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5.3.1 Classe tributária, Conceito, RMIT, Características e Finalidade da CIDE: a

5.3.1.6 Demais características: a vinculação da receita e da

Além dos critérios da RMIT, como dito alhures, as Contribuições, inclusive a CIDE, reflete outros critérios constitucionais fundamentais, especialmente a destinação vinculada do produto de sua arrecadação, muito embora o Código Tributário Nacional tenha disposição que ponha ares de irrelevância quanto a isso502. A esse respeito, BARRETO destaca que, afora o fundamento constitucional de intervenção, o elemento caracterizador da CIDE é a destinação vinculada, que pode ter diferentes perspectivas, tais quais: (i) fundamento constitucional à instituição de determinadas espécies tributárias; (ii) previsão constitucional de destinação a uma dada finalidade; (iii) estipulação legal do destino do valor pago a título de tributo; e (iv) efetiva destinação verificada no plano factual503.

Diante disso, o referido autor entende que, por decorrência lógica, faz-se necessária a efetiva destinação, a qual, por forças das disposições constitucionais, podem, inclusive, sofrer controle a verificar o engaste entre a finalidade da exação e o destino da arrecadação504.

Para ele, caso haja desvinculação no plano constitucional – feito por intermédio das chamadas DRU’s505 –, haverá supressão de garantias individuais do

502 CTN. Art. 4º. A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: II - a destinação legal do produto da sua arrecadação.

503 BARRETO. Paulo Ayres. Contribuições: regime jurídico, destinação e controle. São Paulo: Noeses, 2011. P. 51-52.

504 BARRETO. Paulo Ayres. Contribuições: regime jurídico, destinação e controle. São Paulo: Noeses, 2011. P. 104-107.

505 O sítio eletrônico do Senado possui uma interessante síntese, veja-se: “A Desvinculação de Receitas da União (DRU) é um mecanismo que permite ao governo federal usar livremente 20% de todos os tributos federais vinculados por lei a fundos ou despesas. A principal fonte de recursos da DRU são as contribuições sociais, que respondem a cerca de 90% do montante desvinculado. Criada em 1994 com o nome de Fundo Social de Emergência (FSE), essa desvinculação foi instituída para estabilizar a economia logo após o Plano Real. No ano 2000, o nome foi trocado para Desvinculação de Receitas da União. Na prática, permite que o governo aplique os recursos destinados a áreas como educação, saúde e previdência social em qualquer despesa considerada prioritária e na formação de superávit primário. A DRU também possibilita o manejo de recursos para o pagamento de juros da dívida pública. Prorrogada diversas vezes, a DRU está em vigor até 31 de dezembro de 2015. Em julho, o governo federal enviou ao Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 87/2015, estendendo novamente o instrumento até 2023”. Notícia em http://www12.senado.leg.br/noticias/entenda-o-assunto/dru acesso em 31 de maio de 2016

contribuinte, tornando-a inconstitucional506; caso haja desvinculação no plano legal ou infralegal, seja por existência de Fundo, seja pelo não envio a ele, ou, seja para

despesa diversa daquela atrelada à intervenção, haverá, também,

inconstitucionalidade. Por fim, o autor defende a possibilidade de se promover repetição do indébito tributário em qualquer uma dessas hipóteses, inclusive na situação de despesa feita sem correlação com a intervenção, muito embora o crédito tributário não contenha nenhum vício e já tenha sido extinto pelo pagamento507.

Em respeitosa divergência do pensando do ilustro doutrinador, para mim, na verdade, a vinculação se trata apenas da destinação para o Fundo e sua composição arrecadatória e contábil, mas a partir daí não há mais a vinculação de natureza tributária, apenas um leque de opções legais para se fazer o dispêndio, no bojo do Direito Orçamentário, característico de limites legais para se fazer despesa. O que diferente do Empréstimo Compulsório, no qual o texto constitucional é expresso quanto ao destaque para a aplicação dos recursos vinculada à despesa que fundamentou sua instituição508.

A título de exemplo, o FUST, instituído para fomentar o custeio da universalização dos serviços de telecomunicações509, incide a razão de 1% sobre a receita operacional bruta das atividades do setor de telecomunicações 510, pode

506 As DRU’s são fortemente criticadas por modificarem e, por vezes, desvirtuarem as formas de se utilizar tais recursos, prejudicando a organização orçamentária ordinária.

507 BARRETO. Paulo Ayres. Contribuições: regime jurídico, destinação e controle. São Paulo: Noeses, 2011. P. 107-116.

508 CF/88, art. 148. Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição

509 Lei Federal nº 9.998/2000. Art. 1o Fica instituído o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações – Fust, tendo por finalidade proporcionar recursos destinados a cobrir a parcela de custo exclusivamente atribuível ao cumprimento das obrigações de universalização de serviços de telecomunicações, que não possa ser recuperada com a exploração eficiente do serviço, nos termos do disposto no inciso II do art. 81 da Lei no 9.472, de 16 de julho de 1997.

510 Lei Federal nº 9.998/2000. Art. 6º Constituem receitas do Fundo: IV – contribuição de um por cento sobre a receita operacional bruta, decorrente de prestação de serviços de telecomunicações nos regimes público e privado, exluindo-se o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transportes Interestadual e Intermunicipal e de Comunicações – ICMS, o Programa de Integração Social – PIS e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins;

financiar a universalização de serviços de telecomunicações e sua ampliação511. Já o FUNTTEL, instituído para fomentar o desenvolvimento tecnológico do setor de telecomunicações512, incide a razão de 0,5% a receita bruta das empresas do segmento513, podendo destinar seus recursos para o interesse do setor de telecomunicações514. Tudo bem que nesses casos há algum tipo de correlação da despesa para com o nicho da intervenção, mas não me parece um critério constitucional.

Aliás, veja-se o exemplo da CIDE-Combustíveis515, advinda de expressão constitucional516 e instituída por lei517, ela reflete uma intervenção na produção, na formulação e na importação de combustíveis518, mas que a própria previsão constitucional autoriza a despesa para o financiamento de programas de infraestrutura, o que não tem, a princípio, correlação direta e imediata com as atividades que dão causa à exação, nem sobre a incidência da intervenção.

511 Lei Federal nº 9.998/2000. Art. 5o Os recursos do Fust serão aplicados em programas, projetos e atividades que estejam em consonância com plano geral de metas para universalização de serviço de telecomunicações ou suas ampliações que contemplarão, entre outros, os seguintes objetivos:

512 Lei Federal nº 10.052/2000. Art. 1o É instituído o Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações – Funttel, de natureza contábil, com o objetivo de estimular o processo de inovação tecnológica, incentivar a capacitação de recursos humanos, fomentar a geração de empregos e promover o acesso de pequenas e médias empresas a recursos de capital, de modo a ampliar a competitividade da indústria brasileira de telecomunicações, nos termos do art. 77 da Lei no9.472, de 16 de julho de 1997.

513 Lei Federal nº 10.052/2000. Art. 4o Constituem receitas do Fundo: III – contribuição de meio por cento sobre a receita bruta das empresas prestadoras de serviços de telecomunicações, nos regimes público e privado, excluindo-se, para determinação da base de cálculo, as vendas canceladas, os descontos concedidos, o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), a contribuição ao Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins);

514 Lei Federal nº10.052/2000. Art. 6o Os recursos do Fundo serão aplicados exclusivamente no interesse do setor de telecomunicações.

515 Ressalva-se que, diante das peculiaridades setoriais e a magnitude dos valores envolvidos e arrecadados, a CIDE-Combustíveis não foi utilizada nos demais exemplos tomados pelo presente trabalho, especialmente os exemplos quantitativos.

516 CF/88. Art. 177. § 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível deverá atender aos seguintes requisitos: II - os recursos arrecadados serão destinados: a) ao pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e seus derivados e derivados de petróleo; b) ao financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; c) ao financiamento de programas de infra-estrutura de transportes.

517 Lei Federal nº 10.336/2001

De todo modo, conforme estudo de autoria de DIAS feito para o Senado Federal, verificou-se com as DRU’s, muito embora recebam críticas quanto aos desvirtuamentos dessas características de desvinculação, não apresentaram prejuízos significativos a lhes denegrir irremediavelmente sua utilidade519. Por isso, seja diante da leitura constitucional, a partir da qual a vinculação de despesa se adstringe apenas ao Empréstimo Compulsório, seja diante da verificação fática de inexistência de prejuízo, não se vislumbra problemas quanto às DRU’s.

Independente disso, a presente proposta de CIDE se coaduna com essas características majoritariamente concebidas, quais sejam, o produto de sua arrecadação seria destinado para um Fundo, criado pela mesma lei que instituir a exação, a qual, também, irá disciplinar as formas de dispêndio, o qual, deverá ser empregado no Direito Antitruste, com vistas a promover suas ampliação e efetivação.

5.3.2 Indução de Comportamento, Neutralidade Tributária, Igualdade e Art. 146-