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3.1 CURSOS DE LICENCIATURAS NOS INSTITUTOS FEDERAIS: HISTÓRICO E DESAFIOS

As determinações legais para a execução de Políticas Públicas dificilmente nos preparam para recebê-las. No entanto, façamo-las nós. De preferência na concepção de uma metodologia interativa e dialógica

(ASSIS, 2013, p. 35) Os cursos para formação de professores e professoras no Brasil – mais especificamente os Cursos de Licenciatura – existem há muito tempo não sendo, evidentemente, criação dos Institutos Federais. Segundo Gatti (2010), a formação de docentes para o “ensino das primeiras letras” em cursos específicos foi proposta ainda no final do século XIX com criação das Escolas Normais, de nível secundário, atuais Cursos de Magistério, que continuaram a promover a formação de professores(as) até a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394 de 1996.

Com as novas Diretrizes, veio a obrigatoriedade da formação desses docentes em nível

23 A Plataforma Nilo Peçanha (PNP) é um ambiente virtual de coleta, validação e disseminação das estatísticas

da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cujo objetivo é reunir dados para fins de acompanhamento e cálculo dos indicadores de gestão monitorados pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (SETEC/MEC). Os dados apresentados foram acessados no seguinte endereço: https://www.plataformanilopecanha.org/. Acesso em: out./2018.

superior, tendo o prazo de dez anos para consolidar essa formação. Ainda de acordo com Gatti (2010), somente no início do século XX é que começa a aparecer no campo educacional a preocupação com a formação de professores(as) para o Ensino Secundário, ou seja, para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Até esse momento, quem exercia a tarefa da docência nessas etapas da Educação Básica eram profissionais liberais, mesmo porque o número de escolas secundárias era bastante restrito, bem como o acesso das crianças a essas etapas da escolarização.

Para atender essa demanda de profissionais docentes para atuar no Ensino Secundário, em meados de 1930, é permitida à formação de bacharéis a incorporação de um ano de disciplinas da área da educação, obtendo-se, assim, o título de licenciados(as) para atuar, mais especificamente, nessa etapa. Nessa direção, a organização que se tinha inicialmente desses cursos, desenvolvidos nas Universidades e Instituições de Ensino Superior, estava pautada na lógica do conhecido modelo “3 + 1”, instaurado pelo Decreto Lei nº 1190, de 04 de abril de 1939.

Esse Decreto organizou a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil que ministrava os cursos de forma fragmentada, em que bastava que qualquer bacharel realizasse normalmente um curso, com duração de três anos, voltado à formação específica de uma determinada área e, ao final do curso, frequentasse mais um ano do Curso de Didática voltado aos conhecimentos da área pedagógica e, assim, podia se tornar professor: “Ao bacharel, diplomado nos termos do artigo anterior, que concluir regularmente o curso de didática referido no art. 20 dessa lei será conferido o diploma de licenciado no grupo de disciplinas que formarem o seu curso de bacharelado” (BRASIL, 1939, art. 49).

Os conhecimentos trabalhados eram totalmente desconectados do restante da formação, e era assim que se formavam os professores para lecionar no Ensino Secundário. Da mesma forma, “esse modelo veio a se aplicar também ao Curso de Pedagogia, regulamentado em 1939, destinado a formar bacharéis especialistas em educação e, complementarmente, professores para as Escolas Normais em nível médio” (GATTI, 2010, p. 1356).

Com a aprovação da LDB nº 9.394/96, surgem novas demandas, o que exige muitas alterações na organização, tanto das instituições formadoras, quanto dos cursos de formação de professores e professoras. Durante esse período de transição, são promulgadas, em 2002, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores, bem como as Diretrizes Curriculares para cada Curso de Licenciatura nos anos subsequentes. O Parecer CNE/CP nº 09/2001, que aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da

Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena, aponta esse período como um marco para as Licenciaturas:

O processo de elaboração das propostas de diretrizes curriculares para a graduação, conduzido pela SESu, consolidou a direção da formação para três categorias de carreiras: Bacharelado Acadêmico; Bacharelado Profissionalizante e Licenciatura. Dessa forma, a Licenciatura ganhou, como determina a nova legislação, terminalidade e integralidade própria em relação ao Bacharelado, constituindo-se em um projeto específico. Isso exige a definição de currículos próprios da Licenciatura que não se confundam com o Bacharelado ou com a antiga formação de professores que ficou caracterizada como modelo “3+1” (BRASIL, 2001a, p. 06).

Apesar das mudanças colocadas a partir da aprovação da LDB nº 9394/96 e da própria Resolução CNE/CP 02/2002, ainda se percebia uma formação voltada para a área disciplinar específica, com pequeno espaço voltado à formação pedagógica dos profissionais que viessem a atuar nas áreas específicas do Ensino Médio, o que, de certa forma, se percebe ainda nos dias atuais. Os Cursos de Licenciatura eram ofertados apenas nas Universidades e Instituições de Ensino Superior, públicas ou privadas, e só começaram a ser ofertados no âmbito dos Institutos Federais a partir da sua Lei de Criação nº 11.892/2008, que confere autonomia administrativa e pedagógica, equiparados às universidades, sendo instituições acreditadoras e certificadoras de competências profissionais (IF FARROUPILHA/PDI 2014-2018, 2014b).

A oferta desses Cursos nos Institutos Federais estava prevista antes mesmo da publicação da sua lei, no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), publicado no ano de 2007, já trazendo a indicação de que os Institutos Federais teriam a incumbência de “[...] oferecer programas especiais de formação pedagógica inicial e continuada, com vistas à formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de física, química, biologia e matemática [...]” (BRASIL, 2007, p. 33). Tal incumbência anunciada no PDE de 2007, é efetivada na Lei nº 11.892 de 2008, no artigo 7º, inciso VI, alínea b, trazendo que um dos objetivos dos Institutos Federais é “[...] ministrar em nível de educação superior [...] cursos de licenciatura, bem como programas especiais de formação pedagógica, com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e para a educação profissional” (BRASIL, 2008). Além disso, no artigo seguinte, regulamenta a distribuição de percentuais de vagas para garantir o desenvolvimento dessa ação acadêmica:

Art. 8o No desenvolvimento da sua ação acadêmica, o Instituto Federal, em cada

exercício, deverá garantir o mínimo de 50% (cinquenta por cento) de suas vagas para atender aos objetivos definidos no inciso I do caput do art. 7o desta Lei [educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente na forma de cursos

integrados], e o mínimo de 20% (vinte por cento) de suas vagas para atender ao previsto na alínea b do inciso VI do caput do citado art. 7o [cursos de licenciatura,

bem como programas especiais de formação pedagógica, com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e para a educação profissional] (BRASIL, 2008).

Nesse contexto, inicia-se o compromisso dos Institutos Federais na oferta dos cursos de formação de professores e professoras – Cursos de Licenciatura e programas especiais de formação pedagógica, dando prioridade à oferta de cursos de formação de professores(as) para a Educação Básica, sobretudo nas áreas de física, química, biologia e matemática, na tentativa de “[...] reduzir o enorme déficit entre a demanda e a oferta de licenciaturas em nosso país” (CALDAS, 2011, p. 38). Assim, os Institutos Federais passam a ofertar Cursos de Licenciatura, além da educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, e

[...] embora o faça sem deixar de lado outras atribuições, peculiaridades e potencialidades próprias das Instituições de EPT, compreende que pode tornar mais substantiva a sua contribuição para superar as dificuldades hoje colocadas em relação à oferta de cursos de licenciaturas no Brasil (Ibidem, p. 39).

Com o intuito de contribuir com a oferta de Cursos de Licenciaturas no Brasil, sem perder de vista o compromisso dos Institutos Federais com a educação profissional, Lucília Machado (2008) apresenta quatro propostas de Cursos de Licenciatura que foram pensadas inicialmente para formação inicial de docentes para a educação profissional:

I. Curso de licenciatura para graduados, com 1.200 horas, com habilitação para a docência em Cursos Técnicos de nível médio e Cursos Superiores de

graduação tecnológica;

II. Curso de licenciatura integrado com o curso de graduação em tecnologia, até 4.000 horas, com habilitação para docência em Cursos técnicos de nível médio; III. Curso de licenciatura para técnicos de nível médio ou equivalente, com 2.400

horas, com habilitação para docência em Cursos técnicos de nível médio; IV. Curso de licenciatura para concluintes do ensino médio, com 3.200 horas, com

habilitação para docência em Cursos técnicos de nível médio (referente a ocupações não regulamentadas em lei).

Todas essas propostas foram organizadas com carga horária mínima global diferenciadas, bem como a estrutura curricular pedagógica, a habilitação à docência específica, de acordo com cada formação, e os limites de ação do profissional docente. Decorrente dessa análise, podemos inferir que o foco inicial de oferta dos Cursos de

Licenciatura para os Institutos Federais estava voltado, fortemente, para a formação de professores e professoras para atuar na educação profissional e tecnológica, tendo o cuidado para que a organização curricular desses cursos fosse ordenada, organizada e articulada com vistas a atingir as finalidades de formação a ser alcançada. Para tanto,

A formação dos docentes da educação profissional demanda atenção cuidadosa aos conteúdos pedagógicos e educacionais relacionados à sociologia dos saberes tecnológicos e escolares, à psicologia das aprendizagens, ergonomia cognitiva, história da educação profissional e tecnológica, sociologia dos currículos da educação profissional, filosofia da educação, educação tecnológica comparada, avaliação, construção da identidade docente profissional, métodos de ensino na educação profissional, organização escolar, políticas e gestão da educação profissional etc. (MACHADO, 2008, p. 20 e 21).

Pela preocupação em organizar um currículo que contemplasse os saberes tecnológicos e escolares voltados à educação profissional, mais uma vez fica evidenciada a intencionalidade da oferta de Cursos de Licenciaturas nos Institutos Federais, tendo como foco a formação de professores e professoras para atuar nessa modalidade de ensino. A Lei nº 11.892/2008 que traz a obrigatoriedade de, no mínimo, 20% (vinte por cento) das vagas dos Institutos Federais para os cursos de licenciatura e programas especiais de formação pedagógica, ressalta que essa formação deve estar voltada para a atuação desses profissionais docentes na educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e também para educação profissional.

O documento “Um novo modelo em Educação Profissional e Tecnológica: Concepção e Diretrizes”, elaborado pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), ratifica a importância da oferta de Cursos de Licenciaturas nessas áreas, quando explicita que “no tocante à formação de professores para o conteúdo da formação geral (com destaque para as ciências da natureza: Química, Física, Biologia e mesmo a Matemática), essa opção é crucial, tendo em vista a falta de professores” (BRASIL, 2010, p. 27-28).

Nessa perspectiva, também o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº 13.005/2014, vai corroborar, estabelecendo como uma de suas metas a elevação da formação de professores e professoras da educação básica, assegurando que “[...] todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em Curso de Licenciatura na área de conhecimento em que atuam” (BRASIL, 2014, meta 15), ratificando, assim, a importância de oferta desses Cursos.

Para atingir essa proposição do documento, em 2009, foi elaborado pela mesma Secretaria (Setec) o documento “Contribuições para o processo de construção dos Cursos de

Licenciatura dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia”, contemplando aspectos importantes para a organização e oferta desses Cursos no âmbito dos Institutos Federais, sendo eles: os princípios norteadores, o objetivo dos Cursos e perfil do licenciado, desenho curricular: aspectos gerais, organização didático-pedagógica e a estrutura curricular sugerida. O documento aponta em seus princípios norteadores a necessidade de articular os conhecimentos de forma integrada e verticalizada, buscando superar o modelo hegemônico, fragmentado e disciplinar que ainda impera nos currículos dos cursos de formação de professores(as), propondo um currículo integrado, interdisciplinar, com embasamento e articulação com a educação profissional. Nesse sentido, o

desenho curricular proposto tem como princípio básico cursos de licenciatura que possuam componentes práticos integrados aos conteúdos teóricos (destacando-se o emprego de ambientes de aprendizagem e de projetos integradores interdisciplinares), desenhados com uma base curricular comum às áreas de conhecimento e com forte embasamento na práxis associada à Educação Profissional. Possibilita, assim, a formação de pessoal docente apto a atuar na Educação Básica (últimos anos do Ensino Fundamental) e também nos cursos de Ensino Médio regular e/ou integrado aos cursos técnicos (BRASIL, 2009b, p. 4).

O desenho curricular proposto para os Cursos de Licenciatura dos Institutos Federais está organizado a partir de bases conceituais e núcleos, que, apesar de serem de naturezas diferentes, se articulam para trabalhar de forma integrada, envolvendo os conhecimentos relacionados à formação geral e específica. Assim, a base curricular é formada por conhecimentos que envolvem a base curricular comum e os conhecimentos específicos da área, articulados às práticas profissionais.

O Núcleo Comum é composto pelo Núcleo Básico (saberes comuns à área de conhecimento e instrumentais) e pelo Núcleo Pedagógico. Já os conhecimentos relacionados à formação específica são contemplados no Núcleo Específico. Além disso, propõe-se também a organização de disciplinas complementares, que compõem o Núcleo Complementar. Os três núcleos, por sua vez, devem ser permeados pelas atividades de Prática Profissional (Prática Pedagógica, Estágio Curricular Supervisionado e atividades acadêmico-científico- culturais, que perpassariam também pelo Núcleo Complementar) e pela Monografia de conclusão de curso, fazendo com que “[...] a interação entre os três núcleos configure-se por meio de conteúdos comuns que, além de serem construídos via projetos integradores, também poderiam vir a ser trabalhados em eixos temáticos multi ou interdisciplinarmente” (BRASIL, 2009b, p. 05).

Institutos Federais têm como objetivo central a formação de professores e professoras para atuarem na Educação Básica, do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental, no Ensino Médio ou no Médio Integrado. A proposta dos Cursos de Licenciatura dos Institutos Federais busca, ainda, articular os diferentes saberes necessários à formação docente e “[...] estabelecer uma estruturação curricular em Núcleos de Formação a partir dos conhecimentos comuns e específicos das áreas de conhecimento e das habilitações, do conhecimento pedagógico e de conhecimentos complementares” (Ibidem, p. 11), buscando consolidar uma proposta integrada e articulada para formação de professores da Educação Básica. Essa proposição de um currículo integrado, articulado, verticalizado, que vai da Educação Básica ao Ensino Superior, não é especificidade dos Cursos de Licenciatura, mas é um dos fundamentos da proposta dos Institutos Federais, uma vez que

Ela permite que os docentes atuem em diferentes níveis de ensino e que os discentes compartilhem espaços de aprendizagem, incluindo os laboratórios, possibilitando o delineamento de trajetórias de formação que podem ir do curso técnico ao doutorado. A estrutura multicampi e a clara definição do território de abrangência das ações dos Institutos Federais afirmam, na missão dessas instituições, o compromisso de intervenção em suas respectivas regiões [...] (PACHECO, 2011, p. 14)

Na dissertação de mestrado intitulada: “Licenciaturas nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia: implantação e desafios”, a autora Maria Celina de Assis (2013) vai anunciar, no capítulo que se refere, mais especificamente, aos Cursos de Licenciaturas, que a concepção diferenciada de currículo, a integração/articulação curricular, a compreensão de territorialidade, as estruturas multicampi são alguns diferenciais da proposição dos Cursos ofertados nos Institutos Federais, destacando que

[...] a busca do entendimento de peculiaridades como a compreensão na formação de professores, no que diz respeito à integração curricular e à compreensão de territorialidade, presentes nas novas concepções e diretrizes dessas instituições de ensino [...] da concepção de currículo pluricurricular que, sem sombra de dúvida, oferece uma concepção diferenciada de currículo (p. 13).

Essa concepção de educação, princípios orientadores, proposição de desenho curricular para os cursos ofertados nos Institutos Federais, dentre eles os Cursos de Licenciatura, se estabelece dentro de um universo que, ao mesmo tempo em que se diversifica, também se integra, exigindo um perfil diferenciado dos professores-formadores e das professoras-formadoras desses cursos. Profissionais que poderão atuar tanto na formação inicial como continuada até a Pós-Graduação, entendendo e desenvolvendo sua

intencionalidade educativa articulada com as finalidades e princípios institucionais. Pensar a oferta de Cursos de Licenciatura nesse contexto implica em pensar uma formação de professores e professoras diferenciada das universidades, buscando formá-los para que conheçam a realidade da educação básica e estejam preparados(as) para atuar na Educação Profissional, considerando o PROEJA e o Ensino Médio Integrado, por exemplo, como laboratórios de aprendizagem.

Com o intuito de construir uma identidade para os Cursos de Licenciatura ofertados nos Institutos Federais é que, no ano de 2010, ocorreu o I Fórum Nacional de Licenciaturas nos Institutos Federais: “Em busca de uma identidade”, de 24 a 26 de novembro na cidade de Natal, estado do Rio Grande do Norte, sendo um importante evento para a consolidação das Licenciaturas. O principal objetivo do Fórum foi discutir a questão da construção de uma identidade, além de propor sugestões que servissem de referência para consolidação dessa identidade institucional, a fim de superar as dificuldades existentes nesses cursos. Essas discussões foram sintetizadas em quatro eixos: gestão, infraestrutura, formação de formadores e questões pedagógicas, estando esses eixos registrados em forma de uma carta intitulada: “Carta de Natal: em busca de identidade”24

, que já apontava para essa preocupação.

Apesar do esforço reconhecido em construir uma identidade para os Cursos de Licenciatura dos Institutos Federais com características próprias, articulando componentes práticos integrados aos conteúdos teóricos e com uma práxis associada à Educação Profissional, esses cursos continuam buscando consolidar uma identidade que ainda se encontra em processos de construção. Fernanda Gonçalves de Lima (2012) em sua dissertação de mestrado corrobora nesse sentido, ao afirmar que:

Mesmo sendo uma instituição que precisa diretamente do professor para a educação profissional, que possui prática profissional nesta modalidade, e com o indicativo legislativo e político de formar professores para a educação profissional e tecnológica, isto não está ocorrendo em grande escala. A política e orientações para a formação do professor das disciplinas específicas da educação profissional e tecnológica não são esclarecidas nos documentos analisados. O que deixa dúvidas se realmente é de interesse que os Institutos Federais realizem a formação docente para a Educação Profissional. De forma mais evidente, demonstra-se que é preciso que os IF formem professores para educação básica (p. 90-91).

A autora traz uma contribuição importante para compreendermos o contexto e a intencionalidade com que foram pensados e organizados os Cursos de Licenciatura nos Institutos Federais, como as propostas foram se consolidando no decorrer das ofertas e que

identidade foi sendo construída. Nesse cenário, não restam dúvidas sobre o forte envolvimento e compromisso com a formação de professores e professoras para atuarem na educação básica. Por outro lado, embora havendo um currículo organizado e pensado com o objetivo de articular conhecimentos teórico-práticos, perpassado pelas práticas profissionais, a formação docente para a educação profissional ainda é algo que precisa ser problematizado.

Sobre essa questão, Lustosa e Souza (2015) ousam afirmar que ainda não há um consenso do papel desempenhado pelas Licenciaturas nos Institutos Federais, uma vez que não é clara a relação existente entre a formação de professores e a educação profissional. De qualquer forma, reconhecem o caráter diferenciado na oferta desses Cursos a partir da conjuntura político-pedagógica em que foram gestados no contexto dos Institutos Federais,

[...] já que essas instituições vivem ideologicamente uma educação que acompanha a modernidade, que ultrapassa concepções de uma educação unitária, voltada para o mercado de trabalho, se transformando ao longo da história em uma escola que evidencia a formação humana integral, que preza por um ensino emancipador,

omnilateral e politécnico (Ibidem, p. 7).

Compreender os Cursos de Licenciatura nesse contexto é reconhecer que, embora tenha sido redefinida a proposta inicial da oferta desses cursos, eles trouxeram um grande diferencial à formação de professores e professoras, permeada pela articulação entre as práticas profissionais e os conhecimentos teórico-práticos. Além disso, os(as) professores(as)- formadores(as) também têm um perfil diferenciado por serem docentes da educação básica, técnica e tecnológica que atuam em diferentes níveis e modalidades de ensino, desde o