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Museus e Sítios Históricos Vivos

No documento Arquitetura, património e autenticidade (páginas 119-125)

CAPÍTULO IV – Conceitos

4.6.9 Museus e Sítios Históricos Vivos

As intervenções nos monumentos históricos baseadas na criação de cenários para agradar os visitantes, inviabiliza e degrada muitas vezes a preservação da sua Autenticidade, refletindo-se obviamente também na vida social e cultural da comunidade.

Existe atualmente a tendência para alterar a função de edifícios históricos, transformando-os em museus, ou em peças de museu.

Esta modificação, por si só, ao alterar o uso, vai alterar a Autenticidade cultural do edificado ou sítio património.

De qualquer forma, e desde que a intervenção da alteração da função e uso dos espaços tenha um caráter reversível, o simples facto da sua utilização e fruição já induz

sentimentos e necessidades relativamente à sua conservação sustentável, e à manutenção da sua Autenticidade.

De facto a conservação e salvaguarda dos monumentos, não aceita que os mesmos sejam apenas objetos estáticos de contemplação, antes pelo contrário, a gestão e conservação dos monumentos, deve ser dinâmica no sentido de agilizar recursos para a manutenção e conservação eficaz do património em causa, mantendo a integridade e Autenticidade do mesmo para futuras gerações.

4.7 – CONCLUSÃO

No final, podemos aceitar que a Autenticidade é a afirmação da verdade em oposição a falso é a pureza do original em oposição à cópia, podemos igualmente assumir Autenticidade como um valor absoluto, mas determinado por um conjunto de critérios através dos quais não seja possível contestar este valor, sendo isto verdade, tendo em consideração determinada cultura ou comunidade, inserida no seu contexto cultural particular, consideramos assim oportuna a nossa proposta de Critérios de Autenticidade para o Património Nacional.

Devemos então aceitar os valores reais de Autenticidade, naturalmente distintos de cada comunidade ou cultura, através da sua história, crenças, ideais, valores tangíveis e intangíveis que formam o Património Histórico Cultural ou Natural.

Atendendo que a Convenção do Património Mundial baseou os seus princípios na Carta de Veneza (1964), o Documento de Nara contextualizou igualmente o conteúdo conceptual de Autenticidade na referida Carta.

Significa isto o quê? Que o conceito de Autenticidade está desde sempre presente nas preocupações dos estudiosos e intervenientes nas operações de Conservação e Restauro do Património Histórico Cultural.

Senão vejamos, logo no Preâmbulo da Carta de Veneza se afirma, que os monumentos históricos resistem até aos nossos dias como portadores e transmissores das tradições e sentimentos das gerações do passado, tornando actualmente os povos mais conscientes dos valores culturais, assumindo a sua evolução comunitária como o reflexo das suas raízes ancestrais, com códigos próprios, tradições, sentimentos comuns.

Associados aos valores humanos permite-nos aceitar e valorizar os monumentos antigos como património comum.

Imbuídos deste espírito reconhece-se a responsabilidade coletiva de preservar para as gerações futuras o património cultural que recebemos dos nossos antepassados.

Na verdade admite-se a obrigatoriedade dos povos preservarem os monumentos com toda a riqueza da sua Autenticidade.

A conceptualização de se manter toda a riqueza de Autenticidade do património é muito mais abrangente do que a simples e direta análise material do monumento, podemos dizer que ultrapassa os valores previstos no teste de Autenticidade preconizado pela Convenção do Património Mundial, pois através das Orientações Técnicas para Aplicação da Convenção do Património Mundial, datadas de 2010, os critérios são já mais assertivos, incluindo:

Forma e conceção;

Materiais e substâncias;

Uso e função;

Tradições, técnicas e sistemas de gestão;

Localização e enquadramento;

Língua e outras formas de património material;

Espírito e sentimentos.

A diferença em relação ao teste de Autenticidade, é que estes critérios comtemplam não só conceitos nacionais, materiais, mas igualmente conceitos imateriais, tais como tradições, língua, espírito e sentimentos do sítio património.

Esta forma de pensamento permite nivelar cientificamente o estudo do Património Histórico, quer se trate de monumentos arquitetónicos, sítios, paisagens, centros históricos, segundo princípios comuns de investigação, equilibrados e credíveis.

A Autenticidade do Património Histórico não pode ser avaliada apenas pela sua materialização física formal, mas também pela sua história intrínseca, pelas recordações que transmite e que globalmente representam os valores materiais e imateriais do monumento, associados a determinada Sociedade ou Cultura.

Os monumentos culturais religiosos do Japão são disto exemplo, uma vez que a sua Autenticidade é essencialmente transmitida através de valores espirituais, sociais, de tradição, porque o monumento arquitetónico em si é desmontado e construído a cada 20 anos, materialmente apenas conservam a Autenticidade das metodologias e técnicas construtivas ancestrais, porque os materiais utilizados, apesar de serem iguais aos existentes, são atuais, novos.

De qualquer modo, culturalmente, no contexto do Património Histórico Japonês, estes monumentos mantêm a sua Autenticidade através das gerações.

Podemos então aceitar que a conservação dos monumentos históricos está ligada a mensagens de costumes e tradições de culturas específicas que obviamente evidenciam a riqueza da Autenticidade do monumento em questão.

Logo os valores de Autenticidade do património são credíveis para estas comunidades singulares.

Michael Petzet relativamente à Autenticidade diz-nos que o verdadeiro princípio a observar quanto à conservação do monumento, significa simplesmente cuidar, preservar, manter o monumento, não falsificar, danificar, e muito menos destruir.

E por outro lado, quando as intervenções no património são mesmo inevitáveis para a sua conservação, então elas, no mínimo, devem ser mesmo realizadas mas de forma sustentável e reversível.

Quanto à ligação existente com o conceito de Autenticidade, resume-se ao facto da reversibilidade permitir alterar e desfazer qualquer tipo de intervenção oportunamente realizada, sem contudo alterar as condições de Autenticidade existentes e previamente determinadas.46

46

PETZET,Michael- 1994.In the Full Richness of their Authenticity-The Test of Authenticity, and the New Cult of Monuments. Nara Conference. Japão. Pág.10 e 11

O autor apresenta-nos o exemplo da Arquitetura da Terra do Norte de África, onde efetivamente se preserva a Autenticidade do edificado através da recolocação cíclica dos materiais, executada há séculos através de práticas artesanais e segundo tradições ancestrais.

A Autenticidade do património é nestas situações e culturas particulares a atividade artesanal desenvolvida na conservação e manutenção do património, observando-se técnicas e padrões originais, incluindo-se nestas metodologias princípios religiosos e espirituais.

Apesar destas singularidades, Jukka Jokilehto transmite uma perspetiva formal historicista num contexto multicultural relativamente à Autenticidade do Património Mundial.

No entanto em nosso entender o conceito de Autenticidade não implica nenhum tipo de aculturação, face à natural diversidade cultural e tradicional das sociedades, é apenas um guia orientador.

CAPÍTULO V – CONTEXTO CARATERIZADOR

No documento Arquitetura, património e autenticidade (páginas 119-125)