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Etapa 3: Realização dos Círculos Dialógicos Investigativo-formativos 32 com os

4.3 DIALOGANDO E REGISTRANDO A VIAGEM: OS INSTRUMENTOS DA PESQUISA

Não é a escrita mera transcrição gráfica da fala, mas negociação de sentidos com interlocutores outros, que, pelo fato de serem apenas potenciais, se fazem mais exigentes e fazem da página que se escreve um lugar mais amplo dos muitos sentidos virtuais. (MARQUES, 2011, p. 44)

Quando nos propomos a fazer uma viagem, uma das primeiras coisas que começamos a providenciar são os instrumentos com os quais iremos registrar cada momento vivido, os lugares conhecidos, as pessoas que iremos conhecer/conviver. Além disso, muitas pessoas ainda tem o hábito de registrar tudo num bloquinho para não correr o risco de se perder pelos

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Atualmente, o Grupo de Estudos e Pesquisas Dialogus, a partir dos movimentos vivenciados com os coauores e coautoras nos Círculos Dialógicos, vem utilizando em algumas produções (re)criativas a denominação de Círculos Dialógicos Investigativo-auto(trans)formativos.

labirintos da memória tudo o que foi conhecido/experienciado. Por isso mesmo, a escrita não é uma mera transcrição gráfica, fria, mas negociação de sentidos com interlocutores outros.

Para desenvolvimento da pesquisa, utilizamos alguns instrumentos para que nenhuma vivência e/ou experiência deixasse de ser registrada, como: gravação das narrativas dos(as) coautores(as) durante a participação nos Círculos Dialógicos; encontros presenciais e por videoconferência41; seleção de fragmentos das falas dos docentes e dos licenciandos, de onde emergiram as temáticas geradoras; construção de questionários; envio de cartas aos professores-formadores e às professoras-formadoras. No entanto, o que garantiu a dinamicidade da pesquisa foram os movimentos que ocorreram nos Círculos Dialógicos Investigativo-formativos, orientando a natureza dos registros que transformaram a “[...] página que se escreve um lugar mais amplo dos muitos sentidos virtuais” (Ibidem).

Figura 7 – Instrumentos utilizados na pesquisa

Fonte: Elaboração da pesquisadora

A partir dos diálogos problematizados nos Círculos foram realizados registros das impressões, reflexões, descobertas, medos, fracassos e êxitos, agregando os dizeres de todos(as) os(as) interlocutores(as) da pesquisa. O processo da escrita inicia, assim, muito

41Videoconferência é uma tecnologia que permite o contato interativo, via televisão, em circuito fechado ou rede de computadores, com transmissão de imagem e som entre pessoas que estão em lugares diferentes, permitindo que dialoguem interativamente em tempo real, como se estivessem no mesmo local.

antes de se organizarem as ideias no papel; quando pensamos, registramos e exercitamos a escrita, já estamos realizando o movimento de reflexão sobre a prática. Nesse sentido, Freire corrobora dizendo que:

[...] continuo a refletir, ao escrever, aprofundando um ponto ou outro que me passara despercebido quando antes refletia sobre o objeto, no fundo, sobre a prática. É por isso que não é possível reduzir o ato de escrever a um exercício mecânico. O ato de escrever é mais complexo e mais demandante do que o de pensar sem escrever (FREIRE, 2013a, p. 27).

O ato de escrever, de registrar vai se (re)construindo muito antes de efetivamente começarmos a escrita: ele envolve momentos de ação, reflexão, prática, vivências. O processo de escrita é muito mais exigente do que o processo de pensar sobre ela; ao escrever, precisamos organizar as ideias e encontrar as palavras que, de fato, representem o momento que foi ou está sendo vivenciado/experienciado e que pretendemos registrar. Ao fazermos esse exercício, vamos aprofundando algumas questões que foram inicialmente pensadas e/ou ditas, sem o devido aprofundamento que a escrita permite. A escrita oportuniza estabelecer relações entre o pensar, fazer, escrever, ler, ou seja, linguagens e realidade que, imbricadas, vão dando significado ao registro que vai sendo construído “[...] em torno do próprio movimento que a redação do texto geralmente vai imprimindo ao pensamento de quem escreve” (FREIRE, 2013a, p. 25).

O autor francês Philippe Meirieu (2002) vai ratificar a importância do relato e o registro que vai sendo (re)construído no e a partir dos Círculos Dialógicos, seja ele oral ou escrito:

Assim, o relato e a escrita permitem articular aquilo que se é, aquilo que se faz e aquilo que se quer fazer sem, para isso, abolir a distância entre o dizer e o fazer. Desse modo, eles nos levam a entrelaçar, em um texto sempre inacabado, o rigor de nossas justificativas, a diversidade de nossas experiências e a riqueza de nossa memória (p. 285).

Por isso a escolha desses instrumentos da pesquisa, uma vez que por meio deles temos a possibilidade de registrar as impressões, as concepções, as experiências de vida e da docência, não apenas com palavras, mas por meio dos gestos, da entonação da voz, da excitação, dos risos e até mesmo dos silêncios, enfim, das diferentes manifestações entre os que dialogam, podendo ser continuamente revisitados. Assim, é possível voltar aos registros para rever o que foi dito/manifestado, permitindo refazer, reinventar, recriar o que foi feito, provocando mudanças no fazer, sentir, pensar e agir dos coautores da pesquisa, a partir dos

processos reflexivos que passam a ser vivenciados. Nesse movimento,

Os questionamentos e as reflexões dialógicas abrangem não só a prática, mas também as memórias, as histórias, capacidades, saberes, atitudes, sensibilidades, valores e concepções de cada professor ou professora e do grupo como um todo, em um permanente movimento de conscientização e desafio para tentar o novo que transforma (HENZ, 2015, p. 21).

Os fragmentos das falas dos professores-formadores e das professoras-formadoras, a partir da gravação/transcrição das diferentes vozes, foi de onde emergiram as temáticas geradoras que oportunizaram a problematização de questões que perpassaram a pesquisa, como: as narrativas autobiográficas de formação; as experiências de vida dos professores e das professoras, bem como sua trajetória formativa; as vivências da/na docência; suas concepções sobre docência, os Cursos de Licenciaturas e seu papel como professor-formador e professora-formadora.

Com as falas, os dizeres e os fazeres dos(as) docentes, fomos construindo e sistematizando o processo de escrita da tese, colocando cada sujeito interlocutor(a)-coautor(a) no centro dos processos de coautoria e auto(trans)formação. No entanto, não foi pretensão da pesquisa delinear todo caminho a ser percorrido, mas ir constituindo o nosso próprio caminhar e a nossa forma de percorrê-lo, pois “[...] ao final da pesquisa, mais interessa o prazer da aventura humana do que os resultados alcançados” (MARQUES, 2011, p. 120). Esse caminho foi construído a partir de diálogos problematizadores, da interlocução com as leituras e os(as) sujeitos coautores(as) que estiveram nele envolvidos(as), buscando pensar outros caminhos e possibilidades desvendadas durante o caminhar.

4.4 BUSCANDO COMPREENDER O QUE ESTÁ ALÉM DO DITO: UM CONVITE À