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1. INTRODUÇÃO

2.2. DA CULTURA DE VIOLÊNCIA À CULTURA DE PAZ

2.2.6. CULTURA E EDUCAÇÃO PARA PAZ

Ao tratar do conceito de paz, Jares (2005) classifica a paz em negativa e em positiva. A primeira refere-se a um conceito mais tradicional, pois paz significa ausência de guerra ou de conflitos. Essa ideia negativa de paz, conforme o autor, nos remete à passividade. Já a concepção de paz positiva é de que, muito embora haja conflito, este pode ser solucionado por meios não violentos. Essa ideia nos reporta aos conceitos de justiça social e de desenvolvimento, como também aos de direitos humanos e democracia.

Jares (2005) sintetiza de forma geral algumas características da Paz Positiva: 1. A paz é um fenômeno amplo e requer uma compreensão multidimensional; 2. A paz se refere a uma estrutura e relações sociais sem a presença de violência e pela existência de justiça, igualdade, respeito e liberdade; 3. A paz requer reciprocidade nas relações e interações; 4. A paz é um dos maiores valores da existência humana, afetando as dimensões pessoais, interpessoais, intergrupais, nacionais e internacionais; 5. A paz exige o exercício da cidadania na sua construção; 6. A paz positiva nega a violência, mas não os conflitos que fazem parte do nosso ser e de nossa vida.

Reforçando o conceito de paz positiva, Maia (2008) define a paz da seguinte forma: “a paz é planta que só floresce no chão da justiça. Que cada um busque praticar a justiça consigo mesmo, para que a paz chegue, permaneça e cresça entre nós” (p. 15).

Promover a Cultura de Paz é criar condições para que o ser humano consiga se constituir como verdadeiramente humano em toda a sua plenitude (Nascimento, 2010), pois o homem está fragmentado, desequilibrado e não visto como pessoa, mas como objeto descartável. Para solidificarmos uma cultura de paz, necessitamos uma educação para a paz eficaz.

A educação para a paz não é modismo ou tema atual, mas nasceu nos meados do século XIX com Tolsói (ocidental) e Tagore (oriental); e o maior exemplo de não violência ou de cultura de paz chama-se Mohandas Karamanchand, o Mahatma Gandhi. Conforme Jares (2005), as reflexões de Gandhi eram condicionadas pelos dois princípios de sua filosofia, o satygraha e o ainsa, isto é, a “firmeza na verdade” e a “ação sem violência”. A não violência de Gandhi não

2. REVISÃO DA LITERATURA

representa passividade ou submissão, ao contrário, traz consigo um programa construtivo de ação, um pensamento novo, outra concepção de homem e do mundo. Gandhi propagou para o mundo essa cultura da não violência e a cultura da paz.

A Educação para a Paz (EP), segundo Jares (2005), tem história e o autor divide essa linha histórica em quatro ondas. A primeira onda surge no início do século XX, com o movimento mundial denominado de Escola Nova, que propõe não só mudanças pedagógicas no ensino e aprendizagem, mas também sugere uma educação para a paz, desde um enfoque dos grandes problemas sociais à transformação do ambiente escolar. Foram os maiores representantes dessa onda a italiana Maria Montessori e o estadunidense John Dewey.

A segunda onda refere-se ao nascimento da Organização para a Ciência, a Cultura e a Educação (UNESCO), após a Segunda Guerra Mundial, no final de 1945. A Unesco, além de desempenhar um trabalho na área normativa como estímulo de programas, campanhas, materiais didáticos de educação para a paz, incluiu três novos componentes na educação para a paz, que foram: a educação para os direitos humanos, a educação para o desarmamento e a educação para o meio ambiente.

A terceira onda é a contribuição da não violência, tendo como maiores referências Tolsói (ocidental), Tagore e Gandhi (orientais). Muitas práticas educativas estão sendo implementadas com a filosofia da não violência , como, por exemplo, os Quacres ou Sociedade dos Amigos (doutrina protestante, fundada na Inglaterra , caracterizada pela simplicidade do culto, rigor moral e pela não violência), a Escola do Arca, fundada por um discípulo de Gandhi, comunidade orientada para a não violência que se esforça para viver do próprio trabalho, a Escola Martin Luther King, experiência educativa fundada na não violência, que mantém a obra do seu inspirador, dentre outras ricas experiências.

A quarta e última onda nasce no final da década de 1950 – é o surgimento de uma disciplina, a Pesquisa para Paz, sendo considerada um produto da Segunda Guerra Mundial. Hoje, a Pesquisa para a Paz representa um novo impulso para a educação para a paz e, no Brasil, o pedagogo Paulo Freire é o que exerce maior influência (Jares, 2005).

2. REVISÃO DA LITERATURA

 

São sete os componentes da Educação para a Paz. O primeiro, Educação para a Compreensão Internacional, parte do propósito da interdependência cada vez maior das nações. Para isso são necessários reconhecimento, tolerância e respeito à diversidade cultural, étnica e política dos povos. O segundo refere-se à educação para os direitos humanos, fundamentado na Declaração Universal e declarações internacionais. A terceira parte constituinte é a educação mundialista e multicultural que, como os problemas mundiais e multiculturais estão apresentados nesse nível, devem ser resolvidos de forma conjunta e na contextura mundial, como é o caso, por exemplo, dos problemas ambientais e da violência. O quarto componente reporta-se à educação intercultural, na qual um aspecto fundamental da educação para a paz é o direito à identidade. Deve-se trabalhar para que haja uma valorização das diferenças e que as pessoas possam sentir orgulho de suas identidades. A educação para o desarmamento é o quinto componente e se refere à capacidade analítica e crítica para avaliar ações voltadas para a redução dos armamentos e eliminar a guerra. A sexta parte que compõe a EP é a educação para o desenvolvimento, ao enfatizar nas suas ações as desigualdades socioeconômicas entre e dentro das nações, como também os processos de alienação que esse desequilíbrio pode acarretar. O sétimo e último componente é a educação para o conflito e a desobediência, pois o conflito é essencial à vida e à educação. Uma educação na qual reinam o conformismo, a obediência ao autoritarismo e à injustiça, a passividade, não é educação. O conflito demonstra que as pessoas podem se posicionar, ensejando um diálogo construtivo e uma resolução do conflito pacífica (Jares, 2005).

2.2.7. PAPEL DA ESCOLA E PROFESSOR PARA A CRIAÇÃO DE UMA