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Capítulo II – O Estágio Pedagógico em Contexto de 1.º Ciclo do Ensino Básico

3.5. Construção de uma Aprendizagem Significativa

3.5.5. Relevância da utilização de diferentes materiais e objetos na sala.

Tendo por base a perspetiva de Cardoso, Alarcão e Celorico (2010), um investigador possui a capacidade de analisar detalhadamente os trabalhos dos investigadores que o antecederam e só após ter compreendido aquilo que lhe foi confiado, irá partir para o seu próprio percurso. Desta forma, a revisão da literatura permite aos leitores compreenderem de onde partiu o investigador.

Conforme Portugal (2010), para as crianças mais novas, o que mais importa são as rotinas diárias e os tempos direcionados para as atividades livres ao invés das atividades planeadas pelo educador. Neste sentido, será crucial frisar Post e Hohmann (2003, p. 249) quando afirmam que:

“O tempo de escolha livre consiste num período de tempo em que bebés e crianças podem investigar e explorar materiais e acções e interagir com os seus pares e

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educadores. Num ambiente apoiante e seguro com materiais e oportunidades interessantes, bem como espaço para se deslocarem em diferentes direcções, cada criança escolhe aquilo que está de acordo com os seus interessas e inclinações pessoais”.

Deste modo, torna-se visível que é nestes tempos de escolha livre que emerge a interação entre as crianças, entre as crianças e a equipa da sala e, ainda, entre estas e os espaços e materiais que estão aos seu dispor. Nesta fase, obtêm-se os momentos mais ricos de observação do grupo da sala, na medida em que é mais evidente conhecer personalidades, desenvolvimentos, interesses e necessidades.

Enquanto futuros docentes, é crucial que saibamos criar ambientes de qualidade que proporcionem ao grupo situações de brincadeira livre em que exista exploração de materiais e espaços. Ainda assim, é indispensável que nesses ambientes exista uma grande interação entre pares, grupos e, ainda, com a equipa da sala (Ministério da Educação, 1997). Tal como salientam Coelho e Tadeu (2015), as crianças devem ter ao seu dispor uma panóplia de materiais com a finalidade de terem experiências diversificadas e significativas, em que se descobrem coisas novas, exploram outros espaços e, consequentemente, aprendem.

De facto, o educador é quem disponibiliza esses materiais para serem explorados pelas crianças, estimulando, desta forma, a brincadeira em função dos resultados desejados, participando de um modo ativo nessas brincadeiras e, ainda, não menosprezando o facto de ser muito importante para a criança que brinque sozinha, que descubra e explore o ambiente ao seu redor isoladamente, sem a presença do adulto. Portanto, o adulto deve respeitar, também, o espaço da criança, orientando sempre as suas ações e aprendizagem (Coelho & Tadeu, 2015).

Para que a brincadeira ocorra de forma enriquecedora e significativa, é essencial a utilização de instrumentos na sala que sejam diversificados, permitindo, então, que seja possível que a criança explore objetos e adquira alguma aprendizagem com essas situações novas. Neste sentido, deve haver a preocupação em levar para a sala uma panóplia de materiais, a fim de verificar se a utilização dos mesmos contribuirá para um melhor desenvolvimento daquele grupo. Efetivamente, Tavares (2015) refere que as crianças, desde muito cedo, têm necessidade e demonstram interesse em vivenciar situações e desenvolver momentos de exploração que sejam favoráveis à construção da sua personalidade e aprendizagem. Isto é possível, também, quando as crianças fortalecem ações de partilha com o seu meio envolvente, apropriando-se dos

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conhecimentos que são desenvolvidos em conjunto com os seus pares (Horn, citado por Tavares, 2015). A mesma autora ainda cita Goldschmied e Jackson (2015, p. 39) que menciona que “o educador deve proporcionar aos bebés e crianças a riqueza das experiências […] em um momento em que o cérebro está pronto para receber, fazer conexões e assim utilizar essas informações”.

Tendo em consideração as caraterísticas do desenvolvimento infantil, as crianças agem de forma natural descobrindo aquilo que as rodeia, através da exploração, da observação e da vivência de experiências. Então, impera a necessidade de tornar o meio envolvente da criança apto para que esta seja capaz de transformar e criar, construindo, desta forma, o seu desenvolvimento. Torna-se crucial abordar, assim, a High Scope, uma vez que frisa a importância da interação das crianças com os materiais e o seu meio envolvente, principalmente nos primeiros anos de vida (Hohmann & Post, 2011), sendo que estes materiais devem ser diversificados, versáteis e não convencionais. Isto significa que um determinado objeto não tem de ser utilizado com um objetivo concreto, mas deve, sim, proporcionar à criança uma aprendizagem ou conhecimento, na medida em que, ao ser manuseado, poderão ser descobertas outras formas de exploração. Neste sentido, é crucial referir Hohmann e Weikar (2011) uma vez que mencionam que quando um objeto ou ambiente está aberto a diversas formas de interpretação e uso por parte da criança, esta começa a ter o poder de elucidar o que é ou para que esse objeto serve, “em vez de estereotipadamente, identificar uma maneira “correta” de o entender ou de agir sobre ele” (p. 161).

É de frisar que tanto a utilização de objetos do quotidiano ou domésticos são importantes para que a criança faça uma exploração significativa e diversificada, como os materiais pedagógicos são cruciais no sentido em que transportam mensagens e criam oportunidades para que a criança seja capaz de ter contacto com experiências diferentes. Além disso, tendo em conta que o cérebro humano é um órgão muito dinâmico e diferenciado, que é alimentado por estímulos e experiências e que possui a capacidade de responder (Diamond & Hopson, 2000), é imprescindível que os objetos e materiais utilizados na sala também desenvolvam os sentidos através da estimulação dos mesmos. Mesmo sem darmos por isso, através do contacto da criança com atividades sensoriomotoras, esta aprende:

“A sentir o calor, o frio, a dureza, a debilidade, o peso, a ligeireza dos corpos, a considerar o seu tamanho, a sua figura e todas as suas qualidades sensíveis, olhando, apalpando, ouvindo, sobretudo comparando a vista com o tacto,

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estimulando com o olho a sensação que provocariam os dedos” (Rousseau, citado por Carvalho, 2005, p. 130).

Certamente, a criança acaba por atingir a descoberta, conhecendo com mais pormenor o meio que a rodeia. A partir do momento em que a criança tem este tipo de interações de estimulação com outras crianças e objetos, existe um melhor desenvolvimento das funções do cérebro (Barnet & Barnet, 2000). Portanto, este também foi um dos meus objetivos com a implementação do projeto de investigação-ação na minha prática pedagógica, pois, a partir do momento em que existe na sala um ambiente sensorial rico, a atenção e a curiosidade são despertadas para que se adquiram experiências e aprendizagens de uma forma mais alegre, divertida e lúdica.