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Processo de gestão dos recursos hídricos: passos para a cobrança

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.2 Aspectos legais da cobrança pelo uso da água no Brasil

3.2.3 Processo de gestão dos recursos hídricos: passos para a cobrança

O SNGRH constitui-se de um conjunto de mecanismos jurídicos- administrativos com a finalidade de colocar em prática a PNRH, dando suporte técnico e institucional para o gerenciamento de recursos hídricos no País. Conforme discutido no item 3.2.1, o SNGRH é formado por cinco estruturas (Lei no 9.433/97):

• Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH):

Organismo colegiado, consultivo, normativo e deliberativo composto por representantes dos setores usuários de água, governo e sociedade civil organizada. Segundo a Lei das Águas, as principais competências do CNRH são:

- promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;

- deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos ou pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;

- acompanhar a execução do Plano Nacional de Recursos Hídricos e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas;

- estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso.

• Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal:

Semelhante ao CNRH, são organismos colegiados, consultivos, normativos e deliberativos, compostos por representantes dos setores usuários de água, governo e sociedade civil organizada. As competências dos conselhos estaduais, com alguma variação de Estado para Estado, acompanham as do CNRH, só que no âmbito estadual.

• Comitês de Bacias Hidrográficas (CBH):

Conhecidos como “Parlamentos das Águas”, os comitês são organismos colegiados, consultivos e deliberativos, que constituem a base do SNGRH. Os CBH são compostos por representantes da União, dos Estados e do Distrito Federal, dos Municípios situados em sua área de atuação, dos usuários das águas de sua área de atuação e das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.

Dentre as atribuições dos Comitês, é importante destacar:

- conscientização da população para o consumo racional da água;

- articular a atuação das entidades intervenientes aos recursos hídricos da região;

- promover o debate das questões relacionadas aos recursos hídricos;

- arbitrar, em primeira instância, os conflitos relacionados aos recursos hídricos;

- aprovar o Plano de Recursos Hídricos da bacia;

- estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos; - sugerir os valores a serem cobrados, entre outras.

• Órgãos dos poderes públicos federal, estaduais e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos:

São órgãos vinculados ao Gerenciamento Ambiental ou dos Recursos Hídricos que se constituem nos órgãos integradores do Sistema, pois possuem como função a administração direta das decisões no seu âmbito de atuação. No Estado do Rio Grande do Sul os principais órgãos são:

- Departamento de Recursos Hídricos (DRH): vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) cabendo-lhe, entre outros, a elaboração do anteprojeto de Lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos a ser apreciado pelo Conselho de Recursos Hídricos previamente ao seu encaminhamento à Assembléia Legislativa; a implementação da cobrança pelo uso da água; a emissão de autorizações de uso da água (outorgas de uso); a regulamentação da operação e uso dos mecanismos de gestão de recursos hídricos (redes hidrometeorológicas, bancos de dados, sistemas de informações em recursos hídricos, cadastros de usuários da água); a elaboração

de relatórios anuais sobre a situação dos recursos hídricos e assistir tecnicamente ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos.

- Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM): também vinculada à SEMA cabendo-lhe, entre outros, aplicação da Legislação Ambiental e fiscalização em conjunto com os demais órgãos da SEMA, Municípios e Batalhão Ambiental da Brigada Militar; avaliação, monitoramento e divulgação de informação sobre a qualidade ambiental; a implementação do enquadramento dos recursos hídricos; apoio, informação, orientação técnica e mobilização para os Comitês de Bacia e organizações da sociedade civil.

• Agências de Água:

As Agências de Água exercerão a função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos CBH (no caso da agência englobar mais de um comitê). As principais competências das Agências de Água, no âmbito de sua área de atuação, são:

- efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

- analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos gerados pela cobrança pelo uso de recursos hídricos e encaminhá-los à instituição financeira responsável pela administração desses recursos;

- acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos em sua área de atuação;

- celebrar convênios e contratar financiamentos e serviços para a execução de suas competências;

- elaborar a sua proposta orçamentária e submetê-la à apreciação do respectivo CBH;

- promover os estudos necessários para a gestão dos recursos hídricos em sua área de atuação;

- elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do respectivo CBH; - propor ao respectivo CBH:

a) o enquadramento dos corpos de água nas classes de uso, para encaminhamento ao respectivo Conselho Nacional ou Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de acordo com o domínio destes;

b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos;

c) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

d) o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

De uma forma esquemática o processo de planejamento do uso dos recursos hídricos no Estado do Rio Grande do Sul deve ser realizado conforma apresentado na Figura 2. Depois de aprovados pelo Conselho de Recursos Hídricos do Estado as propostas ou critérios devem ser aprovados pelo CNRH para posteriormente estas decisões virarem leis (Lei de Enquadramento, de Outorga, de Cobrança, etc).

Mais especificamente, o processo de implementação da cobrança pelo uso dos Recursos Hídricos no Estado do Rio Grande do Sul, baseado na Lei Estadual no 10.350/94, será realizado da seguinte forma:

1. Cada CBH, com auxílio da sua respectiva Agência, prepara Proposta de Enquadramento para os “seus” rios, cabendo ao órgão ambiental responsável (FEPAM) a definição final;

2. Cada CBH, novamente com auxílio da Agência, elabora Proposta de Plano de Bacia Hidrográfica (PPBH), onde se prevêem as intervenções necessárias para a obtenção dos objetivos de qualidade definidos no enquadramento;

3. O DRH, com auxílio das Agências, consolida todas as propostas oriundas dos Comitês e elabora a proposta de lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH), que deverá ser aprovado pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH) e pela Assembléia Legislativa (AL);

4. O PERH é refeito a cada 4 anos, com horizonte de projeto de 12 anos; 5. Cada CBH procede o ajuste “fino” de sua PPBH, estabelecendo o Plano de Bacia Hidrográfica (PBH), onde são detalhados intervenções, cronogramas e custos.

6. Cada CBH define os valores a serem cobrados em função do PBH;

7. Cada Agência arrecada e canaliza os recursos financeiros para a respectiva Bacia Hidrográfica de cada CBH.

No Estado do Rio Grande do Sul, a cobrança pelo uso da água não foi implementada pois as Agências de Bacia, órgão com função de secretaria executiva dos comitês, ainda não foram criadas. Para a criação das agências ainda faltam definições quanto às suas estruturas técnica, jurídica e operacional.