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Capítulo II – O Estágio Pedagógico em Contexto de 1.º Ciclo do Ensino Básico

2.2. Um Currículo Inovador

Atualmente, a escola possui um papel de destaque na sociedade devido à sua natureza e aos seus pressupostos educativos. Ainda assim, está integrada numa sociedade em que o aluno é visto como um cidadão ativo, cada vez mais ativo e integrado (Pacheco, 2001). Ao se redefinir os fundamentos da escola, impera a necessidade de haver um currículo cada vez mais estimulante, em que se reconheça que a reforma educativa não é apenas uma alteração, mas sim uma imposição do conjunto das reformas que pressionam a escola. Pacheco (2001) afirma que a reforma é mais visível nos anos 80 e 90 em todos os continentes, mas mais precisamente no Japão e nos Estados Unidos.

Assim sendo, importa compreender a definição de reforma educativa. Na perspetiva de Pacheco (2001), reforma educativa é “uma transformação da política educativa de um país a nível de estratégias, objectivos e prioridades, transformação esta que pode ser traduzida por conceitos como inovação, renovação, mudança e melhoria que têm como denominador comum a introdução de algo novo.” (p. 150). Neste sentido, Cros, Finkelsztein e Ducros (citados por Pacheco, 2001) realçam que inovar é renovar, ou seja, tornar algo novo, inventar, criar; reformar é reconstituir, por outras palavras, reorganizar, corrigir, aperfeiçoar, melhorar; melhorar é reformar, aprimorar.

Efetivamente, a reforma educativa implica a planificação de estratégias tendo em conta um conjunto de necessidades, resultados, meios e métodos adequados do sistema educativo de um determinado país (Sack, citado por Pacheco, 2001), por sua vez, a inovação reflete mecanismos e processos definidos e organizados com o intuito de se introduzir e proporcionar determinadas mudanças na educação (González e Escudero, citados por Pacheco, 2001). Desta forma, de um modo geral, o conceito de reforma é utilizado para abordar mudanças estruturais e organizativas e a inovação engloba uma mudança mais qualitativa, de aspetos funcionais.

18 2.2.1. Relevância curricular.

Numa primeira fase, importa salientar que os docentes do ensino básico demonstraram algum desassossego em relação ao desinteresse que os alunos manifestavam face à escola e ao currículo. Ainda assim, os professores universitários estudavam questões curriculares, surgindo, desta forma, um projeto de investigação-ação intitulado Investigação para um Currículo Relevante (ICR), que foi desenvolvido em diversas escolas dos Açores. A partir de 2009, o projeto amadureceu e formalizou-se, permitindo a inclusão de redes mais alargadas de investigação curricular. Segundo Sousa, Alonso e Roldão (2013), a relevância curricular apresenta diversas dimensões, sendo que uma mereceu especial interesse por parte do projeto anteriormente abordado: a relevância do currículo na perspetiva dos alunos.

Neste sentido, toda a equipa incumbida de desenvolver o projeto pretendeu compreender de que forma os alunos que demonstravam desinteresse escolar reconheciam nas aprendizagens adquiridas na escola uma mais-valia para a sua vida fora dela. Na tentativa de compreender esse aspeto, levantou-se a hipótese de que a proximidade dos alunos com a escola resultaria, sobretudo, de uma desvalorização perante o currículo no que diz respeito à ligação destes com as suas vidas fora da escola. Todavia, o mesmo autor ainda defende que para melhor compreender a relevância do currículo, é essencial que se tenha em conta o seu enquadramento num plano mais abrangente.

A relevância curricular é construída, na perspetiva de Sousa, Alonso e Roldão (2013) quando existe uma boa relação entre um conteúdo do currículo e a estratégia utilizada no momento da aprendizagem convoque adequadamente os fatores em causa. Portanto, é função do professor construir momentos de aprendizagem significativos. Para tal, terá que conhecer as caraterísticas dos seus alunos e compreender que cada um possui o seu ritmo de aprendizagem. Para que consiga atingir o currículo, o professor deverá partir de onde o seu aluno está, ou seja, deverá interessar-se por conhecer os seus conhecimentos prévios e trabalhar os conteúdos a partir daí, valorizando as vivências e experiências de cada um. De forma a apoiar esta ideia, Sousa, Alonso e Roldão (2013, p. 26) referem que:

“constrói-se a relevância, tal como aqui se concetualizou, mediante a mediação informada do professor, sustentada no uso estratégico de percursos de ensino e aprendizagem diferenciados, construídos de acordo com os pontos de partida

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diferentes e com os fatores experienciais que influenciam de forma diferente os seus alunos, no sentido de assegurar a aproximação máxima à aprendizagem curricular comum estabelecida e socialmente esperada.”

Então, o currículo servirá de base para que todos os alunos tenham acesso, de forma diferenciada, a um conjunto comum de aprendizagens necessárias a todos para que se integrem na sociedade enquanto indivíduos autónomos e independentes.

2.2.2. Inovar o currículo: que possibilidades?

A inovação curricular está associada a alterações que colaborem para a transformação e aperfeiçoamento dos processos e das práticas do ensino-aprendizagem e, naturalmente, para o sucesso escolar dos alunos. A questão essencial colocada no campo da inovação do currículo é a de compreender até que ponto a instituição escolar possui a liberdade de mudar o currículo, sendo esta uma comunidade estruturada e educativa (Pacheco, 2001). Na tentativa, então, de alterar o currículo, inovando-o, existem diversas e significativas limitações na prática que Stenhouse (1984, p. 222) enumera, entre as quais, “a escassez de recursos e a existência de um controlo ao nível da opinião dos encarregados de educação, da sociedade e da administração central.

Realça-se que a inovação do currículo exige, fundamentalmente, qualidade e que nos remete para a ideia de sublimidade e de excelência. Efetivamente, entre os indicadores subjacentes à qualidade, observam-se o currículo, os docentes, a instituição escolar, os recursos e a avaliação (Pacheco, 2001). Na tentativa de desenvolver projetos de inovação curricular nas instituições, é necessário considerar o modelo de resolução de problemas de Haverloch e Huberman (1980) em que se parte da resolução de um problema objetivo e concreto para a possibilidade de inovar, levantando o conjunto de necessidades específicas apresentadas. Para tal, é imprescindível que exista comunicação e consenso entre os mediadores.

Nesta perspetiva, Pacheco (2001) refere que a instituição escolar deve ser o local em que se constrói, desenvolve e avalia projetos de inovação do currículo, reconhecendo a importante função dos docentes e das instituições no desenvolvimento do currículo, “a existência de uma estrutura organizacional democrática, onde haja um sistema horizontal de comunicações; descentralização da autorizada, mas com o reconhecimento de uma liderança; promoção de relações humanas e de intercâmbio entre os diversos actores curriculares” (p. 154).

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Por fim, é de salientar que o processo da mudança e, consequentemente da inovação curricular, depende, sobretudo, da adoção por parte de quem participa na ação. Assim, os intervenientes devem possuir uma postura investigativa, participativa e de reflexão, em que assenta a ideia de transformação, reconhecendo que a escola é o local mais apropriado para propor, sugerir e desenvolver melhorias educativas. A este respeito, Campos (1993, p. 34) afirma que “há que abandonar a ideia de uma reforma e pensar que a função das instâncias centrais é, sobretudo, a de criar condições para que as reformas, as inovações aconteçam localmente.”

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Capítulo III – Intervenção Pedagógica: O Trajeto Metodológico

Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser o princípio de uma lei universal.

Kant

O presente capítulo engloba temáticas relacionadas com a prática educativa. Todavia, essas temáticas são apresentadas de forma geral para que, posteriormente, se proceda à análise de estratégias no capítulo seguinte. Assim, os tópicos a apresentar assentam na investigação-ação, visto que foram desenvolvidos projetos em contexto de estágio, no reconhecimento de alguns teóricos na tentativa de construir uma prática pedagógica de sucesso, nos modelos curriculares utilizados e nas metodologias e orientações em que se baseou toda a ação.

Ainda assim, é possível observar a presença de um tópico que abrange temáticas alusivas ao desenvolvimento de uma aprendizagem significativa através da estimulação dos sentidos, da utilização do jogo como potenciador de conhecimentos, da valorização das expressões, do contacto com a leitura e escrita, da utilização de diferentes materiais, da aprendizagem cooperativa e, ainda, da forma como devem ocorrer as relações professor-aluno e escola-família para que o aluno seja bem-sucedido.