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2.2 INOVAÇÃO 33

2.2.1 Reflexões sobre inovação 40

Como se observa, existem diversas tipologias referentes à inovação e apontar todas as existentes na produção científica não é o objetivo principal desse trabalho. Os tipos apresentados foram discutidos para ajudar na compreensão das inovações realizadas nas organizações estudadas.

No entanto, algumas inovações podem ter características que se encaixam em vários tipos de inovação, o que dificulta a distinção perante um único tipo. Como por exemplo, um produto novo que resulte em um novo processo se encontra categorizado como uma inovação tanto de produto quanto de processo. No dia-a-dia, pode ser difícil para as organizações mensurar suas atividades e identificar a tipologia adotada. Uma vez diagnosticada tal tipologia, as decisões em torno das inovações podem ser mais precisas e os comportamentos futuros amenizam a incerteza constante no ambiente.

Ao mesmo tempo, uma inovação de produto, muitas vezes, requer o desenvolvimento de novas práticas ou técnicas que, sobremaneira, fazem parte do processo. O contrário também é válido, pois inovações no processo ou mudanças tecnológicas possibilitam melhorias no produto. Da mesma forma, por mais que seja preferível para as organizações adotarem a inovação aberta ao invés da inovação fechada, elas podem se relacionar e alternarem entre si dependendo do foco dado ao processo de inovação e da etapa em questão.

Mecanismos como o ciclo de vida do produto, a capacidade inovadora da organização, os fatores competitivos do mercado, as características do setor que a organização está inserida e a própria estrutura devem ser considerados na escolha do tipo de inovação a ser adotado.

Organizações mais flexíveis, que empregam a autonomia dos funcionários podem ser mais susceptíveis às inovações radicais, enquanto organizações mais rígidas e operacionais podem desempenhar mais inovações incrementais. Logo, mudanças pequenas e incrementais dificultam o delineamento das inovações realizadas e, portanto, fica mais fácil compreender projetos maiores, mais estruturados e pontuais.

O retrato das inovações feitas em uma organização pode ser observado por meio de um continnum onde as tipologias interagem entre si, sobrepõem-se e representam possibilidades de escolhas. Tal continnum, como apresentado na Figura 1, é baseado no nível de complexidade que envolve as inovações, crescendo ou diminuindo na medida em que se aproxima dos extremos. O contexto é marcado por inovações incrementais, radicais e revolucionárias conforme a abrangência da mudança. Vale salientar que as inovações revolucionárias agregam alto nível de incerteza e de complexidade.

Figura 1 – Tipologias da inovação: abrangência e complexidade

Maior complexidade

InovaçãoRevolucionária

Inovação Incremental Inovação Radical

Menor complexidade

Fonte: Elaboração própria, (2011).

A complexidade não está atrelada à qualidade da inovação, mas condiz com os elementos a serem considerados na elaboração da inovação e do processo em si, dos custos de

implementação e benefícios. Ademais, pode-se dizer que não só as inovações em grande escala e impacto são importantes, as inovações de pequeno porte dão sustentação necessária e muitas vezes servem de protótipos para futuras mudanças. A consistência é requerida em todos os níveis da inovação, independente da abrangência.

Aparentemente, as inovações radicais e revolucionárias são mais atraentes para as organizações que desejam inovar e constituir novos mercados ainda inexplorados, mas sem as devidas melhorias alcançadas ao longo do tempo pelas inovações incrementais, não há mudança radical ou revolucionária que se sustente.

A combinação entre os tipos de inovação resulta em aumentos na competitividade por tornar o processo mais ambíguo em si e se caracterizar como um ponto forte para a organização, mas ao mesmo tempo, pode dificultar a coleta de dados em uma pesquisa. Um fator que contribui para isso é que diante da complexidade e variedade que engloba essa tipologia, as organizações muitas vezes não delimitam suas estratégias para um determinado tipo de inovação e acabam não deixando explícito como abordado na teoria.

A questão da ambiguidade se constitui por um conjunto complexo de vários aspectos inter-relacionados (BARNEY; HESTERLY, 2007) em condições únicas enfrentadas pelas organizações, resultando em certos tipos de comportamentos capazes de alavancar a vantagem competitiva que, por sua vez, seus componentes são difíceis de serem mensurados e identificados pelos concorrentes mesmo por meio de uma análise profunda da situação. A vantagem se sobressai na medida em que a exclusividade do alcance obtido por essas relações se estabelece.

Entretanto, desenvolver o processo de inovação de forma estritamente meticulosa pode limitar a atuação dos agentes. Por outro lado, a identificação do tipo de inovação adotado pela empresa pode oferecer conexão e coordenação reforçando a consistência nas decisões e ajudando na avaliação dos resultados e, caso ocorra algum erro, encontrá-lo pode ser mais fácil diante de tantas informações.

A identificação das tipologias retrata o leque que abrange a discussão sobre quais inovações ocorrem em determinada organização, mas ao mesmo tempo, reforça a ideia de que independente da natureza organizacional, a estratégia deve ser aliada ao tipo de inovação desenvolvido. A coerência entre os recursos disponíveis e a capacidade de inovação ainda prevalece para um bom desempenho.

Percebe-se a partir das considerações que a inovação deixou de ser conhecida como apenas investimentos em P&D e passou a ser compreendida por sua diversidade que envolve

mudanças no contexto interno e externo, caracterizando-se como um processo que combina várias de suas faces.

Associar a inovação à RBV pode ser uma oportunidade para enfrentar as mudanças contínuas no ambiente, pois assim, os recursos se adaptam de forma a sempre priorizarem o valor que eles podem acrescentar para a performance. O desenvolvimento de novos recursos (WERNERFELT, 1984; TEECE; PISANO; SHUEN, 1997) impulsionados pela necessidade de inovação, possibilita o acompanhamento da denominada “destruição criadora” (SCHUMPETER, 1997) e permite a dinamicidade intra-organizacional.

Dessa forma, após a discussão relacionada às estratégias e inovações organizacionais, a seção seguinte debruça sobre o assunto central desse estudo: as estratégias de inovação.