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Alfa de Cronbach

PAULO CÉSAR JUSTO QUARTIERO ESPECIAL PARA A FOLHA

As populações que moram na fronteira do Brasil com a Venezuela e com a Guiana estão preocupadas com a integridade do território latino-americano após as recentes demarcações de terras indígenas na região determinadas pelo governo federal. A preocupação é resultado especialmente do fato de que as demarcações de terras, em miríficas extensões, atendem a pressões externas exercidas pelas ONGs estrangeiras que atuam na região _e que financiam os movimentos indígenas que cobram essas demarcações.

Os indígenas que hoje são manipulados não têm consciência de que no futuro serão os maiores prejudicados. O caso mais grave ocorrido recentemente foi a homologação pelo presidente Lula da terra indígena Raposa/Serra do Sol, com uma superfície de 1.743.089 hectares. A medida vai extinguir vilas centenárias, resultando na imediata retirada de milhares de pessoas de suas casas e na destruição de áreas urbanas e terras agrícolas cultivadas. Com isso, vai eliminar completamente de uma região de fronteira a presença

198 brasileira, pois o decreto presidencial proíbe o ingresso de não-índios dentro do perímetro da reserva.

Essa medida compromete o processo de integração latino-americana, sonho acalentado por Simon Bolívar, e torna vulneráveis não só as nossas fronteiras como também o território latino-americano, pois com tal enclave o território passa a ser permeável a investidas estrangeiras _hoje, através das ONGs que ali atuam livremente, para depois ser penetrado por organizações belicosas.

O Brasil está sendo vítima das mesmas estratégias usadas no passado contra o México, quando lhe foi retirado grande parte do seu território.

O que mais assusta os residentes da região é que a motivação usada para a demarcação das terras indígenas da Raposa/Serra do Sol é um laudo antropológico falsificado _como foi atestado por prova pericial feita a pedido da Justiça Federal_ e que, mesmo assim, o presidente da República se valeu desse laudo para determinar a homologação das terras, numa verdadeira demonstração de comprometimento externo.

A demarcação, além das conseqüências que representa em relação à segurança nacional, reduz a menos de 10% as terras disponíveis à produção primária no Estado de Roraima. Se persistir esse tratamento que recebem do governo central, municípios como Pacaraima, Uiramutã e Normandia dificilmente sobreviverão, como também não sobreviverá o Estado de Roraima.

A preocupação também toma conta das cidades vizinhas do Brasil, especialmente no interior da Venezuela. Os venezuelanos temem que, em razão das relações estremecidas entre seu país e os Estados Unidos, possa haver a instalação de bases norte-americanas na Amazônia, exatamente no interior das terras que foram demarcadas _uma vez que a área de sua superfície supera a extensão de vários países.

Os empresários da região estão convictos de que as providências do governo central, de esterilizar terras na região Norte, impedirá que o Brasil cumpra a sua vocação de se constituir líder mundial em produção de grãos.

Paulo César Justo Quartiero, 52, do PDT, é prefeito de Pacaraima

Índios fazem 4 policiais reféns em Roraima Sábado, 23/04/2005

Editoria: BRASIL Página: A13

Macuxis protestam contra demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol; PF não confirmou ação dos indígenas

Índios fazem 4 policiais reféns em Roraima SILVIO NAVARRO

DA AGÊNCIA FOLHA

Um grupo de índios da etnia macuxi fez ontem quatro agentes da Polícia Rodoviária Federal reféns numa região conhecida como Maloca do Flechal, em Roraima, na fronteira com a Guiana.

Segundo o governador Ottomar Pinto (PTB), a prisão dos quatro policiais foi uma retaliação dos índios contrários à homologação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, no norte do Estado.

199 O decreto de homologação foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 15, depois de mais de 20 anos de impasse jurídico. Desde então, Roraima é palco de sucessivos protestos de produtores de arroz e de índios contrários à decisão. A área demarcada terá cerca de 1,75 milhão de hectares _equivalente a 11 vezes o tamanho da cidade de São Paulo_, a segunda maior reserva do país.

Deverá abrigar aproximadamente 15 mil índios dos povos ingaricó, macuxi, taurepangue, patamona e uapixana.

A prisão dos policiais também foi confirmada pelo deputado federal Rodolfo Pereira (PDT-RR), que está em Boa Vista para mediar os conflitos. Ele não soube informar, no entanto, quantos índios formavam o grupo que prendeu os policiais.

"Fonia"

A única forma de contato com a área de Maloca do Flechal, onde vivem os macuxis, é por meio de rádio amador com um posto da Funai (Fundação Nacional do Índio), processo conhecido como "fonia". O sistema, entretanto, só funciona até as 17h de Boa Vista (18h de Brasília).

A Superintendência da Polícia Federal não confirmava a informação até o fechamento desta edição, argumentando não ter conseguido contato com o posto. Afirmava apenas não existir postos de fiscalização da PF naquela região e que os agentes, se confirmada a prisão, fariam parte do efetivo deslocado de outros Estados para patrulhar a área.

De acordo com o deputado Rodolfo Pereira, que afirmou ter feito contato por "fonia" com o tuxaua (líder indígena) Lauro Barbosa, os índios se revoltaram quando os policiais montaram uma barreira de fiscalização na entrada da aldeia.

Os policiais, ainda segundo o deputado federal, teriam impedido a passagem de carros com excesso de passageiros, temendo a organização de manifestação no município de Uiramutã (334 km de Boa Vista), vizinho à Maloca do Flechal.

O deputado federal disse ainda que, para libertar os agentes, os macuxis exigiram a presença da imprensa nacional para que pudessem se manifestar contra a homologação da reserva.

Os macuxis formam a maior etnia do Estado, com cerca de 16,5 mil índios. Na região do Flechal, são produtores de feijão.

"Upatakon"

Os agentes reféns seriam integrantes da força-tarefa formada por 40 homens da Polícia Rodoviária Federal e 60 da Polícia Federal, procedentes de outros Estados, deslocados para Roraima no último domingo para assegurar o cumprimento da demarcação da terra indígena.

A operação foi batizada de "Upatakon", que significa "nossa terra" no dialeto dos macuxis. O deslocamento dos policiais para a região da Raposa/Serra do Sol também é feito por meio de helicópteros do Exército.

O efetivo é formado por homens enviados de cinco Estados: Ceará, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Maranhão e Bahia.

PT planeja reagir contra campanha Sábado, 23/04/2005

Autor: SILVIO NAVARRO Editoria: BRASIL Página: A13

200 DA AGÊNCIA FOLHA

A pedido da direção nacional do partido, o PT de Roraima vai iniciar uma campanha no Estado para tentar amenizar o impacto negativo da homologação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol na imagem do governo Lula.

A demarcação da reserva tem sido duramente combatida e vinculada à imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em campanhas nas rádios do Estado e em sucessivas manifestações de produtores de arroz, em Boa Vista.

A preocupação do PT é que os ataques ao presidente se alastrem por outros Estados da Amazônia.

A orientação é que as lideranças regionais trabalhem para massificar o anúncio de que o governo investirá R$ 42 milhões para acelerar programas de reforma agrária como forma de compensar a demarcação da terra indígena.

A estratégia foi elaborada em reunião dos diretórios regionais na noite de anteontem e será debatida neste fim de semana no Fórum PT Amazonas, com lideranças da sigla, no Tocantins.

"Isso é uma decisão de governo, o presidente Lula tem todo o interesse e exigiu que as contrapartidas tinham de começar de imediato", disse o presidente estadual do PT, deputado estadual Antonio Francisco Marques.

O secretário de Comunicação do PT em Roraima, Pablo Sérgio, disse que o trabalho de base visa a "levar o pacote das realizações do governo federal no Estado" e que "há campanha descarada para difamar o presidente Lula".

Ontem, o Incra anunciou que "a estimativa preliminar" é assentar 600 famílias não indígenas que vivem na região da reserva. A meta para o fim do ano são 2.800 famílias. O órgão diz que, no total, regulamentará 10 mil propriedades com até cem hectares, numa área de 1 milhão de ha. O Orçamento para o Estado é de R$ 42 milhões.

Segundo o superintendente do Incra em Roraima, João Batista Ferreira, a ordem é para o órgão agilizar a regularização dos processos fundiários pendentes no Estado num prazo de oito meses e rever a situação dos terrenos maiores sem titulação.

Ferreira disse ainda que a equipe de técnicos que atua na região da Raposa/Serra do Sol será dobrada. Para isso, solicitou R$ 1,6 milhão para custear as despesas.

Além da questão agrária, a Funasa também anunciou a liberação de verbas para Roraima: repasse de R$ 4,1 milhões para saneamento nos municípios com menos de 30 mil habitantes. Também prometeu a ampliação do quadro de servidores.

O governador Ottomar Pinto (PTB), que move ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a medida, informou que deverá se reunir na terça-feira com o ministro José Dirceu (Casa Civil) em Brasília.

(SN)

Rádio faz campanha contra demarcação Sexta-feira, 22/04/2005

Editoria: BRASIL Página: A9

Emissora incita população a reagir contra homologação de terras; índios vêem motivação eleitoral dos donos

SILVIO NAVARRO DA AGÊNCIA FOLHA