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3 MÉTODO DE PESQUISA

3.2 População, amostra e dados

Este estudo examina a relação entre um atributo da informação contábil, o conservadorismo, e o custo do crédito bancário das empresas no Brasil. Para testar a hipótese formulada, foi construída uma base de dados inédita, que consolida informações contábeis e informações de operações de crédito de responsabilidade das empresas no Sistema Financeiro Nacional (SFN).

A pesquisa busca evidências do papel da informação contábil no mercado de crédito privado, isto é, no segmento financeiro em que as empresas captam recursos para financiar suas atividades por meio de operações de crédito contratadas com os bancos. A população de interesse do estudo compreende as empresas tomadoras de crédito no mercado bancário brasileiro.

A partir dessa população, procurou-se selecionar uma amostra de empresas tomadoras de crédito bancário que não ficasse restrita às companhias abertas. Como as companhias abertas também captam fundos no mercado de ações, além do mercado de crédito bancário, suas demonstrações contábeis podem ser influenciadas mais acentuadamente pela demanda dos investidores do que dos credores, o que macularia a análise da questão de pesquisa. Para evitar esse viés, foram selecionadas empresas organizadas na forma de sociedades por ações, tanto companhias abertas quanto companhias fechadas, o que possibilitou, inclusive, controlar a influência dessa característica no custo do crédito bancário.

A seleção da amostra de empresas e a coleta das informações contábeis foram realizadas a partir do banco de dados da FIPECAFI - Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O banco da FIPECAFI contém dados das empresas que publicaram demonstrações contábeis no Diário Oficial e é utilizado

para a produção do anuário Exame - Melhores e Maiores e para subsidiar estudos acadêmicos. O banco da CVM, por sua vez, contém dados das empresas registradas como companhias abertas.

O primeiro procedimento para a construção da base foi a obtenção dos dados contábeis das sociedades anônimas não financeiras integrantes do banco da FIPECAFI, no período de 2000 a 2008. Em seguida, foram incorporados os dados das companhias abertas que não constavam do banco da FIPECAFI naquele período, mas que estavam disponíveis na CVM. O ano 2000 foi definido como data inicial para a pesquisa devido ao nível de detalhamento da base de dados da FIPECAFI ser menor nos períodos anteriores.

As empresas que não dispunham de demonstrações contábeis de ao menos cinco exercícios sociais consecutivos, entre 2000 e 2008, foram excluídas da amostra, devido à necessidade de dados com essa característica para o cálculo das medidas de conservadorismo. Dessa maneira, a amostra final utilizada na pesquisa compreende 1.300 empresas e 21.815 observações (empresas-ano).

A Tabela 1 exibe o número de empresas da amostra por setor econômico, considerando a classificação setorial adotada pela FIPECAFI. O setor com maior número de empresas é o de construção (128) e o segmento com menor número é o farmacêutico (12). Não há concentração das empresas analisadas em segmentos, pois nenhum setor representou mais do que 10% da amostra total.

Tabela 1 – Composição da amostra por setor econômico Setor Econômico Número de Empresas %

Atacado 42 3,2% Auto-indústria 43 3,3% Bens de capital 24 1,8% Bens de consumo 103 7,9% Comunicação 21 1,6% Construção 128 9,8% Diversos 107 8,2% Eletroeletrônico 48 3,7% Energia 95 7,3% Farmacêutico 12 0,9% Indústria digital 23 1,8% Mineração 14 1,1% Papel e celulose 32 2,5% Produção agropecuária 35 2,7% Química e petroquímica 105 8,1% Serviços 99 7,6% Siderurgia e metalurgia 101 7,8% Telecomunicações 37 2,8% Têxtil 76 5,8% Transporte 63 4,8% Varejo 92 7,1% Total 1.300 100,0%

Posteriormente à definição da amostra de empresas e à obtenção dos dados contábeis, foram coletados os dados das operações de crédito contratadas por essas firmas junto às instituições financeiras. Os dados das operações de crédito foram extraídos do Sistema de Informações de Crédito do Banco Central (SCR).

O SCR é um sistema de informações que contém dados das operações de crédito concedidas pelas instituições financeiras a pessoas físicas e jurídicas. O sistema foi instituído pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 1997, sob a denominação de Central de Risco de Crédito (CRC). Em 2003, o sistema foi reestruturado com a incorporação de novas informações e a ampliação do grau de detalhamento dos dados das operações.

O sistema é alimentado mensalmente pelas instituições financeiras e gerenciado pelo Banco Central. A área de supervisão do Banco Central utiliza o SCR para monitorar a qualidade das carteiras de crédito das instituições financeiras e auxiliar a detecção e a prevenção de crises bancárias. Os dados do SCR também são utilizados pelo regulador para a elaboração de

estudos sobre o mercado de crédito, auxiliando a formulação da política monetária. As instituições financeiras têm acesso a uma parte das informações dos seus clientes constantes do sistema, desde que seja expressamente autorizado por eles.

Atualmente, para os tomadores com responsabilidade total até R$ 5.000,00 na instituição financeira, os dados são informados no SCR de maneira consolidada, com pequeno nível de detalhamento. Para os tomadores com responsabilidade total igual ou superior a R$ 5.000,00 na instituição, os dados são informados de maneira individualizada por operação, com nível significativo de detalhamento. Nesse caso, constam do sistema informações como: tipo de cliente, instituição financeira credora, modalidade de crédito, valor da operação, datas de contratação e de vencimento, taxa de juros, indexador, variação cambial, origem dos recursos, classificação de risco e situação (a vencer ou vencida), entre outras.

Nesta pesquisa, foram selecionadas todas as operações de crédito contratadas pelas empresas da amostra nas instituições financeiras entre os anos de 2005 e 2009. Não foram utilizadas operações tomadas em anos anteriores, já que se tratava dos primeiros meses após a reestruturação do SCR e as instituições financeiras estavam se ajustando aos novos requerimentos de informação do sistema.

Foram consideradas na pesquisa apenas as operações de crédito concedidas pelas instituições financeiras e mantidas na sua própria carteira, portanto, as operações cedidas ou adquiridas de outros bancos foram excluídas. Esse procedimento foi motivado pelos critérios diferenciados de análise e precificação que normalmente são utilizados pelas instituições nesse tipo de operação.

As operações de crédito com dados insuficientes para o cálculo do custo do crédito bancário de cada empresa foram excluídas, como, por exemplo, operações pós-fixadas sem identificação do indexador e operações em moeda estrangeira sem identificação da moeda. Por fim, não foram consideradas as operações renegociadas e as operações recuperadas de prejuízo, assim como as fianças e os avais honrados, e as coobrigações assumidas.

A Tabela 2 exibe o número de operações que compuseram a amostra, bem como o valor total de créditos em cada ano. A quantidade de instituições financeiras credoras totalizou 150. O número de operações de crédito englobadas pela pesquisa é expressivo, superando 813 mil contratos. O valor total dos créditos analisados atingiu R$ 431 bilhões.

Tabela 2 – Composição da amostra por número e valor das operações de crédito

Ano Nº de operações % Valor (R$ mil) %

2005 181.465 22,3% 66.979.958 15,5% 2006 166.606 20,5% 76.771.061 17,8% 2007 183.467 22,5% 87.704.876 20,3% 2008 163.798 20,1% 111.954.297 25,9% 2009 118.462 14,6% 88.453.860 20,5% Total 813.798 100,0% 431.864.052 100,0%

Cabe ressaltar que os dados das operações de crédito foram extraídos do SCR de forma criptografada, sem identificação das empresas e das instituições financeiras.

Complementarmente aos dados contábeis e de operações de crédito, foram utilizados dados relacionados ao nível de governança corporativa e à emissão de American Depositary

Receipts (ADRs) pelas empresas, obtidos principalmente junto à BM&FBOVESPA S/A -

Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros e à CVM.