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Da competência para apreciação do requerimento de suspensão

2. ASPECTOS GERAIS ENVOLVENDO O PEDIDO DE SUSPENSÃO DE

2.3. Da competência para apreciação do requerimento de suspensão

A competência para análise do pedido de suspensão em tela configura-se como hierárquica originária, vez que o mesmo é endereçado à presidência do tribunal a que compete análise do recurso que possa ser interposto da decisão objeto de impugnação50.

Assim, da decisão concessiva de provimento liminar, antecipatório, ou final de mérito, que tenha sido proferida por juiz estadual, o atinente pedido de suspensão deve ser provocado ao presidente do respectivo Tribunal de Justiça, do mesmo modo que deve ser ajuizado perante o presidente do respectivo Tribunal Regional Federal o pedido de suspensão referente à decisão prolatada por juiz federal, haja vista a hierarquia inerente ao Poder Judiciário, a qual determina o respeito dos magistrados aos tribunais aos quais se sujeitam. Vale lembrar, enfim, que nas situações em que haja exercício de jurisdição federal por juiz de direito51, o requerimento da suspensão deverá ser dirigido ao presidente do Tribunal Regional Federal que encerre aquela região geográfica.

49 STF. SS nº 2056/SP. Min. Rel. Marco Aurélio. Data Julgamento 16/12/2001. DJ 04/12/2002, p. 00152. 50 VIANA, Juvêncio Vasconcelos. Efetividade do Processo em face da Fazenda Pública. São Paulo: Dialética, 2003, p. 240.

51 Constituição federal, artigo 109, “§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.”

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Além disso, para que a União ou outro ente federal requeira a suspensão da eficácia de decisões exaradas por juiz estadual, tendo em vista abalos a interesses dos mesmos provocados pelo provimento judicial impugnado, imprescindível é a verificação da existência de interesse jurídico na causa pela Justiça Federal52, ou,

ainda, interesse econômico, o qual pode até mesmo ser reflexo ou indireto, nos casos de intervenção anômala53.

Nessa situação, a União ou outro ente público federal ajuizará pedido de suspensão perante o presidente do devido TRF, o qual poderá opor-se ao pedido, mantendo a competência da Justiça Estadual para o processamento do feito, não incidindo o deslocamento de competência da causa originária para a Justiça Federal e, tampouco, a sustação da eficácia do provimento judicial de urgência. Caso entenda o presidente do TRF que há interesse da União ou do ente federal na demanda e seja deferida a suspensão requestada, o juiz estadual deverá reconhecer sua incompetência absoluta e remeter os autos à Justiça Federal. No entanto, se o juiz estadual se recusar a efetuar tal ato, deverá ser instaurado conflito positivo de competência ante o Superior Tribunal de Justiça para fixar a competência no caso concreto.

Ademais, impende destacar a vedação existente no art. 463 do CPC54 que recai quando a União ou outro ente federal almeja o aforamento do incidente de suspensão contra sentença proferida por juiz estadual, o qual não pode inovar no processo em razão de ter cumprido seu ofício jurisdicional. Desse modo, somente o Tribunal de Justiça, no julgamento da remessa necessária ou da apelação, poderá anular o pronunciamento (liminar ou sentença), e determinar a remessa dos autos à Justiça Federal da respectiva seção judiciária55. Caso o Tribunal entenda de modo

52 Súmula 150 do STJ: “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias e empresas públicas”.

53 O art. 5º, da Lei 9469/97, dispõe: "Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais. Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes."

54 Código de Processo Civil, “Art. 463. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: I - para Ihe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou Ihe retificar erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração.”

55 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Suspensão de Segurança: sustação da eficácia de decisão judicial proferida contra o Poder Público. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 143

diverso, o Superior Tribunal de Justiça deverá decidir o conflito positivo de competência56, dessa forma originado.

Por sua vez, nas decisões prolatadas em competência originária por membros de tribunais, o pedido de suspensão deverá ser direcionado para o Supremo Tribunal Federal ou para o Superior Tribunal de Justiça, dependendo da matéria que restou prequestionada na decisão que se busca sustar.

Destarte, se a matéria apresentar fundamento constitucional, será encaminhado o pedido de suspensão para o STF, ou, se infraconstitucional, para o STJ, sendo premente destacar que a matéria constitucional absorve esta última, quando há duplo fundamento do pedido, prevalecendo a competência do STF. Sobre essa tese, já analisou a jurisprudência do STF, mormente em Reclamações aforadas com o intuito de resguardar a competência dos órgãos de cúpula:

RECLAMAÇÃO. PRESERVAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO STF. ART. 156 RI/STF. SUSPENSÃO PELO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADUAL DE LIMINAR CONCEDIDA POR DESEMBARGADOR- RELATOR EM MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINARIO. PROCEDIMENTO NÃO PREVISTO EM LEI. IMPOSSIBILIDADE. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. INSTRUMENTO APROPRIADO EXPRESSAMENTE PREVISTO EM LEI: ART. 4. DA LEI 4.348/64, ART. 25 DA LEI 8.038/90 E ART. 297 DO RI/STF. COMPETÊNCIA PERANTE AS

CORTES SUPERIORES. PRESIDENTE DO TRIBUNAL AO QUAL COUBER O CONHECIMENTO DO RESPECTIVO FUNDAMENTO, ART. 4. DA LEI 4.348/64. SE A CAUSA TIVER POR FUNDAMENTO MATÉRIA CONSTITUCIONAL COMPETE AO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, SE O FUNDAMENTO FOR DE ORDEM INFRACONSTITUCIONAL A COMPETÊNCIA E DO PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, ART. 25 DA LEI 8.038/90.

PRECEDENCIA DO PEDIDO, POR INVASAO DE JURISDIÇÃO, COM A CONSEQUENTE CASSAÇÃO DO DESPACHO DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, QUE SUSPENDEU A EXECUÇÃO DA LIMINAR DEFERIDA PELO RELATOR DO MANDADO DE SEGURANÇA, E AVOCAÇÃO DO PROCEDIMENTO, NO QUAL FOI FORMULADO O PEDIDO DE SUSPENSÃO, PARA QUE SEJA SUBMETIDO AO CONHECIMENTO DO PRESIDENTE DO STF.57

EMENTA: Suspensão de segurança: descabimento: liminar em mandado de segurança de competência originaria de tribunal superior, que não envolve questão constitucional. A suspensão de segurança, obstando a eficacia

imediata da liminar ou da sentença concessiva, visa a impedir que a execução provisoria gere lesões a ordem, a saúde, a segurança ou a economia pública, que o eventual provimento do recurso da entidade estatal ja não poderia reparar. Dai resulta que o recurso a ter em conta

56 Código de Processo Civil, “Art. 115. Há conflito de competência: I - quando dois ou mais juízes se declaram competentes; II - quando dois ou mais juízes se consideram incompetentes; III - quando entre dois ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos.”

57STF. Pleno. Reclamação nº 443/PI. Min. Rel. Paulo Brossard. Data julgamento 08/09/1993. DJ 08/10/1993. p. 21011. Grifo nosso.

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na determinação da competência para a suspensão de segurança e aquele de que possa decorrer a reforma da decisão que a conceda, não a daquele que a tenha deferido. Portanto, carece o Presidente do STF do poder de suspender a execução de liminar, quando deferida por juiz de Tribunal Superior, em mandado de segurança cuja impetração não suscita questão constitucional, de tal modo que, até segunda ordem, se há de presumir que de sua concessão não cabera recurso extraordinário.58

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. INTERPRETAÇÃO DE MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA APRECIAR O PEDIDO DE SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. SÚMULA 339-STF. NÃO-APLICAÇÃO. 1. Norma

infraconstitucional. Suspensão de segurança. Competência. É pacífico nesta Corte o entendimento de que compete ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça apreciar pedido de suspensão de segurança quando a decisão proferida estiver fundamentada em normas infraconstitucionais. 2. Súmula 339-STF. Não-aplicação. O pedido

deduzido em primeira instância objetiva apenas a manutenção do pagamento da gratificação já percebida pelos impetrantes e não propriamente o aumento de suas remunerações. Agravo regimental a que se nega provimento.59

O advento de provimento judicial com efeito substitutivo60 em relação à decisão atacada pelo pedido de suspensão, decorrente da apreciação de agravo de instrumento ou de apelação manejados em face da mesma, confirmando ou não os termos da decisão impugnada, dará ensejo ajuizamento do incidente suspensivo não mais contra a decisão de primeiro grau. Isto porque o presidente de tribunal local ou regional não pode suspender decisão de seu próprio tribunal, então o ajuizamento se dará perante o Supremo Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça, a depender da matéria, respectivamente, constitucional ou infraconstitucional. Ressalte-se que é possível o uso concomitante do pedido de suspensão e do recurso de apelação ou agravo de instrumento, quando o mesmo órgão julgará as duas medidas.

Nada obstante, se o recurso interposto (apelação ou agravo de instrumento) não for conhecido, a competência continuará pertencendo ao Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal que compreende a respectiva região geográfica.

58 STF. Pleno. Reclamação nº 543/RJ. Min. Rel. Sepúlveda Pertence. Data Julgamento 24/08/95. DJ 29/09/1995, p. 31901. Grifo nosso.

59 STF. Pleno. Agravo Regimental na Suspensão de Segurança nº. 2286/PE. Min. Rel. Maurício Correa. Data julgamento 04/03/2004. DJ data 16/04/2004, p. 00053. Grifo nosso.

60 Código de Processo Civil, “Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.”

Além do mais, se porventura a competência dos Tribunais Superiores for “invadida” por tribunais estaduais ou regionais, caberá reclamação direcionada ao STJ ou STF, com intuito de preservar a competência daqueles.

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