3. OBJETIVOS E METODOLOGIAS
4.5 Custo “produtividade” (C p )
4.5.1 Custos associados a paragem de ‘produção’ (TFT p )
A paragem de produção é aqui entendida como a paragem de atividade, a qual pode ser originada pelo facto do indivíduo ter atingido a temperatura corporal interna (TCI) ‘limite’ ou devida às condições de ambiente térmico existentes (WBGT), para as quais são
prescritos períodos de descanso. Designem-se por TFTtci e TFTwbgt os tempos fora da
tarefa, respetivamente, para cada uma dessas causas e considere-se ainda que136:
A duração dos ensaios é designada por D (vide ponto 3.2.3);
São conhecidas as condições de circulação do ar, aclimatação do voluntário e classe metabólica da atividade desenvolvida, necessárias para a seleção das temperaturas de referência (limite) do índice WBGT;
A TCI máxima corresponde ao surgimento de cãibras térmicas no indivíduo (representado pela aposição do índice ‘c’), durante o ensaio, ou, alternativamente, a um valor considerado ‘seguro’ para o ser humano: 39ºC137
.
O tempo de atividade a considerar no ensaio será aquele que estiver indexado à TCI máxima que primeiro vier a ocorrer, ou seja, Tc para o surgimento de cãibras
térmicas ou T1 se for atingida a TCI = 39ºC).
Este último aspeto pode ser concretizado através dos exemplos apresentados no diagrama da figura 4.4.
Figura 4.4 – Limites de temperatura corporal interna
Nesse diagrama exemplificam-se três situações, a que correspondem os seguintes limites para o valor da TCI:
TCI = 39ºC (linha verde). Durante o ensaio138, o indivíduo atinge a temperatura corporal interna de 39ºC, valor máximo estipulado. A atividade do ensaio é interrompida, decorrido o tempo correspondente a ser atingida essa situação (T1);
136
Tomando como exemplo a recolha de dados no contexto da câmara climática, de modo a facilitar a exposição, mas sem perda de generalidade. Eventuais adaptações às equações obtidas, para outros contextos de aplicação, serão posteriormente enunciadas.
137
Guedes e Baptista (2011) indicam que o surgimento da exaustão térmica ocorre para temperaturas
críticas variáveis, entre os 39oC e os 40oC. O valor mínimo foi adotado para minimizar esse risco nos
voluntários submetidos aos ensaios.
TCI (oC) Tempo (Hr) D 39 T1 Tc TCIc TCI2
TCI = TCIc (linha cor-de-laranja). Ao fim do tempo Tc, o voluntário sente cãibras
térmicas. A atividade do ensaio é finalizada e a TCI limite é a correspondente TCIc
registada;
TCI = ‘normal’ (linha roxa). O ensaio desenvolve-se sem que nenhum dos dois critérios anteriores seja atingido, pelo que o indivíduo cumpre a totalidade do tempo D, de duração máxima do ensaio, sem paragem.
Observados os critérios de determinação dos valores de referência para a temperatura corporal interna, os TFTtci são calculados pela diferença entre a duração esperada para o
ensaio (D) e o tempo decorrido até à interrupção da atividade (quando ocorra)139. Para o exemplo da figura 4.4, resultaria:
(Eq. 4.8)
ou, genericamente:
(Eq. 4.9)
em que t é o tempo de atividade no ensaio, que corresponde ao período decorrido entre o início do ensaio e a sua paragem.
Reforça-se a nota, já anteriormente referida, de que para o cálculo se escolhe o menor valor de duração da atividade do ensaio, isto é, o tempo correspondente à situação que primeiro ocorra (TCI = 39ºC ou TCI = TCIc).
Quanto à outra causa, relacionada com os valores de temperaturas de referência do índice WBGT (anexo 2.3), importa quantificar o designado TFTwbgt. Para o efeito, é necessário
avaliar, previamente, três fatores, de acordo com as seguintes escalas:
Circulação forçada de ar no espaço de estudo: sim / não;
Estado de aclimatação dos indivíduos do estudo: aclimatados / não aclimatados;
Classe metabólica da atividade desenvolvida: 0 (repouso)/ 1 / 2 / 3 / 4.
Para cada uma das combinações de valores possíveis para os três fatores supracitados, são definidos quatro valores de temperatura de referência WBGT, correspondentes às situações de trabalho contínuo e de três percentagens de tempo de trabalho/descanso (75%/25%, 50%/50% e 25%/75%), verificando-se que quanto maior é a ‘temperatura’ WBGT, maior será a percentagem de tempo de descanso necessária, como seria de esperar. Os valores concretos, caso a caso, são apresentados no anexo 2.3.
O procedimento a adotar pode ser sintetizado no seguinte exemplo, tomando como ponto de partida os valores constantes no quadro 4.1, que concretizam um possível grupo de
138
Tempo de ensaio inferior a D.
139 Note-se que para a situação representada a roxo, na figura 4.4, o TFT
estados/valores dos três fatores em consideração (ventilação sensível, estado de aclimatação e nível de atividade metabólica).140
Quadro 4.1 – Exemplo de valores para determinação da temperatura de referência WBGT
Fator Estado/Valor
Circulação de ar sensível Não
Indivíduos aclimatados Sim
Classe metabólica da tarefa 3
Para esta combinação de estados e valores dos fatores, as correspondentes temperaturas de referência WBGT, obtidas no diagrama do anexo 2.3141, são:
Quadro 4.2 – Temperaturas de referência WBGT, para o exemplo
Nível de atividade Tref
Trabalho contínuo 25
75% Trabalho + 25% Descanso 27
50% Trabalho + 50% Descanso 29
25% Trabalho + 75% Descanso 31
Conhecidas as temperaturas de referência, procede-se à comparação destas com o valor do índice WBGT medido (real), de onde resulta uma das seguintes possibilidades:
WBGT é menor que a Tref correspondente ao trabalho contínuo (Tref = 25ºC, no
exemplo). Neste caso, não existirá necessidade de paragem, ou seja, TFTwbgt = 0;
WBGT é superior ao maior valor de Tref (no exemplo, 31ºC). Para esta situação o trabalho é interdito, a que corresponde o valor máximo para o tempo fora da tarefa, isto é, TFTwbgt = D (ausência de atividade, produtividade nula);
WBGT medido está dentro do intervalo limitado pelos valores mínimo e máximo das temperaturas de referência. Neste caso, seleciona-se o nível de atividade que corresponde à Tref de valor superior ao medido e que lhe seja mais próximo. Por
exemplo, se o valor medido para o índice WBGT for 28ºC, a Tref a considerar é
29ºC, a que corresponde uma percentagem de descanso de 50%.
O TFTwbgt pode então determinar-se pelo produto do valor da percentagem do tempo de
descanso pela duração prevista para o ensaio (D), resultando na expressão:
140
A opção de escolha dos valores expressos no quadro 4.1 - como base para o exemplo a expor - teve como finalidade aproximar o exemplo das condições reais de trabalho no contexto mineiro.
(Eq. 4.10)
O tempo fora da tarefa para a ‘produtividade’ (TFTp) é o maior - ou seja, o mais restritivo
que primeiro se atinge - de entre os dois obtidos pelas expressões 4.9 e 4.10, o que se pode traduzir pela equação 4.11:
(Eq. 4.11)
Determinado o tempo fora da tarefa (TFTp), para a componente ‘produtividade’ associada
a paragens de atividade, o custo correspondente pode ser calculado de forma análoga à indicada para a parcela relativa aos aspetos de segurança (TFTs) (ver eq. 4.7). Assim,
utilizando os mesmos pressupostos, o custo é dado por:
(Eq. 4.12)
A produtividade (%) associada à paragem de atividade resulta da utilização do valor TFTp
(eq. 4.11) na equação 3.9, ou seja:
(Eq. 4.13)
o que nos permite conhecer o valor da produtividade relativa (%) ou o seu decréscimo, por diferença, face à situação ‘normal’, de partida (TFTp = 0, P = 100%)142.