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Capítulo I – O Estágio Pedagógico em Contexto de Educação Pré-Escolar

1.2. A Prática Pedagógica no Berçário

1.2.2. Atividades desenvolvidas em contexto educativo.

1.2.2.1. Desenvolvimento Sensorial da Criança

Salienta-se que as primeiras quatro atividades estão relacionadas com o desenvolvimento sensorial da criança. Na fase em que o grupo se encontrava, era crucial que existisse uma estimulação a nível sensorial, contribuindo para o desenvolvimento global da criança. Decerto que, nesta idade, estimular é a palavra-chave para o desenvolvimento da criança rumo à aprendizagem, proporcionando e oferecendo condições e meios para esta se tornar racional e capaz de adquirir a sua identidade.

Note-se que quando a criança é privada de ambientes sensoriais, acaba por ser afetada relativamente ao desenvolvimento do cérebro no “período crítico” de maturação cerebral (Jacobs, Miller & Tirella, 2010). Assim, cabe às instituições proporcionar experiências necessárias para que a criança se desenvolva naturalmente, uma vez que desde muito cedo todos os seus sentidos cooperam de forma a representar integralmente o que se passa à sua volta, tal como afirma Faure e Richardson (2004). Então, foi nesse sentido que eu tentei ao máximo desenvolver atividades que lhes permitisse utilizar os seus sentidos.

Na aprendizagem pela ação, os objetos e materiais que proporcionem motivação às crianças são essenciais para a aprendizagem ativa. Para o efeito, a sala deve conter uma diversidade de materiais e objetos que possam ser explorados, transformados e

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combinados (Hohmann & Weirkart, 2011). Assim sendo, a primeira atividade encontra- se explícita na planificação da primeira semana (Apêndice 4), que foi planeada para o turno da manhã e que tinha como principal estratégia o desenvolvimento dos sentidos do grupo (Figura 17). Deste modo, esta incidiu na utilização de diferentes tipos de materiais com diversas texturas. Note-se que os principais objetivos foram a identificação da diferença entre o quente e o frio (água quente e fria), do mole e do duro (pedras e massa de cor) e do suave e áspero (açúcar e o sal). Além disso, era possível as crianças entrarem em contacto com materiais que estão relacionados com o seu quotidiano.

Para que a atividade decorresse da melhor forma, o grupo foi colocado em redor da mesa, de forma a haver um melhor controlo sobre o mesmo. Foi colocado um recipiente de cada vez em cima da mesa e o grupo teve tempo para poder explorar todos os materiais. O diálogo foi muito utilizado, na tentativa de descobrir o modo como as crianças identificavam os elementos presentes em cima da mesa e a linguagem utilizada era simples, de maneira a haver uma melhor comunicação.

Figura 17: Desenvolvimento Sensorial da Criança (Atividade I)

Note-se que todos os momentos são importantes para refletir sobre a nossa ação e, desta forma, após verificar o sucesso da atividade, realcei no diário de bordo que:

(…) a atividade superou as minhas expetativas, dado que o grupo demonstrou estar recetivo e muito interessado em participar. A nível geral, notou-se que gostaram da atividade. Ao observar a reação das crianças, não pude deixar de reparar que, por exemplo, ao tocarem primeiro na água fria e na confiança de que viria o mesmo de seguida, depararam-se com água quente e foi com grande agrado que notei as suas expressões de surpresa e entusiasmo por verificarem que algo

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estava diferente. Já quando provaram o sal, algumas crianças não reagiram da melhor forma, demonstrando algum desagrado através do choro; no entanto, outras surpreenderam-se e pediram mais. O mesmo aconteceu com o açúcar, visto que aquelas crianças que não gostaram do sal, já não queriam provar o açúcar por pensarem que o mesmo lhes seria dado. Então, quando chegaram à conclusão que o açúcar é doce, a reação em geral foi ótima. (Apêndice 5 - Diário de Bordo, 26 de outubro de 2015).

Seguidamente, na segunda atividade, que está presente também na primeira planificação, pretendi explorar diferentes sons através das caixas de Maria Montessori (Figura 18). Neste sentido, os principais objetivos foram desenvolver a acuidade sonora das crianças com a identificação dos sons e, ainda, desenvolver a expressão.

No que concerne às estratégias utilizadas para a concretização da atividade, foi cantada a música “A Caixinha das Surpresas”para que o grupo tivesse conhecimento da chegada de uma surpresa. A caixa foi aberta lentamente e a expressão corporal foi um elemento essencial na realização da atividade, pois o grupo ficava motivado e entusiasmado. Além disso, as caixas pequenas foram distribuídas pelas crianças para que estas pudessem explorar os materiais e produzir sons. Nesta fase, o diálogo também foi um fator essencial, dado que foi uma forma do grupo se expressar e explicar o que estava a sentir. No fim de toda a atividade, o grupo foi solicitado a arrumar todos os materiais que estava a utilizar e esta foi uma forma de partilharem algumas tarefas.

Após a realização da atividade, refleti sobre toda a ação, aludindo que:

Distribui as caixas pelas crianças, sendo que algumas acabaram por ficar sem nenhuma e choraram um pouco. Nestas situações é importante que o educador

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demonstre à criança alguma calma e lhe peça para esperar pela sua vez, que todos vão ter direito a brincar. Uma observação que posso fazer é o facto de o grupo entusiasmar-se muito mais com as caixas que fazem mais barulho do que com aquelas que são mais silenciosas, o que é perfeitamente natural. Apesar da atividade ter corrido bem, acabaram por danificar um pouco o material, isto também devido à faixa etária em que se encontram, sendo que não têm noção da força que devem exercer para mexer nas caixas e levam todos os objetos à boca. Realço que, apesar de considerar que estas caixas devem ser trabalhadas numa idade mais avançada, considerei pertinente levar a atividade para esta sala, uma vez que poderia desenvolver a acuidade sonora destas crianças. É sempre importante estimular os sentidos. (Apêndice 6 - Diário de Bordo, 28 de outubro de 2015)

A terceira atividade incidiu na exploração de diferentes frutos e está presente na planificação da segunda semana (Apêndice 7), que já pertence ao turno da tarde, ou seja, em que existiram alguns condicionamentos (Figura 19). Partindo da mesma temática que as atividades anteriores, é de salientar que nesta fase da vida da criança, o mundo é apenas aquilo que ela é capaz de ver, ouvir e sentir e é nesses aspetos que um educador se deve basear quando está perante um grupo com estas idades. Portanto, através da ação, as crianças acabam por perceber a realidade à sua volta, conseguindo percebê-la e representá-la (Zabalza, 1987).

Assim sendo, faz sentido abordar primeiro as estratégias utilizadas para melhorar a atividade. Então, foi cantada novamente a música “Caixinha das Surpresas” de forma a incentivar o grupo e todos os frutos foram mostrados às crianças individualmente para que pudessem ver que algo seria escondido dentro de uma caixa que estava cheia de papéis amarrotados coloridos. Numa fase seguinte, pedi ao grupo para procurar os frutos que eu tinha escondido, afirmando que, depois de encontrarem, iam provar tudo.

Realce-se que os objetivos da atividade se basearam na exploração de diferentes frutos alusivos à época (noz, figo, pera, maçã); no respeito pelo espaço do outro, principalmente nos momentos em que uma criança tinha que procurar os frutos à vez; na participação; na autonomia; na cooperação; na partilha de materiais; no contacto com diferentes formas de expressão artística; no desfruto de novas situações e ocasiões de descoberta e exploração do mundo; no reconhecimento de sensações; no conhecimento de alguns aspetos relacionados com a química/física; no jogo com formas, materiais e texturas e, ainda na interação com o outro.

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Com base em Hohmann e Weikar (2011, p. 161), “num contexto de aprendizagem activa as crianças necessitam de espaços que estejam planeados e equipados de forma a que essa aprendizagem seja efectuada.”. Deste modo, impera a necessidade de criar ambientes que permitem a vivência de experiências ativas e enriquecedoras, com objetos e materiais que possam ser explorados pelas crianças e em que existe apoio por parte dos adultos no momento das descobertas e aprendizagens.

Figura 19: Desenvolvimento Sensorial da Criança (Atividade III)

No que diz respeito aos efeitos da atividade, é de mencionar que:

Considero deveras gratificante verificar que todo o grupo entendeu o objetivo da atividade e que demonstrou estar muito recetivo e empolgado em participar. As crianças tiravam os papéis coloridos de dentro da caixa, riam de tão felizes que estavam com as cores e barulhos que faziam e observava-se a sua alegria em encontrar os frutos e poder prová-los. Notei, também, que a maioria do grupo não gostou das nozes, mas adorou os figos, a banana e a pera, sendo que a maçã ficaria para o dia seguinte. Além disso, já dizem quase claramente “banana”. Em nota de observação, foi a M. e a L. as crianças que mais estiveram interessadas na atividade. (Apêndice 8 – Diário de Bordo, 2 de novembro de 2015).

É de realçar que normalmente não são trabalhados quaisquer temas com este grupo devido à faixa etária em que se encontram. Ou seja, a principal preocupação é o respeito pela rotina. Todavia, como já tinha encontrado uma problemática dentro do grupo, optei por trabalhar na quarta atividade a exploração de materiais e objetos. Desta forma, foi apresentada, então, uma panóplia de recursos com que as crianças não estão em contato

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diariamente, como é o caso do tambor, do material de plástico de bolha de ar e da atividade das texturas, em que sentiam, por exemplo, terra, folhas secas e farinha.

Friso, ainda, que continuei a ter a preocupação de permitir que a criança sentisse elementos diferentes e de formas diferentes, ou seja, procurava, sobretudo, fortalecer os sentidos, uma vez que é nesta fase que conseguimos promover esse desenvolvimento com mais facilidade. Apesar do grupo já se encontrar bem desenvolvido nesse campo, considero sempre pertinente enveredar pelas sensações, daí apresentar novamente atividades sensoriais.

Neste sentido, em seguimento do que já foi mencionado nos dois parágrafos anteriores, passo a salientar a quarta atividade, que foi desenvolvida no turno da tarde e que está presente na planificação da quarta semana (Apêndice 9). Deste modo, a atividade permitiu a exploração da sensibilidade da criança através da natureza e do meio que a envolve.

Evidencie-se que o intuito era desenvolver a sensibilidade de cada criança, permitindo que esta passasse por cima de diferentes materiais (farinha, água, terra, arroz, folhas secas) que apresentavam texturas diversas (Figura 20). Desta forma, o grupo iria contactar com diferentes formas de Expressão Artística e disfrutavam de novas situações e ocasiões de descoberta e exploração do mundo. Era possível, também, reconhecerem diferentes sensações e cooperar, colaborar e interagir entre si no momento de arrumação da sala.

Para que a atividade fosse desenvolvida com sucesso, era necessário levar apenas duas crianças de cada vez e permitir que o restante grupo ficasse a brincar livremente no parque exterior da sala para não haver tempos mortos, mas sim momentos em que partilhavam experiências e vivências com os seus colegas, desenvolvendo a socialização. Para tal, era importante o apoio das assistentes operacionais no momento em que as crianças permaneciam fora da sala e no momento em que as traziam para realizar a atividade.

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Ao longo da realização da atividade, refleti sobre os seus resultados e, apesar de haver aspetos positivos e negativos, cheguei à conclusão que a atividade:

Apesar de ter feito muitas crianças chorar, foi bem-sucedida. Quando digo bem- sucedida, falo do facto de as crianças não rejeitarem por completo passar por todas aquelas texturas, tendo em conta que nunca o tinham feito antes. Mesmo assim, a L. e N. adoraram a atividade, como é percetível na figura. Riram imenso e mostraram-se bastante recetivas. Quiseram até repetir. Não será, então, pelo facto de as crianças nunca terem feito antes uma atividade, que eu vou deixar de fazê- la. Há que ser superior a isso e tentar permitir que estas crianças tenham o maior contacto possível com situações diversificadas, pois só assim se irão formar integralmente e saber encarar alguns problemas que poderão eventualmente surgir no seu dia-a-dia. Obviamente que, com a ajuda de toda a equipa da sala, que tem sido incansável comigo, tudo corre pelo melhor e é necessário saber agir quando as crianças choram. Quando isso acontece, é crucial insistir e não deixar que a atividade acabe ali, pois é importante que a criança enfrente aquela situação. (Apêndice 10 - Diário de Bordo, 16 de novembro de 2015)