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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM CONTEXTOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL:

Partindo da ideia de conceber a escola como uma instituição social que se consolida nas relações estabelecidas entre educação, sociedade e cidadania, entende-se que ela precisa propagar-se como instituição real, concreta, com objetivos, estratégias e clareza nas concepções sobre as quais assenta sua proposta pedagógica. Desta forma, sua função será de mediar as demandas sociais advindas dos sujeitos, como também atender as necessidades de autorrealização daqueles que se transformam com a sociedade. Nesta mesma perspectiva, a prática pedagógica pode ser considerada uma prática social de cunho histórico e cultural, a qual vai além da prática docente: relaciona as atividades pedagógicas desenvolvidas na sala de aula, contemplando os aspectos do projeto pedagógico da instituição bem como suas relações com a comunidade escolar e a sociedade como um todo. Estes aspectos servem como ponto de partida teórico a fim de redimensionar a prática, promovendo assim uma educação em movimento. A Enciclopédia Pedagogia Universitária apresenta os conceitos de prática pedagógica e prática pedagógica dialógica, os quais apresentar-se-ão em seguida.

Prática Pedagógica: prática intencional de ensino e de aprendizagem, não reduzida à questão didática ou às metodologias de estudar e de aprender. Notas: articulada a uma educação como prática social e ao conhecimento como produção histórica e cultural, datado e situado, numa relação dialética e tensionada entre prática-teoria- prática, conteúdo-forma, sujeitos-saberes-experiências e perspectivas interdisciplinares. (FERNANDES, 1999). Termos Relacionados: prática, prática social, metodologia. (FERNANDES, 2006, p. 447).

Na perspectiva do conceito acima, a prática se dá a partir dos saberes dos professores e de uma intencionalidade pedagógica. Em contextos de Educação Infantil é imprescindível que o professor considere alguns pressupostos básicos em seu fazer docente na sala de aula considerando a criança um sujeito social, dando relevância às manifestações espontâneas, preservando a identidade social de cada um, respeitando a singularidade, os direitos e o acesso ao conhecimento.

Prática Pedagógica Dialógica: prática caracterizada pela aprendizagem do professor com seus alunos. Notas: professores e alunos aprendem que o compromisso da parceria é fundamental em uma relação humana horizontal, que não exclui do professor a responsabilidade de direção do processo de ensinar e aprender, nem exime o aluno da responsabilidade de ultrapassar os limites de sua prática, recriando o espaço-tempo da reflexão e da cultura em relações democráticas e éticas. (FERNANDES, 1999) “O diálogo sela o ato de aprender que nunca é individual, embora tenha uma dimensão individual. O diálogo é, em si, criativo e re-criativo”. (FREIRE e SHOR, 1987, 13-14). Termos Relacionados: prática pedagógica, dialogicidade. (FERNANDES, 2006, p. 447).

Nessa relação em que ambos (professor e aluno) aprendem, prevalecem os conhecimentos prévios trazidos para o ambiente escolar e de sala de aula, considerando a singularidade e a contribuição de cada um para o coletivo. A horizontalidade da relação professor e aluno prevê que o professor planeje sua prática, instrumentalizado naquilo que o aluno tem de conhecimento, facilitando desta forma, a relação entre ambos; este planejamento proporciona ainda a organização e a preparação de atividades significativas, impregnadas de interesse e curiosidade em conhecer e aprender. Por isso, a importância do professor em Educação Infantil, proporcionar atividades que desenvolvam as capacidades intelectuais e a construção da autonomia dos pequenos.

Nos últimos anos, tem-se dado diferentes ênfases como requisitos para a atuação docente em Educação Infantil. No nosso entendimento o que não pode faltar é a compreensão de cada fase do desenvolvimento infantil, tranquilidade ao lidar com as crianças e com as diferentes situações do cotidiano, respeitá-las, valorizá-las, ser flexível, motivar os pequenos nas diferentes circunstâncias de atividades pedagógicas, e refletir constantemente sobre seu fazer docente. Cabe salientar, no que se refere aos programas de formação de professores, que as competências docentes não são apenas aspectos pessoais, mas sim habilidades que podem ser aprendidas e desenvolvidas ao longo da formação e atuação. A definição clássica de competências é de Perrenoud (2008), que as descreve como:

A aptidão para enfrentar uma família de situações análogas, mobilizando de uma forma correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos recursos cognitivos: saberes, capacidades, microcompetências, informações, valores, atitudes, esquemas de percepção, de avaliação e de raciocínio (p. 19).

O autor ainda reconhece que uma competência não passa tão somente pelo fato de identificar situações a serem controladas, de problemas que precisam ser resolvidos, de decisões que devem ser tomadas, mas sobretudo, pela explicitação dos saberes, das capacidades, dos esquemas de pensamento e das orientações éticas necessárias. Todos os recursos anteriormente apontados não provêm da formação inicial ou continuada; alguns são construídos ao longo da prática – os saberes da experiência – através do acúmulo ou da formação de novos esquemas de ação (PERRENOUD, 2008).

O novo panorama brasileiro de Educação, a saber, as exigências legais vigentes, conforme o parecer do (CNE/CEB) nº 4/2008 e Emenda Constitucional nº 59/2009, são reorganizados os três primeiros anos para o Ensino Fundamental e consequentemente modifica- se a organização da Educação Infantil, tornando-se a educação obrigatória dos quatro aos dezessete anos. Isto exige uma reorganização na formação dos profissionais da Educação Infantil considerando as concepções teóricas e as práticas pedagógicas.

Desta forma, a avaliação docente sobre o que as crianças são capazes de aprender, se torna essencial. O papel docente, no qual o professor se percebe como profissional ativo e participante na elaboração de um currículo vivo, associando a ação pedagógica a um projeto global, possibilita o desenvolvimento integral das crianças. Tratando-se do papel docente em contextos de Educação Infantil, buscamos em Zabalza (2007) um referencial que contribui para este estudo: ele afirma que cada docente deve conhecer bem aquilo que ensina, reconhecendo, porém, que os conhecimentos disciplinares não bastam para um correto exercício profissional. Zabalza elenca três grandes espaços de competência que ao serem integrados e complementados aos conhecimentos, parecem definir melhor o papel e o perfil docente. Os três grandes espaços de competências que o autor se refere são:

1. A programação: com tudo o que esta função envolve de domínio de conceitos e técnicas para conhecer em profundidade os programas oficiais, realizar a análise da situação, estabelecer as prioridades, elaborar um projeto formativo, projetar a própria atuação coerentemente com o estabelecido no programa, as previsões adotadas no trabalho coletivo e seu próprio estilo pessoal de entender o ensino.

2. A orientação e guia da aprendizagem dos alunos: o trabalho básico do professor é o de guiar a aprendizagem dos alunos; nesta tarefa básica irão intervir a sua capacidade para apresentar a informação de maneira que faça sentido para eles, oferecer-lhes atividades e

experiências, utilizar recursos de avaliação e autoavaliação de modo que os alunos conheçam sua situação, estabelecer processos de recuperação, quando necessário.

3. A avaliação de processos: a capacidade de avaliar processos capacita o professor a utilizar os mecanismos necessários para ser realmente construtor do seu trabalho e sentir-se protagonista do mesmo e de seu aperfeiçoamento – sabendo como avaliar o trabalho que ele faz, terá em suas mãos os dados necessários para saber quais são os seus pontos fortes e fracos. A sua própria responsabilidade profissional o levará a iniciar os passos necessários para melhorá-lo.

Considerando os aspectos pessoais e profissionais do professor apontados pelo autor, os quais estão presentes direta e indiretamente em sua prática pedagógica (que nunca é neutra!), é preciso direcionar o olhar para uma questão importante: a reflexão. O docente, além de privilegiar seus conhecimentos prévios em sua formação, também deve pautar-se na ação refletida e crítica sobre as práticas pedagógicas. Entende-se que a formação reflexiva se estabelece na medida em que o professor relaciona sentido e significado, de acordo com as vivências pessoais e profissionais. Assim, numa perspectiva crítico-reflexiva, o professor busca no processo reflexivo tomadas de decisão ou confronto entre ideias, conceitos e concepções, objetivando a reconstrução de ações, que dão oportunidade ao professor de crescer enquanto profissional. Partindo da consciência dos saberes próprios, das suas habilidades, atitudes e afetos, o professor consolida valores, princípios e interesses na construção do conhecimento, considerando que tem a frente uma demanda plural, com múltiplas necessidades, praticamente imposta pelo contexto social, político e econômico.

A prática pedagógica em Educação Infantil nos tempos atuais não pode mais ser concebida na centralidade da figura do professor. Considerando a criança do século XXI com perfil ativo, participativo em sala de aula, questionador e trazendo consigo inúmeras curiosidades, questiona-se cada vez mais sobre o limite de práticas alicerçadas em atividades de uso de lápis e papel com foco exclusivamente cognitivista, que podem levar a uma série de situações de desinteresse pelas crianças e de difícil manejo por parte do professor. Portanto, o papel do professor junto às crianças de Educação Infantil hoje é que:

Seja sensível às necessidades e desejos que elas vão apresentando e busque fortalecer as relações que elas estabelecem entre si, envolvê-las em atividades significativamente variadas, mediar-lhes a realização das atividades e otimizar com elas o uso pedagógico de diferentes recursos, dentre eles os tecnológicos e os éticos (GUIMARÃES e REIS, 2011, p. 20).

Nesta perspectiva, ao trabalhar com os pequenos, é importante que o professor seja um observador daquilo que as crianças trazem em diferentes momentos e espaços da sala de aula ou mesmo fora dela. Estar atento às falas que as crianças têm nas diversas atividades do cotidiano pedagógico é uma característica interessante que o professor precisa desenvolver; essa escuta atenta ao que é trazido de forma explícita ou implícita faz com que o professor possa compreender o que permeia o trabalho pedagógico e assim disponibilizar espaço para a livre expressão das crianças bem como aceitar seus saberes. Quando o professor tem a preocupação de fazer o melhor em sua prática pedagógica, pode-se pensar que há a intenção de melhor atender a demanda de seus alunos. Esse contexto de busca incessante pela qualidade do trabalho pedagógico conduz o professor a tornar-se cada vez mais comprometido e sentindo-se responsável pelo seu próprio conhecimento sobre o processo de aprendizagem das crianças que são seus alunos.

Essa busca pela excelência da prática pedagógica faz com que o professor dê a devida importância aos aspectos da infância, os quais hoje precisam ser melhor explicitados nos projetos pedagógicos a fim de que haja um trabalho educativo de qualidade, estabelecido pelo binômio do cuidar e educar. Cabe salientar, que o aspecto educativo ganha mais força a partir do momento em que se avançam as políticas públicas e a legislação vigente. Para que haja a apropriação da importância dos aspectos educativos na Educação Infantil, é imprescindível que o professor compreenda essa demanda já desde sua formação na graduação. Guimarães e Reis (2011, p. 26) observam que é preciso que a formação possa “incidir nas concepções dos professores acerca das crianças e seu aprendizado, a fim de que as práticas educativas possam ser continuamente qualificadas na direção de seu enriquecimento, integração de saberes e construção de significados para as crianças”. Os autores ainda defendem que essas questões implicam em uma ressignificação pelo professor em sua maneira de como pensa, age, sente e compreende a Educação Infantil, a criança e a si próprio.