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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.2 Aspectos legais da cobrança pelo uso da água no Brasil

3.2.5 Critérios para cobrança e destino dos valores arrecadados

A Lei no 9.433/97 estabelece critérios gerais para a cobrança das derivações,

captações e extrações de volumes e para lançamento de esgotos e demais resíduos. Porém, é omissa quanto aos critérios para os demais usos sujeitos à outorga definidos no artigo 12 da mesma lei, aproveitamento dos potenciais hidrelétricos e outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade do corpo de água. No que se refere à geração de energia elétrica, o artigo 28, da Lei no 9.984/00 (Lei da ANA), resolveu a questão ao considerar a parcela de setenta e

cinco centésimos por cento do valor da energia produzida destinados ao Ministério do Meio Ambiente como pagamento pelo uso dos recursos hídricos.

A Resolução no 48 do CNRH foi mais abrangente na definição dos critérios para a cobrança pelo uso da água. Esta resolução definiu critérios gerais para a derivação, captação e extração; para o lançamento com o fim de diluição, assimilação, transporte ou disposição final de efluentes; e para os demais tipos de usos ou interferências que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água de um corpo hídrico. O Quadro 4 apresenta os mecanismos para a definição dos valores de cobrança existentes na legislação brasileira.

QUADRO 4. Mecanismos para a definição da cobrança pelo uso da água na legislação brasileira de recursos hídricos.

I Nas derivações, captações e extrações de água, o volume retirado e seu regime de variação; II Nos lançamentos de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, o volume lançado e

seu regime de variação e as características físico-químicas, biológicas e de toxidade do efluente.

Lei no 9.433/97 I À derivação, captação e extração: a) natureza do corpo de água (superficial ou subterrâneo);

b) classe em que estiver enquadrado o corpo de água; c) a disponibilidade hídrica; d) grau de regularização assegurado por obras hidráulicas; e) vazão reservada, captada, extraída ou derivada e seu regime de variação; f) vazão consumida; g) finalidade a que se destinam; h)

sazonalidade; i) características e a vulnerabilidade dos aqüíferos; j) características físicas, químicas e biológicas da água; k) localização do usuário na bacia; l) práticas de racionalização,

conservação, recuperação e manejo do solo e da água; m) condições técnicas, econômicas, sociais e ambientais existentes; n) sustentabilidade econômica da cobrança por parte dos

usuários; o) práticas de reuso hídrico.

II Ao lançamento com o fim de diluição, assimilação, transporte ou disposição final de

efluentes: a) natureza do corpo de água; b) classe em que estiver enquadrado o corpo de água

receptor no ponto de lançamento; c) a disponibilidade hídrica; d) grau de regularização assegurado por obras hidráulicas; e) carga de lançamento e seu regime de variação; f) natureza da atividade; g) sazonalidade do corpo receptor; h) características e a vulnerabilidade das águas de superfície e dos aqüíferos; i) características físicas, químicas e biológicas do corpo receptor;

j) localização do usuário na bacia; k) práticas de racionalização, conservação, recuperação e manejo do solo e da água; l) grau de comprometimento que as características físicas e os constituintes químicos e biológicos dos efluentes podem causar ao corpo receptor; m) vazões consideradas indisponíveis em função da diluição dos constituintes químicos e biológicos e da equalização das características físicas dos efluentes; n) redução da emissão de efluentes em

função de investimentos em despoluição; o) atendimento das metas de despoluição programadas pelos Comitês de Bacia; p) redução efetiva da contaminação hídrica; q)

sustentabilidade econômica da cobrança por parte dos usuários.

III Aos demais tipos de usos ou interferências que alterem o regime, a quantidade ou a

qualidade da água de um corpo hídrico: a) natureza do corpo de água (superficial ou

subterrâneo); b) classe em que estiver enquadrado o corpo de água; c) a disponibilidade hídrica; d) vazão reservada, captada, extraída ou derivada e seu regime de variação; e) alteração que o

uso poderá causar em sinergia com a sazonalidade; f) características físicas, químicas e biológicas da água; g) características e a vulnerabilidade dos aqüíferos; h) localização do usuário

na bacia; i) grau de regularização assegurado por obras hidráulicas; j) sustentabilidade econômica da cobrança por parte dos usuários; k) finalidade do uso ou interferência.

Resolução no 48

CNRH- CTCOB

Para Pereira (2002), a legitimidade da cobrança poderá depender das respostas às seguintes questões: qual será o destino dos recursos obtidos com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos? Que garantia tem a sociedade de que esses recursos serão utilizados na promoção de melhorias ambientais e não se transformarão numa espécie de “CPMF das águas”?.

A Lei no 9.433/97 limita-se a definir que os recursos obtidos com a cobrança pelo uso dos recursos hídricos serão aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados e serão utilizados no financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídas nos Planos de Recursos Hídricos e, até o limite de 7,5% (sete e meio por cento) do total arrecadado, no pagamento de despesas de implantação e custeio administrativo dos órgãos e entidades integrantes do SNGRH Hídricos. A Lei no 9.984/00 complementou esse aspecto da Lei no 9.433/97, ao atribuir ao CNRH, em articulação com os respectivos CBH, a competência pelas definições das prioridades de aplicação dos recursos obtidos com a cobrança.

No Estado do Rio Grande do Sul a aplicação dos recursos provenientes da cobrança está muito claro na Lei no 10.350/94, conforme descrito no seu artigo 32:

Art. 32. Os valores arrecadados na cobrança pelo uso da água serão destinados a aplicações exclusivas e não transferíveis na gestão dos recursos hídricos da bacia hidrográfica de origem:

I. a cobrança de valores está vinculada à existência de intervenções estruturais e não estruturais aprovadas para a respectiva bacia, sendo vedada a formação de fundos sem que sua aplicação esteja assegurada e destinada no Plano de Bacia Hidrográfica;

II. até 8% (oito por cento) dos recursos arrecadados em cada bacia poderão ser destinados ao custeio dos respectivos Comitê e Agência da Região Hidrográfica;

III. até 2% (dois por cento) dos recursos arrecadados em cada bacia poderão ser destinados ao custeio das atividades de monitoramento e fiscalização do órgão ambiental do Estado desenvolvidas na respectiva bacia.