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5.2.1 Taxas

5.2.1.1 Classe tributária, Conceito, Características e Regra-Matriz de Incidência

5.2.1.1.2 Poder de Polícia e seus critérios material e

Outro critério material que pode dar ensejo à cobrança de Taxa é o Poder de Polícia, que, segundo BANDEIRA DE MELLO, diante da necessária compatibilidade do exercício dos direitos individuais com o bem-estar social, juntamente com a expectativa de uma utilidade republicana deles, sobretudo a liberdade e a propriedade, é que se desenvolveu a ideia de Poder de Polícia431.

Apesar de criticar a terminologia originária de uma época passada em que vigorava a ideia de “Estado de Polícia”432, para o referido autor, o Poder de Polícia é uma atividade estatal com vistas a condicionar a liberdade e a propriedade para conformá-las aos interesses coletivos, quando em sentido amplo, abrange atos estatais, sejam do Poder Executivo, sejam do Poder Legislativo, quando em sentido estrito, relaciona-se apenas com as intervenções gerais e abstratas do Poder Executivo que se prestem a prever e/ou obstar a performance e o desenvolvimento de atos privados/particulares contrários aos interesses pressupostos do Poder de Polícia, nas mais variadas formas de regulamento (autorizações, licenças etc.)433.

Sem destoar, PAULO DE BARROS CARVALHO também compreende o Poder de Polícia como a possibilidade de atuação estatal com vistas a condicionar direitos, principalmente de liberdade e propriedade, em prol dos interesses coletivos de segurança, bem-estar, paz e ordem coletiva, a permitirem o poder de vigilância e o controle das liberdades individuais, o que representa atuação, esforço e dispêndio

431 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 26ª ed. São Paulo: Malheiros, 2009. P. 811

432 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 26ª ed. São Paulo: Malheiros, 2009. P. 812

433 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 26ª ed. São Paulo: Malheiros, 2009. P. 813

que ensejam a efetiva remuneração por meio das taxas. De igual forma à lógica da taxa quanto aos serviços públicos, a taxa quanto ao poder de polícia exige especificidade e divisibilidade para verificação e satisfação da referibilidade e da retributividade direta ao contribuinte434.

Toda essa intelecção, especialmente atinente ao Direito Tributário, mas sem contrapor o Direito Administrativo, é fruto da própria disposição contida no Código Tributário Nacional435. Logo, o Poder de Polícia precisa da efetiva ocorrência de seu exercício para justificar a cobrança.

Ressalta-se, por oportuno, que, entretanto, há a possibilidade de denúncia do interessado para a abertura de inquérito436. Nessa situação, estar-se-ia impulsionando e promovendo as atividades da agência nitidamente características do Poder de Polícia sem que haja qualquer contraprestação, pois não há previsão de qualquer cobrança, nem é interessante haver como forma de não desestimular a sociedade a contribuir com as atividades do CADE e com a aplicação e a efetividade do Direito Antitruste. Logo, é uma despesa sem receita correlata que exige, mais uma vez, o dispêndio de verbas oriundas da transferência do orçamento geral da União.

Além disso, importante destacar que, conforme o art. 174 da CF/88, como o Poder de Polícia pode ser considerado efetivo pela simples normatização e limitação de condutas correlatas, ele poderia se configurar pela existência de estrutura, seja ela normativa pura e simplesmente, seja ela pela existência de estrutura física e um corpo de agentes posto a esse fim.

434 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Linguagem e Método. 4ª Ed. São Paulo: Noeses, 2011. P. 789-790 435 CTN, Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder. 436 Lei Federal nº 12.529/2011, Art. 66. O inquérito administrativo, procedimento investigatório de natureza inquisitorial, será instaurado pela Superintendência-Geral para apuração de infrações à ordem econômica. § 1o O inquérito administrativo será instaurado de ofício ou em face de representação fundamentada de qualquer interessado, ou em decorrência de peças de informação, quando os indícios de infração à ordem econômica não forem suficientes para a instauração de processo administrativo.

Registre-se que já há posicionamento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal de que é possível presumir o exercício do poder de polícia, ainda que não exista órgão de controle437.

A despeito da existência do termo Poder de Polícia pela própria legislação, há a crítica de SUNDFELD, para quem a concepção do instituto se deu para um Estado Mínimo, cuja intervenção na econômica se volta para a imposição de limites negativos à liberdade e à propriedade, visando a erigir um ambiente de convivência dos direitos438.

Contudo, essa contextualizado insere uma conotação negativa ao termo, razão pela qual o autor propõe um novo enfoque, o qual supera e elimina tal terminologia, que denomina de Administração ordenadora para a regulação do setor privado com o emprego do poder de autoridade, imbuída do dever de regular a vida privada, mediante a ordenação de comportamento por comandos cogentes439.

Nessa proposta, a regulação administrativa pode se dar sob condicionantes de limites, encargos e sujeição dos direitos, os quais refletem o dever de não fazer, o dever de fazer e o dever de suportar, bem como o sacrifício total ou parcial deles440. De um modo ou de outro, pressupõe a fiscalização, a qual os indivíduos têm o dever de suportarem e colaborarem bem como é a partir dela que advém os atos de repressão, seja constatação de infração como a posterior sanção441.

Por fim, imprescindível reforçar a importância da fiscalização, como dita alhures, pois, sem ela, não se consegue verificar a adequação e a justeza das

437 Nesse sentido, conferir os seguintes precedentes:

(1) RE 588322, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 16/06/2010, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-164 DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-2010 EMENT VOL-02413-04 PP-00885 RTJ VOL-00224-01 PP-00614 RIP v. 12, n. 63, 2010, p. 243-255 RT v. 99, n. 902, 2010, p. 149-157;

(2) AI 699068 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 17/03/2009, DJe-071 DIVULG 16-04-2009 PUBLIC 17-04-2009 EMENT VOL-02356-23 PP-04856 LEXSTF v. 31, n. 364, 2009, p. 78-81

(3) RE 361009 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 31/08/2010, DJe-217 DIVULG 11-11-2010 PUBLIC 12-11-2010 EMENT VOL-02430-01 PP-00087

438 SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo Ordenador. 1ª Ed. São Paulo, Malheiros. 2003. P. 14 439 SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo Ordenador. 1ª Ed. São Paulo, Malheiros. 2003. P. 20 440 SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo Ordenador. 1ª Ed. São Paulo, Malheiros. 2003. P. 23-26 441 SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo Ordenador. 1ª Ed. São Paulo, Malheiros. 2003. P. 68-72

condutas em (des)cumprimemento das normas do Direito Antitruste, o que implica na constatação de sua efetividade, muito menos impor as sanções decorrentes. Sem a fiscalização necessária, suficiente e efetiva continua sem os adjetivos pretendidos pelo sistema, corroborando com a manutenção e até mesmo o aumento das distorções e falhas em prejuízo à economia442.