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Critérios de Avaliação do Valor Universal Excecional

No documento Arquitetura, património e autenticidade (páginas 143-147)

CAPÍTULO IV – Conceitos

5.1 Enquadramento Internacional

5.1.7 Critérios de Avaliação do Valor Universal Excecional

O Comité do Património Mundial considera que um bem tem Valor Universal Excecional quando esse bem responde pelo menos a um dos critérios seguintes:

I. Representar uma obra-prima do génio criador humano;

II. Ser testemunho de um intercâmbio de influências considerável, durante um dado período ou numa determinada área cultural, sobre o desenvolvimento da arquitetura ou de tecnologia, das artes monumentais, do planeamento urbano ou da criação de paisagens;

III. Constituir um testemunho único ou pelo menos excecional de uma tradição cultural de uma civilização viva ou desaparecida;

IV. Representar um exemplo eminente de um tipo de construção ou de conjunto arquitetónico ou tecnológico ou de paisagem que ilustre um ou mais períodos significativos da história humana;

V. Ser um exemplo eminente de implantação humana tradicional, da utilização tradicional do território ou do mar, que seja representativo de uma cultura (ou culturas), ou da interação humana com o meio ambiente, especialmente quando este último se tornou vulnerável sob o impacte de uma mutação irreversível; VI. Estar direta ou materialmente associado a acontecimentos ou a tradições vivas,

ideias, crenças ou obras artísticas e literárias de significado universal excecional (o Comité considera que este critério deve de preferência ser utilizado conjuntamente com outros);

VII. Representar fenómenos materiais notáveis ou áreas de beleza natural e de importância estética excecionais;

VIII. Ser exemplos eminentemente representativos dos grandes estádios da história da Terra, nomeadamente testemunhos de vida, de processos geológicos em

curso, no desenvolvimento de formas terrestres ou de elementos geomórficos ou fisiográficos de grande significado;

IX. Ser exemplos eminentemente representativos de processos ecológicos e biológicos em curso na evolução e desenvolvimento de ecossistemas e comunidades de plantas e de animais terrestres, aquáticos, costeiros e marinhos; X. Conter os habitats naturais mais representativos e mais importantes para a

conservação in situ da diversidade biológica, nomeadamente aqueles em que sobrevivem espécies ameaçadas que tenham um Valor Universal Excecional do ponto de vista da ciência ou da conservação.

Para ser considerado de Valor Universal Excecional, um bem deve também responder às condições de integridade e/ou de Autenticidade e beneficiar de um sistema de proteção e gestão adequado para assegurar a sua salvaguarda. 60

O conjunto de critérios propostos para avaliar a Autenticidade nas intervenções de conservação/reabilitação de áreas históricas patrimoniais baseado no espírito da UNESCO através dos critérios definidos nas Orientações Técnicas para Aplicação da Convenção do Património Mundial, incluem as definições de critérios utilizados pelo National Park Service dos EUA, que avaliam a integridade e Autenticidade não só do imóvel histórico mas englobando ainda a sua inserção na paisagem.

Os critérios referidos no Guia Operacional para avaliação da Autenticidade são constituídos pelos parâmetros abaixo:

1 - Design:

É a combinação dos elementos criadores da forma, do plano, espaço e estilo de um monumento ou propriedade histórica. É o resultado de decisões conscientes realizadas durante o projeto conceptual original e o planeamento do edificado ou propriedade (ou durante alterações

60

UNESCO – Comité do Património Mundial. Convenção do Património Mundial. Critérios para a avaliação do Valor Universal Excecional.

Fig. 75 – Claustro do Mosteiro dos Jerónimos Lisboa

Fig. 76 – Torre dos Clérigos- Porto Materiais

Fig. 77 – Gaiola Pombalina Lisboa

Métodos Construtivos significativas), aplicadas em atividades ou ações tão diversificadas como planeamento urbano, engenharia, arquitetura e paisagem arquitetónica.

Design inclui elementos tão diversos como a organização do espaço, proporção, escala, tecnologia, ornamentação e materiais.

2 - Materiais:

São os elementos físicos que combinados ou depositados durante determinado período de tempo e num determinado padrão ou

configuração, formam a propriedade

histórica.

A seleção e combinação dos materiais revelam as preferências dos autores que criaram a propriedade histórica, indicando ainda a disponibilidade de determinados tipos de materiais e tecnologias.

Materiais locais são indicadores das tradições construtivas da região e por conseguinte ajudam a definir áreas de sensibilidades e conhecimentos temporais e locais.

3 - Artefactos:

É a evidência física do artesanato de uma cultura ou de uma comunidade durante determinado período da história.

É a evidência do trabalho e habilidade dos artesãos na construção ou alteração estrutural de um edifício, objeto ou sítio.

Artefacto pode aplicar-se a um edifício ou propriedade como um todo, ou aos seus componentes em particular.

Isto é claramente expresso nos métodos vernaculares de construção, ou simples acabamentos ou ainda em sofisticadas configurações ou detalhes ornamentais.

Fig. 80 – Biblioteca Joanina Universidade de Coimbra

Este conhecimento é imanente, tem origem nas tradições comunitárias evoluindo nos períodos de inovação técnica.

4 - Sítio – Localização

É o ambiente físico e natural envolvente ao monumento histórico.

Refere-se sempre a um local específico, concreto onde o monumento foi construído ou ocorreu um evento histórico notável, o sítio designa o caráter do local, interveniente no facto histórico.

O sítio compreende o seu todo e não apenas o local onde o elemento histórico está situado, mas a sua relação com o ambiente e a paisagem envolvente.

5 - Função/Uso

É o grau de continuidade ou uso significativo do elemento histórico original. Uma área histórica e a sua envolvente formam um todo coerente incluindo as atividades humanas e o edificado local.

A continuação da função original ou compatível minimiza o impacto negativo na autenticidade do objeto/monumento.

Fig. 78 – Castelo de Marvão

Fig. 79 –Vila de Marvão

Constata-se neste capítulo quão importante é a determinação de um conjunto de critérios que possibilitem avaliar a Autenticidade do património cultural, considerada exigência indispensável à verificação do Valor Universal Excecional do bem património candidato à Lista do Património Mundial.

O Comité do Património Mundial face à diversidade do Património Mundial e à dificuldade de interpretação das exigências referidas na execução dos Processos candidatos à Lista do Património Mundial, redigiu um Guia Normativo “ Orientações Técnicas para a Aplicação da Convenção do Património Mundial”, no sentido precisamente de regular, e portanto facilitar a inscrição de bens património na lista referida anteriormente.

Este Guia Orientativo é revisto periodicamente, refletindo as decisões do Comité do

No documento Arquitetura, património e autenticidade (páginas 143-147)