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5.3.1 Classe tributária, Conceito, RMIT, Características e Finalidade da CIDE: a

5.3.1.4 Critério Subjetivo

Dentro do critério subjetivo da RMIT, tem-se o sujeito ativo e o passivo. O primeiro é o titular do direito de exigir o cumprimento da prestação pecuniária, enquanto que o segundo é o portador do dever jurídico de adimplir a referida prestação.

5.3.1.4.1 Sujeito ativo e competência constitucional

Muito embora a Constituição Federal disponha acerca da competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para dispor sobre Direito Econômico485 e o fato de a livre concorrência ser um princípio constitucional que deve ser observado por todos os entes, a sujeição ativa da presente proposta tributária

485 CF/88, Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

sempre será a União Federal, em virtude de sua competência exclusiva para criar e instituir novas formas de Contribuição de Intervenção Sobre o Domínio Econômico486. Além disso, considerando os caráteres de vinculação a atuação estatal e o elo relacional, este a ser postos adiante, a CIDE tem como sujeição ativa o ente que desempenhar a atividade prevista no critério material.

Em sendo assim, como o CADE é uma autarquia especial de âmbito federal quem vai exercer e desempenhar as atividades previstas no critério material da RMIT é que ele se torna o sujeito ativo.

5.3.1.4.2 Sujeito passivo e correlação material

Quanto à sujeição passiva, ela sempre deverá resguardar correlação com os critérios materiais da espécie tributária, conforme expõe PAULO DE BARROS CARVALHO, para quem o dever de pagar tributo nasce com o fato jurídico tributário. Logo, dele há a exsurgir, pois, do fato jurídico tributário, instala-se a obrigação tributária que é dele decorrente. Nessa relação, por um lado figura o sujeito ativo – o titular do direito subjetivo público de exigir o cumprimento da prestação pecuniária –, noutro, o passivo – o portador do dever jurídico de adimplir a referida prestação, ou seja, o contribuinte487.

O referido autor nota que a Constituição não diz e nem aponta quem será o sujeito passivo dos tributos cuja competência legislativa outorga aos entes federados. O que a Constituição fez foi destacar o evento sobre o qual ou a partir do qual se poderá tributar, deixando ao legislador ordinário tanto estabelecer a arquitetura e a engenharia da hipótese normativa – a qual está sempre com remansosa consonância constitucional –, bem como escolher quem se sujeitará passivamente e, consequentemente, sofrerá o peso da tributação. Para cada atividade

486 CF/88, Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

econômica escolhida para compor as variadas hipóteses de RMIT, apanha-se um sujeito passivo sob o critério de participação direta e pessoal com a ocorrência objetiva nessas atividades, o qual se passa a chamar de contribuinte e se inclui na relação obrigacional no polo passivo488.

De toda sorte, a despeito de haver um aprofundamento do construtivismo lógico-semântico acerca dessa temática, no âmbito da doutrina, por hora já temos o suficiente para com o que podemos concluir que a imputação normativa é sempre relacional, como bem expressa PAULO DE BARROS CARVALHO, para quem o dever-ser recai e se atrela sempre às condutas inter-humanas. Logo, exprime sempre conceitos relacionais489.

Sem destoar, AURORA TOMAZINI destaca a relevância do vínculo e o caráter relacionais do Direito que não está apenas no consequente normativo, mas também na própria ideia de estrutura da norma jurídica, que é, na verdade, uma relação de implicação entre proposições (antecedente e consequente) operada pelo fator deôntico, que conecta os sujeitos de direito em torno de um objeto490.

Utilizando-se do pensamento de SILVEIRA a respeito da visão lógico- relacional de implicação D (p→q)491, é que PAULO DE BARROS CARVALHO e LOURIVAL VILANOVA, sob a narrativa de BRITTO, visualizam a equação que simboliza não só a existência de traços de união (R) entre pessoas (S¹ e S²) e coisas, mas também, especialmente, num fato econômico (F) 492, disposto pela expressão D = F[S¹RS²], que tanto dá origem como centralizar a relação pela junção do antecedente a um consequente por meio de um conectivo493.

488 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Linguagem e Método. 4ª Ed. São Paulo: Noeses, 2011. P. 630-631 489 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Linguagem e Método. 4ª Ed. São Paulo: Noeses, 2011 P. 125

490. CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito: O construtivismo lógico-semântico. São Paulo: Noeses, 2013. P. 588

491 SILVEIRA, Paulo Antônio Caliendo Velloso da. Direito Tributário E Análise Econômica Do Direito: Uma Visão Crítica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. P. 297

492 Nesse sentido, a respeito do fato, confira-se MOUSSALEM: “o que uma norma de direito positivo enuncia é que, dado um fato, seguir-se-á uma relação jurídica, entre sujeitos de direito, cabendo, a cada um, posição ativa ou passiva”. (MOUSSALEM, Tárek Moysés. A Lógica Como Técnica De Análise Do Direito. In: CARVALHO, Paulo de Barros (Coor.). Construtivismo Lógico-Semântico. Vol. 1. São Paulo: Noeses, 2014. P. 164)

Como explica MARIA ÂNGELA PAULINO, toda essa equação se justifica e tem serventia para a nítida definição e o dimensionamento da relação que a norma jurídica busca constituir, posicionando os sujeitos (ativo e passivo) e as coisas em seus devidos lugares e estabelecendo o elo que une cada qual, no tempo e no espaço, mediante um vínculo intraproposional individual e concreto que nada mais é do que o efeito jurídico do consequente da norma e resultado da causalidade jurídica mediante a aplicação da norma geral e abstrata494.

Isto, pois, como destaca a referida autora, no plano geral e abstrato, ainda na parcela do consequente, não se tem, ainda, qualquer vínculo, apenas os critérios e eventos para sua ulterior definição e quais as características que essa relação deverá apresentar. Apenas por intermédio do enunciado do consequente, já na norma individual e concreta, é que, dada a constituição, surge a relação jurídica que vincula ambos os sujeitos em torno do operador deôntico modalizado (O, V e P) 495.

Portanto, a sujeição passiva é uma relação jurídica íntima/interna, decorrente do fato econômico descrito na RMIT e que dá origem à obrigação tributária, tudo consoante com o nexo relacional, enquanto que a responsabilidade por terceiro é externa à obrigação tributária. Não se pode, assim, querer classificar alguém como sujeito passivo sem que este tenha relação participava direta e pessoal com a realização do fato econômico.

Com base nisso, a sujeição passiva da espécie tributária CIDE, em abstrato, será naqueles agentes econômicos que desempenharem as atividades do critério material e que estão, assim, sob a égide da intervenção estatal a que se prestam suas instituição e cobrança.

494 PAULINO, Maria Ângela Lopes. A Teoria Das Relações Na Compreensão Do Direito Positivo. IN: CARVALHO, Paulo de Barros (Coor.). Construtivismo Lógico-Semântico. Vol. 1. São Paulo: Noeses, 2014. P. 380.

495 PAULINO, Maria Ângela Lopes. A Teoria Das Relações Na Compreensão Do Direito Positivo. IN: CARVALHO, Paulo de Barros (Coor.). Construtivismo Lógico-Semântico. Vol. 1. São Paulo: Noeses, 2014. P. 380

A título de exemplo, a sujeição passiva tanto do FUST quanto do FUNTTEL é a pessoa jurídica prestadora do serviço de telecomunicações496.

A CIDE proposta no presente não será diferente, seu sujeito passivo será todo e qualquer agente econômico que desempenhe as atividades prescritas no critério material.

Diante da atuação transversa da intervenção estatal do Direito Antitruste e da autoridade concorrencial, como dito alhures, que não concentram seu campo de intervenção necessariamente sobre um mesmo segmento, é importante verificar que as análises, juízos e investigações, tais como monopólio e cartel, por exemplo, são sempre adstritas a um segmento.

Logo, há a concentração da atuação estatal e do CADE nesses ambientes497 a permitir a visualização da correlação material e pessoal. Assim, o caráter e a feição transversal que a autoridade concorrencial detém perante a autoridade setorial não diminui ou macula a presente proposta.