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1. INTRODUÇÃO

1.3 Justificação da tese

2.2.3 Outros aspetos ambientais

Em termos ambientais, o aspeto central a considerar no presente trabalho é a análise do ambiente térmico68 nos espaços subterrâneos (onde se exerce a atividade mineira) e a sua relação com as questões de produtividade e segurança ocupacionais.

No entanto, uma qualquer aplicação prática sobre o assunto terá também de considerar outros aspetos complementares, igualmente relevantes para a atividade dos trabalhadores. De entre eles destaca-se, neste ponto, a contaminação do ar no interior das minas, referida por Grenier e Hardcastle (1990) como “incontornável”. Face à sua importância, são aqui desenvolvidas algumas considerações e apresentado o modo como esse assunto será, posteriormente, integrado no trabalho, na situação de recolha de dados no ambiente mineiro real69.

Como ponto de partida, refira-se que a degradação da qualidade do ar no interior de minas provém de diversas fontes:

 Tipo e processos de exploração:

Em minas de carvão, podem referir-se os resultados experimentais publicados por Su et al. (2008), onde analisam a concentração de metano e suas variantes, as cargas de pó, o tamanho das partículas, a matéria mineral do pó e outros compostos existentes nos fluxos de ar de ventilação e, também, as considerações sobre os efeitos desse tipo de poeiras na saúde dos trabalhadores (Toraño, et al. 2011). Num outro estudo de caso, desenvolvido por Ogola, Mitullah e Omulo (2002) e aplicado às minas de ouro Migori, no Quénia, foram verificados níveis de Hg, Pb e As superiores ao permitido. No mesmo tipo de minas (ouro) e no plano microbiológico, Pohl et al. (2007) identificaram a presença de esporos de fungos, em maior concentração nas zonas com um número de pessoas superior e junto a ventiladores de extração.

Estes exemplos permitem perceber que tipos de explorações diferentes colocam riscos de contaminação distintos, quer quanto ao tipo, dimensão e explosividade das partículas em suspensão, quer quanto ao tipo e concentração de gases em presença.

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Problemática amplamente tratada no ponto precedente (2.2.2.).

 Equipamentos:

Conforme refere Rawlins (2006), a qualidade do ar no interior de uma mina é “afetada pelos equipamentos diesel utilizados, os quais aumentam a carga poluente e térmica”. A situação será tão mais nefasta, quanto maior for a quantidade e potência desse tipo de equipamentos, em operação no interior da mina. Este aspeto é ponderado por Von Glehn e Bluhm (2000), na análise das características necessárias do sistema de ventilação, nas zonas de progressão da rampa e exploração da mina, onde existem muitas máquinas, rocha partida, poeiras e que estão longe da tomada de ar fresco exterior. Para controlo da contaminação de partículas e gases emitidos pelos motores diesel, utilizados no interior de minas, Miller, Habjan e Park (2007) referem um equipamento prático, simples e portátil para estimar a concentração mássica de carbono elementar à saída do tubo de escape, utilizando fotometria de leitura direta. Em ambas as situações existe produção contínua de contaminantes atmosféricos durante o processo produtivo, os quais terão de ser controlados, reduzidos e/ou eliminados.

Considerando que a contaminação do ar não é um dos objetos centrais de estudo do presente trabalho, esse aspeto será encarado como um requisito prévio a satisfazer, face à regulamentação e normalização existentes sobre o assunto. Saliente-se que, analogamente ao referido anteriormente para os índices de conforto e stresse térmicos, também nesta área será útil utilizar os padrões existentes, de modo a que a aplicação prática esteja em consonância com as regras estabelecidas para o setor.

Nesse sentido, é de referir que existe legislação nacional específica para o setor mineiro, nomeadamente o Decreto-Lei nº 162/9070, que estipula valores limite para a velocidade e caudal de ar, quantidade de oxigénio, temperaturas e concentração de poeiras e de gases nocivos. No que concerne aos valores limite de exposição (VLE) para estes últimos, aquela legislação remete para o cumprimento dos valores propostos na norma NP 1796: 200771 sobre essa matéria.

No Decreto-Lei nº 162/90 são também indicados os parâmetros ambientais a medir e a comparar com os valores limite preconizados, de acordo com a tipologia típica das explorações existentes no território nacional.

Os tipos de contaminantes que constam no aludido documento legal são, nomeadamente72:

 Gases: O2, CO2, CO, SO2, NO, N2O, hidrocarbonetos totais;

 Poeiras: Teor de sílica.

Se os valores medidos para cada tipo de contaminante forem excessivos e não existindo a possibilidade de atuar nas respetivas fontes, haverá lugar a intervenções corretivas ou de proteção, baseadas em diferentes soluções técnicas, como apontam os seguintes estudos:

 ‘Lavagem’ do ar e diluição da concentração de contaminantes:

Proposta de instalação de ventiladores com maior capacidade, na ampliação, em profundidade, de uma mina de calcário brasileira, devido a problemas de poeiras,

70

Regulamento Geral de Segurança e Higiene no Trabalho nas Minas e Pedreiras.

71

“Segurança e Saúde do Trabalho - Valores limite de exposição profissional a agentes químicos”.

quantidade ar fresco e ambiente térmico (Eston, Iramina, et al. 2000); ou a descrição dos critérios normais de projeto, realizada em Howes (2005), para avaliar a ventilação e refrigeração quanto aos requisitos, em termos de velocidade do ar, poeiras, gases, diluição de gases de escape de motores diesel e stresse térmico, de acordo com os limites legais e código de boas práticas; ou ainda, a integração dos parâmetros de contaminação ambiental (gases e poeiras), entre outros, nas ferramentas “inteligentes” (IITMRULE73

e ES-VENT74) utilizadas para a resolução dos problemas de ventilação em minas indianas (Bandyopadhyay e Sinha 2002);

 Medidas de proteção:

Indicação da necessidade de utilizar equipamentos de proteção individual (EPI), em minas de ouro quenianas, onde se verificaram concentrações de metais acima do permitido, com efeitos nefastos na saúde (Ogola, Mitullah e Omulo 2002); ou a utilização de aparelhos de respiração autónoma (ARA), em equipas de emergência (Varley 2004).

Nestes estudos são focados os dois principais grupos de medidas de atuação para controlo ou minimização dos efeitos da contaminação ambiental. Este assunto será revisitado em capítulos seguintes.