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O desenvolvimento perceptivo e motor

No documento As percepções e as práticas (páginas 49-53)

Ó doce menino! Sentir hoje os teus bracinhos Ao meu pescoço, Os teus beijinhos na minha cara, Ouvir a tua voz, tão fresca! E o teu assobio, Que quer imitar o melro… É ter grandes satisfações.

Irene Lisboa

Desde o início do desenvolvimento, a motricidade, sensorialidade e funcionamento cognitivo estão estritamente ligados uns aos outros como nos refere Mazet e Stoleru (2003).

Lembremos a noção de psicomotricidade, introduzida por Dupre, em 1900, que sublinha a relação estreita entre as aquisições motoras e o desenvolvimento intelectual. Esta relação foi mais tarde identificada como lei de concordância dos desenvolvimentos psíquico e motor na primeira infância. Salienta-se através desta lei que durante a primeira infância, um desenvolvimento motor normal testemunha um desenvolvimento intelectual normal. Sabemos hoje que as ligações entre motricidade e inteligência não estão, todavia, reduzidas à constatação anterior (Mazet e Stoleru, 2003).

Como referiu Wallon (1956), a experiência passa antes de tudo pelo corpo e a inteligência vai-se construindo na acção.

O bebé tem uma necessidade de se sentir activo. Pode-se pensar que a satisfação dessa necessidade fundamental é uma das fontes essenciais da organização narcísica do bebé; esse sentimento vai permitir-lhe adquirir a confiança em si e a estima de si, necessárias ao êxito das aprendizagens da primeira e da segunda infância, e a um desenvolvimento afectivo e relacional harmonioso (Mazet e Lebovici, 1988).

4.1. Desenvolvimento perceptivo

No desenvolvimento perceptivo enquadramos as diferentes modalidades perceptivas: visão, audição e as capacidades de atenção.

No domínio visual, como salienta Mazet e Stoleru (2003), observa-se nos lactentes uma habituação, uma vez que deixam de observar um alvo visual depois de algum tempo de exposição. Esse fenómeno apresenta aos bebés duas imagens lado a lado, em seguida um dos alvos é substituído por uma imagem nova, mantendo-se a outra. Assim, tornou-se claro que desde a idade das 9 semanas, os bebés diferenciam os contornos curvilíneos e rectilíneos; aos 2 meses já diferenciam linhas verticais e oblíquas; aos 7 meses os lactentes já podem diferenciar rostos de adultos.

No que respeita à percepção auditiva, sabe-se que os bebés com um mês podem efectuar discriminações auditivas e diferenciar o “p” do “b”.

Mazet (1993) refere que os lactentes entre as 4 e as 6 semanas já podem distinguir a voz materna de outro lactente, enquanto que a partir da idade de 7 meses já são capazes de reconhecer alguns ritmos.

A capacidade de concentração, para este autor, aumenta de maneira considerável nos 2 primeiros anos de vida. Não sendo apenas a qualidade das percepções que evolui, mas também a quantidade de informações sensoriais que é capaz de tratar.

4.2. Desenvolvimento motor

Sprinthall e Sprinthall (1994) evidenciam que um dos aspectos mais importantes na infância é o desenvolvimento das capacidades motoras. Num estudo de Shirley (1931), os dados sugerem que existe um padrão definido para o desenvolvimento motor: os bebés seguram a cabeça antes de se sentarem sem apoio, sentam-se antes

de gatinhar e gatinham antes de andar. A actividade mais refinada dos dedos e polegares geralmente só ocorre quando o bebé tem cerca de um ano. Neste sentido, Ramos acrescenta que:

“O desenvolvimento motor e sensorial está relacionado frequentemente com factores culturais, também, com o meio social, com o estado de nutrição, a qualidade de cuidados e tipo de estimulação à criança (…) os bebés educados de forma tradicional e originários do mundo rural, sobretudo dos países não industrializados, os que comparativamente aos da cidade e que são educados e cuidados de forma ocidental, apresentam durante o primeiro ano de vida um avanço sensório-motor relativamente às normas europeias e americanas(…) (Ramos, 2004:172).

Aprender a rolar o corpo é uma forma inicial de “locomoção” para Hilgard e Atkinson (1979). Nem todas as crianças passam pela sequência com o mesmo ritmo: há bebés que começam a rolar aos 3 – 5 meses e outros aos 7 meses; há bebés que se sentam aos 4 meses e outros aos 8 meses; há bebés que começam a andar com apoio aos 7 meses e outros aos 12 meses; uns começam a andar sozinhos aos 10 meses e outros aos 14 meses.

No que se refere ao desenvolvimento da preensão, no 2.º, 3.º mês de vida observa-se o reflexo de agarramento. Às 4 semanas, as mãos já se encontram geralmente fechadas; enquanto que às 8 semanas, abertas.

Como podemos verificar, de acordo com Mazet, e Houzel, (1979), a sequência das perfomances motoras sucessivas é praticamente a mesma para todas as crianças, mas a velocidade depende de criança para criança.

Aos 4 meses o bebé deita-se de costas, de lado, de barriga, levanta-se e apoia-se nas mãos. Quando está de barriga para baixo, abana a roca com um movimento brusco. Põe, por vezes, a mão sobre o biberão e reconhece-o desde o terceiro mês.

Aos 6 meses, fica no parque, sentado com apoio, dominando a preensão palmar. Agarra os pés e começa a apanhar objectos afastados. Bebe por chávena, mamando no bordo.

Aos 8 meses fica sentado na cadeira alta e no parque, levanta-se para se sentar. Tem preensão activa do polegar, deita os objectos ao chão e bate um objecto com outro. Come com a colher purés e alimentos mais sólidos.

Aos 10 meses fica de pé no parque ou de pé com apoio, desloca um pé, tem preensão. Brinca ao cucu, põe objectos numa caixa. Bebe por chávena ou copo com ajuda do adulto.

Aos 14-15 meses inclina-se para a frente para andar. Explora em todos os sentidos. Brinca a encher e esvaziar, começa a encaixar. Bebe sozinho, começa a comer sozinho algumas colheradas.

Aos 18 meses corre sobre a ponta dos pés. Sobe uma escada, segurando-se no corrimão, empurra um objecto com o pé. Interessa-se pelas imagens, gosta de brinquedos de empurrar e puxar. Pede a sua comida durante o dia. É capaz de colocar alguns objectos no sítio.

Aos 24 meses tenta equilibrar-se, sobe e desce escadas, começa com os jogos de imitação das actividades de adulto e a tirar os sapatos.

No documento As percepções e as práticas (páginas 49-53)