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Da ultra-atividade da decisão que concede o pedido de suspensão

3. DO PROCESSAMENTO DO PEDIDO DE SUSPENSÃO

3.4. Da ultra-atividade da decisão que concede o pedido de suspensão

Através da chamada ultra-atividade da decisão que suspende a eficácia dos provimentos judiciais exarados contra a Fazenda Pública, permite-se que os efeitos

86 CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 5. ed., São Paulo: Dialética, 2007. P. 453. 87 STF. Suspensão de segurança nº 1902/CE. Min. Rel. Marco Aurélio. Data Julgamento 04/11/2002. DJ 18/11/2002, p. 00012.

de tal deliberação do presidente do tribunal competente sejam prorrogados até a decisão de mérito na demanda principal, de forma que, se posteriormente for proferida decisão confirmatória da liminar ou sentença, a sustação concedida não seria prejudicada.

A Lei nº. 8.437, disciplinadora da possibilidade do sobrestamento de sentença em ações civis públicas, ações cautelares e ações populares, prevê em seu §artigo 4º, §9º, a manutenção da eficácia da suspensão até o trânsito em julgado da decisão, contudo, à primeira vista, esta regra não se aplicaria ao procedimento da suspensão em mandado de segurança em conseqüência do artigo 4º, §2º89, da Lei nº. 4.348/64, acrescido pela Medida Provisória 2.180-35, de 2001.

Em que pese a falta de previsão legal, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula 626, entendendo que seria aplicável a mencionada ultra-atividade ao mandado de segurança, em decorrência de precedentes que aceitavam a aplicação do art. 297, §3º90, do Regimento Interno do STF nesses casos. A Súmula 626 do STF expõe o seguinte:

“A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva da concessão de segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribunal federal, desde que o objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da impetração.”

É bem da verdade que o STF interpretou extensivamente §9º do art. 4º da Lei nº. 8.437/92, ao estender a ultra-atividade para as suspensões concedidas em mandado de segurança. À evidência, urge reconhecer que, para a aplicação desse mecanismo, é necessário que o fundamento da sentença coincida com o da liminar, valendo ressaltar que se a sentença for proferida com outro embasamento, se distanciando daquele que justificou o deferimento da liminar, não será aplicada a polêmica regra.

Além disso, o Poder Público deverá manejar as espécies recursais cabíveis, para evitar que a demanda principal transite em julgado e, de tal modo, manter a

89 Lei 4.348/64, “Art. 4º, §2º - Aplicam-se à suspensão de segurança de que trata esta Lei, as disposições dos §§ 5o a 8o do art. 4o da Lei no 8.437, de 30 de junho de 1992.”

90Precedente nesse sentido: STF. Pleno. Suspensão de segurança nº. 303 AgR/DF, Rel. Min. Néri da Silveira, Data julgamento 11/03/1991, DJ 26/04/1991, p. 5.094.

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suspensão concedida, lembrando que muitas vezes esses recursos são utilizados com manifesto intuito protelatório, apenas em benefício da Fazenda Pública.

A possibilidade de decisão superveniente agravar os riscos de grave lesão a interesses públicos e a necessidade de impedimento da consumação dos danos evitados com a suspensão de liminar, bem como o resguardo da hierarquia dos órgãos jurisdicionais, justificaria a prolongação da medida pelo extenso lapso temporal. Assim entende Leonardo José Carneiro da Cunha:

Como o pedido de suspensão existe para que se preserve o interesse público primário, evitando-se a consumação de grave lesão à ordem, à saúde, à economia ou à segurança públicas, seria desgastante, arriscado, temerário e até contrário ao interesse público, exigir que o Poder Público tivesse que ajuizar novo pedido de suspensão, desta feita de nova decisão, quando ainda persistem os mesmos motivos que renderam ensejo ao deferimento da suspensão de liminar.

(...)

Demais disso, a Súmula 626 do STF parece estar preservando a hierarquia entre órgãos jurisdicionais. Imagine-se a hipótese de o presidente do tribunal conceder o pedido de suspensão, vindo sua decisão a ser confirmada pelo Plenário ou pela Corte Especial. Mesmo tendo havido a concessão de medida de contracautela, com sua confirmação pelo órgão máximo do tribunal, é comum haver situações em que o juízo de primeira instância açoda-se em proferir sentença de procedência na demanda originária, com o que pretende que se considerem revogadas tanto a decisão do presidente como a que a confirmou, da lavra do órgão máximo do tribunal. Para que se evite tal situação, a suspensão de liminar, determinada pelo presidente do tribunal, vigora até o trânsito em julgado da sentença de mérito.91

Outro defensor da ultra-atividade é Eduardo Arruda Alvim:

Diferentemente do que sucede caso a liminar seja cassada em grau de agravo de instrumento – pois aqui o juiz, ao proferir a sentença (decisão judicial baseada em cognição exauriente), não está jungido ao que tenha sido decidido no tribunal pelo agravo interposto contra a liminar (cognição sumária) -, no caso do pedido de suspensão, o que se verifica é que, se os motivos políticos não podem conduzir à suspensão de liminar foram reputados presentes, não é o fato de ser proferida sentença que deve alterar a eficácia da decisão de suspensão pelo tribunal.92

Diante disso, é racionalmente necessário tecer críticas a esse entendimento. A arbitrariedade e inconstitucionalidade da extensão de eficácia da suspensão até o trânsito em julgado da sentença é de fácil constatação, quando verificamos que a

91 CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 5. ed., São Paulo: Dialética, 2007. P. 459. 92 ALVIM, Eduardo Arruda. “Suspensão da eficácia da decisão liminar ou da sentença em mandado de

segurança – aspectos controvertidos do art. 4º da Lei 4.348/64”. Aspectos Atuais e Polêmicos do Mandado de Segurança (51 anos depois). São Paulo: Editora Revista dos tribunais, 2002, p. 276

inserção da ultra-atividade no ordenamento jurídico deu-se através de medida provisória.

Além do mais, o juízo de cognição efetuados na liminar e na sentença são inteiramente diversos, este último é bem mais aprofundado, ao mesmo tempo em que no pedido de suspensão não se realiza análise de mérito, apenas se examina a possibilidade de graves danos aos interesses relevantes, previstos nas normas disciplinadores do incidente.

Por sua vez, a sentença opera efeito substitutivo em relação à liminar, sendo irrelevante a confirmação ou não dos efeitos do provimento de urgência, entremostrando-se inviável que a suspensão vigore quando a própria decisão sobrestada deixou de existir. Nesse sentido, esquadrinha Juvêncio Vasconcelos Viana, criticando o mecanismo:

“É claro que são distintas, conceitual e topograficamente, na estrutura do processo, a liminar e a sentença. Deixando de existir aquela porque revogada ou mesmo ratificada pela sentença, não existe mais o objeto da suspensão, sobre o qual pronunciou-se o tribunal. Insiste-se: foi exatamente em relação a essa (medida liminar) que a presidência do tribunal exerceu sua cognição e proferiu seu juízo. A presidência não teria o dom de outorgar uma suspensividade para o futuro.”93

Por derradeiro, seria mais correto considerar que a duração da suspensão finalizar-se-ia com a extinção do provimento judicial que fora sustado, ou enquanto houvesse recurso pendente desta decisão ainda pendente de julgamento. É de bom alvitre transcrever parte do seguinte aresto:

Os efeitos temporais da suspensão amoldam-se às hipóteses de liminar seguida, ou não, e sentença favorável à parte autora. Os efeitos extinguem- se sobrevindo o título sentencial, dependendo de nova provocação do interessado. Antes da sentença os efeitos da suspensão fluem enquanto pender o curso processual da ação. 94

3.5. Da eficácia das decisões no pedido de suspensão e do agravo de

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