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PRÁTICAS DE FORMAÇÃO

4. CENÁRIO: A ESCOLA E A CONSTITUIÇÃO DO CORPO DOCENTE E DA EQUIPE GESTORA

5.1. Cursos de formação inicial

A atual legislação educacional do país, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 (LDBEN), destina um capítulo à formação dos profissionais da educação, especialmente a dos professores. Para os que queiram atuar na Educação Básica, a orientação consta dos artigos 62 e 63, que estabelecem a modalidade e o nível de formação, considerando que:

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far- se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:

I - cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental;

II - programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica; III - programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis.

A legislação determina que a formação seja realizada em nível superior, em curso de licenciatura plena, mas ainda admite como formação mínima para o exercício da docência a modalidade Normal em nível médio, a fim de salvaguardar o direito adquirido pelos professores que cursaram esta modalidade: o antigo curso de Magistério.

Outro documento que complementa as normas da LDBEN nº 9394/9 é o Parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) 9/2001 determinando que a formação dos professores de Educação básica seja realizada nos Institutos Superiores de Educação (ISE). Entretanto, segundo Curi (2004), o que se observa é a oferta dessa formação pelos cursos de Pedagogia de instituições públicas e particulares.

Esse documento indica ainda que existem questões históricas a serem enfrentadas e consideradas pelo processo de formação de professores. Entre elas são citadas:

[...] a ênfase contida na formação nos conteúdos da área, onde o bacharelado surge como a opção natural que possibilitaria, como apêndice, também, o diploma de licenciado [...] sendo que a atuação destes como “licenciados” torna-se residual e é vista, dentro dos muros da universidade, como “inferior”, em meio à complexidade dos conteúdos da “área”, passando muito mais como atividade “vocacional” ou que permitiria grande dose de improviso e autoformulação do “jeito de dar aula”.

[...] a abreviação indevida dos cursos, na forma de licenciaturas curtas e de complementação pedagógica, freqüentemente

simplificaram tanto o domínio do conteúdo quanto a qualificação profissional do futuro professor (PARECER CNE, 2001, p. 16-17)

Essas questões não garantem o atendimento das atuais exigências de formação para os professores das séries iniciais, principalmente em relação ao conhecimento matemático do professor desse nível de ensino que, além de dinâmico e contextualizado, deve ser “marcado pela diferença em relação ao conhecimento de um especialista na disciplina e ter um forte componente do saber a disciplina para ensiná-la” (CURI, 2004, p. 48).

Como afirmado anteriormente, os dados do questionário mostraram que a maioria dos professores que atuou na escola no segundo semestre de 2008 foi habilitada para a docência pelo curso de Magistério.

Este curso era a modalidade Normal em nível médio, modificado pela LDBEN nº 5692/71 para Habilitação Específica de 2º grau para o Magistério. Entre as críticas feitas a esse modelo de formação, destaca-se a de Cavalcanti (1994, apud CURI, 2004) ao considerar que, no modelo de formação do professor polivalente, os conteúdos ministrados eram inadequados às necessidades da formação do professor.

Com o intuito de superar o fracasso dos cursos de Habilitação Específica de 2º grau para o Magistério, foi criado no estado de São Paulo o Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério. Conforme Passos (1995, p. 22) afirma: “Os novos cursos de Magistério – CEFAM passam então, a funcionar, a partir de 1988, criando-se características especiais para o seu funcionamento.”

Passos (1995), que foi professora de Matemática nesse curso, relata em sua pesquisa de mestrado que os professores responsáveis pelas disciplinas relacionadas à Matemática reuniram-se várias vezes com a Equipe Técnica de Matemática da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) a fim de elaborar uma proposta de ensino específica à formação de professores nos CEFAMs. Essas reuniões iniciaram-se junto com o funcionamento desses cursos em 1988, que culminaram em 1990 com a elaboração de uma proposta divulgada em 1991.

A proposta de ensino de Matemática desenvolvido nesses cursos, de acordo com a autora (op.cit), possuía uma característica peculiar, como afirma:

[...] desfazer a distorção enfocada no ensino da Matemática ao longo dos tempos e evidenciada no ensino tradicional, como de um modo geral presenciamos nas escolas. Para tanto, procuramos imprimir à Matemática da habilitação para o Magistério características próprias, que permitam ao futuro professor percebê-la como uma ciência a serviço do homem (PASSOS, 1995, p. 26).

Além dessa peculiaridade, a formação matemática dos futuros professores acontecia ao longo de todo o curso.

Reportando-se à própria experiência durante o curso de Magistério que a pesquisadora teve no CEFAM, a formação matemática aconteceu desde o início com as disciplinas de Matemática até o terceiro ano, permeadas pelas discussões pedagógicas suscitadas durante os estágios, encerrando-se com a disciplina Conteúdo e Metodologia de Ciências e Matemática no último ano de curso.

Passos (1995), ratificando a experiência acima descrita, observou em sua pesquisa que a formação matemática dos futuros professores nesses cursos acontecia desde o início com o apoio das disciplinas pedagógicas nos últimos anos de curso.

Apesar de desenvolverem propostas bem sucedidas, os CEFAMs foram extintos pela Resolução SE 119/03 em 2003 de modo a atender as determinações da LDBEN nº 9394/96 sobre a formação de professores acontecer em nível superior.