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4 PRESERVAÇÃO DA INFORMAÇÃO

4.1 Preservação Documental

A Preservação Documental como o próprio nome indica centra-se no documento, enquanto unidade física – informação registada num suporte – procurando prevenir/atrasar a ocorrência/desenvolvimento do processo de deterioração se bem que «durante muito tempo, preservação significava o restauro das espécies correspondendo, portanto, a uma intervenção pontual, desarticulada do contexto mais geral, que tinha em vista a prossecução dos objectos da biblioteca [arquivo]» (CABRAL, 2002:17), apontando para um necessário distanciamento face ao restauro e para a prioridade de planear estratégicamente uma actuação de conservação que se pretende cada vez mais preventiva.

Etimologicamente falando, Houaiss e Villar (2009: 1546) definem que Preservação como o «ato ou efeito de preservar. Série de ações cujo objetivo é garantir a integridade e a perenidade de algo; defesa, salvaguarda, conservação», ou seja, Preservação como um conjunto de ações estratégicas que atua em junto com ações operacionais de conservação e restauro, garantindo a integridade de algo, neste caso, a informação registada em documentos.

Já Faria e Pericão (2008: 594, grifo nosso) salientam o direcionamento tipológico das espécies alvo, dizendo que a Preservação tem a «função de providenciar cuidados adequados à proteção e manutenção do acervo bibliográfico e documental de qualquer espécie, com vista a manter a sua forma original. Medidas coletivas e individuais tomadas no que respeita à reparação, restauro, proteção e manutenção do patrimônio bibliográfico».

É evidente a estreita ligação dos conceitos de Preservação ao de Conservação e ao de Restauro e a referenciação ao documento e à espécie documental (física) e, a propósito, Sá (2001, apud SARMENTO, 2003: 02), salienta a componente física aliando-a à cultural, histórica, artística e ao património memorial, bem como o tipo de intervenção – mecânica e/ou química – especificando que:

«b) CONSERVAÇÃO: É o conjunto de intervenções diretas, realizadas na própria estrutura física do bem cultural, com a finalidade de tratamento, impedindo, retardando ou inibindo a ação nefasta ocasionada pela ausência de uma preservação. É composta por tratamentos curativos,

mecânicos e/ou químicos, tais como: higienização ou desinfestação de insetos ou microorganismos, seguidos ou não de pequenos reparos;

c) RESTAURAÇÃO: É um tratamento bem mais complexo e profundo, constituído de intervenções mecânicas e químicas, estruturais e/ou estéticas, com a finalidade de revitalizar um bem cultural, resgatando seus valores históricos e artísticos. Respeitando-se, ao máximo, a integridade e as características históricas, estéticas e formais do bem cultural, deve ser feito por especialistas».

Do ponto de vista de Sá (apud SARMENTO, 2003), as ações de conservação e restauro são aplicadas aos documentos em formato impresso, a partir do momento em que há a ausência de um plano de preservação eficiente, podendo ocasionar a degradação do património memorial.

Sarmento (2003: 02) exemplifica tais conceitos através de uma analogia que faz com a área biomédica, relacionando os três termos da seguinte forma:

• Preservação: Profilaxia, Conscientização; • Conservação: Medicamento, Curativo; • Restauro: Cirurgia feita por especialistas.

Com base nesse paralelo, o mesmo pode ser compreendido (Tabela 1) da seguinte forma:

Tabela 1 – Analogia entre os conceitos de Preservação, Conservação e Restauro, com a área Biomédica.

Informação Saúde

Preservação

Diagnósticos, Observações, Planos estratégicos, entre outros, que visem conscientizar gestores e utilizadores sobre a importância de preservar um documento impresso.

Consultas, Check-up médico que visa informar ao paciente sobre as suas condições reais e futuras de saúde.

Conservação

Primeiros procedimentos realizados nos documentos, quando estes já se encontram em algum estado de danificação.

Medicamentos prescritos pelo médico para que o paciente se recupere de alguma doença.

Restauro

Intervenção de um especialista com a finalidade de recuperar a estrutura (física) danificada de um documento.

Intervenção cirúrgica realizada por uma equipa médica com a finalidade de recuperar as condições de saúde de um paciente.

Essa tríade que sustenta a Preservação Documental incide maioritariamente na salvaguarda do suporte de registo da informação contra os chamados agentes agressores, o qual se subdividem em fatores intrínsecos e extrínsecos. Sobre estes, Luccas e Seripierri (1995: 18) dizem que os Fatores Intrínsecos «estão ligados diretamente aos elementos de composição do papel tais como, tipo de fibras, tipo de colagem, resíduos químicos não eliminados e partículas metálicas, etc.», já os Fatores Extrínsecos, «estão ligados diretamente a agentes físicos e biológicos tais como

radiação ultravioleta, temperatura, umidade, poluentes atmosféricos,

microorganismos, insetos e roedores». Em síntese, enquanto os fatores intrínsecos se relacionam com a própria deterioração interna sofrida no documento em suporte analógico (especialmente o papel), a partir dos elementos que compõe este, os fatores extrínsecos estão associados aos agentes externos que agem diretamente na deterioração deste, a saber: ambientais (iluminação, temperatura, poluição), físicos (estrutura, sinistros, armazenamento), humanos (manuseio inadequado) e biológicos (fungos, mofo, insetos).

Silva (2006: 159, grifo no original) apresenta uma reflexão em sentido distinto embora parta da relação da tríade de conceitos para trazer à reflexão duas outras referências. Uma com origem no Dicionário de Terminologia Arquivística segundo o qual Preservação:

«Anda associada ao conceito de Conservação, com uma nuance mais política vincada no último quartel do séc. XX: conjunto de medidas de gestão tendentes a neutralizar potenciais factores de degradação de documentos. V. tb. Conservação 2 - Conjunto de medidas de intervenção sistemática e directa nos documentos com o objectivo de impedir a sua degradação, sem alterar as características físicas dos suportes».

Uma outra citando Conway (1997 apud SILVA, 2006: 159) o qual defende a Preservação como «uma palavra que envolve inúmeras políticas e opções de ação, incluindo tratamentos de conservação. Preservação é a aquisição, organização e distribuição de recursos, a fim de impedir posterior deterioração ou renovar a possibilidade de utilização de um seleto grupo de materiais».

Na sua reflexão Silva (2006: 159) acrescenta que para Ciência da Informação, a Preservação pode ser visualizada através de três diferentes aspetos, salientando a ligação da intencionalidade orgânica de preservar com o conceito de

memória e distinguindo a intervenção técnica especializada de carácter interdisciplinar do foco CI:

• A conservação e o restauro do suporte, sendo este plano dominado pelo contributo das Ciências Naturais com suas técnicas e procedimentos testados e padronizados, gerando-se potenciais estratégias interdisciplinares;

• A adopção de medidas de gestão (políticas públicas) através de legislação e de organismos regulamentadores e fiscalizadores;

• E a intencionalidade orgânica de preservar para usar face a necessidades e imperativos orgânico-funcionais vários. Só este terceiro plano entra no objecto de estudo próprio ou exclusivo da Ciência da Informação e liga-se a outros tópicos fundamentais como a MEMÓRIA ORGÂNICA, a ORGANICIDADE e o SISTEMA DE INFORMAÇÃO.

Partindo deste contexto, Pinto (2009: 34) vai mais além e fazendo confluir as vias da preservação documental com a digital assume a Preservação como função indissociável da Gestão da informação, como sua variável, e em alinhamento estratégico com a missão e objetivos organização afirmando que:

«A Preservação é, assim, intrínseca à função de Gestão, seja a nível institucional, seja a nível intermédio [...], devendo ser pensada no longo prazo e em termos de políticas, planos e programas, recursos e estruturas orgânica/funcional que os suporte, tendo, consequentemente, implicações quer na fixação da Missão da Organização, quer nos objectivos (estratégicos e operacionais), quer nas metas fixadas, quer, ainda, nas acções/actividades e projectos planeados para os efectivar».

Para a referida autora, o ato de preservar vai mais além dos procedimentos técnicos direcionados ao suporte físico, tendo que estar presente ao longo de todo o ciclo de vida e de gestão da informação, considerando quer o nível estratégico quer o nível operacional.

Face à relação do conceito de Preservação com o de Conservação e o de Restauro, Pinto (2009: 34) redefine tal ligação assumindo-as como componentes de operacionalização da Preservação:

«[…] fixada a estratégia é necessário concretizá-la, avançar para a operacionalização. Vão entrar aqui os contributos da Conservação, com o domínio da componente técnica, e, numa posição de complementaridade, o Restauro. A primeira [conservação] intervém com um cariz cada vez mais preventivo, aplicando os procedimentos, medidas e técnicas e desenvolvendo as acções que garantirão a proteção do documento/ ‘meio

digital’, neutralizando potenciais factores de degradação, tarefa preferencialmente a cargo de profissionais da informação com preparação específica; o segundo [restauro], concentrado exclusivamente no tratamento e recuperação, implicando a intervenção directa na espécie danificada/deteriorada por parte de profissionais especializados em restauro».

Em síntese, as vertentes defendidas por diversos autores no âmbito da Preservação Documental abarcam: o relacionamento dos conceitos de preservação, conservação e restauro; o enfoque no suporte físico/documental (pergaminho, papiro, papel) e agentes degradação (fatores intrínsecos e extrínsecos); o meio digital quando é considerado é na perspetiva do suporte material (CD, DVD, etc.)