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4.4 ANÁLISE DA EMPRESA 4 163

4.4.2 Tipologias de estratégias de inovação 166

No caso dos projetos que envolvem os games educativos que a empresa está investindo, as tendências foram observadas e as necessidades dos clientes também, mas como o cenário é ainda incerto para essa área, não há como prever se o projeto irá realmente dar certo no mercado. Ocorre que após o surgimento de uma ideia, um nicho de mercado foi

identificado ao mesmo tempo em que foi percebido que as necessidades particulares dos clientes potenciais eram pouco exploradas por outras empresas.

Nesse projeto de games, foi identificado que há uma lacuna na área de material educacional inovador para o professor trabalhar em sala de aula. Nesse caso, os diretores da empresa reconheceram uma oportunidade, independente dos eventos externos e, assim, concentraram esforços para criar produtos e processos novos.

A tecnologia tem papel decisivo para atingir o nicho selecionado (FREEMAN; SOETE, 2008) e é utilizada para oferecer um produto que não tenha sido provido anteriormente. Percebe-se, então, a realização da estratégia de inovação oportunista, uma vez que a empresa pode vir a obter vantagem competitiva por meio da exclusividade do atendimento das necessidades do mercado específico de games educacionais. Em virtude dessas características, a empresa não concentra esforços em P&D, uma vez que se há necessidade evidenciada, não há motivos para que sejam despendidos recursos financeiros e tempo na investigação de possibilidades.

Em todo caso, acredita-se que esforços em P&D deveriam ser feitos independentes das necessidades já verificadas no mercado. Qualquer pesquisa que favoreça a diminuição do risco deve ser considerada, mas de forma rápida para que a empresa não perca a oportunidade de ser vista como a primeira a desenvolver um produto ou oferecer um serviço.

Não se pode afirmar que não há domínio dessa tecnologia em outros países, mas pode- se dizer que, na cidade de João Pessoa, não existe outra empresa à frente dessa iniciativa, o que colabora para a diferenciação da Empresa 4 e o consequente destaque no mercado. Em se tratando de uma empresa de pequeno porte, é, no mínimo, curioso o fato da empresa se arriscar em inovações e mercados ainda não explorados por outras empresas.

Depois que os diretores tiveram a primeira ideia do projeto de games, eles pesquisaram quem já estava fazendo no mercado, quem eram os concorrentes e a partir disso começaram a desenvolver outras características para os produtos semelhantes que já existiam. Entende-se, então, que a empresa utilizou a estratégia de inovação oportunista, mas realizou também características da estratégia de inovação defensiva, uma vez que foram analisadas as empresas que desenvolviam produtos similares.

Nota-se que a posição da empresa se diferencia conforme as tecnologias utilizadas, pois quando se trata do ramo de games, a empresa adota uma postura mais arriscada, mas para o software de biometria, a empresa parece ter um comportamento mais conservador, seguindo as empresas líderes no mercado.

A avaliação de diferenciações e agregação de novas funcionalidades ao software é realizada conforme o custo/benefício da característica específica. No momento em que isso é definido, a empresa pode oferecer um produto melhor ao dos concorrentes que introduziram primeiro no mercado uma funcionalidade, uma vez que os erros cometidos por eles não serão repetidos pela empresa (FREEMAN; SOETE, 2008).

Na medida em que é observada a atuação dos concorrentes para o desenvolvimento de inovações, há também a análise das necessidades dos clientes, constituindo-se, dessa forma, uma fonte externa de ideia utilizada pela empresa. Nesse caso, ocorre a estratégia de

inovação baseada no mercado, uma vez que a empresa procura compreender o que o cliente

quer para satisfazer sua demanda (LYNN; AKGÜN, 1998). Os contatos com os clientes são utilizados para a verificação das necessidades. Ademais, eventualmente, a empresa faz análises para que clientes potenciais também sejam estudados.

Outra estratégia de inovação é a exploitative/incremental, na qual as inovações são realizadas utilizando tecnologias já adquiridas, o que resulta em aprimoramentos dos produtos. A empresa tem indícios de comportamento que favorecem as inovações radicais, uma vez que são escolhidos mercados ainda não saturados para a introdução de produtos e novas tecnologias desenvolvidas pela própria empresa. No entanto, não parece ser algo concretizado, já que as escolhas mercadológicas adotadas são diferentes da maneira que a empresa faz suas inovações.

Dito de outra forma, a empresa tem postura mais radical em suas decisões de mercado, mas no que diz respeito às inovações, prefere esperar a resposta de produtos já inseridos no mercado por concorrentes e, a partir de uma análise, seleciona o que há de melhor nesses produtos e acrescenta às suas soluções ou faz adaptações e aprimoramentos. As mudanças são feitas quase que cotidianamente e envolvem além dos produtos, os processos utilizados para aumentar o desempenho do produto no mercado.

Na medida em que essa estratégia é realizada, há outro tipo que se evidencia no contexto da Empresa 4: a estratégia de alavancar a tecnologia que tem como objetivo ser superior aos concorrentes a partir da geração de novas tecnologias (BOWONDER et al., 2010). Por serem empresas de base tecnológica, é evidente que todas as empresas da pesquisa têm a tecnologia pressuposta em suas inovações, porém, foi percebido que mais do que a análise do mercado, as tecnologias descobertas por meio de P&D são mais relevantes para as inovações na empresa. Assim, como os produtos da empresa prezam por um diferencial, a tecnologia é introduzida no mercado com o objetivo de dominar a competição.

Busca-se aproveitar as oportunidades a fim de alcançar a liderança competitiva no mercado atuante gerando tecnologia no interior da própria empresa, aproveitando, assim, seu conhecimento técnico para ofertar soluções mais inovadoras. Por mais que as tecnologias sejam desenvolvidas internamente, a inovação aberta possui influência nesse tipo de estratégia de inovação, uma vez que permite que a empresa inspire-se para alavancar sua tecnologia por meio de várias fontes diferentes (BOWONDER et al., 2010).

Para que essas adaptações sejam feitas de forma incremental, pode-se dizer que a Empresa 4 faz uso das inovações abertas (CHESBROUGH, 2006; DAHLANDER; GANN, 2010), pois consultores especialistas em inovação e pesquisa foram contratados para orientar os esforços nesse sentido. Com isso, uma maior quantidade de aspectos organizacionais é considerada nas inovações e, assim, observam-se a combinação entre ideias advindas dos ambientes interno e externo para que a empresa avance tecnologicamente.

Há também uma parceria com o Farol Digital e com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). O Farol digital é um projeto desenvolvido pelo SEBRAE de apoio para empresas do setor de tecnologia da informação e comunicação ao passo que promove a inovação nesses setores situados no estado da Paraíba.

A Paraíba é o terceiro Estado da região Nordeste em relação aos investimentos em pesquisa para atividades de Ciência e Tecnologia. Somente nas universidades federais da Paraíba (UFPB) e de Campina Grande (UFCG) são disponibilizados quase R$ 8 milhões ao ano para pagamento de bolsas de pesquisa científica. Não à toa o setor de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) – baseado no tripé de sustentabilidade formado pela parceria entre empresas, instituições e unidades de ensino - é um dos que mais tem crescido em solo paraibano (FAROL DIGITAL, 2011).

A empresa procura se favorecer por meio da disponibilidade de parcerias no estado. Com isso, percebe-se também a realização da estratégia de inovação de parceria (BOWONDER et al., 2010). No caso do produto que utiliza a biometria, a empresa estava trabalhando com tecnologia importada, mas analisou a possibilidade de desenvolver e constatou que tinha condição de criar essa tecnologia. Para isso, foram feitas parcerias com a UFPB e a UFCG, nas quais foram compartilhados recursos e complementadas as capacidades por meio do capital intelectual fornecido pelos professores da área de computação.

A estratégia de inovação baseada na aprendizagem também é desempenhada a partir do momento em que as equipes de trabalho do desenvolvimento de software registram as informações obtidas por meio de pesquisa e reuniões sobre o projeto, bem como a performance do produto no mercado. Após o registro, a equipe reflete com os diretores sobre os achados e as informações são armazenadas de modo que sejam facilmente encontradas para

serem utilizadas quando forem solicitadas. Todas essas ações acontecem com a participação dos diretores, que agem como líderes e orientadores para que o objetivo do projeto não seja perdido. Nesse caso, a empresa passa a aprender com os próprios erros e desenvolve produtos melhores na medida em que as reflexões dão novos rumos para as inovações (LYNN; AKGÜN, 1998).

Conforme foi destacado acima, existem vários tipos de estratégias presentes na empresa 4 que, por sua vez, possuem alguma relação mútua de forma direta ou indireta. O quadro 22 ilustra essas estratégias de inovação existentes, bem como as práticas encontradas que confirmam com os achados.

Quadro 22 – Tipologias de estratégias de inovação da Empresa 4 Estratégia de Inovação Práticas evidenciadas na Empresa 4

Estratégia de inovação oportunista

No que diz respeito à suas escolhas mercadológica, pode-se dizer que a empresa procura identificar oportunidades em mercados ainda não abrangidos e utiliza a tecnologia desenvolvida na própria empresa na tentativa de dominar tais segmentos de mercado. Assim, lacunas são preenchidas para suprirem as necessidades não atendidas dos clientes.

Inovações Abertas

No caso da Empresa 4, a inovação aberta ocorre por meio de parcerias com instituições de ensino. Assim, consultores foram contratados para que a empresa avançasse tecnologicamente por meio de informações advindas de pessoas especializadas no assunto. Nesse sentido, novos mercados foram abertos, uma vez que a empresa deixou de importar tecnologia e passou a desenvolvê-la.

Estratégia de inovação exploitative/ incrementais

As inovações ocorrem em um contexto no qual são consideradas informações de pesquisa e, a partir disso, o conhecimento e atividades existentes são analisados para que sejam feitas melhorias sucessivas nos softwares.

Estratégia de inovação para alavancar a tecnologia

Essa estratégia é utilizada na empresa com o objetivo de dominar o mercado que ela atua. Para isso, a empresa passou a desenvolver sua própria tecnologia, a qual era importada de outros países. Assim, é agregado valor aos processos, pois a empresa passa a ser detentora de conhecimentos específicos para essa finalidade.

Estratégia de inovação baseada na aprendizagem

As equipes de desenvolvimento trabalham unidas com encontros frequentes sob a orientação dos diretores da empresa. Há um banco de dados onde são colocadas as informações dos produtos que precisam ser melhoradas para que haja concentração de esforços. Dessa forma, os projetos internos sempre estão sobre a supervisão dos funcionários, acumulando conhecimento no processo de decisão que envolve os produtos e serviços da empresa.

Estratégia de inovação defensiva

Pesquisas são feitas para o acompanhamento dos concorrentes. A empresa prefere esperar a resposta do mercado sobre um produto novo lançado por um concorrente e a partir daí fazer melhorias nele para desenvolver novas características que resultem na diferenciação do produto.

Estratégia de inovação baseada no mercado

A análise das necessidades dos clientes atuais, bem como os contatos concretizados com eles, permitem que os desenvolvedores compreendam o mercado a partir de uma fonte externa à empresa. Se o mercado demanda alguma solução, a empresa verifica e se esforça para satisfazê-la.

Estratégia de inovação de parceria

Para isso, foram feitas parcerias com a UFPB e a UFCG, nas quais foram compartilhados recursos e complementadas as capacidades da empresa por meio do capital intelectual fornecido pelos professores da área de computação.

Por ser uma empresa de pequeno porte, foi inesperado identificar o empreendedorismo e o nível de conhecimento agregado aos processos que a empresa constrói a partir de pesquisas e investimentos. Observa-se, no presente caso que, a quantidade de funcionários é indiretamente proporcional à quantidade de conhecimento embutido na empresa. Com isso, não é preciso ser uma grande empresa para que as estratégias sejam bem estabelecidas e o potencial inovador seja superior ao dos concorrentes.

Percebe-se que, com a exportação de produtos, a empresa amenta seu potencial de estar realizando constantes investimentos em novas tecnologias e em capacidade intelectual dos diretores e funcionários. O acúmulo do conhecimento é levado em consideração em todas as estratégias de inovação e, por isso, desempenha papel importante na empresa.

As inovações abertas permitem o aumento do conhecimento existente na empresa, além do uso de ideias advindas do ambiente externo conforme as parcerias com instituições que buscam aprimorar as práticas da empresa para que novos mercados sejam atingidos. Assim, há uma relação direta entre essas inovações e a estratégia de inovação oportunista, uma vez que o conhecimento adquirido devido às instituições e contratação de consultoria, por exemplo, são utilizados para ideias internas que vislumbrem mercados ainda não dominados. Consequentemente, a estratégia de inovação oportunista se relaciona de forma indireta com a estratégia de inovação de parceria. A figura 30 sintetiza as estratégias de inovação evidenciadas na Empresa 4.

Figura 30 – Estratégias de inovação existentes na Empresa 4 e suas relações