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A EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA DA PROMOÇÃO DA

1. INTRODUÇÃO

2.1. PROMOÇÃO DA SAÚDE NOS ESPAÇOS EDUCACIONAIS

2.1.3. A EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA DA PROMOÇÃO DA

A Carta de Ottawa (1986), que formaliza as estratégias para a promoção da saúde, declara como uma das estratégias a educação em saúde e a caracteriza como, segundo Pedrosa (2007), um conjunto de práticas pedagógicas de caráter participativo, construtivista e transversal a diversos campos de atuação, que são desenvolvidas com gestores, movimentos sociais, grupos populacionais específicos e a população em geral, com o objetivo de sensibilização e mobilização para a aderência a projetos que privilegiam as estratégias propostas.

Para se compreender melhor a estratégia de educação em saúde, torna-se fundamental o entendimento do conceito de educação. A educação é um processo de mudança do ser sujeito, do ser autor e ator de sua história de vida e, consequentemente, da história do universo, visto que uma mudança em nós acarreta uma mudança no cosmo. Segundo Touraine (2010), “o sujeito não é uma “alma” presente no corpo ou o espírito do indivíduo. Ele é a procura, pelo próprio indivíduo, das condições que lhe permitam ser o ator da sua própria história” (p. 73). Para Touraine, esta busca é motivada pelo sofrimento da divisão e da perda de identidade e individuação. Assim sendo, complementa o autor, “o sujeito é o desejo

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do indivíduo de ser um ator” (p.73). Com esta percepção, acredita-se que a educação como prática educativa favoreça a formulação da aprendizagem, pois reflexões são feitas, comportamentos são transformados e sujeitos são brotados.

Mãe (1992), no século passado, considerava que

[...] educar significa ajudar a acordar, ajudar a encontrar no próprio ser o ímpeto, à vontade de movimentar-se e buscar e descobrir, de crescer, de progredir. E educar significa também aprender a lutar, aprender a intensificar a existência e a cumpri-la com decisão e consciência. Educar, basicamente, é ajudar a assumir a vida; é levar o ser a procurar e a aspirar à verdade, a sentir e chamar a luz e a força encobertas nele mesmo; fazê-lo perceber a grande possibilidade que a vida é, o que com ela recebemos, e aprender, conscientemente, a querê-la, vivê-la, dá-la (p. 4).

O conceito de educar desta yogue não fica distante do de Freire (2011a), quando diz que a raiz da educação está na busca constante do homem de ser mais, pois, como pode fazer esta autorreflexão, pode se descobrir como um ser inacabado, “é uma busca permanente de si mesmo” (p. 28). Para Freire (2011b), a educação é um ato de conhecimento e de conscientização.

Observa-se que, nos conceitos ora expostos sobre educação, não se deve pensar educação como uma simples transmissão de conhecimentos. É necessária uma educação, na qual o aluno seja agente ativo do seu processo de aprendizagem, com uma visão integral, transdisciplinar, holística e ecológica da educação, do ser humano e do universo.

Morin foi solicitado pela United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO) para sistematizar um conjunto de reflexões sobre a educação desse novo milênio. Neste trabalho, Morin escreveu os sete saberes necessários à educação do futuro, que aqui indicamos: o primeiro se refere às cegueiras do conhecimento, como explicita Morin (2000), “um paradigma pode ao mesmo tempo elucidar e cegar, revelar e ocultar” (p. 27), é importante saber que a mente humana não é onisciente, na realidade existem mistérios; o segundo é o princípio do conhecimento pertinente, onde o contexto, o global, o multidimensional e o complexo não podem ser ignorados, ao contrário, necessitam ser evidenciados; o terceiro saber trata de ensinar a condição humana, pois o homem, na sua complexidade (um ser físico, biológico, psíquico, histórico, espiritual, cultural, político e social), precisa

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tomar conhecimento e consciência de sua identidade comum com os seus semelhantes e com o cosmo; o quarto aborda a importância de ensinar a identidade terrena, uma vez que, se não sairmos dessa crise planetária, o destino humano pode estar ameaçado de extinção; o quinto saber nos reporta à maneira como devemos enfrentar as incertezas, porque a vida é um mar de incertezas. Como diz Morin (2000), “o conhecimento é a navegação em um oceano de incertezas, entre arquipélogos de certezas” (p. 86); o sexto é ensinar a compreensão, mas, para compreender o outro, torna-se imprescindível a consciência da complexidade humana; o sétimo e último saber necessário à educação do futuro fala da ética do gênero humano, pois salvar a humanidade é uma condição imperativa que a ética humana precisa realizar.

Os sete saberes necessários à educação constituem um grande desafio. Cabe à educação, no entanto, promovê-los. A escola torna-se o ambiente mais propício ao trabalho educativo, tendo a educação em saúde como estratégia de promover a saúde escolar. Moysés, Krempel e Moysés (2007) consideram que a iniciativa de Escolas Promotoras de Saúde constitui-se atualmente uma estratégia de promoção de saúde no espaço escolar, um mecanismo articulador de esforços multissetoriais e um compromisso político de toda a sociedade.

Muito embora o espaço de atuação da educação em saúde seja a comunidade em geral, na escola, encontra-se um campo fértil de ação, sendo o estudante, ser em desenvolvimento, o principal alvo. Gomes (2009) esclarece o objetivo dos programas de educação para a saúde, afirmando que, por via dos programas de educação para a saúde, deve-se preparar o aluno para cuidar de si no que diz respeito a normas de higiene pessoal e ambiental, regras de segurança doméstica, de lazer etc. Deve-se ainda preparar os alunos para que, ao deixarem a escola, sejam capazes de cuidar da própria saúde e da dos seus semelhantes e, sobretudo, adotarem um estilo de vida que comporte o objetivo do que hoje em dia chamamos de saúde positiva e que não é, senão, o desenvolvimento de todas as suas possibilidades físicas, mentais e sociais.

Pode-se constatar a valorização do espaço escolar como ideal para as intervenções educativas em saúde. O autor acrescenta que a implementação da educação para a saúde na escola é fundamentalmente justificada por quatro

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motivos: todas as crianças de um país passam pelo seu sistema de ensino; as pesquisas mostram que nossos comportamentos no plano sanitário estão situados na infância e adolescência; a escola conta com profissionais competentes que sabem educar (Gomes, 2009). Por estes e outros argumentos, florescem as escolas promotoras de saúde.