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Como a pesquisa em questão utilizou o método de estudo de casos múltiplos, foram escolhidas quatro empresas de software nordestinas para compor o contexto pesquisado, denominadas de Empresas 1, 2, 3 e 4. Justifica-se o número de casos conforme Eisenhardt (1989), que sustenta o fato de que uma pesquisa com estudo de casos múltiplos precisa ter entre quatro e dez casos para se tornar mais consistente.

Optou-se pelas empresas de softwares por estas representarem um segmento das EBT’s que apresenta tendência de crescimento no Brasil (MELO; BRANCO, 1997; ROCHA, 1998) e de relevância para a maioria das organizações, além de serem propensas a

compreender a inovação diante da constante necessidade de mudança tecnológica, P&D, atualização de recursos, conhecimentos, capacidades, mão-de-obra especializada e estratégias (MELO; BRANCO, 1997; SOUSA, 2004; CARVALHO JR., 2005; LEE et al., 2010).

Considerando a diversidade na definição e nomenclatura, a FINEP (2011) determinou alguns requisitos que as EBT’s devem compreender. Na presente pesquisa, as características foram adotadas como pré-requisitos na escolha das empresas selecionadas para os casos. A condição de EBT foi atendida pelas empresas que apresentaram, ao menos, duas das características elencadas no quadro 8, a seguir:

Quadro 8 – Características compreendidas pela EBT CARACTERÍSTICAS INSTRÍNSICAS À EBT

a) Desenvolvam produtos ou processos tecnologicamente novos ou melhorias tecnológicas significativas em produtos ou processos existentes. O termo produto se aplica tanto a bens como a serviços.

b) Obtêm pelo menos 30% (trinta por cento) de seu faturamento, considerando-se a média mensal dos últimos doze meses, pela comercialização de produtos protegidos por patentes ou direitos de autor, ou em processo de obtenção das referidas proteções;

c) Encontram-se em fase pré-operacional e destinam pelo menos o equivalente a 30% (trinta por cento) de suas despesas operacionais, considerando-se a média mensal dos últimos doze meses, a atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico;

d) Não se enquadram como micro ou pequena empresa e destinam pelo menos 5% (cinco por cento) de seu faturamento a atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico ou destinam pelo menos 1,5% (um e meio por cento) de seu faturamento a instituições de pesquisa ou universidades, ao desenvolvimento de projetos de pesquisa relacionados ao desenvolvimento ou ao aperfeiçoamento de seus produtos ou processos; e) Empregam, em atividades de desenvolvimento de software, engenharia, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, profissionais técnicos de nível superior em percentual igual ou superior a 20% (vinte por cento) do quantitativo total de seu quadro de pessoal;

f) Empregam, em atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, mestres, doutores ou profissionais de titulação equivalente em percentual igual ou superior a 5% (cinco por cento) do quantitativo total de seu quadro de pessoal.

Fonte: Adaptado de FINEP (2011).

Para fins dessa pesquisa, entende-se por micro ou pequenas empresas aquelas que possuem até 49 funcionários (ABES, 2010). Pelo fato das empresas que possuem no mínimo duas dessas características apresentadas no quadro 8 ainda serem consideradas EBT’s, as organizações que se encaixaram na classificação micro ou pequenas empresas, mas que desenvolveram ao menos duas das outras atividades mencionadas no quadro, estiveram aptas a abarcar o contexto da presente pesquisa. Dessa forma, os diferentes tipos de softwares desenvolvidos pelas organizações não serão utilizados como critério de escolha das empresas. Com o objetivo de orientar as escolhas do contexto a ser pesquisado além dos pré- requisitos citados no quadro 8, foi solicitado para dois especialistas, indicações de quais empresas nordestinas seriam consideradas mais importantes para serem incluídas na pesquisa, de tal modo que cada uma delas atuasse com diferentes estratégias de inovação. Assim, foi

possível incrementar, confirmar e comparar as informações coletadas dando profundidade à discussão empírica, uma vez que esses especialistas são profissionais com potencial de conhecimento e ampla visão de empresas que possuem certa notoriedade no mercado.

A partir das indicações dos especialistas, foi possível selecionar as organizações para o presente estudo. Entrou-se em contato, por meio de telefone, com mais de trinta empresas situadas na região Nordeste entre a cidade de João Pessoa, no estado da Paraíba, a cidade de Recife, em Pernambuco e a cidade de Fortaleza, no estado do Ceará. Devido à falta de disponibilidade dos entrevistados e até mesmo pelo tempo para consecução da pesquisa, não foi possível selecionar um número maior de casos. Apenas quatro empresas se dispuseram a participar e, ao mesmo tempo, se encaixaram no horizonte de tempo delimitado pelo cronograma de pesquisa.

Todas as quatro empresas investigadas atuam no setor de software, constituindo, assim EBT’s localizadas na região Nordeste. Levando em consideração as características do quadro 8, pode-se dizer que elas apenas não se inserem nos quesitos “c” e “f”, pelo fato de que nenhuma delas não despende essa porcentagem de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e, apenas a Empresa 3 e 4, também não podem ser caracterizadas no quesito “d” por se enquadrarem como uma empresa de pequeno porte com relação ao número de funcionários. Por compreenderem mais de dois aspectos apresentados no quadro 8, pode-se dizer que essas empresas correspondem aos critérios para a seleção dos casos.

Nos estados onde se encontram as empresas estudadas, percebe-se a atuação de diferentes instituições de fomento ao conhecimento e à inovação tecnológica no intuito de conduzir as empresas de base tecnológica e proporcionar a visibilidade destas no cenário local e nacional, além de incentivar as exportações.

As Empresas 1 e 2 se encontram na cidade de Recife. A cidade destaca-se como viabilizadora de incentivos às empresas de base tecnológica por meio da atuação do Porto Digital, ambiente no qual há incentivos voltados para empreendedorismo, inovação e capital humano nessas empresas. Há parcerias com universidades (Universidade Federal de Pernambuco), especialistas, instituições e governos para que as inovações sejam consolidadas.

Na cidade de Fortaleza, encontra-se a Empresa 3. O cenário é marcado pela atuação do Instituto de Tecnologia da Informação Comunicação (ITIC), credenciado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), para receber recursos da Lei de Informática. Com objetivos semelhantes, outra instituição voltada para inovação e tecnologia é o Instituto Atlântico, que provém soluções tecnológicas para gerar valor em forma de inovação para a sociedade.

Assim, há busca de projetos que beneficiem EBT’s e as incentivem a desenvolver capacidades de gestão da inovação, desenvolvimento e melhorias de produtos, processos e serviços.

A Empresa 4 está situada em João Pessoa, onde há a atuação do Farol Digital, um projeto desenvolvido pelo SEBRAE que ajudou a tornar o estado o terceiro da região Nordeste, em se tratando de investimentos em pesquisa para atividades de Ciência e Tecnologia. O estado é beneficiado ainda pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e de Campina Grande (Universidade Federal de Campina Grande) devido à concessão de bolsas para pesquisa científica na região, o que contribui para bom desempenho do setor de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) (FAROL DIGITAL, 2011).

A investigação se compõe de forma não-probabilística, ou seja, de forma intencional (MERRIAM, 1998), já que os sujeitos da pesquisa foram escolhidos por serem responsáveis pela inovação e estratégia dentre as organizações, ou seja, pessoas que possuem experiência e conhecimento no tema e estão envolvidas no processo.

Procurou-se entrevistar mais de uma pessoa em cada empresa, mas só foi concebida uma entrevista para casa caso. Sendo assim, os sujeitos totalizam três diretores (Empresa 1, 2 e 4) e uma desenvolvedora de software (Empresa 3), além dos dois especialistas. Assim, foi possível coletar os dados necessários a partir de diversas perspectivas, para identificar as estratégias de inovação existentes nas empresas, bem como quais recursos e capacidades são considerados críticos na busca de vantagem competitiva.

O quadro 9 sintetiza as informações sobre os sujeitos da pesquisa e a área de atuação no qual as empresas pesquisadas se encontram.

Quadro 9 – Informações sobre os sujeitos e contextos estudados Cargo dos

Entrevistados Área de atuação

Número de Funcionários Entrevistado 1:

Diretor

Empresa 1 – Tem como negócio principal o desenvolvimento de sistema de gestão semafórica, monitoramento de transito, simulações de organização de trânsito, fabrica o controlador, além de uma série de produtos que engloba hardware, software e serviços.

640

Entrevistado 2: Diretor

Empresa 2 – Atua no mercado de energia elétrica desenvolvendo softwares que servem para área de gestão de operação e manutenção e

materiais. 47

Entrevistada 3: Desenvolvedora

Empresa 3 - Atua na área de tecnologia da informação por meio do desenvolvimento de soluções em software nas áreas contábil,

administrativo-financeira, gestão empresarial e recursos humanos. 300 Entrevistado 4:

Diretor

Empresa 4 - Atua na área de segurança, desenvolvendo softwares para a área biométrica (reconhecimento de indivíduos através de características

físicas). 20

Com relação aos especialistas entrevistados, pode-se dizer que o Especialista 1 trabalha em um centro de estudos com o intuito de difusão da inovação tecnológica. É pesquisador na área de engenharia de software, mais especificamente, sobre a tecnologia da informação e seus impactos na sociedade. E o Especialista 2 Trabalha em um instituto onde há o fomento do conhecimento de várias frentes de tecnologia, por meio de P&D/Inovação, Projetos de Desenvolvimento e Consultoria.

Na medida em que as entrevistas foram realizadas, foram observados indícios que demonstraram a necessidade de informações coletadas a fim de compreender o momento em que a saturação dos dados ocorre (EISENHARDT, 1989; GODOY, 2006), na qual novas entrevistas não foram necessárias por não agregarem mais diversificação para a análise, além de implicar em possíveis informações redundantes.