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As empresas podem utilizar diferentes fontes de recursos para financiar suas atividades. Na literatura de finanças corporativas, os recursos que financiam as operações da empresa são classificados como capital próprio e capital de terceiros. Os capitais próprios são os recursos investidos pelos proprietários, sejam eles controladores ou minoritários, enquanto que os capitais de terceiros correspondem aos fundos captados pela empresa por meio de operações de crédito bancário e de emissões de títulos de dívida. A estrutura de capital compreende a proporção de recursos próprios e de terceiros utilizada pela empresa para financiar suas atividades.

Os acionistas e os credores exigem uma remuneração mínima pelo capital investido na empresa, proporcional ao retorno que poderia ser obtido com as demais alternativas de investimento disponíveis e de risco semelhante. Do ponto de vista da empresa, a remuneração exigida pelos fornecedores de recursos configura-se como um custo, denominado custo de capital. A remuneração do capital de terceiros é estabelecida contratualmente e se materializa pelo pagamento dos juros e dos encargos financeiros aos credores, conforme previsto nos contratos de dívida. Por outro lado, a remuneração do capital investido pelos proprietários ocorre por meio dos lucros gerados pela empresa, portanto, está atrelada ao desempenho da firma.

O custo de capital é uma das variáveis importantes que determinam o desempenho econômico da empresa. Os resultados gerados pela atividade da firma devem alcançar a expectativa mínima de retorno dos fornecedores de recursos, expressa pelo custo de capital. A atividade da empresa é considerada economicamente atrativa quando for capaz de produzir resultados

iguais ou superiores ao custo do capital nela investido. Segundo Copeland et al (2005, p. 220), o retorno excedente ao custo de oportunidade do capital é denominado lucro econômico.

A estrutura de capital está entre os temas mais debatidos pelos pesquisadores da área de finanças corporativas. As discussões tiveram início com as proposições de Modigliani e Miller (1958; 1963) acerca da irrelevância da estrutura de capital da firma, e com a corrente teórica tradicional defendida principalmente por Durand (1952; 1959). As duas correntes divergem quanto à existência de uma estrutura ótima de financiamento, que levaria ao custo de capital mínimo para a empresa e à maximização do seu valor.

Segundo a escola teórica representada por Durand (1952; 1959), o custo de capital aumenta com o crescimento das dívidas da empresa, devido ao maior risco financeiro. Porém, para níveis moderados de endividamento, o custo de capital de terceiros permanece estável. Em equilíbrio, esse custo é inferior ao custo do capital próprio. Dessa forma, o aumento do endividamento leva à redução no custo de capital total da empresa até determinado ponto, o qual corresponderia à estrutura ótima, que minimizaria o seu custo de financiamento e maximizaria o seu valor.

Modigliani e Miller (1958), assumindo um conjunto de pressupostos restritivos, inclusive a inexistência de custos de falência, mostraram que o valor da empresa não é afetado pela sua estrutura de capital. Segundo os autores, o custo de capital é o mesmo para qualquer nível de endividamento, portanto, não existe uma estrutura de capital que maximiza o valor da empresa. Em trabalho subsequente, Modigliani e Miller (1963) reconheceram o efeito fiscal gerado pela dedutibilidade dos juros das dívidas na apuração do imposto de renda. Considerando esse benefício, a elevação do nível de endividamento levaria à redução no custo total de capital, aumentando o valor da empresa.

Posteriormente aos estudos de Durand e de Modigliani e Miller, diversos pesquisadores se dedicaram ao exame dos fatores que determinam a estrutura de capital das empresas. Muitos trabalhos investigaram a questão incorporando as imperfeições existentes no mercado, como custos de falência, custos de agência e assimetria de informações, a exemplo dos trabalhos clássicos de Myers e Majluf (1984) e Titman e Wessels (1988).

Na área contábil, as pesquisas discutem a relação entre a estrutura de financiamento das empresas e as características da informação produzida pela contabilidade. Os estudos examinam, principalmente, se a maior qualidade das informações contábeis reportadas pelas empresas leva a uma redução no seu custo de capital. Um dos argumentos que suportam essa hipótese é de que a baixa qualidade dos reportes contábeis cria riscos informacionais e leva os fornecedores de capital (investidores e credores) a cobrarem prêmios de risco maiores, elevando o custo de capital da empresa. Nesse sentido, haveria um incentivo econômico para que as empresas reportassem demonstrações contábeis com maior qualidade informacional.

Um exemplo de trabalho nessa linha é a pesquisa de Francis et al (2004), que examina a relação entre o custo do capital próprio e sete atributos do lucro: qualidade das acumulações contábeis, persistência, previsibilidade, suavização, value relevance, oportunidade e conservadorismo. Os resultados mostraram que as empresas com valores menos favoráveis dos atributos, isto é, com pior qualidade da informação contábil, têm maior custo de capital próprio. A qualidade das acumulações contábeis é, dentre os atributos analisados, o que mais impacta o custo de capital.

A influência da qualidade da informação contábil nos capitais de terceiros da empresa é examinada por Bharath et al (2008). A pesquisa investigou como a qualidade da informação contábil afeta a escolha da empresa em tomar recursos no mercado privado de dívidas (crédito bancário) ou no mercado público de dívidas (mercado de capitais). Os autores também examinaram como os termos contratuais das dívidas públicas e privadas variam de acordo com a qualidade da informação contábil. Os resultados mostraram que as empresas com pior qualidade da informação contábil optam pelo mercado privado de dívidas. Como os bancos têm maior capacidade do que os investidores de obter e processar informações privadas, as quais são utilizadas para definir os termos contratuais e para monitorar os tomadores ex post, há uma redução nos custos de seleção adversa para a empresa nesse mercado.

Observa-se, também, que o impacto da qualidade da informação contábil é diferenciado nos dois mercados. No mercado privado de dívidas, tanto os termos contratuais relacionados a taxas de juros, quanto os relacionados a prazo e a garantias, são mais restritivos para as empresas com pior qualidade da informação contábil. No mercado público de dívidas, apenas os termos contratuais relacionados a taxas de juros são mais restritivos para as empresas com

pior qualidade da informação contábil. Assim, o efeito da qualidade da informação contábil nas taxas de juros é mais relevante no mercado público do que no mercado privado de dívidas.