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Cuidar e educar: papel do professor, integridade física, alimentação, limites

4.2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO INFANTIL: Aspectos emergentes nos

4.2.3 Cuidar e educar: papel do professor, integridade física, alimentação, limites

Na Educação Infantil, como nos espaços socializadores é necessário entender que desenvolvimento e aprendizagem são processos indissociados que se inter-relacionam e, no entanto, é fundamental o papel do adulto exercendo a função mediadora e problematizadora na produção do conhecimento. Às instituições que atendem crianças pequenas, é imprescindível primar pelo trabalho pautado no binômio do cuidar e do educar. Na tentativa de compreender a função do cuidar, buscamos o RCNEI o qual indica que se faz necessário:

[...] valorizar e ajudar a devolver capacidade. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos [...] precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p.24-25).

Do mesmo modo, recorremos ao RCNEI para entender o real sentido do educar. Educar no sentido de oportunizar o desenvolvimento, a socialização, tendo sempre o questionamento como ponto de partida. Conforme o Referencial (1998) volume 1:

[...] educar significa, portanto, proporcionar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade sociocultural. Nesse processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimentos das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis (BRASIL, 1998, p.23).

A integração entre o cuidar e o educar agregou ganhos de maneira especial para a Educação Infantil. Dessa forma, se pode promover o desenvolvimento integral das crianças. O

papel do professor, conduzir sua prática pedagógica no sentido de contemplar esse binômio, colocando-se na condição de ensinante e aprendente, refletindo sobre sua ação pedagógica, redirecionando as práticas e o planejamento sempre que necessário, buscando o embasamento teórico como fonte de referência pedagógica. Na perspectiva pedagógica, de acordo com Barbosa (2012, p.57) é importante que o papel docente seja redimensionado constantemente para atender a demanda, que segundo a autora trilha caminhos de:

 Ser um guia, companheira mais experiente, estar disponível e atenta aos caminhos do grupo

 Escutar o que os alunos sabem e necessitam expressar  Não se colocar como única e principal informante

 Conectar os temas propostos a outros conteúdos e à realidade  Possibilitar a intervenção do maior número de alunos

 Dar uma fisionomia pessoal ao seu trabalho  Dar organicidade ao processo educacional

 Interrogar-se sobre o modo como partilha o poder com os alunos e como cria um clima democrático de participação no grupo

 Ter uma compreensão de criança como competente e capaz, que necessita partilhar sua vida com um grupo

 Organizar os espaços e tempos de acordo com as exigências do trabalho a ser executado. (BARBOSA, 2012, p.57).

A década de 90, no contexto brasileiro, traz o marco da relação do cuidar e educar na Educação Infantil, a partir da publicação da LDB 9394/96. Até o momento havia estudos de pesquisadores sobre a infância de zero a seis anos, mas efetivamente a nova Lei é que aponta diretrizes sobre o aspecto do educar, superando a prática do cuidar, indicando a importância de ambos os aspectos, cuidar e educar. A mesma lei determina que os profissionais de Educação Infantil tenham formação específica a nível superior, entendendo esta formação voltada para o desenvolvimento físico, motor, psicológico e cognitivo da criança pequena. Com isso, possibilita conduzir sua ação pedagógica de forma que contribua para o desenvolvimento integral da criança.

As Diretrizes Curriculares Nacionais constituem-se na doutrina sobre Princípios, Fundamentos e Procedimentos da Educação Básica, que nortearão a proposta pedagógica nas Instituições de Educação Infantil. Nesse sentido, a Resolução CEB nº 1, de 7 de abril de 1999, ao tratar da Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil em seu artigo 3 º, inciso III, resolve que:

As Instituições de Educação Infantil devem promover em suas Propostas Pedagógicas, práticas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível.

Nesse sentido, a relação entre o cuidar e o educar é bastante tênue uma vez que não há como dissociar uma da outra. E nessa relação faz-se necessário agregar boa dose de afeto com as crianças pequenas principalmente nos momentos de alimentação e higiene para envolvê-las na tarefa da educação nutricional, saúde física e mental. Cuidar e educar a criança requer o apoio a ela visando ajudá-la em sua capacidade de se autoconhecer, compreender o sentido do eu em uma dimensão afetiva e biológica, respeitando e valorizando o outro, desenvolver a solidariedade e a amizade. Nessa lógica, quando o professor consegue integrar o cuidar e o educar em sua prática pedagógica, dinamizando o processo de modo que os espaços e momentos vividos na escola, mediante ações interativas fomentam a prática e o bem-estar das crianças, então favorecerá de modo singular a construção das múltiplas aprendizagens. As professoras A e B demonstram preocupação em relação à integridade física tanto nos espaços fechados como abertos. Estão sempre atentas aos movimentos e postura das crianças, orientando de modo preventivo as crianças a não passarem próximos aos balanços em movimento, evitar choques nas corridas, segurar firme na gangorra ou ao subir em algum brinquedo na pracinha e no pátio. Na hora da alimentação, observar a postura no sentar à mesa, comer, beber e falar com os colegas para que se evitem acidentes, sempre relembrando as combinações prévias. A educação e o cuidado nos momentos de alimentação, do mesmo modo são importantes haja vista que as crianças estão em processo de desenvolvimento e aprendizagens. O RCNEI explicita claramente essa condição da criança ao afirmar que:

Na hora da refeição, é importante deixar que as crianças se sirvam sozinhas. Se, no início, elas terão necessidade de alguma ajuda, em pouco tempo poderão ter a sua competência ampliada. Isso demanda algumas condições, tais como um tempo maior para as refeições, oferta de pratos, talheres, travessas e jarras adequados para o tamanho e capacidade motora das crianças, arranjo do espaço que permita mobilidade, entre outras coisas. Não se deve esquecer que a organização da instituição deve estar a serviço da ação educativa e não o contrário (BRASIL, 1998, vol.2, p. 63).

Nos momentos de refeição, além da questão da autonomia a ser desenvolvida por cada criança de alimentar-se sozinha, se evidenciou a preocupação das professoras observadas, em proporcionar um ambiente tranquilo e agradável no momento da ingestão dos alimentos (frutas, sólidos e líquidos) considerando este um momento sagrado e que seja sem agitação ou conversas excessivas e em alto tom de voz. “O ato de alimentar tem como objetivo, além de

fornecer nutrientes para manutenção da vida e da saúde, proporcionar conforto ao saciar a fome, prazer ao estimular o paladar e contribui para a socialização ao revesti-lo de rituais” (BRASIL, 1998, vol 2, p. 53). A alimentação no cotidiano das crianças deve estar associada a momentos de descontração, de alegria, pois além de ser a subsistência, deve primar por ser algo agradável (MELLO, 2012). A autora também sustenta a ideia de desenvolver na criança o interesse por atitudes de uma alimentação saudável e para tanto cabe planejar e criar cardápios que deem conta dessa demanda. A escola segue um cardápio organizado por nutricionista em todas as refeições. Além disso, conforme observado, as professoras A e B incentivam as crianças a usar regras de etiqueta e bons modos ao sentarem-se à mesa para as refeições. Como, por exemplo: evitar o cotovelo sobre a mesa, ingerir e mastigar os alimentos saboreando-os em sua essência, permanecer sentado em seu lugar ao comer, não falar com a boca cheia de alimentos, falar em tom de voz normal. E depois de se alimentar, um a um pegam um copo de inox, se dirigem ao bebedouro para buscar a quantidade de água para beber, voltam e sentam-se em seu lugar para bebê-la, e ao final, depositam o copo em recipiente para a higienização na cozinha. A orientação foi de que pegassem apenas o quanto conseguissem beber, caso necessitassem de mais, podiam repetir. Inferimos que, nesta prática, está implícito um cunho pedagógico ao delimitar quantias fracionadas fazendo com que as crianças desde cedo valorizem e administrem com responsabilidade o uso da água.

O RCNEI recomenda que os docentes de Educação Infantil ofereçam diferentes alimentos objetivando que a criança experimente de tudo um pouco, sem obrigá-la àquilo que não gostou. Mas orienta que as crianças sejam auxiliadas a provarem dos alimentos através de oferta atraente e bem preparada “em ambientes afetivos, tranquilos e agradáveis” (BRASIL, 1998, vol. 2, p. 52). O documento ainda sugere que os lanches e refeições possam ser organizados de forma que a criança vivencie esses momentos de acordo com as diversas práticas sociais que estão no entorno da alimentação, permitindo sempre a afetividade e o prazer de alimentar-se, possibilitando que os pequenos tenham espaço para conversarem entre si. Tais práticas promovem o desenvolvimento da autonomia e da autoestima da criança proporcionando que elabore e construa novas competências. “Lavar as mãos, escovar os dentes são outras possibilidades de atividades permanentes que auxiliam a independência das crianças, contribuindo para a sua autoestima” (BRASIL, 1998, vol.2, p. 63). Do mesmo modo, cuidar de seus pertences ou dar-se conta quando terá que vestir ou tirar um casaco por conta do ambiente frio ou quente.

Com as crianças que apresentam alguma deficiência os referenciais orientam que por necessitarem de procedimentos diferenciados na maioria das vezes, é importante buscar as

orientações nos especialistas que os atendem para ajudar da melhor forma possível cada um em sua necessidade e singularidade. Essa prática foi observada na escola, por terem alunos com atendimento clínico. Relatamos o caso de uma criança da turma de nível III, que tinha um quadro alimentar com sérias restrições. A mãe trazia para a escola os alimentos, água ou suco acondicionados em recipientes de vidro e a professora A o servia, sempre com os cuidados que o caso exigia. Além disso, a professora fez todo um trabalho na turma para entenderem por que o colega fazia a refeição com alimentos diferentes dos oferecidos pela escola, embora o menino sentasse e comesse com todos.

Estabelecer limites também se insere no binômio do cuidar e educar. Esses princípios oriundos do contexto familiar são construídos, também, no ambiente escolar. Para construir as regras de conduta vale considerar as necessidades das crianças. É importante o incentivo nas boas ações que as crianças desempenham para haver progressos nos diferentes estágios de desenvolvimento. As combinações prévias ajudam no desenvolvimento dos limites e das regras claras com a participação das crianças. Conscientizá-las sobre o autocontrole é uma ferramenta necessária quando se trata de convivência (MACHADO, 2012). A autora ainda sugere uma atribuição do professor para com as crianças: “despertar-lhes a confiança e a segurança para que, em caso de briga, procurem-no como mediador. Ele nunca deve ignorar uma briga, ou demonstrar indiferença perante essas situações” (p. 171). Nessa função, entende que o professor de Educação Infantil deve ser firme, honesto e imparcial, pois desta forma as crianças o respeitarão por considerar as combinações prévias a serem cumpridas.

Os limites e regras estabelecidas com as crianças, percebidas nas práticas docentes durante o período de observação, nos levam a pensar que há uma preocupação para que as crianças aprendam a viver e conviver coletivamente de modo saudável e amigável. Houve preocupação docente em relação à questão das combinações prévias para todas as atividades, fossem elas realizadas nos espaços fechados ou abertos. A roda de conversa foi a técnica pedagógica que proporcionou a participação de todos, ouvindo e sugerindo para que tudo pudesse ser aperfeiçoado, desde o uso das tintas, pincéis, cola, sucatas, jogos, livros até os materiais da pracinha (areia e acessórios) como pátio (brinquedos de madeira e balanços). As intervenções docentes se fizeram presentes sempre que necessário para reconduzir a uma situação lembrando a criança das combinações prévias.

4.2.4 Respeito e valorização da diversidade: inclusão, ritmos de cada um, interação,