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2 COMPETITIVIDADE

2.3 DIFERENTES ABORDAGENS PARA O FENÔMENO DE COMPETITIVIDADE

2.3.2 Critério de avaliação

Em relação aos critérios de avaliação, Haguenauer (1989) resume os vários modelos que dizem respeito à competitividade em dois tipos de análise: (i) com base em noções de desempenho, e (ii) com base na eficiência.

Desta forma, de acordo com Haguenauer (1989), modelos de competitividade baseados em noções de desempenho são desenvolvidos de acordo com o contexto dos países ou indústrias, sendo associada a um conceito ex-post, isto é, a competitividade de uma economia nacional (ou setor industrial) medido por seus efeitos sobre o comércio exterior. A principal vantagem desta abordagem é a simplicidade da construção dos seus indicadores, que são normalmente baseados no desempenho das exportações locais.

Kupfer (1992), estendendo o conceito de desempenho para o nível corporativo, afirma que o fenômeno pode ser medido com base em indicadores de participação de mercado das empresas em um determinado momento no tempo.

Por outro lado, a noção de competitividade baseada na eficiência deriva das características estruturais dos países, indústrias ou organizações. Assim, numa linha de raciocínio que se opõe ao conceito de desempenho, a abordagem da competitividade, baseada

na premissa de eficiência, é eminentemente ex-ante, isto é, com base em certas capacidades de produção e técnicas que as empresas, setores industriais ou países possuem. Nesse sentido, a atuação no mercado é uma consequência da competitividade e não sua expressão (HAGUENAUER, 1989).

No entanto, é importante salientar que um conceito não é melhor que outro, e podem ser usados simultaneamente. O indicador de desempenho pode ser uma confirmação ou um ajuste mais apurado da eficiência.

2.3.2.1Competitividade baseada no desempenho

Geralmente, na sua forma mais básica, o conceito de competitividade com base na noção de desempenho é o obtido por uma empresa no mercado (nacional ou internacional), por uma indústria ou por um país no comércio nacional ou internacional em relação a um produto. Por esta abordagem, a competitividade de uma nação, ou setor econômico, é expressa em participação de mercado (market share), em volume de exportação e / ou em conta corrente de comércio exterior (LASTRES e CASSIOLATO, 1995; HAGUENAUER, 1989).

Nesse sentido, a definição de competitividade sob a premissa de desempenho é, essencialmente, um conceito ex- post, ou seja, o fenômeno é avaliado por meio dos resultados das ações já tomadas no passado, traduzidos em indicadores de relativa simplicidade de construção (HAGUENAUER, 1989).

Por essa perspectiva, a noção de competitividade com base no desempenho tem duas vantagens, além da simplicidade na construção dos seus indicadores, como mencionado anteriormente. A primeira diz respeito à extensão do que seria o próprio desempenho. Ou seja, o conceito abrange não só as condições de produção, mas também todos os fatores que inibem

ou aumentam as vendas de produtos ou mercadorias como o câmbio, a taxa de juros, a inflação, entre outros (HAGUENAUER, 1989; DURAND e GIORNO, 1987).

A segunda vantagem adicional da abordagem de desempenho está relacionada com o seu grau de utilização internacional, especialmente, no contexto das economias nacionais com o uso de indicadores macroeconômicos para a definição de competitividade para o nível de países (GUIMARÃES, 1997).

No entanto, o conceito de desempenho e as suas várias formas de avaliação recebem algumas críticas na literatura sobre o assunto. Em primeiro lugar, de acordo com Fajnzylber (1988), é válido aceitar que, no curto prazo, a desvalorização da moeda é capaz de melhorar o desempenho competitivo das empresas ou países. No entanto, esta melhoria é limitada uma vez que não é possível aumentar a produtividade sem incorporar os avanços tecnológicos necessários para um aumento efetivo da capacidade em competir.

Outra crítica desta abordagem é de cunho tautológico. Segundo Fajnzylber (1988), não se pode estabelecer relações causais diretas (não-tautológica) entre competitividade e outros indicadores conhecidos a posteriori (como participação de mercado, exportações, rentabilidade, etc), pois a tautologia é óbvia quando se desafia o fenômeno em ambos os lados, ou seja: "se uma empresa que é competitiva ou dominante no mercado porque cresce, será igualmente correto que irá dominar ou crescer no mercado porque ela é competitiva" (KUPFER, 1992, p. 3).

2.3.2.2Competitividade baseada na eficiência

Por sua vez, a noção de competitividade com base no conceito de eficiência é derivada a partir das características estruturais dos países, indústrias ou organizações. Assim, ao contrário do conceito de desempenho, a abordagem para a competitividade, sob a premissa de

eficiência, é principalmente ex-ante. Em outras palavras, é baseada em determinadas habilidades ou técnicas de produção adotadas pelas empresas, indústrias ou países.

Nesse sentido, o desempenho do mercado é um resultado de competitividade e não a sua expressão (HAGUENAUER 1989). Por esse foco, as empresas que são competitivas dominam as melhores técnicas em termos de produtividade e, por essa razão, esse domínio produtivo deve representar, em última análise, a competitividade de uma organização (KUPFER, 1992).

Entre os aspectos mais importantes sobre a competitividade com base na noção de eficiência, estão em primeiro lugar, a tecnologia (FREEMAN, 2004) e a inovação (FIGUEIREDO, 2003). Nesta linha de pensamento, Fajnzylber (1988) afirma que uma nação será capaz de melhorar a sua produtividade e ser competitiva somente por meio da incorporação de avanços técnicos nos seus sistemas de produção.

Fagerberg et al (2007) também consideram que um dos fatores mais importantes para diferenciar o desempenho e crescimento de uma economia é a competitividade tecnológica. Assim, vários estudos, como Nelson e Winter (1982), Rothwell (1977) e Rosenberg (1976), seguindo uma abordagem neoschumpeteriana, deram especial ênfase ao papel associado das capacidades tecnológicas como fontes de diferenças de desempenho entre as empresas, indústrias e países em termos de progresso industrial e crescimento econômico.

Desse modo, os aspectos relacionados com a evolução das novas tecnologias identificadas por meio dos processos de inovação e da capacidade das empresas ou países para desenvolvê-los é um fator crucial de competitividade baseada na abordagem da eficiência.

Finalmente, deve-se notar que a abordagem de desempenho também sofre crítica na literatura. Para Kupfer (1992), por exemplo, existem dois problemas com esta abordagem. Em primeiro lugar, a noção de eficiência, assim como a definição de competitividade, aparece

como um conceito simétrico das economias em relação aos negócios internos, tais como, escala, escopo, gestão, aprendizagem, etc. Em segundo, esse autor estabelece que a abordagem com base na noção de desempenho também sofre do aspecto tautológico (conforme mencionado na noção de desempenho).

Lastres e Cassiolato (1995) consideram ainda a abordagem de eficiência como restritiva. Nesse sentido, os autores afirmam que a competitividade é abordada de uma forma estática, permitindo apenas a análise de indicadores em determinado ponto no tempo. Se examinada a partir de uma perspectiva dinâmica, a abordagem da eficiência (bem como o desempenho), para os autores, representa os resultados de competências acumuladas e estratégias adotadas no passado por empresas ou países.

Finalmente, Buckley, et al (1988) comentam sobre o fato de que a eficiência não é um parâmetro suficiente para determinar a competitividade, porque este fenômeno também depende de aspectos da eficácia. Em outras palavras, a competitividade não é apenas uma questão da melhor alocação de recursos para atingir determinados objetivos, mas a questão envolve, da mesma forma, determinar quais são os objetivos corretos.