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3 CRISES ECONÔMICAS

3.2 A CRISE DO SUBPRIME

de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e Margareth Thatcher, na Grã-Bretanha, formou-se o embrião daquela que viria a se tornar a mais grave crise financeira mundial, desde a grande depressão de 1929. Naquele período, houve uma tendência de endurecimento das políticas monetárias dos países mais ricos, o que levou a forte recessão econômica.

Como as taxas de inflação se tornaram muito baixas, Banco Central Norte-Americano (FED) manteve a taxa de juros básicas em níveis reduzidos, incentivando a ampla oferta de crédito. Um fato a ser destacado quando se discute a crise financeira que atingiu todo o mundo no ano de 2008, é o paralelo existente entre essa e a grande depressão de 1929.

São verificadas importantes características nas quais as duas crises se assemelham e apontam para o fato de que relações entre a macroeconomia e o grau de financiamento dos agentes privados explicam, tanto as flutuações do nível de atividade, quanto ciclos econômicos e suas reversões (MINSKY, 1982). Uma delas foi desregulamentação do mercado financeiro norte-americano.

Já nos anos 1990, a desregulamentação do mercado gerou uma intensa disputa entre os bancos de investimentos e os bancos comerciais, que foram autorizados a também atuarem no setor de investimentos. Mazzucchelli (2008) ressalta que nos Estados Unidos — o epicentro da crise de 1929-1933 — era destacada a proliferação de bancos de pequeno e médio portes, muitos deles fora da área de supervisão do Federal Reserve Bank.

Apesar de ter seu momento mais crítico em setembro de 2008 com a quebra do Banco Lehman Brothers, já em julho de 2007 um evento chamou a atenção do mundo acerca do início de um período de fortes turbulências futuras: houve uma queda acentuada do preço das ações na bolsa de valores de Nova Iorque, após a divulgação de dados econômicos Norte- Americano. Além disso, as ações de Bancos sofreram fortes perdas de valor já na fase inicial da crise (HAU; LAI, 2017).

A informação da National Association of Realtors (NAR, 2007) de que a formalização de contratos de compra de imóveis usados nos Estados Unidos havia caído 12,2%, maior queda já registrada desde que o índice de vendas pendentes de moradias foi introduzido em 2001, aumentou a preocupação mundial com a saúde do mercado de crédito e seus efeitos nos demais setores da economia. Os principais mercados financeiros pelo mundo já estavam inundados de títulos de altíssimo risco atrelados aos créditos hipotecários, como exemplo, os títulos de renda fixa Credit Default Swap (CDS) e Collateralized Debt Obligation (CDO). A partir desse momento teve início uma crise de confiança crescente ao longo do tempo, que

levou a uma crise de liquidez no mercado financeiro, de característica sistêmica.

O que ocorreu, em seguida, foi uma queda acentuada das bolsas de valores no mundo todo, culminando com a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, fundado em 1850, fato este que somente poderia ser compreendido no contexto de uma crise tão grave quanto a Crise do Subprime, a maior desde a grande depressão (ZINGALES, 2008). Outro fato histórico foi o socorro financeiro de $700 bilhões do Governo dos Estados Unidos, que foi utilizado para a aquisição de títulos de crédito hipotecário de empresas insolventes.

No que tange às iniciativas para debelar a crise, de acordo com Zarifian (2009), quando estamos diante de uma crise de tal magnitude, já atual e potencial, crise que parece muito mais com um desmoronamento ou uma desestabilização do que com uma crise no sentido habitual, cíclico do termo, não devemos esperar que ela se resolva mecânica e espontaneamente.

Por isso, o que se sucedeu a esta crise e, conforme Borça Júnior e Torres Filho (2008), já era estimado como um movimento provável, houve um reforço na regulamentação do setor de títulos de crédito, assim como em toda a infraestrutura do mercado financeiro global. Foi ainda, instituído o Financial Stability Board (FSB), para liderar reformas estruturais nesse mercado e monitorar sua implementação.

O Brasil, no período dessa grave crise, apresentava uma situação macroeconômica relativamente confortável, com o câmbio valorizado e uma boa oferta de crédito, o que permitiu que seu governo tomasse medidas macroeconômicas denominadas anticíclicas, para proteção quantos aos efeitos da crise na economia real. Contudo, naquele período, o governo brasileiro teve de enfrentar empresas contra demissões em massa, pois as via como um obstáculo aos seus esforços para isolar o país da crise (FERNANDES; NOVAES, 2017).

Cumpre destacar que a Crise do Subprime causou um forte impacto negativo no mercado de valores mobiliários. A B3 teve de interromper por diversas vezes em poucos dias, a partir de 29 de setembro de 2008, o seu pregão para a negociação de ações, utilizando uma regra daquela bolsa de valores denominada circuit breaker.

Em 2008, o Ibovespa, principal índice da principal bolsa de valores do Brasil encerrou o ano com queda de 44% (BM&FBOVESPA, 2017), conforme demonstrado no Gráfico 2, a seguir:

Gráfico 2 – Trajetória do Ibovespa durante a Crise do Subprime

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em dados da B3.

Além disso, o Dólar Americano se valorizou 31% em relação ao Real (Banco Central do Brasil, 2017). Essa crise sistêmica de grande magnitude deixou lições como certamente ser necessário haver maior regulação, supervisão e monitoramento do mercado financeiro em geral. Sobre esse fato a lição observada diz respeito ao fato de que não pode ser repetido o grau de alavancagem no mercado financeiro mundial alcançado até o início do desenrolar da Crise do Subprime em 2008.

Na seção seguinte, são detalhadas as origens, causas e consequências de outra crise de grandes proporções e que ainda hoje afeta a economia nacional: a crise fiscal brasileira. 3.3 CRISE FISCAL BRASILEIRA

A crise fiscal brasileira surgiu após a adoção de medidas denominadas “anticíclicas”, para conter os efeitos da Crise do Subprime e que foram operacionalizadas a partir da ampliação dos gastos públicos e de uma política monetária expansionista, que fizeram com que o país atravessasse os anos de 2008 a 2010 sem fortes oscilações no Produto Interno Bruto, diferentemente de países desenvolvidos que sofreram fortes contrações de suas

economias.

Os Estados Unidos, por exemplo, passaram por uma forte recessão econômica a partir do quarto trimestre de 2007, que gerou uma queda de 5,5% do PIB, bem como a perda de 8,8 milhões de empregos (STOCK; WATSON, 2012). Dentre as medidas utilizadas, destacaram- se: (i) o aumento do crédito por intermédio dos bancos públicos; (ii) a redução da taxa básica de juros; (iii) o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida e; (iv) o Programa de Sustentação de Investimentos (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2009).

Além dessas, normas visando a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para setores estratégicos da indústria de transformação pautaram as medidas de desoneração fiscal que foram implementadas no período em que a Crise do Subprime se agravou (SCHLÖGL, 2011). Contudo, já naquele momento havia dúvidas quanto à sustentabilidade daquela política.

Da mesma forma, havia uma percepção pelo mercado financeiro de que os fundamentos macroeconômicos passariam a ditar o rumo da economia em pouco tempo. Sobre isso, Assunção (2011) complementa que essas políticas direcionaram-se ao estímulo da atividade econômica no curto prazo, o mesmo não ocorrendo com o longo prazo, inclusive com os possíveis efeitos sobre a sustentabilidade fiscal.

Discussões essas que tem produzido muitos debates, ao passo que estudos sobre a política macroeconômica após o arrefecimento da crise global tem mostrado uma ruptura com a referida política anticíclica. Segundo Dweck e Teixeira (2017), a partir do final de 2011 e início de 2012, as condições internacionais começaram a mudar drasticamente, tornando-se cada vez mais adversas.

A crise da Zona do Euro combinou-se com desaceleração da economia chinesa e uma recuperação muito lenta dos EUA, com impacto negativo na atividade doméstica. Para Cagnin et al. (2013), somente ao final de 2011, após o aprofundamento da deterioração dos fundamentos macroeconômicos, que foram adotadas novas medidas expansionistas, mais brandas e que surtiram pouco efeito sobre a crise que então se instalara.

À medida que os fundamentos macroeconômicos se deterioravam, os efeitos ganhavam amplitude, dentre eles destaca-se a forte contração da cotação das ações listadas em bolsa de valores no Brasil. Em 2011, o índice Ibovespa estava cotado em 69.962 pontos, porém, ao final de 2015 havia desvalorizado nominalmente cerca de 38%, conforme demonstrado no Gráfico 3, a seguir:

Gráfico 3 – Trajetória do Ibovespa durante a Crise Fiscal Brasileira

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em dados da B3.

Como resultado dessa relevante crise fiscal, a economia real brasileira foi atingida em cheio, culminando, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017), como a maior recessão de sua história, dada a queda de 3,8% do PIB em 2015 e de 3,6% em 2016. A partir de 01 de janeiro de 2017 entrou em vigor a Emenda Constitucional nº 95, que estabeleceu um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos. A dúvida que persiste é se esse mecanismo será capaz de impedir uma nova crise das finanças públicas no Brasil (BARBOSA, 2017). Além disso, segundo Dweck e Teixeira (2017), as recentes medidas aprovadas, como a EC nº 95, representam um risco de que a política fiscal, em particular a de gastos públicos, possa reverter os significativos efeitos no crescimento e na redução das desigualdades que tiveram efeito nos últimos anos.

A seguir, no Quadro 2, são listados os estudos relativos às crises de grande magnitude, abordadas anteriormente, assim como seus autores e as respectivas contribuições destes para a literatura financeira e econômica.

Quadro 2 – Estudos sobre crises de grande magnitude

Autor(es) Título do Estudo Contribuição para a literatura

Minsky (1986) Can “it” happen again? Essays on instability and finance

Aponta que a economia capitalista possui,

endogenamente, uma estrutura financeira sujeita a crises. Aschinger (1997) A natureza das crises Financeiras Crises de características informacionais independem de

intervenções governamentais. Lampreia (1998) A política exterior do Governo

FHC: continuidade e renovação

Cita o impacto negativo das crises para a economia global, desde a crise do petróleo nos anos 70, o país foi impulsionado a “se bastar”, para obtenção de uma maior autonomia financeira.

De Bandt e

Hartmann (2000) Systemic Risk: A Survey Destaca que uma crise sistêmica no setor financeiro pode gerar fortes consequências negativas na economia real e no bem-estar econômico geral

Borça Júnior e Torres Filho (2008)

Analisando a Crise do Subprime Apontavam para um reforço na regulamentação do setor financeiro.

Pinheiro (2008) Mercado de capitais:

fundamentos e técnicas Define crise financeira como forte e rápida perda de riqueza e substância social, política e institucional em uma economia, manifestada pelo colapso dos preços dos ativos, recessão e desemprego.

Schllögl (2011) A Política anticíclica durante a crise global de 2008/2009

Normas visando a redução do IPI para setores estratégicos da indústria de transformação pautaram medidas de desoneração fiscal, implementadas no período em que a crise se agravou.

Stock e Watson

(2012) Disentangling the Channels of the 2007-2009 Recession Os Estados Unidos passaram por forte recessão econômica a partir do quarto trimestre de 2007, que gerou uma queda de 5,5% do PIB, bem como perda de 8,8 milhões de empregos.

Frankel e Saravelos (2012)

Can leading indicators assess country vulnerability? Evidence from the 2008–09 global financial crisis

Afirma que a literatura utiliza tanto medidas contínuas, quanto discretas para definir a ocorrência de uma crise.

Cagnin et al.

(2013) A gestão macroeconômica do governo Dilma (2011 e 2012) Somente ao final de 2011, após o aprofundamento da deterioração dos fundamentos macroeconômicos, que foram adotadas novas medidas expansionistas, que surtiram pouco efeito sobre a crise que então se instalara. Hau e Lai (2017) The Role of Equity Funds in the

Financial Crisis Propagation Identificou os fundos de ações mais afetados pelo choque de perda de valor na Crise do Subprime. Fernandes e

Novaes (2017)

The government as a large shareholder: Impact on corporate governance

Analisou ativismo do governo brasileiro no papel de grande acionista nas decisões de negócios em empresa de capital aberto entre 2008 e 2012.

Barbosa (2017) 2017 Analisa possíveis impactos da Emenda nº 95 (teto dos gastos) nas finanças públicas.

Dweck e Teixeira

(2017) A política fiscal do governo Dilma e a crise econômica Afirma que as recentes medidas aprovadas, como a EC nº 95, representam risco que a política fiscal possa reverter os significativos efeitos no crescimento e redução das desigualdades que tiveram efeito nos últimos anos. Fonte: Elaborado pelo autor.

Conforme observado anteriormente, as duas crises descritas foram atípicas para a economia mundial e geraram elevado desequilíbrio macroeconômico no Brasil. No capítulo a seguir são abordados os segmentos especiais de governança corporativa da BM&BOVESPA, assim como o segmento básico, que integram a base de dados a ser analisada nesse estudo.