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3 CRISES ECONÔMICAS

3.1 CRISES DE GRANDE MAGNITUDE

A partir da hipótese da fragilidade financeira, foi verificado por Minsky (1982) que a economia capitalista possui, endogenamente, uma estrutura financeira sujeita a crises. A decisão de investimento é uma função dos mecanismos de financiamento, onde o investimento está associado às expectativas de renda futura e o financiamento às expectativas de retorno-risco dos agentes que adquirem ativos financeiros.

As definições para crises, bem como a severidade de suas incidências são bastante variadas. A saber, a literatura utiliza tanto medidas contínuas, quanto discretas para definir a ocorrência de uma crise. As medidas de cunho discreto são normalmente adotadas na forma de variáveis binárias. Estas medidas definem como aquelas que ocorrem no momento em que um dado limiar de certa variável econômica ou financeira é atingido. A maior parte dos trabalhos incluem algumas medidas relacionadas a alterações na taxa de câmbio (FRANKEL E SARAVELOS, 2012).

As crises têm entre suas características a falta repentina de liquidez e desequilíbrio no sistema financeiro e são definidas em externas e internas. De acordo Catão and Milesi-Ferretti (2012), crises externas são aquelas caracterizadas por eventos de inadimplemento de pagamentos (default events).

Cabe mencionar que, após a crise de 2008, voltou a ser discutido o potencial que as dívidas ou passivos externos dos países têm, no que diz respeito ao desencadeamento de crises

externas. No decorrer do século XX, as crises externas serviram como lição para quase todos os países. Dado o impacto negativo das crises para a economia global, no caso brasileiro, desde a crise do petróleo nos anos 70, o país foi impulsionado a “se bastar”, no sentido de obtenção de uma maior autonomia e autossuficiência financeira (LAMPREIA, 1998).

As crises internas podem ser originadas por crises externas ou por desequilíbrios internos como o descontrole fiscal, causando a saída de capital especulativo e que termina por contaminar toda a economia. Há também a conceituação das crises em microeconômicas e macroeconômicas. O primeiro tipo, conforme Aschinger (1997), diz respeito a crises de características informacionais e independem de intervenções governamentais. Já as crises macroeconômicas envolve muitos atores e tem o potencial de disseminação por toda economia.

De acordo com Pinheiro (2008), uma crise financeira é uma forte e rápida perda de riqueza e substância social, política e institucional em uma economia, manifestada pelo colapso dos preços dos ativos, recessão e desemprego. Essas características foram verificadas em praticamente todas as grandes crises ocorridas pelo mundo, principalmente, após a crise de 1929. Esta afetou todo o planeta e possuía uma característica especial atrelada ao início do processo de globalização, semelhante à crise de 2008, e cuja denominação é de crise “sistêmica”.

De Bandt e Hartmann (2000) destacam que uma crise sistêmica no setor financeiro pode gerar fortes consequências negativas na economia real e no bem-estar econômico geral. Outras crises sistêmicas ocorridas nas últimas décadas foram a “segunda-feira negra”, de 1987, que teve seu ápice quando o índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova Iorque, recuou mais de 22% em apenas um dia. Em 1995, o México enfrentou uma intensa crise financeira e econômica, com foco no desequilíbrio em seu balanço de pagamentos, foi exacerbada pelas tensões políticas internas, que estimularam a fuga para o exterior de capitais de curto prazo.

O Peso Mexicano perdeu dois terços de seu valor em relação ao Dólar Americano. Acerca dessa crise, “como lição ficou a evidenciação da incompatibilidade entre, de um lado, a fragilidade e a necessidade de financiamento estável dos países emergentes e, de outro lado, a impaciência e o caráter hiper-reativo dos mercados” (CEPII, 1995, p. 12). Dois anos mais tarde, em 1997, houve a “crise dos tigres asiáticos” e no ano seguinte a “crise do Rublo” ambas de cunho macroeconômico. No caso da Rússia seu sistema bancário entrou em colapso.

Em um período mais recente, a crise da bolha das empresas “pontocom” foi outra com características sistêmicas. Gerada nos Estados Unidos em 1999, essa bolha era caracterizada por uma forte alta das ações de empresas de tecnologia da informação e do setor de comunicação vinculado à internet. Era baseada na teoria da convergência tecnológica, fundamentada “na crença de que a digitalização e a internet uniriam mídias distintas e, considerando a grande economia de escala na produção, algumas empresas individuais poderiam dar conta do recado, com expectativas de lucros extraordinários” (BERGAMINI JUNIOR, 2002, p. 4). Contudo, no ano 2000 essa bolha se desfez rapidamente e muitas das empresas envolvidas simplesmente desapareceram.

Alguns anos mais tarde, a crise do mercado hipotecário dos Estados Unidos (Crise do Subprime) teve seu ápice em 2008. Esta foi desencadeada pela onda de insolvências no mercado de hipotecas norte-americano, mas se espalhou por todos os continentes e foi considerada uma das maiores crises sistêmicas da história. Durante a Crise do Subprime, centenas de instituições bancárias quebraram nos Estados Unidos. De acordo com o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, 2011), órgão do governo norte-americano cuja atuação é similar à do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) brasileiro, 380 bancos comerciais faliram em apenas 3 anos. Cabe ressaltar, que a quebra generalizada de casas bancárias já havia acontecido nos anos 1980 e início dos anos 1990 (FDIC, 2000).

No que tange a crises internas, tem grande relevância a crise fiscal brasileira iniciada em 2012 que causou uma dupla retração do PIB brasileiro, assim como a perda de milhares de empregos e queda da renda da população. O país enfrenou déficits consecutivos no orçamento federal de mais de R$ 100 bilhões e a perda do grau de investimento pelas agências internacionais de rating.

Em vista dos fatores mencionados anteriormente e dada a relevância para o presente estudo, cabe o aprofundamento da descrição das origens, causas e consequências de duas dessas crises: A Crise do Subprime e a Crise Fiscal Brasileira. Estas crises a serem apresentadas nas seções a seguir, de natureza diferenciada, uma externa e outra interna, afetaram o Brasil e causaram uma desarticulação do país em diversas áreas sociais e econômicas.