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Cuidados ao bebé

No documento As percepções e as práticas (páginas 80-86)

CAPÍTULO II A FAMÍLIA

4. A criança e as práticas de cuidados da família

4.1. Cuidados ao bebé

Os primeiros gestos que os pais fazem ao bebé sobre o seu corpo, de acordo com Ramos (2004), são: o banho, a toilete, as massagens, a amamentação e o adormecimento. Estes cuidados servem para os pais exprimirem sentimentos e emoções, mostrarem as suas competências parentais, enquanto para o bebé são ricas em interacções e estimulações. A mesma autora, citando Winnicott (1972: 14), salienta que são ocasiões para a mãe exprimir afectos e emoções e “nascer” enquanto mãe no psiquismo do bebé:

“Todos os detalhes dos cuidados físicos são para o recém- nascido de uma grande importância psicológica. A mãe adapta-se activamente a estas necessidades. Exprimindo amor e afeição através destes cuidados físicos e dando satisfações físicas e sensoriais, ela permite também ao psiquismo do bebé de começar a viver no seu corpo” (Ramos, 2004:190).

As mães portuguesas utilizam três maneiras para acalmarem o bebé: “O seio na boca, os movimentos moderados, as canções melódicas” (Ramos, 1993:229).

É através dos cuidados parentais, muito em particular maternais, através do contacto físico com a mãe, com o pai ou a pessoa que a transporta, pelas variadas estimulações vestibulares, tácteis, cinestésicas, que a criança vai estabelecer as suas primeiras relações e comunicação. Ela descobre assim o mundo, faz parte duma cultura, conhece o amor e a ternura, e experimenta o sentimento de segurança (Ramos, 2004:189).

Não nos podemos esquecer, como refere Rota (1995), que a criança pode ter também necessidade de ternura. Para que haja um verdadeiro diálogo, não basta que o bebé se faça ouvir relativamente às necessidades físicas, é também necessário ouvi-lo relativamente às necessidades afectivas.

As necessidades afectivas, muitas vezes, podem ser satisfeitas enquanto se adormece, embala ou mesmo amamenta ou se dá o biberão. Tal como nos refere Ramos:

“O modo de adormecer a criança, de a embalar, de a proteger, de a amamentar, o ritmo corporal e gestual que lhe é imposto ou que lhe é permitido, a atitude adoptada em relação às suas pequenas queixas, marcam profundamente a sua atitude futura em relação à doença e ao modo de utilização do seu corpo” (Loux,1978: 24 in Ramos, 2004:189).

A alimentação ocupa um lugar preponderante na relação mãe-filho, mas não deve ser o único meio de comunicação afectiva. Conversar, cantar, acariciar, beijar, rir, brincar, são igualmente importantes (Rota, 1995).

Stern (1980) afirma que, tal como os alimentos são necessários para o corpo crescer, o estímulo é necessário para fornecer ao cérebro as “matérias-primas” essenciais para a maturação dos processos motores perceptivos, cognitivos e sensoriais. O bebé está equipado com as tendências para procurar e receber este “alimento cerebral” essencial. Pensamos, contudo, que o nível de estimulação deve ser moderado para que a atenção do bebé seja mais facilmente cativada e mantida.

Rota (1995) salienta que os pais, muitas vezes, estão a retomar com os filhos o que antes perderam com os próprios pais, acrescentando o que já ouviu muitos pais lhe dizerem:

“O meu pai foi muito severo connosco. E não deixava de ter razão: veja o resultado. Aguentei isso muito bem. Não há qualquer razão para não fazer o mesmo com os meus filhos” Rota (1995: 42).

Neste sentido, Ramos (2004) informa-nos de que as práticas de cuidados à criança baseiam-se na continuidade das práticas e dos modos como os próprios pais foram cuidados na infância.

Ainsworth (1978), in Ramos (2004), sugere duas dimensões relacionadas com a vinculação da criança aos pais:

. a sensibilidade, ou seja, a capacidade da mãe em compreender e interpretar correctamente os sinais emitidos pela criança;

. a capacidade para responder rapidamente e de maneira adequada às solicitações da criança.

“Nos cuidados que a mãe ou quem a substitui dispensa à criança, Winnocott (1969, 1979), distingue três tipos de actividades:

- o “holding” (a mãe suporte psíquico e físico, envelope protector; revela da sensibilidade materna);

- o “handling” (a mãe prestadora de cuidados físicos, proporcionadora de estimulações tácteis, auditivas, visuais, cinestésicas, no decurso das numerosas interacções e cuidados básicos);

- o “object-presentering” (a mãe proporcionando a abertura e acesso progressivo da criança aos objectos e ao mundo, nas suas diferentes dimensões e complexidade)”(Ramos, 2004:191).

O sistema de cuidados à criança é produto de uma interacção complexa entre vários factores e determinantes, como sejam as influências contextuais próximas, e outros factores, entre os quais as influências biológicas, sensoriais, cognitivas e culturais, desenvolvimento neurobiológico da mãe, a sua história pessoal, o stresse e o suporte social (Belsky ,1999, in Ramos 2004:191).

“Na diversidade das práticas familiares de cuidados nas diferentes culturas, para além da influência das representações, crenças e teorias, outras variáveis, tais como: organização doméstica, necessidades económicas, perigos ambientais, prioridades sociais e valores culturais, influenciam as mesmas” (Ramos, 2004: 191).

A riqueza e multiplicidade dos contactos vão permitir a interiorização dos pontos de referência, enquanto os factores securizantes permanecerem exteriores à criança (por exemplo a necessidade de ver ou de tocar a mãe para se sentir protegida e segura) não possuirão senão um valor limitado, insuficiente para serem eficazes durante os períodos normais de separação, como a noite, a princípio, depois a creche ou a ama (Rota, 1995).

“Adormecer em contacto com o calor de um outro corpo é uma necessidade fundamental da criança (…) O bebé tem uma necessidade biológica da proximidade e da presença protectora do adulto. Dá-se pouca importância a esta necessidade na cultura ocidental. Submetem-se as crianças a longas horas de solidão em virtude da falsa concepção de que é benéfico para uma criança ser deixada sozinha para adormecer, quando repousa e mais quando brinca. As primeiras rupturas no desenvolvimento harmonioso do mecanismo de necessidades e satisfações vêm desta concepção contrária às necessidades naturais” (A. Freud, 1965 in Ramos, 1993: 448).

Quando o bebé tem fome, chora ou grita para se fazer entender, toma consciência dessa necessidade. Se, no entanto, a mãe o alimenta antes dessa manifestação, o bebé não se pode dar conta dessa sensação. Pelo contrário, se a mãe deixa passar um lapso de tempo demasiado grande entre o pedido, os gritos ou o choro, e a resposta, o seio ou o biberão, a criança fica fortemente perturbada com isso (Rota, 1995).

A massagem faz parte dos cuidados ao bebé para além da alimentação, higiene e sono. Esta pode ser considerada:

“A massagem dos bebés é uma arte tão antiga quanto profunda simples, mas difícil por ser simples como tudo o que é profundo”Frédérick (1995: 29).

A massagem dá oportunidade aos pais de olharem o bebé nos olhos, cantar-lhe, falar- lhe, tocar-lhe; os leves contactos proporcionados com a pele do bebé hipnoticamente relaxam-no. A massagem proporciona ao bebé uma sensação calorosa, calmante e de bem-estar, aumento de peso mais rápido, pela estimulação da hormona de crescimento – a sematotropina, não só no período de recém-nascido, mas também por um período de seis meses (Lynne, 1991).

Biscaia (2006) salienta que a massagem desenvolve a relação pais/criança, aprendendo a criança a reconhecer os pais pelo modo de ser tocada, pelo choro, pelo “sentido” da sua família.

De acordo com o autor referido anteriormente, a melhor altura para se efectuar a massagem é durante a prestação dos cuidados. É de realçar, como o faz (Biscaia, 2006), que a criança não deve estar com fome, nem ter comido há pouco tempo quando lhe é feita a massagem, pois quer num caso quer noutro a criança não relaxa.

Síntese

Para além do motivo principal por que se escolhe um parceiro, que é por afinidades psicológicas, essencialmente a partir de antecedentes familiares, outras razões também podem estar presentes, como: o aspecto físico, a atracção sexual, a capacidade intelectual, a situação financeira, afinidades religiosas ou étnicas, a beleza ou o ideal de homem ou mulher.

A família tem um papel fundamental na educação do bebé tanto a nível físico como psicológico. Os pais têm que aprender a sê-lo. Talvez seja o trabalho mais difícil e complicado do mundo. Para além de ter conhecimentos, é preciso, fundamentalmente paciência, senso comum, compromisso, sentido de humor, tacto, amor, sabedoria e consciência.

Quando nasce uma criança, a família passa a maior parte do tempo a cuidar da criança, essencialmente a mãe se a amamenta. Para além da amamentação, o bebé

também precisa do banho, da toilete, das massagens, do adormecer. Todos estes cuidados são momentos essenciais para haver uma ligação mãe/bebé e pai/bebé.

O tipo de cuidados e de educação que é prestado à criança são influenciados pelos hábitos culturais e pelas representações sociais que os adultos têm sobre as necessidades, a educação e a saúde da criança, e também pelas condições ecológicas, sócio-económicas e políticas, pelas condições de vida da família: sociais, habitacionais, profissão dos pais e número de filhos.

No documento As percepções e as práticas (páginas 80-86)