• Nenhum resultado encontrado

3 DO SISTEMA AO SISTEMA MEMORIAL

3.1 A Teoria dos Sistemas

Fundamentado nas definições apresentadas anteriormente sobre «Sistema», cumpre frisar que tais elucidações são oriundas da «Teoria Geral dos Sistemas», idealizada e pelo biólogo alemão Ludwing Von Bertalanffy e oficializada em meados de 1960.

A Teoria Geral dos Sistemas, que teve seus primeiros estudos realizados nos primórdios dos anos de 1920, foi «introduzida por Ludwig von Bertalanffy, em 1968 (BERTALANFFY), e tem tido um uso extraordinariomente intenso e extensivo às mais diversas ciências, tecnologias e domínios da actividade humana e social» (SILVA, 2006: 161). Embora tal teoria tenha um sentido generalista, porém esta se adequa às diferentes realidades, tornando-se possível a ação do «pensar de forma sistémica».

Face ao exposto Bertalanffy (1977: 52) nas suas argumentações sobre a Teoria Geral dos Sistemas, faz um comentário introdutório sobre a evolução das ciências e as suas consequentes especializações, culminando em «inúmeras disciplinas que geram continuamente novas subdisciplinas». Em decorrência disso, o referido autor aponta a falta de uma ponte que ligue tais disciplinas, ou seja, a inexistência de relação entre as ramificações da ciência, assim, tornando-se em «universos privados». Tal explicação é a base principal para o entendimento da Teoria Geral dos Sistemas, «seu conteúdo é a formulação e derivação dos princípios válidos para os ‘sistemas’ em geral» (BERTALANFFY, 1977: 55). Deste modo, Bertalanffy explica a sua teoria, de forma abrangente, da seguinte forma:

«[...] A física trata de sistemas de diferentes níveis de generalidades. Estende-se dos sistemas muito especiais, como os aplicados pelo engenheiro na construção de uma ponte ou de uma máquina, às leis especiais das disciplinas físicas, a mecânica ou a óptica, às leis de grande generalidade, como os princípios da termodinâmica, que se aplicam a sistemas de natureza intrinsecamente diferente, mecânicos, térmicos, químicos ou outros. Nada obriga a por um termo aos sistemas tradicionalmente tratados em física. Ao contrário, podemos aspirar a princípios aplicáveis aos sistemas em geral, quer sejam de natureza física, biológica quer de natureza sociológica. Se estabelecermos esta questão e definirmos de modo conveniente o conceito de sistema, verificaremos que existem modelos, princípios e leis que se aplicam aos sistemas generalizados qualquer que seja seu tipo particular e os elementos de ‘forças’ implicadas» (BERTALANFFY, 1977: 55-56).

Em suma, embora Bertalanffy (1977) tenha idealizado a Teoria Geral dos Sistemas para entender aspetos relacionados com a classificação biológica, porém, em essência, tal estudo pode ser aplicado a qualquer realidade, independente da área em que esta seja aproveitada.

Alicerçado neste entendimento, Piero Mella (1997 apud SILVA, 2006: 30) aponta três principais características constitutivas dos sistemas, tais como:

«1.ª – o sistema deve ser observável como uma unidade durável (visão sintética) com significado próprio (macro) a fim de, na conjugação dos seus elementos, parecer novo e emergente;

2.ª – todos os elementos do sistema (macro) compõem uma estrutura estruturante e estruturada, na qual cada elemento contribui para a existência da estrutura mais subordinada ao próprio estado da existência do sistema (visão analítica);

3.ª – há uma correlação permanente (feedback micro-macro) entre a unidade (totalidade) e os elementos (partes): por um lado, o sistema torna- se uma unidade na multiplicidade dos seus componentes; e, por outro, as partes perdem, no sistema, a sua individualidade, tornando-se igualmente essenciais na formação da unidade».

Tais características enunciadas por Mella (1997) apontam o sistema como uma unidade durável constituída por elementos, organizada de forma hierarquizada (estruturante-estruturada, macro-micro), necessitando de constantes feedbacks entre o todo e suas partes (unidade e elementos). Neste suposto, ainda cumpre frisar que por ser um sistema, as partes que compõe uma unidade perdem a sua individualidade, uma vez que a junção das peculiaridades de cada elemento (parte) são essenciais para a construção/constituição da unidade (no todo).

Destarte, Mella (1997 apud SILVA, 2006: 31) ainda esquematiza os sistema em: Supersistemas, Subsistemas (Parciais) e Macro-sistema, classificados em «Organizados/Operatórios» e «Não organizados/Combinatórios».

No que diz respeito aos «Supersistemas», estes podem ser compreendidos como sendo a formação de um sistema único (totalidade) constituído por sistemas específicos (partes); os «Subsistemas ou Sistemas Parciais» são sistemas específicos (partes) que trabalham de forma particular (individualizada), mantendo algumas relações com os demais sistemas específicos que compõe um sistema único (totalidade); Por fim, os «Macro-sistemas», são sistemas que fundem-se com o ambiente externo, neste sentido, deve-se «definir o que pertence à estrutura e o que lhe é estranho; logo, o que estiver fora do sistema constitui o seu ambiente externo, contraposto ao ambiente interno configurado pela estrutura» (MELLA, 1997 apud SILVA, 2006: 31).

Dentro destes aspetos, Mella (1997) ainda diz que tal esquematização pode ser classificada como sistema «Organizado/Operacional», a partir do momento em que há uma organização estrutural, onde uma unidade (todo) é constituída por elementos (partes), independente das suas especialidades, através de relações estáveis de suas funções. Neste caso, Silva (2006: 31) exemplifica os Sistemas Organizados/Operacionais como uma «estrutura formada por órgãos (exemplos: o corpo humano, o relógio, o automóvel)», uma vez que cada parte constituínte do todo, tem suas funções específicas e a junção deste resulta num produto, através de uma relação organizada. Tal argumentação pode ser ilustrada por meio do Corpo Humano, o qual cada órgão tem sua função específica (esôfago, fígado, pâncreas,

bexiga, entre outros), que faz o corpo humano funcionar

perfeitamente/imperfeitamente através da união de todos estes «Subsistemas». Já os sistemas «Não organizados/Combinatórios», são macro unidades que derivam de uma unidade semelhante com a finalidade de aprimorar micro comportamentos observáveis (MELLA, 1997 apud SILVA, 2006). Neste sentido, Silva (2006:31) esclarece que este sistema é «uma estrutura gerada por elementos análogos, pelos quais não se reconhecem relações organizativas (dois exemplos: os fluidos e a população». Assim, os sistemas «Não organizado/Combinatórios», reúnem elementos semelhantes (micro comportamentos), que num princípio não mantém uma relação organizada entre si, para, posteriormente, formar uma unidade ampla (macro unidade), através de interações e feedback entre as partes constituintes, cá visualizados pelo exemplo de uma população.

No que diz respeito ao foco desta investigação, ou seja, o fenómeno info- comunicacional, Silva (2006: 30) afirma que a Teoria dos Sistemas «congrega uma visão holística e se ajusta bem ao universo complexo e difuso da Informação, como se comprova por exemplos vários da sua aplicação teórico- prática», ou seja, a teoria proposta por Bertalanffy, por se adequar às diferentes realidades, se aplica perfeitamente nos ditos «serviços/instituições de informação» ou ao que consideramos como «Instituições Tradicionais de Memória»: os Arquivos, Bibliotecas e Museus. Aplicações essas que atualmente ganham destaque através da perspetiva da Ciência da Informação.