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2. Por uma teoria de classes de palavras

2.3. Os níveis de análise como parâmetro ou critério distintivo das

2.3.6. O critério cognitivo

Convém, em primeiro lugar, postular uma delimitação conceptual do termo cognitivo, em razão de seu uso abundantemente polissêmico. Uma sugestão inicial para encetar essa delimitação é proposta por Cuenca (1999), em obra pretendida como resenha de teorias mais assentadas a respeito da relação entre língua e cognição. Parece-nos perceber que há diferenças de custo de processamento em conformidade com o tipo de signo verbal empregue, ou ainda, que não há relações estanques entre “a organização conceitual e os mecanismos de processamento” (CUENCA, 1999, p.14).

Há, portanto, uma interdependência entre as formas, as funções constantes do sistema lingüístico e o aparato cognitivo-conceitual. Importa ainda acrescer que a visão cognitivista se

ampara em noções experimentais para a construção do pensamento. O pensamento não se forma de símbolos puramente abstratos, desvinculados da experimentação concreta. Ao contrário, sua formação se consubstancia por intermédio do confronto com a experiência corporal e ambiental. Ainda com Cuenca (1999, p.16), o pensamento não se organiza com base em módulos compartimentados, sem interação entre si. Ainda que se admitam seções para a localização de estruturas neurolingüísticas no lado esquerdo do cérebro, com as zonas de Broca e Wernicke, a formulação lingüística não atua de modo segmentado.

Em prol de nossa tese, há uma hipótese de que as proformas pronominais representam menor custo de processamento. Em razão disso, haveria um acesso informacional mais célere, por causa de uma construção de caminhos cognitivos reiterados. Assim, o uso reiterado vinca trilhas sinápticas de sorte que o processamento se torna menos oneroso cognitivamente. A esse respeito, observemos as considerações de Almor (2000):

Expandindo o trabalho de Ariel, Almor resume a Hipótese da Carga Informacional (doravante HCI), que declara de um modo geral que o custo de processamento adicional deve servir a uma função discursiva adicional: custo é definido em termos de representação conceitual (baseada na distância semântica entre a representação da anáfora e a representação do antecedente) e não apenas em termos de forma anafórica. A função discursiva inclui identificar o referente mas também aditar nova informação. A intuição por trás da noção de custo de processamento é que quanto menos específica a representação da anáfora com relação à representação do antecedente, menos difícil é processar a anáfora. [grifo nosso]173

Em sendo assim, seria menos oneroso processar itens lexicais genéricos como hiperônimos e proformas em geral do que expressões referenciais pleriformais, ou seja, que guardam uma significação específica.

Uma implicação interessante possível dessa hipótese é que há expressões anafóricas intermediárias entre expressões referenciais de âmbito pleriformal, com uma possibilidade de gradação mais ou menos custosa, no que concerne ao processamento, conforme seu grau de genericidade. Essa consideração vai ao encontro de nossas discussões vez que procura, ao menos teoricamente, prever gradações de referenciabilidade das expressões referenciais sintagmáticas entre si e tais expressões e as proformas nominais174:

173

Expanding on Ariel’s work, Almor (1996) outlines the Informational Load Hypothesis (ILH), which states more generally that additional processing cost must serve some additional discourse function: Cost is defined in terms of conceptual representation (based on the semantic distance between the representation of the anaphor and the representation of the antecedent) and not just in terms of anaphoric form. Discourse function includes identifying the referent but also adding new information. The intuition behind the notion of processing cost is that the less specific the representation of the anaphor with respect to the representation of the antecedent, the less costly the anaphor is to process.

174

Clearly, anaphoric expressions from different classes tend to differ in their processing cost and functionality---pronouns bear a small computational cost by virtue of their impoverished conceptual representation, while definite NP anaphors accrue a higher computational cost but may have additional functionality in identifying the referent and in adding new information. However, according to the ILH, this difference is not an inherent property of the formal class of these anaphors but rather an outcome of the

De modo direto, expressões anafóricas de diferentes classes tendem a diferir em seu custo de processamento e funcionalidade --- pronomes portam um pequeno custo computacional em virtude de sua representação conceitual empobrecida, enquanto anáforas de sintagmas nominais definidos acrescem um custo computacional mais elevado, mas podem ter funcionalidade adicional ao identificar o referente e ao acrescer nova informação. Entretanto, de acordo com a HCI, essa diferença não é uma propriedade inerente da classe formal dessas anáforas, mas sim um resultado da representação conceitual subjacente e de princípios pragmáticos. De acordo com a HCI, o processamento de duas anáforas diferentes de SN podem ser tão diferentes como o processamento de uma anáfora SN e um pronome.

Significa dizer que o custo de processamento também está submetido a uma escalaridade, cuja determinação dos pontos constituintes depende de fatores de ordem pragmática. Ou seja, há construções sintagmáticas que cobram um esforço cognitivo menor em função de uma maior genericidade conceitual, mas esse dispêndio menor está relacionado às condições de produção textual.

A abordagem cognitiva representa um grande ganho para os estudos lingüísticos porque promove um estudo integrado para além das análises de tecnicismo puramente lingüístico ou de especulação estritamente lógica. Em sendo assim, não há dissociação entre a organização psicossomática ou mentecorpórea em que habita a experiência da linguagem e o Mundo. Neste trabalho, as achegas cognitivistas se fazem presentes tanto para teorizações como para análise de ocorrências, principalmente no que tange às considerações referentes à prototipia e à metáfora.

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