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1 INTRODUÇÃO

2.2 MODA

2.2.1 A cultura da aparência

O vestuário viveu transformações históricas desde o século passado, cada uma das décadas imprimiu sua própria moda com características bem peculiares, atualmente os lançamentos de vestuário ocorrem numa velocidade jamais imaginada, a moda lançada no continente Europeu é vista simultaneamente por pessoas de todos os demais continentes, já não existem mais fronteiras para o acesso as informações do que é moda.

Mas nem sempre aconteceu desta forma, segundo Nery (2003), o modo de se vestir permanecia inalterado por um longo tempo, isso foi constatado até o início do século XIX. A indumentária e toda sua história, além de servir para identificar os grupos sociais, serviu também para identificar profissões ou idade das pessoas.

Roche (2007) reforça esta afirmação, quando descreve que o vestuário oferece um modo de entender e um meio de estudar as transformações sociais, partindo desta premissa a história da cultura e dos comportamentos sociais estão inteiramente associados.

O estudo da indumentária pode servir como fonte de informações sobre os costumes e hábitos de uma civilização. A indumentária é um espelho do gosto contemporâneo, traduz de certa forma o desenvolvimento econômico, cultural e político da sociedade (NERY, 2003).

Markovits (1986 apud Roche, 2007, p.513) descreve que “A roupa me parece ser uma maneira de pensar o sensível. Justifica-se, pois, aplicar a sua análise os modelos que empregamos para compreender a mudança social. Sua economia revela uma organização das estratégias sociais de troca que está de acordo com o poder dos signos.”

O vestuário, para Roche (2007) é um signo de adesão, de solidariedade, por outro lado, também um signo de exclusão e indicador social. Em relação as suas funções, são interdependentes, percorrendo valores como de uso e mercado.

Para Baudrillard (1970 apud Roche, 2007, p.518), “A moda, mestra real da distinção, instaura o triunfo do valor de troca do signo no reino do consumo.”

O termo signo para moda também é citado por Nery (2003) que destaca que a moda não é apenas vestuário, é o signo das formas de expressão que se mostram também em outros campos, como a ciência, a arte, a literatura, a religião.

Na visão de Souza (1987) a moda serve à estrutura social, acentuando a visão em classe, harmoniza a dualidade indivíduo e sociedade e é capaz de expressar as emoções e posicionamentos das pessoas.

Markovits (1986 apud Roche, 2007, p.513) destaca que “As funções social e cultural da roupa só podem ser entendidas em termos de comunicabilidade. Temos, portanto, de analisar o efeito produzido por aquilo que é visto sobre aquele que vê, como em qualquer ordem de discurso no qual o que vem primeiro não é o locutor, mas o ouvinte.”

Podemos observar que algumas sociedades possuem uma relação distinta com as roupas, que assumem papel simbólico ou místico, as roupas desempenharam um papel relevante no desenvolvimento de grupos que estavam unidos por objetivos religiosos, pelo idioma e seus trajes revelavam estas identidades (POLLINI, 2007).

“Hoje, como no passado, a vestimenta remete a nossa profunda concepção do sagrado, do social e do individual.” (ROCHE, 2007, p.512).

Vincent-Ricard (1989) descreve que a moda é produzida de rupturas sucessivas e mostra-se como expressão de diversos aspectos do mundo.

No contexto da moda, o tema vaidade fica evidente nos trabalhos de Lipovetsky (1989), onde afirma que a moda individualizou a vaidade das pessoas e fez do superficial uma finalidade da existência. Para Roche (2007), a questão do exagero da moda em relação à necessidade e o vínculo entre a vaidade pessoal, o consumo e o sucesso das aparências, eram motivos da união de críticos de diversas áreas.

Nery (2003, p.10) destaca que “A roupa de nossos antepassados foi às vezes só ornamental (corpos pintados ou adornados com jóias ou máscaras). O homem enfeitava-se primeiro com troféus para demonstrar sua superioridade como

chefe diante de outros e como autoridade de macho diante da mulher.”

A mulher se adornava de forma mais simples que o homem, que usava peles, jóias, tecidos ricos, pois precisava se enfeitar, enquanto a mulher fazia uso da moda para expressar sedução. Durante milhares de anos, o vestuário proporcionou o poder aos homens de se auto-afirmarem e demonstrar virilidade através do visual e, às mulheres, o poder de expressar seu charme (NERY, 2003).

No que se refere a um aspecto social relevante, a moda possivelmente tornou-se um hábil instrumento de padronização, no sentido da concordância na esfera corporal e indumentária, adotando o apoio do imaginário (ROCHE, 2007).

“Apologistas morais da moda eram raros, talvez porque ela questionasse a própria noção de progresso [...] assim como questionava a ideia de tradição em nome de um desenvolvimento sem outro propósito que não a si mesma.” (ROCHE, 2007, p.517).

A moda, em sua amplitude, de acordo com Rech (2002, p.29): “Compreende mudanças sociológicas, psicológicas e estéticas, intrínsecas à arquitetura, às artes visuais, a música, à religião, à política, à literatura, à perspectiva filosófica, à decoração e ao vestuário.”

Pontes (2004) relaciona moda com arte e a descreve como a mais viva de todas as artes, assim como a pintura, a escultura e a arquitetura, encontram na forma o seu veículo de expressão.

“Todo homem, selvagem ou civilizado, possui uma alma coletiva na qual repousam todas as formas de arte, recebendo influências também da cultura de outros povos, que se reflete no modo de vestir.” (NERY, 2003, p.9).

As transformações da moda estão relacionadas com os ideais da época, juntamente com sua cultura. “Sob a rígida organização das sociedades, fluem anseios psíquicos subterrâneos de que a moda pressente a direção.” (SOUZA, 1987, p.25).

Na visão de Lipovetsky (1989), a moda fez com que as pessoas iniciassem uma auto-observação da sua beleza e visual, ampliou a ligação com o prazer de observar e ser observado, de mostrar-se. O autor afirma que: “Se a moda, evidentemente, não

cria de alto a baixo o narcisismo, o reproduz de maneira notável, faz dele uma estrutura construtiva e permanente dos mundanos, encorajando-os a ocupar-se mais de sua representação- apresentação, a procurar a elegância, a graça e originalidade.” (LIPOVETSKY, 1989, p.39).

Na história da moda, foram os valores e as significações culturais modernas, o novo e a expressão da individualidade, que tornaram possíveis o estabelecimento do sistema da moda (LIPOVETSKY, 1989).

A moda enquanto componente cultural determina os comportamentos humanos, e torna-se um elemento de referência para as pessoas [...] ao portar uma roupa, as pessoas constroem imagens idealizadas que as fazem personagens de uma cena (BARREIRA, 2006).

Sant’Anna (2007, p.95) afirma que: “A moda é o que impulsiona os sujeitos a tomarem da aparência como o lócus de investimento e constituição da distinção social [...] é processo identitário, de si consigo mesmo e de si para com o outro, é a possibilidade de ser, de existir numa sociedade regida pelo mito da imagem.”

A roupa vira moda no momento em que a aparência e forma de usar se transformam numa norma estética para a sociedade, foi após a Revolução Francesa que as diferenças sociais passaram a se manifestar através de indicadores como a qualidade dos tecidos. Com o passar do tempo a moda perdeu esta concepção totalmente elitista, a alta costura continuou acessível para uma minoria, porém, outras classes sociais puderam popularizá-la (NERY, 2003).

Com o progresso da civilização, o vestuário foi se adaptando às novas técnicas têxteis. Os novos modismos que surgem são derivados de antigos, expressando seu estilo próprio a cada período histórico, há a necessidade de se pesquisar o que já existiu para se criar algo novo (NERY, 2003).

No que se refere ao produto de moda, Pereira et al. (2010), explica que o vestuário como resultado de um processo de design é denominado produto de moda, cujo princípio é atender as necessidades de determinado público consumidor, conforme o seu estilo de vida.

O produto de moda pode ser conceituado, na visão de Rech (2002, p.37), como “Qualquer elemento ou serviço que

conjugue as propriedades de criação (design e tendências de moda), qualidade (conceitual e física), vestibilidade, aparência (apresentação) e preço, a partir das vontades e anseios do segmento de mercado ao qual o produto se destina.”

Castro (1981 apud Rech, 2002, p.84) acrescenta que “O produto de moda não possui somente a função de revestir e proteger o corpo contra intempéries, mas é o resultado do equilíbrio ou desequilíbrio das funções, concebidas num sistema triádico: função pragmática, função social e função estética.”

O filósofo Lipovetsky (1989, p.12) afirma que “a moda não é mais um enfeite estético, um acessório decorativo da vida coletiva; é sua pedra angular. A moda terminou estruturalmente seu curso histórico, chegou ao seu poder, conseguiu remodelar a sociedade inteira à sua imagem: era periférica, agora é hegemônica.”

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