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Alfa de Cronbach

DA AGÊNCIA FOLHA, EM UIRAMUTÃ

Os índios ligados à Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima) que mantêm quatro policiais federais reféns na comunidade Flechal, desde a última sexta- feira, decidiram radicalizar. Eles condicionam a libertação dos policiais à revogação, pelo governo federal, da portaria que homologou a reserva Raposa/Serra do Sol em área contínua.

Os índios querem a homologação em ilhas, deixando de fora da reserva áreas urbanas e propriedades rurais e comunidades de não-índios, especialmente de produtores de arroz. Antes, eles condicionavam a libertação dos reféns à visita do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na área. Ontem, os tuxauas (líderes) que receberam a reportagem da Folha mudaram o discurso.

"A liberação vai acontecer só com a revogação da portaria. Não aceitamos ser isolados. O índio quer se desenvolver, melhorar de vida, e o governo quer a gente isolado. Isso não vamos aceitar", disse o tuxaua Jonas Marcolino, líder da maloca Contão. Estudante de direito, Marcolino disse que os índios querem as escolas nas comunidades _mantidas hoje pelo governo estadual_ e não "voltar à idade da pedra lascada".

O líder da maloca Nova Vida, tuxaua Amazonas, quer mais. Além de exigir a revogação da portaria, ele defende "um movimento nacional para o impeachment de Lula, que não defende os interesses nacionais, mas governa sob pressão internacional".

O líder da comunidade Flechal, tuxaua Altevir de Souza, candidato derrotado a vereador pelo PT nas últimas eleições em Uiramutã, não permitiu que a Folha entrevistasse os policiais federais mantidos reféns. Segundo ele, os policiais estavam bem e "fora da comunidade, se refrescando".

Os quatro reféns, no entanto, foram mantidos em uma casa, próximo à uma cozinha comunitária, durante praticamente todo o tempo em que a reportagem da Folha esteve no local.

Os índios fizeram um acordo com o delegado Alexander Biegas e os três agentes para que eles mantivessem suas armas. Eles, porém, não podem caminhar armados pela aldeia. O avião que levou a imprensa até a comunidade Flechal foi recepcionado por um grupo de cerca de 60 guerreiros, armados de flechas e pintados, comandados pelo tuxaua Abel Barbosa. Na comunidade vivem 750 macuxis.

Depois das entrevistas, os jornalistas foram levados à cozinha comunitária e convidados "a merendar" por Altevir de Souza. O tuxaua fez questão que se experimentasse o pajuaru _uma bebida fermentada à base de mandioca, de sabor agridoce. É costume macuxi beber o pajuaru antes e depois das refeições.

Somente depois que os convidados e as lideranças almoçaram, um macuxi anunciou, gritando na sua língua materna, o horário do almoço. Em menos de cinco minutos uma multidão de crianças, mulheres e homens formaram fila em torno da cozinha comunitária.

183 Quarta-feira, 27/04/2005

Editoria: BRASIL Página: A6 DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Funai, Mércio Pereira, disse que os índios da reserva Raposa/ Serra do Sol, em Roraima, que são contrários à demarcação da área representam "uma minoria barulhenta" e conclamou os outros índios a convencê-los de que a medida não os prejudicará.

Pereira estava no encontro de autoridades do governo federal com cerca de 500 representantes de povos indígenas. Segundo ele, essa minoria equivale a 20% dos 15 mil índios da região.

Rolf Hackbart, presidente do Incra, disse que a União negocia com o Estado de Roraima disponibilizar 150 mil hectares de terras que ficam fora da reserva para compensar supostos prejuízos econômicos com a demarcação. Hoje os índios pretendem se reunir com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Severino Cavalcanti (PL-PE).

Professores na reserva denunciam ameaças Quarta-feira, 27/04/2005

Editoria: BRASIL Página: A6 SILVIO NAVARRO

DA AGÊNCIA FOLHA

Dois professores que trabalham em escolas localizadas dentro da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima, denunciaram ontem ao Ministério Público Federal que vêm sofrendo sucessivas ameaças de morte desde a homologação da área.

A demarcação da terra indígena abrange uma área de cerca de 1,7 milhão de hectares e abriga 15 mil índios de cinco etnias.

Conforme depoimento do coordenador do Centro de Formação Macuxi, Telmo Ribeiro Paulino, 32, dado ontem à Procuradoria da República em Roraima, as ameaças foram feitas de um telefone público, "por uma voz masculina". Ele disse desconhecer o autor. Num dos telefonemas, segundo o professor, uma pessoa disse que "sabia" que ele estava na cidade e que, "com sua amiga", seriam "pegos a qualquer momento". Disse ainda que, se não conseguissem, pegariam suas famílias.

A amiga citada no depoimento é a coordenadora da Organização dos Professores Indígenas de Roraima, Pierlângela Nascimento da Cunha, 29, que também levou o caso ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal.

Os dois professores prestaram novo depoimento na tarde de ontem à PF, que apura o caso. Por recomendação do Ministério Público e da polícia, não voltarão às escolas durante as investigações.

Como algumas das chamadas foram feitas para seu telefone celular, Paulino conseguiu rastrear o telefone público na reserva.

Paulino e Pierlângela da Cunha atuam como uma espécie de supervisores das 60 escolas existentes nos limites da Raposa/Serra do Sol. A professora também leciona para crianças indígenas. Ambos são referências na região sobre direito indígena e eram defensores da homologação da reserva contínua no Estado.

184 "Batalhamos muito pela questão da Raposa. Isso dá uma certa visibilidade", disse ela. "É só eu chegar em casa que o telefone começa a tocar. Tive até de mudar de rotina", completou.

De acordo com Paulino, a "ameaça mais pesada" foi feita no dia 21 de abril, citando seus familiares. À Procuradoria, ele disse temer pela vida de sua filha de 11 anos. O medo é compartilhado pela professora, que tem um filho da mesma idade.

Na semana passada, outro professor, Fabio Almeida de Carvalho, que coordenava o Núcleo Insiquiran de Formação Superior Indígena _um tipo de faculdade_, já havia denunciado que vinha sofrendo ameaças similares.

Em seguida, ele foi atacado com uma bomba caseira, atirada contra o seu carro de madrugada. Desde então, deixou o Estado.

O CIR (Conselho Indígena de Roraima) divulgou nota na qual afirma "condenar veementemente essas agressões covardes contra a integridade física e psicológica que afeta famílias inteiras".

"Ressaltamos que estas ameaças não intimidam a quem tem convicção que atua na defesa legítima e legal de seus direitos ancestrais", diz o texto da entidade.

PROTESTOS CONTRA A HOMOLOGAÇÃO