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4 PRESERVAÇÃO DA INFORMAÇÃO

4.3 Curadoria Digital

Quando abordamos os museus referimos o termo «cura» e o de «curadoria» - como «preparar o futuro ‘desse passado’» - característicos da referida área. No entanto, no âmbito das discussões sobre a Preservação Digital, constatamos a efetiva emergência da denominação de «Curadoria Digital», associada aos atuais estudos realizados no âmbito da Preservação Digital, ao desenvolvimento de metodologias relacionadas com os aspetos de análise preventiva de riscos presentes nas plataformas digitais em que a informação está armazenada.

Etimologicamente falando, Curadoria significa «cuidar, tratar, ocupar-se de (alguma coisa)» (HOUAISS; VILLAR, 2009: 586), relacionando o referido verbete às palavras «Curatela» e «Tutoria».

Em primeira análise, a curadoria relaciona-se com a atividade de administração e cuidados com obras artísticas em museus. Porém, no contexto digital, a Curadoria Digital, como um conceito em constante evolução, tem sido entendida como o constante acompanhamento dos elementos que colocam em risco a informação em espaço digital, surgindo por vezes ligada a um tipo de informação específico, a «digital research data», e à finalidade de «agregar valor para geração de novos conhecimentos» e á utilização de repositorios digitais confiáveis.

Deste modo, o Digital Curation Centre (DCC)17 define Curadoria Digital

como:

«Digital curation involves maintaining, preserving and adding value to digital research data throughout its lifecycle.

The active management of research data reduces threats to their long- term research value and mitigates the risk of digital obsolescence. Meanwhile, curated data in trusted digital repositories may be shared among the wider UK research community.

As well as reducing duplication of effort in research data creation, curation enhances the long-term value of existing data by making it available for further high quality research».

Fundamentado nesta definição, Lee e Tibbo (2007)18 afirmam também que a

Curadoria Digital é:

«Digital curation involves selection and appraisal by creators and archivists; evolving provision of intellectual access; redundant storage; data transformations; and, for some materials, a commitment to long-term preservation. Digital curation is stewardship that provides for the reproducibility and re-use of authentic digital data and other digital assets. Development of trustworthy and durable digital repositories; principles of sound metadata creation and capture; use of open standards for file formats and data encoding; and the promotion of information management literacy are all essential to the longevity of digital resources and the success of curation efforts».

Assim, Sayão e Sales (2012: 184) compilam estas definições através da perspetiva de que a Curadoria Digital: «envolve a gestão atuante e a preservação de recursos digitais durante todo o ciclo de vida [...], tendo como perspectiva o desafio temporal de atender a gerações atuais e futuras de usuários», ou seja, a Curadoria Digital envolve a criação da informação (digitalizada ou concebida diretamente em ambiente digital), gestão de qualidade, armazenamento e preservação da informação digital, com a finalidade de agregar valor para geração de novos conhecimentos, bem como o acesso a longo termo.

17 DIGITAL CURATION CENTRE (DCC) – What is Digital Curation? [em linhas]. [Consult. 31 maio

2013]. Disponível em: <URL: http://www.dcc.ac.uk/digital-curation/what-digital-curation>.

18 LEE, Christopher A.; TIBBO, Helen R. – Digital Curation and Trusted Repositories: Steps Toward

Success [em linhas]. [Consult. 31 maio 2013]. Disponível em:

Porém Abbott (2008)19 sintetiza as referidas definições de maneira completa

do seguinte modo:

«All activities involved in managing data from planning its creation, best practice in digitisation and documentation, and ensuring its availability and suitability for discovery and re-use in the future are part of digital curation. Digital curation can also include managing vast data sets for daily use, for example ensuring that they can be searched and continue to be readable. Digital curation is therefore applicable to a large range of professional situations from the beginning of the information life-cycle to the end; digitisers, metadata creators, funders, policy- makers, and repository managers to name a few examples».

Desta maneira, fundamentado no conceito de Abbott (2008, tradução nossa), bem como em Siebra e Galindo (2013), são apresentados os benefícios da Curadoria Digital, a saber:

• Preservação da informação e proteção contra perdas e obsolescência tecnológica;

• Permitir o acesso contínuo à informação, apesar dos baixos investimentos ou mudanças institucionais;

• Estimular a reutilização da informação;

• Maximizar a exploração dos materiais digitais cumulativamente ao longo do tempo;

• Fornecer informações sobre o contexto e proveniência dos dados;

• Uso de ferramentas e serviços para migração de dados, metainformação e outra informação, representação em novos formatos para garantir que permanecem significativos para os utilizadores;

• A infra-estrutura de gestão para a preservação e difusão da informação em perpetuidade.

Logo assim, Sayão e Sales (2012: 185) referem o desenvolvimento pelo Centro de Curadoria Digital (DCC) de um modelo de Ciclo de Vida da Curadoria Digital, que «reflete uma visão de alto nível dos estágios necessários para o sucesso do processo de curadoria e de preservação de dados de pesquisa».

19 ABBOTT, Daisy – What is Digital Curation [em linhas]. [Consult. 31 maio 2013]. Disponível em:

<URL: http://www.dcc.ac.uk/resources/briefing-papers/introduction-curation/what-digital- curation>.

Tabela 2 – Modelo de Ciclo de Vida da Curadoria Digital

AÇÕES PARA TODO O CICLO DE VIDA

Descrição e a Representação da Informação - é efetivada pela atribuição de metadados administrativos, técnicos, estruturais e de representação de acordo com os padrões apropriados; visa assegurar a descrição adequada e o controle de longo prazo; compreende também a coleta e a atribuição de informações de representação necessárias para o entendimento do dado e para a sua apresentação (ou renderização);

Planejamento da Preservação – é necessária a definição de um plano de preservação cujo espectro englobe todo o ciclo de vida da curadoria do material digital, incluindo gestão, administração, politicas, e tecnologias. Participação e Monitoramento – enfatiza a necessidade de atenção para as atividades que se desenrolam no âmbito das comunidades envolvidas com o problema de curadoria, bem como a necessidade de participação no desenvolvimento de padrões, de ferramentas e de software adequados ao problema e que possam também serem compartilhados;

Curadoria e Preservação - estar continuamente alerta e empreender as ações administrativas e gerenciais planejadas para a curadoria e preservação por todo o ciclo de vida da curadoria.

AÇÕES SEQUENCIADAS

Conceitualização – conceber e planejar a criação do dado, incluindo os métodos de captura e as opções de armazenamento; questões tais como propriedade intelectual, embargos e restrições, financiamento, responsabilidades, objetivos específicos da pesquisa, ferramentas de captura e calibração devem ser registradas. Criação e/ou Recebimento – compreende a criação do dado incluindo o elenco de metadados necessários à sua gestão e compreensão, ou seja, metadados administrativos, descritivos, estruturais e técnicos (os metadados de preservação também podem ser incluídos no momento da criação do dado). Nem sempre os dados são arquivados por quem os gerou, dessa forma, esse estágio inclui também a recepção dos dados segundo políticas bem documentadas, sejam dos seus criadores, de outros arquivos, de repositórios ou centro de dados; quando necessário, assinalar metadados apropriados para a curadoria e a preservação dos dados recepcionados.

Avaliação e Seleção – avaliar o dado e selecionar o que será objeto dos processos de curadoria e de preservação por longo prazo; manter-se aderente tanto às boas práticas quanto às políticas pertinentes e também às exigências legais.

Arquivamento – transferir o dado para um arquivo, repositório, centro de dados ou outro custodiante apropriado.

Ações de Preservação – promover ações para assegurar a preservação de longo prazo e a retenção do dado de natureza oficial; as ações de preservação devem assegurar que o dado permaneça autêntico, confiável e capaz de ser usado enquanto mantém sua integridade; essas ações de preservação incluem: a limpeza do dado e a sua validação, a adição de metadados de preservação e de informação de representação e a garantia de estruturas de dados ou formatos de arquivos aceitáveis.

Armazenamento – armazenar o dado de forma segura mantendo a aderência aos padrões relevantes.

Acesso, Uso e Reuso – garantir que o dado possa ser cotidianamente acessado tanto pela sua comunidade- alvo, quanto pelos demais usuários interessados no reuso do dado; isto pode ser realizado por meio de publicação disponível para as comunidades interessadas; porém, controle de acesso e procedimentos de autenticação podem ser aplicados.

Transformação – compreende a criação de novos dados a partir do original, por exemplo, pelo processo de migração para diferentes formatos ou pela criação de subconjuntos - realizada por meio de seleção ou formulação de consultas – derivando novos resultados que podem ser publicados.

AÇÕES OCASIONAIS

Eliminação – eliminar os dado que não foram selecionados para curadoria e preservação de longo prazo de acordo com políticas documentadas, diretrizes ou exigências legais.

Reavaliação – retornar ao dado cujos procedimentos de avaliação foram falhos para nova avaliação e possível seleção para curadoria.

Migração – migrar os dados para um formato diferente; isto pode ser feito no sentido de compatibilizá-lo com o ambiente de armazenamento ou para assegurar a imunidade do dado contra a obsolescência de hardware e de software.

Conforme a tabela acima, Sayão e Sales (2012) descrevem o referido ciclo de vida e suas ações as quais são estruturadas em três grupos:

• Ações para todo o ciclo de vida, • Ações sequenciais,

• Ações ocasionais.

Em linhas gerais, a Curadoria Digital, surge como um novo aspeto de estudo da Preservação Digital, podendo ser compreendida como uma metodologia de análise preventiva de riscos, monitorando dos fatores que ameaçam a preservação e acessibilidade da informação a longo prazo.

Resgatando o próprio papel do curador em museus, que perante diversas obras artísticas, seleciona, monitoriza e cuida daquelas numa dada exposição, a Curadoria Digital é visualizada como os constantes procedimentos de «monitoração e observação» dos fatores que põe em risco informação armazenada em repositórios digitais. Assim, é um processo que envolve «manutenção, preservação e agregação de valor a dados de pesquisa durante o ciclo de vida» (SIEBRA; GALINDO, 2013). Este engloba atividades de gestão, planeamento e criação do objeto digital, boas práticas na digitalização de documentos, certificando a qualidade da informação digital, bem como a sua disponibilidade para que esta seja usada a longo termo. Assim, a Curadoria Digital, como um conceito em evolução, através de uma perspetiva abrangente, supõe uma aplicação atuante em todo o ciclo de vida, bem como, dialoga com diversos géneros de profissionais (SAYÃO; SALLES, 2012).