• Nenhum resultado encontrado

2.7 Evidências de conservadorismo no Brasil

2.7.3 Governança corporativa

Diversos estudos examinaram a relação entre a governança corporativa e o conservadorismo contábil. A hipótese geral examinada é a de que o conservadorismo é maior quando os mecanismos de governança corporativa apresentam-se melhores, o que levaria à redução da assimetria informacional e dos conflitos de agência.

Antunes e Costa (2007) examinaram se as práticas de governança corporativa afetam a qualidade da informação contábil, representada por medidas de conservadorismo condicional, de oportunidade e de relevância do lucro e do patrimônio líquido. Os pesquisadores analisaram uma amostra formada por 94 empresas que aderiram aos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA, completada com as demais empresas que não fizeram a adesão. O período de análise foi de 1999 e 2005.

Os resultados indicaram que a adesão aos níveis diferenciados de governança corporativa não afeta a qualidade da informação contábil. As empresas com níveis diferenciados de governança corporativa não apresentaram maior qualidade da informação contábil do que as demais firmas. Além disso, a qualidade não aumentou após a adesão. Em relação ao grau de conservadorismo, também não há evidências de que ele seja maior nas empresas com níveis diferenciados de governança corporativa ou de que tenha aumentado após a adesão. Os autores acreditam que esses resultados decorrem do fato de que os níveis diferenciados de

governança corporativa da BM&FBOVESPA não representam práticas efetivas de governança. Segundo os autores, a adesão aos níveis diferenciados de governança corporativa parece ser motivada, principalmente, pelo aumento da liquidez dos papéis.

Em pesquisa semelhante, Antunes et al (2010) também investigaram as diferenças na qualidade da informação contábil entre as empresas com níveis de governança corporativa diferenciados. A qualidade da informação contábil foi expressa por medidas de oportunidade, de conservadorismo condicional e de relevância do lucro e do patrimônio líquido. A pesquisa englobou o período de 1996 a 2006 e foi feita com base em uma amostra de 37 empresas, das quais 22 listadas nos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA e 15 não. Utilizando procedimentos estatísticos diferentes em relação ao estudo anterior, os autores obtiveram evidências que confirmam que a adesão aos níveis diferenciados de governança corporativa não aumenta a qualidade das informações contábeis.

Em relação ao conservadorismo, também não há indícios de que as informações contábeis das empresas com níveis diferenciados de governança corporativa sejam mais conservadoras do que as das demais firmas. Além de ratificarem as conclusões apresentadas no estudo anterior, os autores comentaram que os resultados podem ter sido influenciados pelo baixo número de adesões ao Novo Mercado no período analisado, pela elevada concentração acionária das empresas e pelo fato de o Brasil ser um país de origem jurídica na lei codificada.

Coelho e Lima (2007b) examinaram se a segmentação das companhias abertas nos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA provoca distinção no grau de conservadorismo condicional das suas demonstrações contábeis, em razão dos compromissos assumidos por essas empresas com padrões especiais de divulgação de informações. O estudo foi realizado a partir de uma amostra formada por 331 companhias abertas listadas na BM&FBOVESPA no período de 1993 a 2005.

Os resultados evidenciaram a presença do conservadorismo condicional nas demonstrações contábeis das companhias abertas. No entanto, não foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre o grau de conservadorismo das empresas listadas no segmento tradicional da BM&FBOVESPA e nos segmentos de maior nível de governança corporativa, confirmando a hipótese de pesquisa. Com base nesses resultados, os autores concluíram que a adesão das empresas aos níveis diferenciados de governança corporativa

não representa um incentivo econômico suficiente para gerar demanda significativa de qualidade nas informações contábeis.

Almeida et al (2008) estudaram se o grau de conservadorismo condicional das empresas que fazem parte dos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA é superior ao das demais firmas. Os autores analisaram uma amostra de companhias abertas (1.351 observações) no período entre 2000 e 2004. Os resultados revelaram que as demonstrações contábeis das companhias abertas analisadas são conservadoras. Além disso, observou-se que o grau de conservadorismo das empresas que aderiram aos níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBOVESPA é maior do que o das firmas que não fizeram a adesão.

Gonzaga e Costa (2009) investigaram se o grau de conservadorismo está relacionado com os conflitos entre acionistas majoritários e minoritários na definição da política de dividendos da empresa. Os autores basearam-se nas proposições de Ahmed et al (2002), que afirmam que o conservadorismo reduz os lucros e os dividendos, minimizando os conflitos de agência. Foram utilizadas duas métricas de conservadorismo: as acumulações contábeis e o índice

book-to-market, e quatro medidas para os conflitos sobre políticas de dividendos: incerteza

operacional, endividamento, dividendos distribuídos e proporção do direito a voto em relação ao direito ao fluxo de caixa do maior acionista. O estudo envolveu as companhias abertas listadas BM&FBOVESPA no período entre 1995 e 2006.

Os resultados indicaram a existência de relação entre o conservadorismo e os conflitos entre acionistas majoritários e minoritários sobre a política de dividendos, sugerindo que a contabilidade é mais conservadora nas empresas em que os conflitos são maiores. Segundo os autores, esses resultados corroboram a argumentação de que o conservadorismo possui função relevante na estrutura contratual da firma.

Lopes e Walker (2008) examinaram os determinantes da qualidade da informação contábil no Brasil, utilizando o Índice de Governança Corporativa Brasileiro (Brazilian Corporate

Governance Index - BGCI) e quatro propriedades dos números contábeis: value relevance,

oportunidade, conservadorismo e gerenciamento de resultados. O estudo analisou uma amostra de companhias abertas (1.632 empresas-ano) no período entre 1998 e 2004.

Os resultados revelaram que práticas superiores de governança corporativa têm efeito positivo sobre a qualidade da informação contábil. Além disso, a qualidade dos lucros das empresas brasileiras com boa governança é similar à das empresas em países desenvolvidos com sistemas legais de Common Law. No que tange ao conservadorismo, as evidências sugeriram que a boa governança corporativa, combinada com a listagem em bolsas de mais de um país, proporciona aumento significativo no conservadorismo condicional das empresas. Para os autores, os resultados indicam que as empresas com oportunidades de crescimento adotam voluntariamente ações para fortalecer sua governança corporativa e melhorar a qualidade informacional dos números contábeis reportados.