites bastante significativos em relação à sustentabilidade e empregabilidade, conforme já discutimos anteriormente.

No trato do nível de escolaridade, houve prevalência no grau de escolaridade do ensino fundamental incompleto (40%), seguido do médio incompleto

Tabela 1: Faixa etária dos entrevistados - CRAS/Pajuçara

Faixa etária Quantidade Porcentagem

15-20 0 0 21-30 5 50% 31-40 2 20% 41-50 2 20% 51-60 1 10% 61 a mais 0 0 Total 10 100%

(30%) com formação em escola pública, o que revela ainda outro problema preocupante no campo das políticas públicas, que é a questão da evasão escolar e da situação das escolas públicas no Brasil: professores mal remunerados e desestimulados, crianças com fome ou mal nutridas, péssimas condições de estudo e trabalho, conteúdo inadequado, além das condições de vida precárias dos estudantes, que são obrigados a abandonarem a escola para ajudar no sustento da casa, filhos, etc.

Dados do último Censo do IBGE (2010) revelam que no Rio Grande do Norte há mais de 1,5 milhões de pessoas sem instrução e com ensino fundamental incompleto. Deste modo, o baixo grau de instrução, mostra-se como um fator limitante para a inserção dos indivíduos no mercado de trabalho e aquisição de renda para satisfação das necessidades da família, tornando a situação em um círculo vicioso. A tabela 2 apresenta os dados sobre a escolaridade dos Participantes dos cursos no CRAS em análise. Vejamos:

Fonte: Elaboração própria, com base na pesquisa de campo realizada em março e abril de 2012.

Assim, para destacar à escolaridade dos jovens e adultos residentes nesta capital, precisamente em áreas vulnerabilizadas, retomamos aos dados apresentados na pesquisa: Pobreza e Desigualdade Social em Natal (OLIVEIRA et al, 2012), os quais revelam que 33% dos entrevistados estudaram até a quarta série e apenas 2% concluíram o ensino fundamental.

No processo de alfabetização, estudos consideram que somente depois de consolidada por completo a quarta série, os indivíduos são considerados alfabetizados. As pessoas com menos de 4 anos de escolaridade são denominadas analfabetas funcionais (IBGE, 2000). Assim, tomando por base tais considerações, observamos a partir da Tabela 2, que apenas 01 (10%) dos entrevistados concluiu a

Tabela 2: Grau de Escolaridade

Grau de Escolaridade Quantidade Porcentagem

Ensino Fundamental Incompleto 4 40%

Ensino Fundamental Completo 1 10%

Ensino Médio Incompleto 3 30%

Ensino Médio Completo 2 20%

Outros 0 0

quarta série. Enquanto que 04 (40%) desses encontram-se na condição de analfabetos funcionais e, apenas 02 (20%), possuíam o 2°grau completo.

A referida constatação interfere na ocupação, desses sujeitos, no mercado de trabalho, haja vista que identificamos, também por meio das entrevistas, que as participantes desempenham atividades centradas em ocupações informais como: trabalhos domésticos, sem vínculo empregatício formal, como: diarista/faxineira e atendente de restaurante. Deste modo, encontravam-se submetidas a baixos salários e a péssimas condições de trabalho. Salientamos que embora seja legítimo o discurso que quanto maior o nível de escolaridade, qualificação e experiência profissional, maiores serão as chances de auferir rendimentos futuros e garantias trabalhistas. Há de considerarmos que as formas alienantes, alienadas e degradantes, intrínsecas na relação capital-trabalho, perpassam por todos os níveis de formação e tipos de inserção no processo produtivo. Além disso, todas as atividades realizadas, já que necessárias à sociedade deveriam oferecer condições adequadas de trabalho e remuneração suficiente para suprir as necessidades dos indivíduos e suas famílias viverem dignamente.

Contudo, urge à necessidade de ações por parte do poder público, que possibilitem mudanças concretas no quadro atual destes sujeitos via políticas públicas, tanto na educação-base, como resultado de uma política que viabilize a expansão do acesso à escola, quanto em uma maior atenção para aqueles que estão na condição de „disponíveis para o mercado‟.

No aspecto de infraestrutura, o contexto natalense, apresentado no relatório sobre pobreza e desigualdade social em Natal, realizado nos 1.319 domicílios situados nas quatro zonas da Capital, comprovou que a situação de moradia é própria, abrangendo uma porcentagem de 80%. Aqui sinalizamos uma ressalva: o estudo referendado mostra que, desses domicílios, apenas 56% possuem registro com escritura pública.

À condição de moradia alugada, abrange um total de 14%. Um dos fatores apontados como causado grande número de propriedades sem registro é o aumento de loteamentos irregulares na cidade, além de outras formas de ocupação, a exemplo de invasão de áreas verdes (OLIVEIRA et al, 2012). Ainda no trato do alto número de “casas próprias”, há que se considerar o tipo de moradia própria. São comuns os casos, em que famílias, por vezes às numerosas, se “aglomeram” em

áreas de ocupação irregulares, com pequenos cômodos, sem saneamento, água potável etc. Apesar disto, são consideradas pelas entrevistadas como “casa própria”.

Com efeito, a partir da coleta de dados, quanto à expressão da situação habitacional dos nossos entrevistados, prevaleceu à condição de casa própria, mesmo que a maioria encontre-se em situação não formalizada. Assim, constatamos que dentre as 10 entrevistadas, 07 delas residem em casa própria, 02 (duas) em domicílios cedidos por parentes e apenas 01 (uma) mora em casa alugada. Esses entrevistados moram na companhia de no mínimo 02 (duas) e no máximo 10 pessoas, as quais se acomodam entre 01 e 05 cômodos.

Destacamos ainda que, dentre as condições de moradia, vivenciada pelos participantes dessa pesquisa, todos afirmaram possuir fossas improvisadas no quintal e, 09 disseram ter escoamento das águas servidas a céu aberto, e apenas 01 (uma) entrevistada citou ter sumidouro. Tal descaso quanto ao saneamento básico do Pajuçara, não difere dos demais bairros periféricos da capital. Ao considerarmos o cenário nacional, de acordo com o último Censo do IBGE (2010a), os índices são mais assustadores, 11% dos domicílios no país, possuem esgoto a céu aberto, o que representa 18 milhões de pessoas que convivem, em áreas urbanas, sem saneamento básico.

O cenário em tela ratifica o quadro degradante e deficitário da questão do saneamento básico no Brasil. Nesse sentido, urge dos órgãos públicos, concretizarem projetos, que ultrapassem os interesses partidários e estratégias de campanhas eleitorais e promovam melhorias reais nas condições de vida da população brasileira.

Dentre as pessoas que moram na casa com as entrevistadas, a pesquisa mostrou que 09 delas, destacaram a presença de filhos e 05 afirmaram conviver com companheiros/cônjuge. Além disso, em 04 domicílios, apresentou o homem como principal responsável pela renda familiar, revelando assim, uma participação significativa da figura masculina na provisão da renda familiar. Contudo, conforme mostram os diversos estudos sobre mulheres, é também significativa a participação das mulheres como responsável pela renda familiar (60%). Vejamos o que mostra a realidade cotidiana das entrevistadas:

Fonte: Elaboração própria, com base na pesquisa de campo realizada em março e abril de 2012.

A composição familiar das entrevistadas revela a presença significativa do cônjuge ou companheiro como o provedor da renda familiar. O que mostra que as taxas de ocupação dos homens ainda persistem superiores às das mulheres, apesar das taxas de ocupação dentre as mulheres girarem em torno dos 54% (IBGE, 2007). É importante analisar ainda que os dados apresentados na Tabela 3 revelam que a responsabilidade pela renda familiar é atribuída, majoritariamente, ao sexo feminino, seguindo assim, a tendência verificada em âmbito nacional.

Segundo dados do IBGE (2007), o número de mulheres que atuam como referência da família cresceu notoriamente, passando de 10,3 milhões em 1996, para 18,5 milhões em 2006, um crescimento de quase 80%, contrastando com o número de homens provedores da família que aumentou 25%, nesse mesmo período. Destaca ainda que, em relação à prevalência feminina no provimento da renda, as maiores proporções de mulheres que se declaravam como pessoa de referência da família, incluía-se nos grupos de faixa etária de 25 a 39 anos e de 60 anos ou mais de idade.

Já nos contornos da capital natalense, os dados da pesquisa sobre pobreza e desigualdade social em Natal, apontam que 30% dos domicílios estão sob a responsabilidade de mulheres. Assim, lançando mão dos percentuais expostos na tabela 3, percebemos uma predominância de mães responsáveis pelos domicílios, contrastando com apenas 01, cuja responsabilidade é compartilhada com o pai. Porém, vale ressaltar que, a participação das mulheres no mercado de trabalho para sustentar suas famílias se dá, principalmente, através de trabalhos domésticos como faxinas e/ou auxílio a serviços gerais; funções estas precarizadas

Tabela 3: Responsável pela renda familiar

Responsáveis Quantidade Porcentagem

Próprio entrevistado

(mulheres/mãe) 3 30%

Mãe (da entrevistada) 2 20%

Avó (da entrevistada) 1 10%

Cônjuge/companheiro 4 40%

Mãe e pai 1 10%

Outros 0 0

nas relações de contratação de trabalho, tendo em vista que os direitos trabalhistas, nesse caso, não são assegurados.

Essa pesquisa reforça análises sobre os novos arranjos familiares nos dias atuais, que indicam um aumento acentuado de famílias monoparentais, com mulheres incumbindo-se da responsabilidade (renda) da família76. Muitas vezes, as mulheres são chamadas a assumir total encargo pelo provimento das necessidades básicas da casa, responsabilidade essa, assegurada graças a uma inserção no mercado de trabalho pela via da precarização e flexibilização das relações de trabalho, reforçando assim, a informalidade tão presente na sociedade atual e ratificada nos resultados empíricos dessa pesquisa.

Autores como Góis (2006) e Montali (2000) revelam que na sociedade contemporânea, verifica-se na família brasileira uma tendência em reduzir a concepção de filhos por família, no entanto, esse dado ainda é muito determinado pela classe média e burguesa. Desse modo, a partir da coleta das entrevistas, identificamos que a quantidade de filhos presentes nas famílias, sujeitos/objetos dessa pesquisa é constituída de 1 a 4 filhos. Contudo 80% das entrevistadas tem 3 ou 4 filhos, mostrando também que o acesso a informação sobre métodos contraceptivos, bem como o acesso aos próprios métodos não alcança a realidade da população subalternizada. Vejamos:

76 A rigor, há substanciosos estudos que disc

utem a tendência do crescimento da “participação feminina” no provimento da renda familiar no Brasil. Para conferir ver: (HIRATA, 2002) e (NOGUEIRA, 2006).

Fonte: Elaboração própria, com base na pesquisa de campo realizada em março e abril de 2012.

Nesse sentido, no trato do número de pessoas que formam a composição familiar, relativos à Natal, recorremos ao já mencionado Relatório (OLIVEIRA et al, 2012), para mostrar que em 240 dos 456 domicílios visitados, 25% possuem 03 pessoas por residência, e 23% constitui-se, em média, de 4 membros. Já quanto à composição familiar da nossa pesquisa, prevaleceu a média de 07 membros por domicílio. Variando entre 03 e 10 pessoas por residência.

Diante de uma sociedade forjada por contornos tão elevados quanto aos índices de concentração de riqueza como é o caso da brasileira, torna-se relevante sabermos qual a renda disponível dos entrevistados, para gastos com alimentação, fornecimento de água e de luz, transporte coletivo, dentre outros, que trate do atendimento das necessidades básicas das famílias. Nesse sentido, a tabela 5, nos apresenta a “malha” da renda familiar dos entrevistados desta pesquisa, sobre o qual tecemos algumas considerações a seguir:

Fonte: Elaboração própria, com base na pesquisa de campo realizada em março e abril de 2012. Tabela 4: Números de Filhos

Números de filhos Números de

entrevistados Porcentagem 1 1 10% 2 1 10% 3 4 40% 4 4 40% 5 0 0 Mais de 5 0 0 Total 10 100%

Tabela 5: Malha da renda familiar dos entrevistados Especificidade de Salário Quantidade dos

entrevistados Porcentagem

Menos de 1 salário mínimo (SM) 2 20%

Até 1 SM 4 40% Entre 1 e 2 SM 1 10% Entre 2 e 3 SM 2 20% Entre 3 e 4 SM 0 0 Entre 4 e 5 SM 0 0 Acima de 5 SM 0 0 Sem renda 1 10% Total 10 100%

De acordo com o último Censo do IBGE (2010a), 33% da população brasileira, recebiam até 1 salário mínimo de rendimento pelo trabalho realizado, contrastando com 0,9% da população ocupada que ganhavam mais de 20 salários mínimos. Ao considerarmos a parcela de brasileiros que não possuem nenhum rendimento, a realidade se mostra ainda mais perversa e desigual. As estatísticas anunciam que 7% da população brasileira não possuem qualquer renda para suprir necessidades básicas da vida cotidiana. No Rio Grande do Norte os números atingem um contingente de 965.313 pessoas que não possui rendimentos algum, o que corresponde a 30% da população potiguar.

As regiões Norte e Nordeste se destacaram quanto ao aspecto dos “sem rendimento de trabalho” (12% e 14%, respectivamente). Em se tratando do número de pessoas que ganham até 1 salário mínimo de remuneração mensal de trabalho atingem taxas ainda maiores (42% e 51%, respectivamente). Esses valores se mostram bastantes diferentes das demais regiões do país, as quais atingem variações de 23% a 29% (IBGE, 2010a).

Em Natal, em especial nas áreas de maior concentração de pobreza, os dados da pesquisa consultada (OLIVEIRA et al, 2012)revelam que 14% das famílias contam com até 1 salário mínimo para a satisfação das necessidades básicas do grupo familiar.

Os resultados apresentados na Tabela 5 apontam que a maioria das entrevistadas, 04 delas, contam com uma renda familiar de até 1 salário mínimo, seguindo assim, a prevalência nacional. Enquanto que, 02 (duas) possuem renda “inferior” a 1 salário mínimo e 01 (uma) não possui qualquer renda, ou seja, 60% das entrevistadas ganham no máximo 1 salário mínimo. Os outros 30% das entrevistadas ganham entre 2 e 3 salários mínimos. Ressaltamos que a entrevistada que não possui renda, depende exclusivamente do benefício do Programa Bolsa Família e de uma ínfima ajuda de parentes para alimentar os 10 membros da casa. Registramos que esta entrevista fora a mais expressiva quanto ao retrato das condições de vida e miséria que muitos brasileiros ainda vivenciam nesse país.

Esse quadro desvela que a pobreza extrema, apesar de não ser vista de imediato, está bem viva no município do Natal, tal como sugere o atual slogan da

administração da Prefeitura da Capital: “se você olhar, você vai ver”77. Não avanços, no tocante à distribuição da riqueza ou melhorias na oferta dos serviços